A
igreja católica continua católica
O
papa Francisco aqueceu tenros e ingênuos corações socialistas com a divulgação
da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (A Alegria
do Evangelho), que alguns jornais definiram como “a base para a maior reforma” da Igreja em 30 anos. Claro que os
jornalistas adoram escarafunchar todas as palavras ditas pelo papa, todos os
documentos que assina, e estão sempre prontos a ver em qualquer movimento da
Igreja as bases de uma “grande
revolução”.
Quando Francisco diz que “o atual sistema econômico é injusto pela raiz”, houve quem o saudasse como se um teólogo da libertação em pessoa estivesse se revelando. Pura ignorância histórica. A Igreja Católica sempre condenou o capitalismo tout court e isso está explícito nos seus documentos históricos, como a Rerum Novarum, do papa Leão XIII ,em maio de 1891,ou na encíclica Menti Nostrae, de 1950, escrita por Pio XII, um papa tido historicamente como reacionário.
A Doutrina Social da Igreja defende explicitamente o direito à propriedade, desde que se reconheça a “função social de qualquer posse privada”, condena claramente a ganância e como Francisco, acha que “dinheiro deve servir, não dominar”. Assim é ocioso que tanto liberais quanto socialistas condenem a Igreja Católica por ser o que todos sabem que ela é. Alguns não querem que a Igreja dê palpites sobre o que não é sua especialidade -- o ordenamento econômico -- e outros insistem em que ela trate secularmente dogmas de fé como a oposição ao aborto.
A Igreja Católica é, sim, e sempre foi contra o capitalismo e contra o que ela entende que sejam seus males, mas defende a liberdade econômica sob certas condicionantes, e a liberdade dos indivíduos. A teologia da libertação não tem chance de prosperar com Francisco. A Instrução “Libertatis Conscientia”, de 1986, continua em vigor: "Muito frequentemente, porém, a justa reivindicação do movimento operário conduziu a novas servidões, por inspirar-se em concepções que, ignorando a vocação transcendente da pessoa humana, atribuíam ao homem um fim meramente terrestre. Algumas vezes, ela voltou-se para projetos coletivistas, que gerariam injustiças tão graves quanto às que pretendiam pôr um fim”.
Se há alguma coisa que se pode deduzir da “exortação apostólica” de Francisco é que a Igreja Católica, goste-se ou não dela, continua sendo o que é.
Por: Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez e "Armênio Guedes, Sereno Guerreiro da Liberdade"(editora Barcarolla). E.mail: svaia@uol.com.br
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