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sábado, 5 de maio de 2018
“Eu fui estuprada violentamente aos 16, mas o aborto foi muito pior”
“Algo
terrível aconteceu naquela noite. Mas nem se compara com a dor e o
remorso que eu fui acumulando, e que Satanás foi acumulando sobre mim,
ao longo dos anos que se seguiram ao aborto.”
Aos 16 anos de idade, poucos dias antes de meu 17.º aniversário, tive
meu primeiro encontro [1]. Eu estava nervosa. Ele jogava futebol
americano e era popular. Nós comemos e assistimos a um filme. Eu ainda
tinha algum tempo antes de voltar para casa, então fomos dar umas voltas
de carro na região rural em que morávamos. Fomos a uma das propriedades
de sua família e fizemos um passeio olhando cavalos. Meu primeiro
encontro, que parecia para mim como um sonho completo, converteu-se imediatamente em um pesadelo, quando ele me estuprou com violência em um celeiro.
O grito silencioso
A princípio, eu não contei nada a ninguém. Afinal de contas, logo
depois ele me ameaçou, dizendo que eu me arrependeria se contasse para
alguém, que ele acabaria comigo e que ninguém acreditaria em mim.
Algumas semanas depois, eu contei tudo a uma amiga. Depois de conversar
com algumas pessoas e de descobrir que ele já havia espalhado sua
própria versão do que havia acontecido naquela noite, de fato, ninguém
acreditou em mim. Pessoas em quem eu confiava, pessoas que eu amava, pessoas que eu esperava que fossem me apoiar,
não fizeram nada disso. Comecei então a negar tudo aquilo para mim
mesma e tentar apagar da minha memória o que tinha acontecido.
Na ocasião, eu não pensei muito sobre a possibilidade de estar
grávida, porque eu tinha uma visão distorcida sobre o assunto: já que
tinha sido um estupro, pensei, era de alguma forma menos provável que eu
ficasse grávida. Foi só quando comecei a sentir os sintomas que passei a
me dar conta de que, talvez, eu pudesse estar grávida. Peguei o carro sozinha e fui a uma cidade diferente para comprar um teste de gravidez. Fiz o teste no banheiro de um posto de combustível,
a fim de que ninguém em minha terra natal soubesse de nada. Antes de
fazê-lo, eu já tinha meio que planejado o que faria se o teste desse
positivo: eu tinha o nome de um “centro para crise na gravidez” (CCG, ver nota), que eu pensava ser uma clínica de aborto [2]. Eu estava muito assustada e revoltada ali, sozinha, no banheiro daquele posto. Estava revoltada com Deus, perguntando como Ele poderia ter deixado aquilo acontecer comigo, e comigo mesma, por ter me colocado em uma situação de permitir que aquilo acontecesse.
De um telefone público, liguei para o CCG e eles disseram que eu
poderia ir até lá imediatamente. Foi o que fiz. Estava a cerca de uma
hora de carro. A essas alturas, já não confiava em ninguém e tinha escolhido não contar nada, nem a amigos, nem a nenhum familiar.
Senti que isso só confirmaria o que as pessoas já estavam dizendo sobre
eu estar “inventando um estupro”. Fui ao CCG porque pensei que se
tratava de uma clínica de aborto, na esperança de ter um naquele mesmo
dia. As pessoas ali foram muito gentis comigo e contaram-me tudo o que eu já sabia sobre a vida que estava dentro de mim.
Não me senti em nenhum momento julgada por eles. Eles só tinham alguns
dias específicos da semana em que realizavam ultrassonografias, e eu
teria de retornar dois dias depois para fazer uma. Chorando, eu lhes
disse que estava tão apavorada que não conseguiria encarar as pessoas
por causa da gravidez; disse ainda que iria a uma clínica de aborto assim que saísse dali.
As conselheiras me disseram que, mesmo que eu passasse por um aborto,
eu poderia sentir-me bem-vinda para voltar lá e falar com elas sobre
isso. Até o dia de hoje, 17 anos depois, eu ainda tenho amizade com uma
dessas pessoas.
Para onde vão os bebês abortados
Estremecendo com medo de enfrentar o ridículo, esgotada por causa das
calúnias que o estuprador já estava espalhando a meu respeito,
dirigi-me a uma clínica de aborto naquele mesmo dia. Era o oposto do
CCG: este era caloroso e acolhedor, mesmo passando a impressão de uma
clínica médica; a clínica de aborto era fria e sem vida. Havia pessoas
na sala de espera, mas ninguém era capaz de olhar um para o outro ou reconhecer, de alguma forma, a presença das outras pessoas.
Não houve privacidade nem delicadeza alguma para se falar com a
recepcionista a meu respeito. Ela disse que eles poderiam me examinar,
mas eu teria de agendar um retorno para fazer o procedimento no dia
seguinte. Respondi a ela que não poderia faltar à escola outro dia,
então ela disse que eles dariam um jeito de cuidar do meu caso.
Não houve nenhuma espera e nenhuma pergunta. A preocupação deles se resumia a saber se eu tinha dinheiro para lhes pagar. Eles sequer deram bola para o fato de eu estar sozinha. Foi absolutamente a pior experiência da minha vida
— pior até mesmo que o estupro. Eu ficava dizendo para mim mesma que
tudo iria ficar bem, que eu havia sido estuprada, então eu estava
justificada, e eu iria superar isso. Eu não acreditava em nada daquilo,
por isso eu ficava repetindo para mim mesma sem parar. Dizia a Deus que
era tudo culpa dele. Eu estava muito nervosa na hora. Mas eu sabia que havia um bebê dentro de mim. Eu sabia que a vida começava com a concepção, mas, na minha cabeça de 17 anos, eu simplesmente não estava conectando as coisas.
Entrei no carro com dores e chorei por duas horas antes de sequer pensar em voltar para casa. Eu não deveria nem mesmo ter pegado o carro naquele dia.
O problema estava resolvido de acordo com o “protocolo” social, e eu
deveria estar aliviada e pronta para seguir em frente com a minha vida, mas alívio foi a última coisa que eu senti naquele momento.
Eu me lembro de ter um diálogo comigo mesma, uma espécie de diálogo
entre o bem e o mal: “Você fez o que tinha de fazer”, disse primeiro.
“Você acha mesmo que tinha outra opção? A maioria das pessoas entenderia
o que você acabou de fazer.” Mas então eu disse para mim mesma: “Você sabia que era um bebê. Como você pôde? Você é uma pessoa horrível.” Eu pensei que não podia ser realmente uma cristã, tendo feito o que acabara de fazer.
Por muitos anos, eu fiz tudo o que estava ao meu alcance para dar um
fim àquela dor. Tenho poucas lembranças da faculdade, porque eu estava
sempre bebendo. Também lutei com uma desordem alimentar e, honestamente,
não sei como sobrevivi, não fosse pela graça de Deus. Eu ainda
frequentava a igreja durante esse tempo, mas parte de mim se sentia
morta e eu ainda me perguntava: “Como Deus poderia me amar? Como Ele poderia um dia me perdoar por ter assassinado meu filho?”
Depois de muito aconselhamento eu parei de beber e diminuí a desordem alimentar. Durante as sessões de terapia, nós focamos no estupro por um certo tempo e trabalhamos nisso, o que me ajudou, mas quase nunca tocávamos no assunto do aborto. Minha terapeuta chegou a me dizer: “Você fez realmente o que tinha de fazer naquela situação. Você tinha sido estuprada.” Eu sempre senti que, por causa da experiência que eu havia tido com o
CCG, mais tarde na minha vida eu gostaria de me envolver com esse tipo
de ministério. Nós tínhamos acabado de celebrar o National Sanctity of Human Life Day(lit.,
“Dia Nacional da Santidade da Vida Humana”) na minha igreja, e eu
contei a meu pastor que o CCG mais próximo de nós estava a cerca de uma
hora de distância, e que havia uma grande necessidade de um centro em
nossa área. Ele sentiu que Deus estava me inspirando, e encorajou-me a
começar um centro local.
Então eu reuni pessoas e começamos a planejar a instalação de um CCG.
Durante esse processo, ao visitar outros centros e aprender os serviços
que eram oferecidos aí, pela primeira vez ouvi falar do ministério
pós-aborto. Eu me aprofundei em leituras sobre síndrome pós-aborto e me dei conta de que era esse o meu grande problema, o motivo pelo qual eu sofria tanto. Tudo passou a fazer sentido.
Então, alguns anos atrás, fui a um estudo bíblico sobre aborto, onde finalmente entendi e aceitei o perdão e a graça de Deus.
Com isso, também superei a desordem alimentar que eu tinha. Ainda fico
deprimida às vezes, mas é algo controlado, que não domina mais a minha
vida. Comecei agora um ministério pós-aborto através de nosso CCG local e
estou ajudando outras mulheres a se curarem desse trauma.
Estou aqui para dizer que o aborto nunca é a solução.
Ele só fará com que uma situação já dolorosa e difícil se torne ainda
pior. Durante meu procedimento de aborto eu fiquei aterrorizada. Fiquei
fazendo perguntas sobre o que estava prestes a acontecer e ninguém
parecia querer me dar uma resposta. Olhando para trás, acho que eles queriam correr comigo antes que eu tivesse a oportunidade de mudar minha cabeça. O aborto nunca é a solução. Ele só fará com que uma situação já dolorosa e difícil se torne ainda pior.
Por muitos anos depois do que aconteceu, eu sofria crises de
ansiedade e até ataques de pânico às vezes, sempre que eu escutava
qualquer coisa remotamente parecida com a batida de um coração. Por
muito tempo eu não entendi a que exatamente eu estava reagindo. Só
muitos anos depois, quando meu marido e eu estávamos esperando nosso
primeiro filho, eu passei a relacionar minha ansiedade a certos sons. Eu vivi meu próprio inferno privado até passar por um estudo bíblico sobre aborto e encontrar a cura. A dor que eu senti por todos aqueles anos literalmente parecia que ia me matar às vezes.
Eu estava muito deprimida. Houve momentos em que eu me cortei pensando
que isso poderia liberar um pouco da dor que eu sentia dentro de mim. Houve muitos momentos em que eu pensei em dar um fim à minha vida
e outras tantas vezes eu cheguei perto de tentar. Eu honestamente
pensei que minha desordem alimentar iria eventualmente me matar, e essa
se tornou, na verdade, a minha intenção com os comportamentos doentios
que eu tinha. Era como se eu merecesse sofrer, sem viver nada que se parecesse com uma vida feliz, por causa do que eu havia feito.
Eu quero que as pessoas ouçam minha história. Por mais difícil que
seja, elas precisam ouvir. Algo terrível se passou comigo naquele
encontro, naquela noite. Naquela ocasião, eu fui traída pelas pessoas
mais próximas a mim. Tudo isso foi extremamente doloroso, mas nem
se compara com a dor, a culpa, a vergonha, o remorso ou o ódio a mim
mesma que eu fui acumulando, e que Satanás foi acumulando sobre mim, ao
longo dos anos que se seguiram ao aborto.
Na época, eu pensei estar justificada pelo que eu tinha feito, porque
eu não tinha escolhido estar naquela situação: eu tinha engravidado por
causa de um estupro. Eu sabia que havia uma vida dentro de mim, mas
achava que não tinha importância, por causa do modo como ela tinha ido
parar lá. Eu nunca estive tão errada. Abortar uma
criança que é resultado de um estupro afeta a mulher como em qualquer
outra circunstância. Trabalhando no CCG, tenho conversado com muitas
mulheres que passaram por um aborto ao longo dos anos, e o que eu aprendi é que nós todas partilhamos a mesma dor. Não há absolutamente diferença nenhuma. O resultado final é sempre o mesmo.
Minha esperança é que, ouvindo a minha história, mais vítimas de
estupro falem sobre suas experiências também, a fim de darmos um basta à
história de que o estupro justifica a legalização do aborto. Eu amo e
me compadeço da vida daquela criança, assim como faria com qualquer um
dos meus outros filhos. Todos os dias eu penso quantos anos ela teria e com quem ela se pareceria se estivesse viva. Eu não sei se a teria criado por mim mesma ou entregado à adoção, mas é terrivelmente injusto que ela não tenha tido uma chance de viver.
Ainda que a vida dela tenha sido abreviada por causa do aborto, isso
não impediu que a sua existência tivesse sentido e propósito: contando
minha história a você, eu faço memória da minha filha e asseguro que a vida dela não foi em vão.
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