HISTÓRIA DAS APARIÇÕES de Nossa Senhora de Fátima
A APARIÇÃO DE NOSSA SENHORA
EM FÁTIMA - Portugal – 1917.
JESUS CRISTO
veio trazer à
terra a Mensagem, única e suficiente, que está contida no seu Evangelho e nos
ensinamentos oficiais da Igreja.
Mas os homens são muito
esquecidos e distraídos e, pelo tempo fora, vão querendo pôr de lado alguns
aspectos da Mensagem divina. Então Deus digna-se relembrar tais aspectos
menosprezados, mas em perigo de se adulterarem com os costumes e a mentalidade
de cada época, ou até mais, contrariados pelo inimigo fundamental que é o
demônio.
Umas vezes intervém Nosso
Senhor em pessoa para dar a conhecer aos homens estas Mensagens a que podemos
chamar de parciais, ou de repetição. É o caso das revelações do Sagrado Coração
de Jesus a Santa Margarida Maria.
Outras vezes, mais
freqüentes, o Senhor deixa vir sua Mãe.
Mais raro e até talvez
único na história da Igreja é ter Nossa Senhora mandado um Anjo à sua frente,
para iniciar uma preparação que Ela depois quis continuar, e para dar aos
acontecimentos de Fátima um preâmbulo, logo colocou os protagonistas num clima
saturado de sobrenatural, e de onde se depreendem já as coordenadas daquilo que
viria a constituir o âmago da Mensagem:
Deus ofendido; necessidade
de reparação; mudança de vida.
AS APARIÇÕES
DO ANJO.
Na primavera de 1916, três
pastorzinhos tinham levado o seu rebanho de ovelhas para o pasto perto da aldeia
de Fátima. Foi como qualquer dia, como os outros na vida de Lúcia com 09 anos,
seu primo Francisco com 08 anos e sua irmãzinha Jacinta de 06 anos.
Transcrevemos em seguida
as palavras exatas de Lúcia sobre as três aparições do Anjo, estando presentes
apenas ela e os seus dois priminhos, Francisco e Jacinta.
1ª Aparição
do Anjo.
Conta a Irmã Lucia.
“As datas não posso
precisá-las com certeza, porque, nesse tempo, eu não sabia ainda contar os anos,
nem os meses, nem mesmo os dias da semana. Parece-me, no entanto, que deveu ser
na Primavera de 1916 que o Anjo nos apareceu a primeira vez na nossa Loca do
Cabeço... subimos a encosta em procura dum abrigo e como foi, depois de aí
merendar e rezar, que começamos a ver, a alguma distância, sobre as árvores que
se estendiam em direção ao Nascente, uma luz mais branca que a neve, com a forma
dum jovem, transparente, mais brilhante que um cristal atravessado pelos raios
do Sol. À medida que se aproximava, íamos-lhe distinguindo as feições. Estávamos
surpreendidos e meios absortos. Não dizíamos palavra.
Ao chegar junto de nós,
disse:
– Não temais. Sou o Anjo
da Paz. Orai comigo.
E ajoelhando em terra,
curvou a fronte até ao chão. Levados por um movimento sobrenatural imitamo-lo e
repetimos as palavras que lhe ouvimos pronunciar:
– Meu Deus, eu
creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não crêem, não
adoram, não esperam e não Vos amam.
Depois de repetir isto
três vezes, ergueu-se e disse:
– Orai assim. Os Corações
de Jesus e Maria estão atentos à voz das vossas súplicas.
E desapareceu.
A atmosfera do
sobrenatural que nos envolveu era tão intensa, que quase não nos dávamos conta
da própria existência, por um grande espaço de tempo, permanecendo na posição em
que nos tinha deixado,
repetindo sempre a mesma oração.
A presença de Deus
sentia-se tão intensa e íntima que nem mesmo entre nós nos atrevíamos a falar.”
Cada uma das palavras do
Anjo e até das da narrativa de Lúcia, mereceriam longo e apropriado comentário e
dariam lugar para proveitosa meditação. Será feito em ocasião mais oportuna.
2ª Aparição
do anjo.
“A segunda deveu ser no
pino do Verão, (junho) nesses dias de maior calor, em que íamos com (os)
rebanhos para casa, no meio da manhã, para os tornar a abrir só à tardinha.
Fomos, pois passar as horas da sesta à sombra das árvores que cercavam o poço já
várias vezes mencionado.
De repente, vimos o mesmo
Anjo junto de nós.
– Que fazeis? Orai! Orai
muito! Os Corações de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia.
Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios.
– Como nos havemos de
sacrificar? – perguntei.
– De tudo que puderdes,
oferecei um sacrifício em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido
e de súplica pela conversão dos pecadores. Atraí, assim, sobre a vossa Pátria, a
paz. Eu sou o Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal.
Sobretudo, aceitai e
suportai com submissão o sofrimento que o Senhor vos enviar.
Estas palavras do Anjo
gravaram-se em nosso espírito, como uma luz que nos fazia compreender quem era
Deus, como nos amava e queria ser amado; o valor do sacrifício, e como o
sacrifício Lhe era agradável, como por atenção ao sacrifício oferecido,
convertia os pecadores.
Por isso, desde esse
momento, começamos a oferecer ao Senhor tudo que nos mortificava, mas sem
discorrermos a procurar outras mortificações ou penitências, exceto a de
passarmos horas seguidas prostrados por terra, repetindo a oração que o Anjo nos
tinha ensinado.
3ª Aparição
do anjo.
A terceira aparição
parece-me que deveu ser em Outubro ou fins de Setembro, porque já não íamos
passar as horas da sesta a casa. Passamos da Prégueira (é um pequeno olival
pertencente à meus pais) para a Lapa, dando a volta à encosta do monte pelo lado
de Aljustrel e Casa Velha.
Rezamos aí o terço e a
oração que na primeira aparição o Anjo nos tinha ensinado. Estando, pois, aí,
apareceu-nos pela terceira vez, trazendo na mão um cálice e sobre ele uma
Hóstia, da qual caíam, dentro do cálice, algumas gotas de sangue. Deixando o
cálice e a Hóstia suspensos no ar, prostrou-se em terra e repetiu três vezes a
oração:
– Santíssima Trindade,
Padre, Filho, Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o
preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos
os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com
que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e
do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores.
Depois, levantando-se,
tomou de novo na mão o cálice e a Hóstia e deu-me a Hóstia a mim e o que
continha o cálice deu-o a beber à Jacinta e ao Francisco, dizendo, ao mesmo
tempo:
– Tomai e bebei o Corpo e
o Sangue de Jesus Cristo horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai
os seus crimes e consolai o vosso Deus.
De novo se prostrou em
terra e repetiu conosco mais três vezes a mesma oração:
– Santíssima Trindade...
etc.
E desapareceu.
Levados pela força do
sobrenatural que nos envolvia, imitávamos o Anjo em tudo, isto é, prostrando-nos
como Ele e repetindo as orações que Ele dizia. A força da presença de Deus era
tão intensa que nos absorvia e aniquilava quase por completo. Parecia privar-nos
até do uso dos sentidos corporais por um grande espaço de tempo.
Nesses dias, fazíamos as
ações materiais como que levados por esse mesmo ser sobrenatural que a isso nos
impelia. A paz e felicidade que sentíamos era grande, mas só íntima,
completamente concentrada a alma em Deus. O abatimento físico, que nos
prostrava, também era grande.»
E aqui temos, na
simplicidade fiel da narradora e protagonista, contada uma das cenas mais
portentosas de toda a história humana nas suas relações com o sobrenatural.
Tanto as palavras proferidas como o cenário e todos os gestos, são densos de
doutrina e de profundo significado que deixamos ao estudo dos entendidos, com
vista a conclusões e aplicações práticas.
Citamos apenas umas
palavras de Lúcia:
Na terceira aparição, a
presença do sobrenatural foi ainda muitíssimo mais intensa. Por vários dias, nem
mesmo o Francisco se atrevia a falar. Dizia depois:
– Gosto muito de ver o
Anjo; mas o pior é que, depois, não somos capazes de nada. Eu nem andar podia,
não sei o que tinha! Apesar de tudo, foi ele quem se deu conta, depois da
terceira aparição do Anjo, das proximidades da noite. Foi quem disso nos
advertiu e quem pensou em conduzir o rebanho para casa.
Passados os primeiros dias
e recuperado o estado normal, perguntou o Francisco:
– O Anjo, a ti, deu-te a
Sagrada Comunhão; mas a mim e à Jacinta, que foi o que Ele nos deu?
– Foi também a Sagrada
Comunhão? – respondeu a Jacinta, numa felicidade indizível. – Não vês que era o
Sangue que caía da Hóstia?
– Eu sentia que Deus
estava em mim, mas não sabia como era! E prostrando-se por terra, permaneceu por
largo tempo, com a sua Irmã, repetindo a oração do Anjo:
Santíssima
Trindade..., etc.
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