Os talibans de gravata
Presidente da OAB-RJ quer retirar crucifixo do STF, depredando duas obras de arte;
Artistas assinam vários trabalhos em Brasília: são tombados e patrimônio cultural da humanidade
O presidente da OAB do Rio, Wadih Damous, por alguma razão, achou que tinha de se posicionar sobre a decisão do Conselho da Magistratura do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, que cassou os crucifixos. Ele deu seu integral apoio e aproveitou para defender a retirada daquele que há no Supremo Tribunal Federal. Abaixo, vocês verão, afirmarei que perseguir crucifixos é uma proposta covarde. Corajoso mesmo seria pregar o fim do feriado no Natal — afinal, não podemos ofender as pessoas das demais religiões, certo? E há coisas que requerem ainda mais ousadia. Eu conto com Damous.Não vejo o doutor em posição tão delicada desde que atestou, numa nota, que os boxeadores cubanos tinham sido tratados no Brasil segundo os critérios os mais civilizados. Ele acompanhara parte da operação. Horas depois, os coitados seriam devolvidos a Cuba num avião usado pelo governo da… Venezuela!!!
Adiante. Comparei ontem aqui a retirada dos crucifixos aos atos do Taliban, que destruiu, em 2001, os Budas de Bamiyan, que datavam, no mínimo, do século 7. Achavam que as estátuas ofendiam a fé islâmica. Doutor Damous acha que o crucifixo ofende o laicismo. E tem muita gente, inclusive leitores deste blog, que concorda com ele — creio que só no caso do crucifixo, não dos boxeadores… Exagerei ao evocar o Talibã? Acho que não. Nem no mérito nem no fato. O crucifixo a que o presidente da OAB do Rio se refere é este. Volto em seguida.
Voltei
Pois é… O crucifixo integra uma das obras de arte de Brasília, o Painel de Mármore, de Athos Bulcão (1918-2008), um dos mais importantes artistas plásticos brasileiros. Brasília é patrimônio cultural da humanidade. É uma obra tombada. O crucifixo, em si, é outra obra assinada, de Alfredo Ceschiatti (1918-1989), responsável por outro trabalho de muita visibilidade na Esplanada. Vejam.
É a estátua que simboliza a Justiça. Ora vejam… A “Iustitia” (na mitologia romana) ou “Têmis” (na grega), talvez o doutor Wadih não saiba, não deixa de ofender o laicismo do Estado — segundo seus critérios, não os meus. O paganismo, doutor, também era uma religião. Não, senhores talibãs de terno e senhoras talibãs lésbicas! Uma das graças da civilização e da cultura está justamente na convivência de todas essas heranças. Em qualquer país do mundo, doutores das leis se mobilizariam para preservar obras de arte tombadas, patrimônio cultural da humanidade. No Brasil, alguns deles querem destruí-las.
Sempre resta ao doutor, claro!, afirmar que ele é contra um crucifixo de madeira qualquer, mas favorável a uma obra de arte — hipótese, então, em que os valores fundadores da civilização brasileira teriam, para ele, menos importância do que… escultura.
Propostas covardes e propostas ousadas
Eu, sinceramente, acho uma covardia retirar os crucifixos dos tribunais em nome da sociedade laica, como quer doutor Damous. Corajoso como é, ele deveria iniciar um movimento para mudar o preâmbulo da Constituição — afinal, o homem é da OAB. Está lá:
“Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.”
“Sob a proteção de Deus uma ova! Esta república é leiga!”, há de dizer este laicista. Os ateus nervosos que vieram bater nestas paragens se obrigam a fazer o mesmo! Mas não só. Conto com o presidente da OAB para extinguir todos os feriados religiosos cristãos, a começar do Natal. Ou, como querem alguns (respondo à falsa questão num outro post), que haja feriado nacional para o budismo, o islamismo, o candomblé etc.
Não descarto que muitos recuem ao menos no caso do STF: “Pô! A gente é contra mexer numa obra de arte! Nosso objetivo era apenas atacar o cristianismo”.
Ah, bom.
Por: Reinaldo Azevedo
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