Finados
A
Igreja, guardiã e intérprete da divina Revelação, ensina que todos os
que morrem na graça de Deus e entram na vida eterna não rompem suas
relações com os irmãos que ficam: vivos e mortos, santificados pelo
mesmo Espírito, formam o Corpo Místico de Cristo, a Igreja.
Igreja
triunfante, celebrada no dia anterior a este, com a solenidade de Todos
os Santos; Igreja militante, peregrina sobre a terra, a caminho do
Reino prometido por Cristo aos redimidos; e Igreja da purificação, um
estado intermediário, temporário, que tem seu fundamento na Revelação.
São
Paulo, na Primeira Carta aos Coríntios, para esclarecer essa verdade,
usa a imagem de um edifício em construção: entre os operários há aquele
que faz um trabalho cuidadoso, perfeito e usa bom material; e há o que,
pelo contrário, ao bom material mistura madeira ou palha. Houve tempo em
que as casas dos pobres tinham telhado de palha sustentado por frágeis
traves. Na metáfora paulina, aquela madeira ordinária e aquela palha são
a vanglória e o pouco zelo no serviço do Senhor. Na hora da
verificação, acrescenta são Paulo, isto é, na prova do fogo, a palha
desaparecerá, mas “se a obra construída [...] subsistir, o operário
receberá uma recompensa. Aquele, porém, cuja obra for queimada, perderá a
recompensa. Ele mesmo, entretanto, será salvo, mas como que através do
fogo”.
A estas almas, imersas na chama purificadora à espera da
plena bem-aventurança celeste, a Igreja dedica, neste dia, uma
recordação particular, para soldar com a caridade do sufrágio aqueles
vínculos de amor que ligam vivos e mortos na mística união com Cristo.
Em 1915, Bento XV estendeu a todos os sacerdotes o privilégio —
concedido em 1748 apenas à Espanha — de celebrarem três missas em
sufrágio dos mortos.
Na liturgia de hoje, a Igreja condensa em
três palavras a resposta à interrogação sobre a “vida além da vida”:
vita mutatur, non tollitur, a vida continua. São as palavras de Jesus:
“Eu sou a ressurreição. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá. E quem
vive e crê em mim, jamais morrerá” (Jo 11,25-26). E, sempre no
evangelho de João (6,54.58), Jesus insiste na mesma verdade
consoladora: “Quem
come a minha carne e bebe o meu sangue, tem vida eterna, e eu o
ressuscitarei no último dia... Este é o pão que desceu do céu. Ele não é
como o que os pais comeram e pereceram; quem come este pão, viverá
eternamente...”
“Nós cremos que o Verbo de Deus
Pai, que é a vida por natureza, tendo-se unido ao corpo animado de uma
alma racional, gerado pela Virgem Santa, tenha-o tornado vivificante,
com esta inefável e misteriosa união, para que, fazendo-nos participar
dele, espiritual e corporalmente (por meio da Eucaristia), eleve-nos
acima da corrupção (são Cirilo de Alexandria, Ad. Nestor. 4,5).
Hoje
é dia de transformar nossa saudade e nossas lágrimas em forças de
intercessões aos fieis que já não estão entre nós e que precisam das
nossas orações. Oremos aos que já se foram em sinal de nosso amor,
gratidão e desejo de que descansem em paz ao lado de Deus e nosso Senhor
Jesus Cristo.
Comemoração dos Fiéis Defuntos
Hoje
não é dia de tristezas e lamúrias, e sim de transformar nossas
saudades, e até as lágrimas, em forças de intercessão pelos fiéis que,
se estiverem no Purgatório, contam com nossas orações
Neste dia ressoa em toda a Igreja o conselho de São Paulo para as primeiras comunidades cristãs: “Não
queremos, irmãos, deixar-vos na ignorância a respeito dos mortos, para
que não vos entristeçais como os outros que não tem esperança” ( 1 Tes
4, 13).
Sendo
assim, hoje não é dia de tristezas e lamúrias, e sim de transformar
nossas saudades, e até as lágrimas, em forças de intercessão pelos fiéis
que, se estiverem no Purgatório, contam com nossas orações.
O
convite à oração feito por nossa Mãe Igreja fundamenta-se na realidade
da “comunhão dos santos”, onde pela solidariedade espiritual dos que
estão inseridos no Corpo Místico, pelo Sacramento do Batismo, são
oferecidas preces, sacrificios e Missas pelas almas do Purgatório. No
Oriente, a Igreja Bizantina fixou um sábado especial para orações pelos
defuntos, enquanto no Ocidente as orações pelos defuntos eram quase
geral nos mosteiros do século VII; sendo que a partir do Abade de Cluny,
Santo Odilon, aos poucos o costume se espalhou para o Cristianismo, até
ser tornado oficial e universal para a Igreja, através do Papa Bento XV
em 1915, pois visava os mortos da guerra, doentes e pobres.
A Palavra do Senhor confirma esta Tradição pois “santo
e piedoso o seu pensamento; e foi essa a razão por que mandou que se
celebrasse pelos mortos um sacrifício expiatório, para que fossem
absolvidos de seu pecado” (2 Mc 2, 45). Assim é salutar lembrarmos
neste dia, que “a Igreja denomina Purgatório esta purificação final dos
eleitos, que é completamente distinta do castigo dos condenados”
(Catecismo da Igreja Católica).
Portanto,
a alma que morreu na graça e na amizade de Deus, porém necessitando de
purificação, assemelha-se a um aventureiro caminhando num deserto sob um
sol escaldante, onde o calor é sufocante, com pouca água; porém enxerga
para além do deserto, a montanha onde se encontra o tesouro, a montanha
onde sopram brisas frescas e onde poderá descansar eternamente; ou
seja, “o Céu não tem portas” (Santa Catarina de Gênova), mas sim uma
providencial ‘ante-sala’.
“Ó
meu Jesus perdoai-nos, livrai-nos do fogo do Inferno. Levai as almas
todas para o Céu e socorrei principalmente as que mais precisarem!
Amém!”
Hoje é dia de rezar e recordar por aqueles que se foram. Rezar pelas
almas dos fiéis falecidos é voltar-se com amor pela Misericórdia de Deus
mediante aos que partiram.
Oração para o dia dos Finados
Ó Deus, que pela morte e Ressurreição de vosso Filho Jesus Cristo nos
revelastes o enigma da morte, acalmastes nossas angústias e fizestes
florescer a semente da eternidade que vós mesmo plantastes em nós:
Concedei aos vossos filhos e filhas já falecidos a paz definitiva da
vossa presença. Enxugai as lágrimas dos nossos olhos e dai-nos a todos a
alegria da esperança na Ressurreição prometida.
Isto vos pedimos, por Jesus Cristo vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Que todos aqueles que buscaram o Senhor com o coração sincero e que morreram na esperança da Ressurreição descansem em paz.
Amém.
Oração pelos falecidos:
Pai santo, Deus eterno e Todo-Poderoso, nós Vos pedimos por (nome
do falecido), que chamastes deste mundo. Dai-lhe a felicidade, a luz e a
paz. Que ele, tendo passado pela morte, participe do convívio de Vossos
santos na luz eterna, como prometestes a Abraão e à sua descendência.
Que sua alma nada sofra, e Vos digneis ressuscitá-lo com os Vossos
santos no dia da ressurreição e da recompensa. Perdoai-lhe os pecados
para que alcance junto a Vós a vida imortal no reino eterno. Por Jesus
Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém (Rezar Pai-Nosso
e Ave-Maria.)
Dai-lhe, Senhor, o repouso eterno e brilhe para ele a Vossa luz! Amém.
Santa Mônica, mãe de Santo Agostinho, ao falecer perto de Roma,
enquanto viajava para África, assim falava aos dois filhos que a
acompanhavam: “Ponde meu corpo em qualquer lugar, e não vos preocupeis
com ele. Só vos peço que, no altar de Deus, vos lembreis de mim, onde
quer que estiveres”.
As almas dos nossos falecidos parecem dizer com o patriarca Jó:
“Compadecei-vos de mim, ao menos vós que sois meus amigos, porque a mão
do meu Senhor me tocou”.
“Santo e salutar é o pensamento de orar pelos mortos, para que sejam livres dos seus pecados.”