JESUS É TRANSPASSADO PELA LANÇA.
Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu
Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas
tenha a vida eterna.
(Jo 3,
16)
A TERRA ESTREMECE
Enlaçavam-se as cadeias da habitação dos mortos, a própria
morte me prendia em suas redes. Na minha angústia, invoquei
o Senhor, gritei para meu Deus: do seu templo ele ouviu a
minha voz, e o meu clamor em sua presença chegou aos seus
ouvidos. A terra vacilou e tremeu, os fundamentos das
montanhas fremiram, abalaram-se, porque Deus se abrasou em
cólera.
(Sal
17, 6-8)
“A terra tremeu, fenderam-se as rochas”
(Mt
27, 51)
OS SEPULCROS SE ABREM
“Abrirei vossos túmulos e vos farei sair deles...”
(Ez
37, 12)
“... terá uma posteridade duradoura...”
(Is
53,10)
Os sepulcros se abriram e os corpos de muitos justos
ressuscitaram.
(Mt
27, 52)
O CENTURIÃO DÁ GLÓRIA A DEUS
Não basta que sejas meu servo para restaurar as tribos de
Jacó e reconduzir os fugitivos de Israel; vou fazer de ti a
luz das nações...
(Is
49, 6)
Vendo o centurião o que acontecia, deu glória a Deus e
disse: Na verdade, este homem era um justo.
(Lc
23, 47)
O centurião e seus homens que montavam guarda a Jesus,
diante do estremecimento da terra e de tudo o que se
passava, disseram entre si, possuídos de grande temor:
Verdadeiramente, este homem era Filho de Deus!
(Mt
27, 54)
A MULTIDÃO
Suscitarei sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de
Jerusalém um espírito de boa vontade e de prece, e eles
voltarão os seus olhos para mim. Farão lamentações sobre
aquele que traspassaram, como se fosse um filho único;
chorá-lo-ão amargamente como se chora um primogênito!
Naquele dia haverá um grande luto em Jerusalém...
(Zc
12, 10-11)
Por sua causa, hão de lamentar-se todas as raças da terra...
(Apc
1, 7)
E toda a multidão dos que assistiam a este espetáculo e viam
o que se passava, voltou batendo no peito.
(Lc
23, 48)
OS AMIGOS
Os amigos de Jesus, como também as mulheres que o tinham
seguido desde a Galiléia, conservavam-se a certa distância,
e observavam estas coisas.
(Lc
23, 49)
SANGUE E ÁGUA DO LADO ABERTO DO SALVADOR
Naquele dia jorrará uma fonte para a casa de Deus e para os
habitantes de Jerusalém, que apagará os seus pecados e suas
impurezas...
(Zc
13, 1)
Os judeus temeram que os corpos ficassem na cruz durante o
sábado, porque já era a Preparação e esse sábado era
particularmente solene. Rogaram a Pilatos que se lhes
quebrassem as pernas e fossem retirados. Vieram os soldados
e quebraram as pernas do primeiro e do outro, que com ele
foram crucificados. Chegando, porém, a Jesus, como o vissem
já morto, não lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados
abriu-lhe o lado com uma lança e, imediatamente, saiu sangue
e água.
(Jo
19, 31-34)
O TESTEMUNHO DO DISCÍPULO
Todos os olhos o verão, mesmo aqueles que o traspassaram...
(Apc
1, 7)
Olharão para aquele que transpassaram
(Zc
12,10). (Jo 19, 37)
O que foi testemunha desse fato o atesta (e o seu testemunho
é digno de fé, e ele sabe que diz a verdade), a fim de que
vós creiais. Assim se cumpriu a Escritura:
Nenhum dos seus ossos será quebrado (Ex 12,46). E diz em
outra parte a Escritura: Olharão para aquele que
transpassaram (Zc 12,10). (Jo 19, 35-37)
Pai
Nosso..., Ave Maria..., Glória ao Pai...
Pela sua dolorosa Paixão; tende Misericórdia de nós e do
mundo inteiro.
Meu
Jesus, perdão e Misericórdia, pelos méritos de Vossas santas
Chagas.
Segundo as Visões de Anna Catharina Emmerich:
O tremor de terra, aparição de mortos em Jerusalém.
Quando
Jesus, com um grito forte, entregou o espírito nas mãos do
Pai celestial, a alma do Salvador, qual forma luminosa,
acompanhada de brilhante cortejo de Anjos, entrou na terra,
ao pé da cruz; entre os Anjos estava também S. Gabriel.
Vi esses Anjos expulsarem grande número de espíritos maus
da terra para o abismo. Jesus, porém, mandou muitas
almas do limbo para que, retomando os corpos, assustassem os
impenitentes, os exortassem a converter-se e dessem
testemunho dEle.
O tremor de terra, na hora da morte do Redentor,
quando o rochedo do Calvário se fendeu, causou muitos
desmoronamentos e desabamentos em todo o mundo,
especialmente na Palestina e em Jerusalém. Mal o povo na
cidade e no Templo sossegara um pouco, ao desaparecer a
escuridão, eis que os abalos do solo e o estrondo do
desabamento dos edifícios, em muitos lugares, espalharam um
terror geral e ainda maior do que dantes. O pavor
chegou ao extremo, quando apareceram os mortos
ressuscitados, andando pelas ruas e admoestando com voz
rouca o povo, que fugia, chorando, em todas as direções.
No Templo, os príncipes dos sacerdotes acabavam
justamente de restabelecer a ordem e recomeçar os
sacrifícios, suspensos pelo terror das trevas e triunfavam
com a volta da luz, quando de repente tremeu o solo,
ouvindo-se um estrondo de muros a desabar, acompanhado de
ruído sibilante do véu do Templo, que se rasgou de alto a
baixo, causando um momento de mudo terror na imensa
multidão, interrompido em diversos lugares por gritos e
lamentos.
Mas a multidão estava tão habituada à ordem do
Templo, o imenso edifício tão repleto de gente, a ida e
vinda dos que ofereciam sacrifícios estava tão bem regulada,
as cerimônias da imolação dos cordeiros e da aspersão do
altar como sangue se desenrolavam tão regularmente, através
das longas fileiras dos sacerdotes, acompanhadas de canto e
do alto som das trombetas, que o susto não produziu logo no
principio uma confusão e desordem geral.
Assim, pois, continuavam os sacrifícios em algumas
partes do imenso edifício do Templo, com as inúmeras
passagens e salas, quando em outra parte já reinava o
espanto e terror e em outros lugares os sacerdotes já
conseguiam acalmar o povo; mas ao aparecimento dos
mortos, em várias partes do Templo, todo o povo se dispersou
e o sacrifício foi interrompido, como se o Templo fosse
profanado. Contudo nem isso se deu repentinamente,
de modo que a multidão se tivesse precipitado pelos degraus
abaixo, empurrando e esmagando-se uns aos outros; mas
dissolveu-se gradualmente, saindo em grupos, enquanto outros
eram ainda contidos pelos sacerdotes ou estavam em partes
separadas do Templo. Todavia, manifestava-se o medo e o
terror em toda parte, em diversos graus, de um modo
incrível.
Pode-se fazer uma idéia da desordem e confusão que
reinava, imaginando um grande formigueiro, de tranqüilo
movimento, em que se jogam pedras ou se remexe com um pau;
enquanto reina confusão num ponto, em outro ainda continua o
movimento e a atividade toda regular e mesmo no lugar onde
houve desarranjo, logo começa a restabelecer-se a ordem.
O sumo sacerdote Caifás e seu partido, com audácia
desesperada, não perderam a cabeça. Como um hábil governador
de uma cidade revoltada, afastou a confusão, ameaçando aqui,
exortando ali, desunindo os partidos, atraindo outros com
muitas promessas. Devido ao seu endurecimento
diabólico e aparente calma, conseguiu impedir uma
perigosa perturbação geral, fazendo com que a massa do
povo não visse nesses acontecimentos assustadores um
testemunho da morte inocente de Jesus. A guarnição
do forte Antônia também fez tudo para conservar a ordem;
deste modo era o terror e a confusão grande, é verdade, mas
cessou a celebração da festa, sem que houvesse tumulto. O
povo dispersou-se, ficando ainda com um oculto pavor, que
também foi pouco a pouco abafado pela ação dos fariseus.
Essa era a situação geral da cidade; seguem-se
agora alguns incidentes particulares, de que ainda me
lembro: As duas grandes colunas situadas à entrada do
Santuário do Templo e entre as quais estava suspensa a
magnífica cortina, afastaram-se no alto, a da esquerda para
o sul, a da direita para o norte; a verga que suportavam,
abaixou-se e a grande cortina partiu-se em duas, de alto e
baixo, com um som sibilante e, caindo as duas partes para os
lados, abriu-se o santuário. Essa cortina era vermelha,
azul, branca e amarela; trazia o desenho de muitas
constelações dos astros e também figuras, como, por exemplo,
a da serpente de bronze.
O santuário estava aberto a todos os olhares.
Perto da cela onde Simeão costumava rezar, no muro ao norte,
ao lado do santuário, tombou uma pedra grande e a abóbada da
cela desabou; em várias salas se afundou o solo, umbrais
deslocaram-se a colunas cederam para os lados.
No santuário apareceu, proferindo palavras de
ameaça, o Sumo Sacerdote Zacarias, que fora assassinado
entre o Templo e o altar; falou também da morte do outro
Zacarias e de João Batista, como em geral da morte dos
profetas.
Ele saiu pela abertura que ficara, onde caiu a
pedra na cela de Simeão e falou aos sacerdotes que estavam
no Santo. Dois filhos do piedoso Sumo Sacerdote Simão
o Justo, bisavô do velho sacerdote Simeão que profetizara na
apresentação de Jesus no Templo, apareceram como espíritos
grandes, perto da grande cátedra (cadeira dos doutores),
proferindo palavras severas sobre a morte dos profetas e
sobre o sacrifício que ia cessar; exortaram a todos a que
seguissem a doutrina de Jesus crucificado.
Perto do altar apareceu o profeta Jeremias,
proclamando em voz ameaçadora o fim do sacrifício antigo e o
começo do novo. Essas aparições e palavras, em
lugares onde só Caifás e os sacerdotes as ouviram, foram
negadas ou ocultadas e foi proibido falar nisso, sob pena de
grande excomunhão. Mas ouvi-se ainda um grande
ruído; abriram-se as portas do santo e uma voz gritou:
“Saiamos daqui!” Vi então Anjos, que se retiraram do Templo.
O altar do incenso tremeu e caiu um dos vasos de incenso; o
armário que continha os rolos da Escritura, tombou e os
rolos caíram fora, em desordem; a confusão aumentou, não
sabiam mais que hora do dia era.
Nicodemos, José de Arimatéia e muitos outros
abandonaram o Templo e foram-se embora. Jaziam
corpos de mortos, em vários lugares; outros mortos
ressuscitados andavam no meio do povo, exortando-o com
palavras severas; à voz dos Anjos que se afastaram
do Templo, também eles voltaram às sepulturas. A grande
cátedra, no átrio do Templo, caiu. Vários dos 32 fariseus
que tinham ido ao Calvário, mais tarde voltaram, durante
essa confusão e, como se tinham convertido ao pé da cruz,
ficaram ainda mais comovidos com esses sinais, de modo que
censuraram com grande energia a Anás e Caifás, retirando-se
depois do Templo.
Anás, o verdadeiro chefe dos inimigos de Jesus, que
desde muito tempo dirigira todas as intrigas secretas contra
o Salvador e os discípulos e que também instruíra os
acusadores, estava quase doido de terror; fugia de um canto
para outro das salas secretas do Templo; vi-o gritando e
torcendo-se em convulsões; levaram-no a um quarto secreto,
rodeado de alguns dos partidários. Caifás deu-lhe uma vez um
forte abraço, para a reanimar; mas em vão; a aparição dos
mortos tinha-o levado ao desespero.
Caifás, apesar de estar também cheio de pavor,
estava de tal modo possesso do demônio do orgulho e da
obstinação, que não deixava perceber nada do susto que
sentia. Cheio de raiva e orgulho, ocultava o medo e mostrava
uma testa de bronze aos sinais ameaçadores da cólera divina.
Quando, porém, apesar de todos os esforços, não pôde mais
fazer as cerimônias da festa, deu ordem de guardar
silêncio sobre os prodígios e aparições de que o povo não
tinha conhecimento. Disse e mandou outros sacerdotes
também dizerem que esses sinais de cólera divina eram
provocados pelos partidários do galileu crucificado, que
entraram no Templo sem se terem purificado; que somente os
inimigos da santa lei, a qual Jesus também quisera derrubar,
tinham causado esse terror. Muito se devia também à
feitiçaria do galileu que, como em vida, assim também na
morte, perturbava a paz do Templo”. Desse modo conseguiu
acalmar muitos e intimidar outros com ameaças; muitos,
porém, estavam profundamente abalados e ocultavam os
sentimentos. A festa foi adiada, até a purificação do
Templo. Muitos cordeiros foram imolados; o povo dispersou-se
pouco a pouco.
O túmulo de Zacarias, sob o muro do Templo,
desabara, arrastando consigo as pedras do muro; Zacarias
saiu do túmulo, mas não voltou mais para lá, não sei onde
depositou de novo os restos mortais. Os filhos ressuscitados
de Simeão o Justo, depositaram os corpos novamente, no
túmulo, ao pé do monte do Templo, na hora em que o corpo de
Jesus foi preparado para a sepultura.
Enquanto tudo isso se passava no Templo,
reinava o mesmo espanto em muitas partes de Jerusalém.
Logo depois das três horas, ruíram muitos túmulos,
particularmente na região dos jardins, ao noroeste, dentro
da cidade. Vi lá, nos túmulos, mortos ainda envoltos em
panos; em outros jaziam esqueletos, com farrapos
apodrecidos, de muitos saia um mau cheiro insuportável.
No tribunal de Caifás desabaram as escadas em que
Jesus fora escarnecido, também parte do fogão do átrio, onde
Pedro começara a negar Jesus. A destruição era tal, que era
preciso procurar outra entrada. Ali apareceu o corpo
do Sumo Sacerdote Simão o Justo, a cuja descendência
pertencia Simeão, que proferiu a profecia, na apresentação
do Menino Jesus no Templo. Esse falou algumas
palavras ameaçadoras, a respeito do julgamento injusto que
se fizera ali.
Estavam reunidos alguns membros do Sinédrio. Os
criados que no dia anterior deixaram entrar Pedro e João,
converteram-se e fugiram para as cavernas onde estavam
escondidos os discípulos. No palácio de Pilatos se fendeu a
pedra e afundou-se o solo onde Jesus fora apresentado ao
povo por Pilatos. Todo o edifício tremeu e vacilou; no pátio
do tribunal vizinho se afundou todo o lugar onde estavam
sepultados os corpos das inocentes crianças que Herodes
mandara assassinar. Em vários outros lugares da cidade se
fenderam muros, caíram paredes; mas nenhum edifício foi
totalmente destruído.
Pilatos, supersticioso e confuso, estava preso de
terror e incapaz de desempenhar o cargo; o terremoto
abalou-lhe o palácio, o solo tremia-lhe debaixo dos pés,
fugia de uma sala para outra. Os mortos mostravam-se-lhe no
átrio do palácio, lançando-lhe em rosto o julgamento iníquo
e a sentença contraditória. Julgando que fossem os deuses do
profeta Jesus, encerrou-se num quarto secreto do palácio,
onde ofereceu incenso e sacrifícios aos deus pagãos, fazendo
promessas, para que os ídolos impedissem os deuses do
Galileu de fazer-lhe mal. Herodes estava no palácio,
desvairado de pavor e mandara fechar todas as portas.
Foram cerca de cem os mortos, de todas as épocas,
que em Jerusalém e arredores se levantaram dos sepulcros
destruídos e na maior parte se dirigiram, dois a dois, a
diversos pontos da cidade, apresentando-se ao povo,
que fugia em todas as direções e dando, em algumas palavras,
severo testemunho de Jesus. A maior parte dos
túmulos estavam situados na solidão do vales, fora da
cidade; mas havia-os também nos novos bairros da cidade,
especialmente na região dos jardins, ao noroeste, entre a
porta angular e a do Calvário; também em redor e debaixo do
Templo havia muitos túmulos ocultos ou esquecidos.
Nem todos os mortos que pela destruição dos túmulos
ficaram à vista, ressuscitaram; havia muitos que se tornavam
vivíveis só porque estavam numa sepultura comum com os
outros. Muitos, porém, cujas almas Jesus mandara do Limbo à
terra, se levantaram, descobriram o rosto e andavam, como
pairando, pelas ruas, iam às casas dos parentes,
entravam nas casas dos descendentes, censurando-os com
palavras ameaçadoras, por terem tomado parte na morte de
Jesus.
Vi as aparições procurarem juntar-se, conforme as
antigas amizades e andar duas a duas pelas ruas da cidade.
Não vi o movimento dos pés sob as longas túnicas mortuárias,
pareciam pairar sobre o solo, sem o tocar; as mãos ou
estavam envoltas em largas faixas de linho, ou escondidas
nas largas mangas pendentes e ligadas em redor dos braços;
os véus do rosto estavam levantados e postos sobre a cabeça;
as faces pálidas, amareladas e secas, destacavam-se das
longas barbas; as vozes tinham um som estranho e incomum.
Essas vozes eram a única manifestação dos corpos, que
passavam de lugar em lugar, sem parar e sem se importar com
o que encontravam no caminho; parecia que eram só vozes.
Estavam diversamente vestidos, conforme a época da
morte e segundo a classe e a idade. Nas encruzilhadas, onde
fora promulgada a sentença de morte contra Jesus, paravam,
proclamando a glória de Jesus e a maldição dos assassinos.
Os homens ficavam longe, escutando-os a tremer e fugiam
quando eles continuavam o caminho. No fórum, diante do
palácio de Pilatos, ouvi-os proferir palavras ameaçadoras;
lembro-me da palavra: “Juiz sanguinário!”
– Todo o povo se ocultou nos cantos mais escondidos
das casas; havia grande medo e susto na cidade. Pelas quatro
horas da tarde voltaram os mortos para os túmulos. Mas
depois da ressurreição de Jesus Cristo ainda apareceram
muitos espíritos, em vários lugares. O sacrifício
foi interrompido; era uma confusão geral; só uma pequena
parte do povo comeu o cordeiro pascal à noite.
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