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domingo, 26 de agosto de 2018
A desgraçada descendência de Judas
Não
podemos desconfiar de Pedro, Tiago e João e dos demais por causa de
Judas. Sim, havia um traidor entre os Apóstolos, mas os outros Onze
permaneceram fiéis. Não permitamos que os escândalos do clero fragilizem
a nossa fé.
O assunto que eu gostaria de abordar hoje não é fácil. Mas ninguém pode ignorar o que tem ocorrido e fingir que nada aconteceu.
Os escândalos noticiados ao longo dos últimos cinquenta ou sessenta
anos são muitos dolorosos para a Igreja. E porque nos machucam, tendemos
a não falar a respeito e deixar a água correr em silêncio. Isso, porém,
não resolverá nada. Pois a solução do problema não está em negar a sua existência.
Temos de ser realistas. Se há algo de errado, devemos aprender a
encará-lo. Por isso, precisamos enfrentar esses fatos terríveis que
vemos hoje em dia.
São escândalos que abalaram a fé de muitas pessoas boas. Algumas deixaram de crer em Deus, porque foram traídas pelos homens. Mas não podemos esquecer que a nossa fé não se baseia em homens, mas em Deus. É Ele a Rocha da nossa salvação. Cremos porque Deus revelou-se a si mesmo. Ainda que todos os sacerdotes fossem indignos da nossa confiança, isso em nada diminuiria a verdade da nossa religião.
Traidores. Sempre os houve entre nós desde o início da
Igreja. Quando Nosso Senhor Jesus Cristo escolheu os doze Apóstolos,
havia entre eles um traidor: Judas. Um homem eleito para ser Apóstolo,
que durante três anos conviveu com Nosso Senhor. Um homem encarregado de
pregar a Verdade e agraciado inclusive com o poder de operar milagres.
Um homem ordenado padre na Quinta-Feira Santa… Este homem era um
traidor. Ele trocou a vida do Mestre por um punhado de moedas; ele
abandonou sua vocação a fim de satisfazer sua paixão. No caso de Judas,
foi o amor ao dinheiro o que o fez perder Deus, mas poderia ter sido
qualquer outro vício. Judas poderia estar sentado em um trono no céu, mas ele preferiu o Inferno. Oh! quão horrível é contemplar a queda de um “anjo”!
No entanto, convém notar que os primeiros cristãos não perderam a fé
diante da traição de Judas; tampouco pensaram eles que, sendo Judas um
Apóstolo, também os outros Onze haveriam de ser traidores. Não. Se
adotarmos as “proporções” do Evangelho, podemos dizer que, a cada doze
homens, um é traidor. Quando ouvirdes, pois,a notícia de um escândalo envolvendo um padre indigno da própria vocação, lembrai-vos, por favor, dos outros onze padres fiéis, cujos nomes não saem nos jornais. Lembrai-vos e consolai-vos, porque, para cada traidor, há onze bons servos de Deus.
Não podemos desconfiar de Pedro, Tiago e João e dos demais por causa
de Judas. Sim, havia um traidor entre os Apóstolos, mas os outros Onze
permaneceram fiéis. Não permitamos que tais escândalos fragilizem a nossa fé.
Essa missão é do diabo: destruir a Igreja de Deus, lançando-lhe no
rosto imaculado a vergonha e a imundície de seus membros. Toda essa
confusão, todas essas heresias, toda essa imoralidade, tudo isso não
passa da fumaça de Satanás que penetrou a Igreja.
Como entender que a Igreja não erra?
Todos os domingos o católico professa sua fé dizendo crer na Igreja Una,
Santa, Católica e Apostólica, "esses quatro atributos, inseparavelmente
ligados entre si, indicam traços essenciais da Igreja e da sua missão.
A Igreja não os confere a si mesma; é Cristo que, pelo Espírito Santo,
concede à sua Igreja que seja una, santa, católica e apostólica, e é
ainda Ele que a chama a realizar cada uma destas qualidades", assim
ensina o Catecismo da Igreja Católica em seu número 811.
Atualmente virou moda afirmar que a Igreja é "santa e pecadora". Esse
pensamento não poderia ser mais errôneo. A Igreja é santa e imaculada,
contudo, os seus membros são pecadores. Para explicar essa afirmação o
Catecismo, por meio de um discurso do Papa Paulo VI, diz que:
"827.A Igreja «é santa, não obstante compreender no seu seio pecadores,
porque ela não possui em si outra vida senão a da graça: é vivendo da
sua vida que os seus membros se santificam; e é subtraindo-se à sua vida
que eles caem em pecado e nas desordens que impedem a irradiação da sua
santidade. É por isso que ela sofre e faz penitência por estas faltas,
tendo o poder de curar delas os seus filhos, pelo Sangue de Cristo e
pelo dom do Espírito Santo»".
Assim, a Igreja é como um núcleo e cada católico é um membro que pode do
núcleo aproximar-se ou afastar-se. Ao aproximar-se da Igreja, o
católico é cada vez mais santificado pela Graça que dela emana. Da mesma
forma, se livremente o católico decide afastar-se dela, por sua própria
responsabilidade, afasta-se da comunhão com o Corpo de Cristo.
A santidade da Igreja é uma realidade que pode ser observada ainda em
outros aspectos. Ela tem ainda a característica de ser infalível em
matéria de fé. O próprio Cristo cuidou para que assim fosse:
"889. Para manter a Igreja na pureza da fé transmitida pelos Apóstolos,
Cristo quis conferir à sua Igreja uma participação na sua própria
infalibilidade, Ele que é a Verdade. Pelo «sentido sobrenatural da fé», o
povo de Deus «adere de modo indefectível à fé», sob a conduta do
Magistério vivo da Igreja."
Trata-se, portanto, de um rebanho que há de permanecer fiel à Igreja
mesmo sob tribulações. Não se trata de quantidade, mas sim de qualidade.
De pessoas comprometidas com a fé, unidas à vida da graça, àquela
santidade e santificação promovida pela união com o Corpo de Cristo.
Estes serão os indefectíveis na fé, que responderão à pergunta: "mas,
quando vier o Filho do Homem, acaso achará fé sobre a terra?" (Lucas
18,8)
Seja como for, a Igreja continua a mesma, a Esposa de Cristo, ainda
que o seu rosto se encontre desfigurado pelos pecados de seus membros.A Igreja não se corrompeu, ainda que dentro dela haja muita gente corrompida. Lembrai-vos: a Igreja é, em si mesma, sem pecado, mas não sem pecadores.
Poderíamos, contudo, perguntar-nos: qual é a raiz do problema? Qual é causa de todos estes escândalos? Irmãos, duas são as causas. Antes de tudo, temos a perversidade, a
malícia desses criminosos, que são pessoal e completamente responsáveis
por todo o mal que praticaram. E eles fizeram muito mal, feriram muitas
pessoas. O mais profundo círculo do Inferno está reservado a essa
desgraçada descendência de Judas, a todos os padres infiéis, caso não se
arrependam a tempo.
Eis a causa imediata do problema: a malícia desses traidores, que
deram as costas a Deus para servir os ídolos de suas paixões perversas.
Há, porém, uma outra causa, que poderíamos chamar “mediata” ou
“remota”, mas nem por isso menos importante para compreendermos o
problema. E esta causa, irmãos, são os nossos próprios pecados. Os pecados de cada um de nós.
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