Santos Inocentes
Somente a monstruosidade de uma mente assassina, cruel e desumana,
poderia conceber o plano executado pelo sanguinário rei Herodes:
eliminar todas os meninos nascidos no mesmo período do nascimento de
Jesus para evitar que vivesse o rei dos judeus.
Pois foi isso que esse
tirano arquitetou e fez.
Impossível calcular o número de crianças arrancadas dos braços maternos e
depois trucidadas. Todos esses pequeninos se tornaram os "santos
inocentes", cultuados e venerados pelo Povo de Deus. Eles tiveram seu
sangue derramado em nome de Cristo, sem nem mesmo poderem "confessar"
sua crença.
Quem narrou para a história foi o apóstolo Mateus, em seu Evangelho. Os
reis magos procuraram Herodes, perguntando onde poderiam encontrar o
recém-nascido rei dos judeus para saudá-lo. O rei consultou, então, os
sacerdotes e sábios do reino, obtendo a resposta de que ele teria
nascido em Belém de Judá, Palestina.
Herodes, fingindo apoiar os magos em sua missão, pediu-lhes que, depois
de encontrarem o "tal rei dos judeus", voltassem e lhe dessem notícias
confirmando o fato e o local onde poderia ser encontrado, pois "também
queria adorá-lo".
Claro que os reis do Oriente não traíram Jesus. Depois de visitá-lo na
manjedoura, um anjo os visitou em sonho avisando que o Menino-Deus
corria perigo de vida e que deveriam voltar para suas terras por outro
caminho. O encontro com o rei Herodes devia ser evitado.
Eles ouviram e obedeceram. Tendo eles partido, eis que um anjo do Senhor apareceu em sonhos a
José e disse-lhe: ‘Levanta-te, toma o Menino e sua mãe e foge para o
Egito, e fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o
Menino para o matar’. E ele, levantando-se de noite, tomou o Menino e
sua mãe, e retirou-se para o Egito. E lá esteve até à morte de Herodes,
cumprindo-se deste modo o que tinha sido dito pelo Senhor por meio do
profeta, que disse: ‘Do Egito chamarei o meu filho’. Então Herodes,
vendo que tinha sido enganado pelos Magos, irou-se em extremo e mandou
matar todos os meninos que havia em Belém e arredores, de dois anos para
baixo, segundo a data que tinha averiguado dos Magos.
Então se cumpriu o
que estava predito pelo profeta Jeremias: ‘Uma voz se ouviu em Ramá,
grandes prantos e lamentações: Raquel chorando os seus filhos, sem
admitir consolação, porque já não existem’” (Mt 2,11-20) Quanto ao
número de assassinados, os Gregos e o jesuíta Salmerón (1612) diziam ter
sido 14.000; os Sírios 64.000; o martirológio de Haguenau (Baixo Reno)
144.000. Calcula-se hoje que terão sido cerca de vinte ao todo. Foram
muitas as Igrejas que pretenderam possuir relíquias deles.Mas o tirano, ao perceber que havia sido
enganado, decretou a morte de todos os meninos com menos de dois anos de
idade nascidos na região. O decreto foi executado à risca pelos
soldados do seu exército.
A festa aos Santos Inocentes acontece desde o século IV. O culto foi
confirmado pelo papa Pio V, agora santo, para marcar o cumprimento de
uma das mais antigas profecias, revelada pelo profeta Jeremias: a de que
"Raquel choraria a morte de seus filhos" quando o Messias chegasse.
Esses pequeninos inocentes de tenra idade, de alma pura, escreveram a
primeira página do álbum de ouro dos mártires cristãos e mereceram a
glória eterna, segundo a promessa de Jesus. A Igreja preferiu indicar a
festa dos Santos Inocentes para o dia 28 de dezembro por ser uma data
próxima à Natividade de Jesus, uma vez que tudo aconteceu após a visita
dos reis magos. A escolha foi proposital, pois quis que os Santinhos
Inocentes alegrassem, com sua presença, a manjedoura do Menino Jesus.
Na Idade Média, nos bispados que possuíam escola de meninos de coro, a
festa dos Inocentes ficou sendo a destes. Começava nas vésperas de 27
de dezembro e acabava no dia seguinte. Tendo escolhido entre si um
“bispo”, estes cantorzinhos apoderavam-se das estolas dos cônegos e
cantavam em vez deles. A este bispo improvisado competia presidir aos
ofícios, entoar o Inviatório e o
Te Deum e desempenhar outras
funções que a liturgia reserva aos prelados maiores. Só lhes era
retirado o báculo pastoral ao entoar-se o versículo do Magnificat:
Derrubou os poderosos do trono,
no fim das segundas vésperas. Depois, o “derrubado” oferecia um
banquete aos colegas, a expensas do cabido, e voltava com eles para os
seus bancos. Esta extravagante cerimônia também esteve em uso em
Portugal, principalmente nas comunidades religiosas.
A festa de hoje também é um convite a refletirmos sobre a situação
atual desses milhões de “pequenos inocentes”: crianças vítimas do
descaso, do aborto, da fome e da violência. Rezemos neste dia por elas e
pelas nossas autoridades, para que se empenhem cada vez mais no cuidado
e no amor às nossas crianças, pois delas é o Reino dos Céus. Por estes
pequeninos, sobretudo, é que nós cristãos aspiramos a um mundo mais
justo e solidário.
Santos Inocentes, rogai por nós!