3ª APARIÇÃO – 13 de Julho de 1917.
Escreve a Irmã Lúcia
Momentos depois de termos
chegado à Cova da Iria, junto da carrasqueira, entre numerosa multidão de povo,
estando a rezar o terço, vimos o reflexo da costumada luz e em seguida Nossa
Senhora sobre a carrasqueira.
– Vossemecê que me quer?
Perguntei.
– Quero que venham aqui no
dia 13 do mês que vem, que continuem o rezar o terço todos os dias, em honra de
Nossa Senhora do Rosário para obter a paz do mundo e o fim da guerra, porque só
ela Lhes poderá valer.
– Queria pedir-Lhe para
nos dizer quem é, para fazer um milagre com que todos acreditem que Vossemecê
nos aparece.
– Continuem a vir aqui
todos os meses, em Outubro direi quem sou, o que quero, e farei um milagre que
todos hão de ver para acreditar.
Aqui fiz alguns pedidos,
que não recordo bem quais foram.
O que me lembro é que
Nossa Senhora disse que era preciso rezar o terço para alcançar as graças
durante o ano. E continuou:
– Sacrificai-vos pelos
pecadores, e dizei muitas vezes, em especial sempre que fizerdes algum
sacrifício: "O Jesus, é por vosso amor, pela conversão dos pecadores e em
reparação pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria."
SOBRE O SEGREDO DE FÁTIMA.
1ª e 2ª Parte do segredo
1ª. Consta da visão do
inferno.
2ª. A Devoção ao Meu
Imaculado Coração com a comunhão reparadora nos primeiros sábados e a
Consagração da Rússia.
O texto que segue, nesta
narração, fazia já parte do segredo que, em 1917, Nossa Senhora pediu aos
Pastorinhos não contassem a ninguém e que eles não revelaram nem mesmo quando o
Administrador os prendeu e ameaçou mandar fritar em azeite a ferver. Só em 31 de
Agosto de 1941, na carta escrita em Tuy ao Bispo D. José Alves Correia da Silva,
Lúcia diz ser "chegado o momento" de falar do segredo, acrescentando: Bem; o
segredo consta de três coisas distintas, duas das quais vou revelar.
1ª Parte:
A primeira foi, pois, a
vista do inferno! Nossa Senhora .... Ao dizer estas palavras, abriu de novo as
mãos como nos dois meses passados. O reflexo pareceu penetrar a terra e vimos
como que um mar de fogo, mergulhados nesse fogo os demônios e as almas, como se
fossem brasas transparentes e negras ou bronzeadas com forma humana, que
flutuavam no incêndio levadas pelas chamas que deles mesmas saíam juntamente com
nuvens de fumo, caindo de todos os lados semelhante ao cair das fagulhas nos
grandes incêndios, sem peso, nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e
desespero que horrorizava e fazia estremecer de pavor. Devia ser ao deparar-me
com esta visão que dei esse Ai, que dizem ter-me ouvido.
(No jornal O Século,
de 23 de Julho de 1917, lia-se: "ouviu-se um ruído semelhante ao ribombar do
trovão, pro rompendo as crianças num choro aflitivo, fazendo gestos epiléticos e
caindo depois em êxtase.")
Os demônios distinguiam-se
por formas horríveis e asquerosas de animais espantosos e desconhecidos, mas
transparentes como negros carvões em brasa. Esta visão foi um momento, e graças
à Nossa boa Mãe do Céu, que antes nos tinha prevenido com a promessa de nos
levar para o Céu. Se assim não fosse, creio que teríamos morrido de susto e
pavor. Assustados e como que a pedir socorro, levantamos a vista para Nossa
Senhora que nos disse com bondade e tristeza:
2ª parte:
- Vistes o inferno para
onde vão as almas dos pobres pecadores. Para as salvar, Deus quer estabelecer no
mundo a devoção ao meu Imaculado Coração. Se fizerem o que eu disser,
salvar-se-ão muitas almas e terão paz: a guerra vai acabar. Mas se não deixarem
de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra pior. Quando virdes uma
noite iluminada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus
vos dá de que vai a punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e
de perseguições à Igreja e ao Santo Padre. Para a impedir, virei pedir a
consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração e a
comunhão reparadora nos
primeiros sábados. Se atenderem a meus pedidos, a Rússia converter-se-á e terão
paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições
à Igreja, os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer,
várias nações serão aniquiladas: por fim o meu Imaculado Coração triunfará. O
Santo Padre consagrar-me-á a Rússia que se converterá e será concedido ao mundo
algum tempo de paz. Em Portugal conservar-se-á sempre o dogma da fé, etc...
3ª Parte do segredo.
Quanto à terceira parte do
segredo, encontrando-se Lúcia doente, em Tuy, descreveu-a em 3 de Janeiro de
1944, também por ordem do Bispo de Leiria, entregando-a num envelope fechado.
Lúcia diz nessa carta:
Escrevo em ato de
obediência a Vós Deus meu, que mo mandais por meio de sua Excia. Revma o
Senhor Bispo de Leiria e da Vossa e minha Santíssima Mãe.
Depois das duas partes
que já expus, vimos ao lado esquerdo de Nossa Senhora um pouco mais alto um Anjo
com uma espada de fogo em a mão esquerda; ao cintilar, despedia chamas que
parecia iam incendiar o mundo; mas apagavam-se com o contacto do brilho que da
mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro: O Anjo apontando com a mão
direita para a terra, com voz forte disse: Penitência, Penitência, Penitência! E
vimos numa luz imensa que é Deus: “algo semelhante a como se vêem as pessoas num
espelho quando lhe passam por diante” um Bispo vestido de Branco “tivemos o
pressentimento de que era o Santo Padre”. Vários outros Bispos, Sacerdotes,
religiosos e religiosas subir uma escabrosa montanha, no cimo da qual estava uma
grande Cruz de troncos toscos como se fora de sobreiro com a casca; o Santo
Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade meia em ruínas, e meio
trêmulo com andar vacilante, acabrunhado de dor e pena, ia orando pelas almas
dos cadáveres que encontrava pelo caminho; chegado ao cimo do monte, prostrado
de joelhos aos pés da grande Cruz foi morto por um grupo de soldados que lhe
dispararam varias tiros e setas, e assim mesmo foram morrendo uns trás outros os
Bispos Sacerdotes, religiosos e religiosas e varias pessoas seculares,
cavalheiros e senhoras de varias classes e posições. Sob os dois braços da Cruz
estavam dois Anjos cada um com um regador de cristal em a mão, neles recolhiam o
sangue dos Mártires e com ele regavam as almas que se aproximavam de Deus.
Continuando a carta de 31
de Agosto de 1941:
– Isto não o digais a
ninguém. Ao Francisco sim, podeis dizê-lo. Quando rezardes o terço, dizei depois
de cada mistério:
Ó meu Jesus, perdoai-nos
livrai-nos do fogo do inferno, levai as alminhas todas para o céu,
principalmente aquelas que mais precisarem.
Seguiu-se um instante de
silêncio e perguntei:
– Vossemecê não me quer
mais nada?
– Não, hoje não te quero
mais nada.
E como de costume começou
a elevar-se em direção ao nascente até desaparecer na imensa distância do
firmamento.»
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