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quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Carta ao Povo Católico do Brasil

“Só o amor de Jesus podia fazer-me afrontar estas dificuldades e as que vieram depois...”
Santa Teresinha, História de uma Alma


A 33 dias do pleito de 2010, eleições estas cruciais para a vida da Igreja Católica Apostólica Romana, no Brasil, vamos percebendo a hora grave, gravíssima, em que estamos, em que “triunfa soberba a improbidade, insolente a ciência, licencioso o descaramento”1.

Neste momento, poucas e corajosas vozes se levantam contra o mal que se avizinha (dos que estão contra Cristo, porque não estão com Cristo” – Lc 11,23), mal este que vai se agigantando, agindo de forma cada vez mais intensa contra a sacralidade da vida humana, a dignidade da pessoa, a família e, principalmente, os mais caros valores da civilização cristã em nosso País. “Chora e se desfaz a terra... contaminada pelos seus habitantes, porque esses transgrediram as leis, mudaram o direito e romperam a aliança eterna” (Is 24, 5).

“Os erros da Rússia se espalharão pelo mundo...”

Os poderosos do mundo avançam na implantação de uma nova ordem mundial explicitamente anti-cristã; daí inclusive o projeto internacional de refazer as religiões e o próprio cristianismo, desfigurando-o, destituindo-o de sua identidade, esvaziando-o de seu conteúdo e força doutrinal, num movimento de ateísmo militante e agressivo, como nunca visto antes, em tão grande proporção. Como propôs Hobbes, querem substituir Deus por Leviatã.

O jurássico modelo político anarco-comunista, de premissas marxistas e do feminismo radical, após fracassar de modo retumbante na Rússia e no Leste-europeu, vem sendo trazido, desde os anos 90, para a América Latina, onde grupos organizados, com táticas gramscianas, esperam agora finalmente conseguir tomar o Brasil, stalinizando-o, no afã de impor a ditadura do proletariado, e um controle social desmedido e tecnologicamente sofisticado, para conter e buscar minar ainda mais a fé cristã no solo brasileiro.

Devemos então, muito mais agora, defender o Brasil com vigor patriótico, com a energia e a coragem para o bem, como pede o nosso hino nacional: “Verás que o filho teu não foge à luta!”. É preciso o bom combate por um Brasil em defesa da vida, para que esta grande nação, nascida da Santa Cruz, alcance seu destino promissor.

Mais uma vez ressoa forte a voz de Nossa Senhora de Fátima: “Se atenderem aos meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja”.

O projeto de sovietização do estado brasileiro está contido no Plano Nacional de Direitos Humanos (Decreto Federal 7037/09)2, a exemplo do que fez Hitler, no Mein Kampf, quando disse tudo o que desejava fazer, e depois de eleito, passou a executar tudo o que pretendia, para o horror de todos. Assim os socialistas e anarco-comunistas, com a conivência de grandes financistas e muitos dos que querem tirar proveito no desarranjo atual das coisas, vão querer impor o PNDH3, esperando encontrar um Congresso Nacional tíbio, vulnerável e subserviente.

O estado brasileiro foi assaltado pela pior espécie de homem-massa, que nivelou tudo por baixo, numa exaltação da degradação moral, em vários aspectos, ferindo as instituições, a começar pela primeira e principal de todas elas, que é a família, num ataque sem precedentes na história, minando as forças que dão vigor às instituições que já não encontram o suporte necessário para que cumpram seu papel social, em especial a missão de formar pessoas e edificar valores.

Com muita tristeza, vejo o povo brasileiro acuado, sem saber ao que se ater, sem entender o que está acontecendo, não aceitando, em seu íntimo, a configuração desta nova realidade, de uma “cultura da morte” que vai se impondo, artificialmente, arquitetada e financiada por poderosos centros privados internacionais, de pérfidos interesses.

De que lado estamos?

Depois de alguns anos, militando como leigo católico na minha Diocese de Taubaté3, animando a Comissão Diocesana em Defesa da Vida, conseguimos, em ação conjunta com vários grupos do País, evitar a aprovação da legalização do aborto no Brasil4, bem como viabilizar iniciativas que visam proteger a família, especialmente no campo legislativo5.

Não tem sido um trabalho fácil, pois que a correnteza contra o bem e a beleza do matrimônio e da família tem sido muito forte, movida por um pragmatismo altamente desumano; porém, sem titubear no sentido da missão evangelizadora, com a consciência de remar contra esta corrente, vamos conseguindo, pela graça de Deus, agregar forças e unir pessoas que realmente têm amor ao Evangelho da Vida e unidos a Cristo (porque é Ele quem atrai), para fazer frente a esta “conjura contra a vida”, e nos posicionarmos firmemente, lembrando a importante pergunta do papa João Paulo II em seu livro "Memória e Identidade": “Afinal, de que lado estamos?” Hoje, em meio a este contexto em que somos chamados a fazer a escolha dos próximos governantes do nosso País, precisamos – enquanto cristãos e cidadãos retomarmos esta séria indagação: “De que lado estamos?”, e recordarmos ainda o imperativo do Deuteronômio: “Escolhe, pois, a Vida!”

“Escolhe, portanto, a vida, para que você e seus descendentes possam viver!” (Dt 30, 19-20).

A hora exige de nós, cristãos e cidadãos, o discernimento. As nossas decisões têm conseqüências. Não podemos nos omitir nem nos acovardar, ou nos acomodar no indiferentismo. Cada um de nós – todos nós – somos responsáveis pelas nossas escolhas, e começamos aqui, com as nossas decisões, o que seremos na eternidade. O seguimento a Jesus Cristo, o verdadeiro discipulado, é confirmado pela aceitação da cruz, sempre redentora. Pois segura é a vitória da vida, porque vem de Deus.

“Quem sou eu para ir até o faraó?” (Ex 3,11)

Estamos hoje com o grave risco, iminente, de sermos submetidos a uma nova forma de totalitarismo (muito mais sutil), um Leviatã implacável a comprometer a liberdade, e a escravizar cada vez mais as multidões aflitas. O povo brasileiro, seduzido pela medusa midiática, não tem consciência de tais grilhões, uma multidão manipulada, que requer o olhar compassivo de Cristo.

Nesse sentido, o lema de São Bento (ora et labora) nos impulsiona a ir para o campo de batalha, no difícil campo legislativo, para buscar afirmar a cultura da vida, em meio a tantas ameaças. Ao contrário do que se pensa, a Igreja “agora será salva, porque a cruz reaparece”6. Daí o apelo a todo cristão, católicos brasileiros, a se prepararem para os tempos difíceis, porque vão nos exigir a coerência de vida, a fidelidade ao Evangelho e, especialmente, o amor que tudo salva.

Não é hora de desânimo, nem de soçobrar no niilismo, nem de entregar os pontos. Mas hora de levantarmos enquanto povo de Deus e povo da vida, para anunciar e testemunhar, com viva alegria que só Deus é o nosso Senhor e Salvador, que Jesus Cristo é ontem, hoje e sempre, que sabemos o que defendemos e a quem defendemos. “E que pela intercessão da gloriosa bem-aventurada sempre Virgem Maria, sejamos livres da presente tristeza e gozemos a eterna alegria. Por Cristo Nosso Senhor. Amém!”

Por: Hermes Rodrigues Nery - Professor, é Secretário-Geral do Movimento Nacional pela Cidadania Brasil Sem Aborto, Coordenador da Comissão Diocesana em Defesa da Vida e Movimento Legislação e Vida, da Diocese de Taubaté. Vereador (PHS), Presidente da Câmara Municipal de São Bento do Sapucaí (SP).

Papa Gregório XVI, Encíclica Mirari Vos, 5
http://blog.cancaonova.com/felipeaquino/2010/03/15/a-ideologia-inumana-e-totalitaria-do-pndh3/
http://www.cnbbsul1.org.br/index.php?link=news/read.php&id=2937
http://www.pastoralis.com.br/pastoralis/html/modules/smartsection/item.php?itemid=189
http://www.reinodavirgem.com.br/fe-e-politica/stf-aborto.html
http://noticias.cancaonova.com/noticia.php?id=275361
François-René de Chateaubriand, O Gênio do Cristianismo, W. M. Jackson INC Editores, 1970, Volume 2, p. 285

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