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sábado, 29 de setembro de 2012

Aborto, palmadas e política

Nas últimas eleições presidenciais, o debate sobre o aborto surgiu espontaneamente no seio da sociedade. Sentindo o risco que isso seria para a eleição presidencial, o PT, defensor histórico e irrestrito do aborto, montou uma operação enorme para abafar o debate. Temiam o ocorrido nas eleições de 2006, quando a então candidata ao Senado pelo Rio de Janeiro, Jandira Feghali, favorita nas pesquisas com ampla margem, foi derrotada quando surgiu o tema do aborto - ela é favorável.

Em 2010, Dilma se disse cristã, "pessoalmente" contra o aborto, e se comprometeu a "não tomar medidas" para que a legislação pró-aborto avançasse, acusando adversários de "calúnia" e "difamação". Na época, políticos ligados às religiões deixaram-se convencer e o próprio candidato de oposição foi tímido para explorar o eleitorado conservador. Se fosse mais ousado, veria que o movimento abortista não representa de forma alguma a opinião geral de brasileiros e brasileiras e poderia ter vencido as eleições.


Na verdade, não havia "calúnia" contra a agora presidente Dilma, e sim um fato notório e documentado que foi trazido à cena. A prova cabal e irrefutável é que passados menos de dois anos das eleições presidenciais, temos uma autointitulada "avó do aborto" como ministra das mulheres. O governo, em nova operação "abafa", convidou um senador ligado a Igreja Universal, para ser o ministro da Pesca. 

Este terá como missão convencer a bancada evangélica de que o governo não está empenhado em defender o aborto. A simbologia da nomeação não poderia ser mais torta.
O peixe é um símbolo cristão e, na Bíblia, os cristãos aparecem como "pescadores de homens". O PT possui diversos tentáculos e a Igreja Universal está para os evangélicos como a Teologia da Libertação está para os católicos. Resta saber se os líderes ligados às bancadas religiosas se deixarão ludibriar de novo, traindo seu eleitorado e tornando-se cúmplices do esquema. 

Neste ano, veio à tona o anteprojeto para a mudança do Código Penal brasileiro da comissão de juristas do Senado.  O presidente do senado, José Sarney, rapidamente o transformou no projeto PLS 236/2012.   O projeto de lei sugere explicitamente que a permissão do aborto seja ampliada para os casos de anencefalia ou quando o feto padecer de "graves e incuráveis anomalias que inviabilizem a vida independente" e por vontade da gestante até a 12ª semana de gravidez, se o médico ou o psicólogo "atestar" que a mulher "não apresenta condições de arcar com a maternidade".

Se o projeto original passar, o aborto pode ser realizado simplesmente porque as crianças são inconvenientes, seja economicamente ou psicologicamente. Inclusive, admite-se a eugenia, ou seja, pode-se eliminar fetos com deficiências mentais, doenças graves ou imperfeições. No Brasil, o mesmo governo que defende o aborto, é aquele que aprova a "Lei da Palmada", com o pretexto de "proteger" as crianças de seus pais.
Ou seja, se a mãe quiser dar uns tabefes no filho, não pode. Mas matar pode, desde que a criança ainda não tenha saído de seu útero. O anteprojeto defende ainda a diminuição da pena para infanticídio e a legalização da eutanásia, no que é coerente. Por que só eliminar pessoas inconvenientes no útero, não é mesmo? 

É a legislação sob medida para legitimar o Estado totalitário.
 


Rodrigo Sias
é economista.

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