Evangelho do diaSenhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna. João 6, 68
4º Domingo da Quaresma Evangelho segundo S. João 9,1-41. Ao passar, Jesus viu um homem cego de nascença. Os seus discípulos perguntaram-lhe, então:
«Rabi, quem foi que pecou para este homem ter nascido cego? Ele, ou os seus pais?» Jesus respondeu:
«Nem pecou ele, nem os seus pais, mas isto aconteceu para nele se manifestarem as obras de Deus. Temos de realizar as obras daquele que me enviou enquanto é dia. Vem aí a noite, em que ninguém pode actuar. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo.» Dito isto, cuspiu no chão, fez lama com a saliva, ungiu-lhe os olhos com a lama
e disse-lhe:
«Vai, lava-te na piscina de Siloé» que quer dizer Enviado. Ele foi, lavou-se e regressou a ver. Então, os vizinhos e os que costumavam vê-lo antes a mendigar perguntavam:
«Não é este o que estava por aí sentado a pedir esmola?» Uns diziam:
«É ele mesmo!» Outros afirmavam:
«De modo nenhum. É outro parecido com ele.» Ele, porém, respondia:
«Sou eu mesmo!» Então, perguntaram-lhe:
«Como foi que os teus olhos se abriram?» Ele respondeu:
«Esse homem, que se chama Jesus, fez lama, ungiu-me os olhos e disse-me: 'Vai à piscina de Siloé e lava-te.' Então eu fui, lavei-me e comecei a ver!» Perguntaram-lhe:
«Onde está Ele?» Respondeu:
«Não sei.» Levaram aos fariseus o que fora cego. O dia em que Jesus tinha feito lama e lhe abrira os olhos era sábado. Os fariseus perguntaram-lhe, de novo, como tinha começado a ver. Ele respondeu-lhes:
«Pôs-me lama nos olhos, lavei-me e fiquei a ver.» Diziam então alguns dos fariseus:
«Esse homem não vem de Deus, pois não guarda o sábado.» Outros, porém, replicavam:
«Como pode um homem pecador realizar semelhantes sinais miraculosos?» Havia, pois, divisão entre eles.
Perguntaram, então, novamente ao cego:
«E tu que dizes dele, por te ter aberto os olhos?» Ele respondeu:
«É um profeta!» Ora os judeus não acreditaram que aquele homem tivesse sido cego e agora visse, até que chamaram os pais dele. E perguntaram-lhes:
«É este o vosso filho, que vós dizeis ter nascido cego? Então como é que agora vê?» Os pais responderam:
«Sabemos que este é o nosso filho e que nasceu cego; mas não sabemos como é que agora vê, nem quem foi que o pôs a ver. Perguntai-lhe a ele. Já tem idade para falar de si.» Os pais responderam assim por terem receio dos judeus, pois estes já tinham combinado expulsar da sinagoga quem confessasse que Jesus era o Messias. Por isso é que os pais disseram:
'Já tem idade, perguntai-lhe a ele'. Chamaram, então, novamente o que fora cego, e disseram-lhe:
«Dá glória a Deus! Quanto a nós, o que sabemos é que esse homem é um pecador!» Ele, porém, respondeu:
«Se é um pecador, não sei. Só sei uma coisa: que eu era cego e agora vejo.» Eles insistiram:
«O que é que Ele te fez? Como é que te pôs a ver?» Respondeu-lhes:
«Eu já vo-lo disse, e não me destes ouvidos. Porque desejais ouvi-lo outra vez? Será que também quereis fazer-vos seus discípulos?» Então, injuriaram-no dizendo-lhe:
«Discípulo dele és tu! Nós somos discípulos de Moisés! Sabemos que Deus falou a Moisés; mas, quanto a esse, não sabemos donde é!» Replicou-lhes o homem:
«Ora isso é que é de espantar: que vós não saibais donde Ele é, e me tenha dado a vista! Sabemos que Deus não atende os pecadores, mas se alguém honrar a Deus e cumprir a sua vontade, Ele o atende. Jamais se ouviu dizer que alguém tenha dado a vista a um cego de nascença. Se este não viesse de Deus, não teria podido fazer nada.» Responderam-lhe:
«Tu nasceste coberto de pecados e dás-nos lições?» E puseram-no fora.
Jesus ouviu dizer que o tinham expulsado e, quando o encontrou, disse-lhe:
«Tu crês no Filho do Homem?» Ele respondeu:
«E quem é, Senhor, para eu crer nele?» Disse-lhe Jesus:
«Já o viste. É aquele que está a falar contigo.» Então, exclamou:
«Eu creio, Senhor!» E prostrou-se diante dele.
Jesus declarou:
«Eu vim a este mundo para proceder a um juízo: de modo que os que não vêem vejam, e os que vêem fiquem cegos.» Alguns fariseus que estavam com Ele ouviram isto e perguntaram-lhe:
«Porventura nós também somos cegos?» Jesus respondeu-lhes:
«Se fôsseis cegos, não estaríeis em pecado; mas, como dizeis que vedes, o vosso pecado permanece.» Comentário ao Evangelho do dia feito por:
Santo Efrém«Eu vim a este mundo para proceder a um juízo: de modo que os que não vêem vejam»
«Fez lama com a saliva e ungiu-lhe os olhos». E a luz jorrou da terra, como no começo, quando [...] as trevas cobriam o abismo e o espírito de Deus Se movia sobre a superfície das águas. Deus disse: «Faça-se a luz» e a luz foi feita (Gn 1, 2-3). Assim, curou um defeito que existia desde a nascença, para mostrar que Ele, cuja mão terminava aquilo que faltava à natureza, era Aquele que, com a Sua mão, tinha dado origem à Criação, no princípio. E como se recusavam a crer que Ele era antes de Abraão (Jo 8, 57), provou com esta acção que era o Filho d'Aquele que, com a Sua mão, «formou o homem do pó da terra» (Gn 2, 7).
Ele fez isso para aqueles que procuravam os milagres a fim de acreditarem: «Os judeus pedem sinais» (1Cor 1, 22). Não foi a piscina de Siloé que abriu os olhos ao cego, tal como não foram as águas do Jordão que purificaram Naamã (2Rs 5, 14): foi a ordem do Senhor que realizou tudo. Mais do que isso, não é a água do nosso baptismo, mas os nomes da Trindade que se pronunciam sobre ela que nos purificam. Ele ungiu-lhe os olhos com lama, para que os fariseus pudessem limpar a cegueira do seu coração. [...] Aqueles que viam a luz física foram conduzidos por um cego que via a luz do espírito; e, na sua noite, o cego era conduzido por aqueles que viam exteriormente, mas que eram espiritualmente cegos.
O cego lavou a lama dos seus olhos e viu-se a si próprio; os outros lavaram a cegueira do coração, e examinaram-se a si mesmos. Assim, ao abrir exteriormente os olhos dum cego, Nosso Senhor abria secretamente os olhos de muitos outros cegos. [...] Nestas poucas palavras do Senhor estavam escondidos tesouros admiráveis e, nesta cura, estava esboçado um símbolo: Jesus, o Filho do Criador.