O SACRAMENTO DA CONFISSÃO.
CONFESSAI-VOS BEM !!!
Parte II.
2. O
funestíssimo “por quê”
D.
— Diga-me, Padre; qual será o primeiro “por quê” de tantas
confissões mal feitas?
M.
— Os “por quês” podem ser diversos, mas o principal é sem
dúvida “o medo”, ou seja a maldita vergonha pela qual
o demônio fecha a boca de muitos, fazendo-os calar ou
confessar mal certos pecados ou o número deles. Você
sabe como é que o demônio age quando quer induzir alguém ao
pecado? Cerca o infeliz de mil maneiras, vai-lhe sugerindo:
“—
Ora, cometa à vontade esse pecado... Afinal não é assim tão
grave. Deus é bom... Ele não o quer castigar... Depois, com
uma confissão Ele o perdoa e esta tudo acabado..." E assim,
batendo hoje, batendo amanhã, e sempre na mesma tecla, o
demônio acaba triunfando, ou seja fazendo cometer e talvez
até repetir os pecados. Depois, então, quando o coitado,
roído pelo remorso, resolve confessar-se, o demônio muda de
tática. Novamente trata de impedir que Deus tome conta dessa
alma, dizendo:
—
“Como ousas confessar esse pecado? O confessor ficará
surpreendido, há de ralhar contigo, levá-lo-á a mal e é
provável que te negue a absolvição. Ora, vamos, não temas,
confessar-te-ás depois... Há tempo de sobra... Há sempre
tempo para isso.
— E
assim o mais das vezes fecha a boca de quem estaria quase
resolvido a falar e induz os pobres infelizes a se calarem e
a cometerem
“Como ousas confessar esse pecado?”
D.
— É esta mesmo a tática do demônio?
M.
— Certamente! Ele mesmo o confessou a Santo Antonino,
arcebispo de Florença. Um dia, tendo o santo visto o demônio
junto do confessionário, perguntou-lhe:
—
O quê fazes aí?
—
Estou esperando para fazer a restituição.
—
Qual restituição? Fala, ou ai de ti.
—
Venho restituir aos pecadores a vergonha e o medo que lhes
roubei quando os fiz cometer os pecados. .
D.
— Se não me engano, parece-me que li que D. Bosco também viu
o demônio em circunstâncias análogas.
M.
— Justamente! E ouça como foi:
Certa
noite, estava o santo confessando no coro da Igreja de São
Francisco de Sales em Turim; era grande o número de jovens
ali reunidos, esperando que chegasse a sua vez. Pelo
confessionário passam dez, passam vinte, e chega finalmente
um que, tendo já feito uma parte da confissão, pára de
repente.
—
Continue, diz-lhe D. Bosco, que por inspiração divina lia na
consciência dos seus filhos.
—
Continue! E o resto?
— Não
há mais nada, Padre, mais nada!
Não
temas, meu filho, continua o Santo, o Confessor não ralha,
não castiga, perdoa sempre, perdoa sempre, perdoa tudo em
nome de Deus; tem coragem... confessa-te bem...
— Não
há mais nada! Nada mais!...
—
Mas por que, meu filho, queres, com uma confissão
sacrílega, dar prazer ao demônio... causar tristeza a Jesus,
fazê-lo chorar?
—
Garanto-lhe Padre, que não tenho mais nada a dizer!
D.
Bosco que vê o perigo que o infeliz jovem corre, inspirado
por Deus, abandona a luta inútil e diz:
— Pois bem, olha quem está atrás de ti!
O
rapaz vira-se de repente, solta um grito agudo e,
agarrando-se ao pescoço de D. Bosco exclama:
— Sim
Padre, eu tenho mais este pecado...
E conta o pecado que não ousava confessar... Os
companheiros que estavam na igreja ouviram o grito; assim
que saíram, cercaram o rapaz, e, curiosos, queriam saber o
que tinha acontecido. E ele sorrindo, apesar de estar ainda
um tanto assustado:
Se vocês soubessem... Eu tinha cometido uma falta que não
ousava confessar. D. Bosco leu meu coração...
e eu vi o demônio que, sob a figura de um gorila de olhos de
fogo e garras afiadas, estava pronto para me agarrar!
D.
— D. Bosco era um Santo! Que sorte confessar com um Santo;
não é, Padre?
M.
— Todos os confessores representam Jesus Cristo e Jesus
Cristo é sempre Santo; Ele tudo sabe, Ele vê tudo, tem pena
de todos, perdoa tudo!
D.
— Mas mesmo assim o demônio procura enganar e trair nas
confissões?
M.
— Justamente; em todas as ocasiões. Assim como o lobo agarra
as ovelhas pela garganta para que não gritem, e as carrega e
as devora, assim também faz o demônio com certas almas;
agarra-as pela garganta afim de que não confessem os
pecados e as arrasta miseravelmente para o inferno.
D.
— Que espertalhão malvado! Mas haverá quem, depois de
enganado uma vez, se deixe levar por esse impostor?
M.
— Há muitos, muitíssimos, infelizmente! Ai daquele que
começa a seguir por esse caminho! São geralmente os que
cometem pecados contra a pureza que enveredam por tal
caminho!
Geralmente não há dificuldade em confessar os pecados contra
a fé, os pecados de blasfêmias, os de profanação dos dias
festivos, os de desobediência, de vingança e mesmo os de
furto; mas quando se trata de acusar pecados de impureza, ou
ter que acrescentar certas circunstâncias que os
acompanharam, ou ainda quando se trata de dizer o número
bastante considerável dessas faltas, então uma maldita
vergonha surge e fecha sacrilegamente a boca do penitente.
De
mais a mais, a confissão sacrílega geralmente não fica
sozinha. Depois de uma vem outras e assim essas almas
infelizes continuam durante anos e anos, e além disso
acrescentam a essas confissões mal feitas outras tantas
Comunhões sacrílegas. E não raro, acontece que
aqueles que, tendo começado a esconder pecados graves desde
as primeiras confissões, chegam a uma idade avançada sem
nunca fazerem uma boa confissão e sem nunca repararem a
desordem de suas almas.
É
inacreditável, nota o Padre da Bérgamo, é inacreditável
como o medo e a vergonha são comuns principalmente entre
os moços. Daí vem o hábito de continuar a calar os pecados
para não sofrer a humilhação, o sacrifício de confessá-los.
S. Leonardo afirma ter tido a seus pés pessoas que,
mesmo em perigo de morte não puderam vencer a vergonha que
lhes fechava a boca.
S. Afonso recomenda aos padres que falem freqüentemente nos
seus sermões com calor, com insistência, sobre esse perigo
da vergonha que faz calar e insiste para que façam ver ao
povo como as confissões mal feitas arruínam as almas,
porque essa praga das confissões sacrílegas reina por toda a
parte, principalmente nos lugarejos. E, como é comum que
fatos e exemplos impressionem o povo, sugere aos
padres que contem muitos exemplos de almas que se perderam
por causa de pecados não confessados.
D.
— Conte alguns, Padre!
M.
— Com muito prazer!
Conta-se que uma menina de sete anos tinha tido a
infelicidade de cometer certos atos impuros.
Envergonhada, não ousou confessá-los na ocasião e nem mais
tarde. Tendo adoecido gravemente, chamou o
confessor, recebeu o Santo Viático, a Extrema-Unção e
morreu! Todos, mãe, irmãs, e amigas lamentaram a sua perda,
mas era para elas um conforto julgá-la salva e santa.
Porém,
três dias depois do enterro, quando o Sacerdote se
aproximava do altar para celebrar em sufrágio de sua alma,
sentiu que o seguravam pelo braço, e uma voz triste e
comovente lhe dizia baixinho:
—
Padre, não reze por mim porque eu estou condenada!
Condenada por certos pecados que ocultei na confissão desde
os sete anos.
Uma
outra menina de 13 anos na ocasião da Páscoa tinha comungado
junto com as companheiras: mas eis que, logo depois de
recebida a santa partícula tem um estremecimento,
contorce-se e cai por terra. Os presentes acodem assustados
e a carregam para uma casa vizinha. Acabada a função, o
Vigário se apressa a correr à cabeceira da menina que
continua a delirar e debater-se; chama-a pelo nome e
diz-lhe:
—
Coragem, confia tudo a Jesus, àquele Jesus que recebeste na
Comunhão! Ouvindo essas palavras, ela arregala os olhos e,
horrorizada exclama:
—
A Jesus?!... A Jesus?! Ah não! Eu o recebi mal, eu cometi
um sacrilégio escondendo certos pecados na confissão.
— E,
continuando a debater-se, expira pouco depois diante dos
presentes comovidos e penalizados.
M.
— O quê me diz desses exemplos?
D.
— Digo que são terríveis e bastante para demonstrar
como é grande o mal das confissões mal feitas.
M.
— Não estranhe, portanto a nossa insistência sobre a
sinceridade requerida para as confissões. Eu, que, desde os
primeiros anos de Sacerdócio, por graça de Deus, tive a
sorte de começar a catequizar e a pregar para jovens e
adultos e continuo ainda hoje a exercitar-me nesta obra
consoladora e frutuosíssima, nunca perdi o hábito de
falar freqüentemente sobre a necessidade da confissão
sincera e posso dizer que nunca me arrependi.
Ah!
quantos jovens e adultos eu consolei, reconduzi ao bom
caminho; quantos eu salvei nos Exercícios Espirituais, nas
Missões e mesmo nas simples conferências e palestras!
D.
— Tem razão, Padre; de fato, nenhum sermão é ouvido de tão
boa vontade como os que versam sobre a confissão.
3. Ai daquele que começa.
D.
— Padre, se é assim tão fácil encontrar quem se deixe
enganar pelo demônio e se cala, renovando o sacrilégio na
confissão por quê é que os sacerdotes e os confessores
não indagam, não interrogam os penitentes para impedir as
confissões mal feitas?
M.
— Coitados dos sacerdotes e dos confessores!
Infelizmente eles sabem e vêm que algumas almas deixam muito
a desejar, mas em geral receiam ser indiscretos interrogando
e esclarecendo certas coisas. Até pelo contrário,
com certas pessoas, não ousamos, parece-nos imprudência
interrogar.
Um pai
ou uma mãe gostam de fazer sempre bom juízo dos seus filhos,
e ficam penalizados quando têm que duvidar da sua conduta,
da sua sinceridade, da sua inocência. Do mesmo modo sente o
pobre sacerdote no que diz respeito aos próprios filhos
espirituais e penitentes.
D.
— E então?
M.
— E então, continua-se em tal vida até que Deus intervenha
com a sua mão providencial.
Eis
porque por ocasião dos Exercícios Espirituais, das Missões,
da Páscoa e de outras tantas festividades do mesmo gênero
encontram-se muitas almas, as quais, tendo tido a desgraça
enorme de calar uma vez certos pecados na confissão e
continuaram depois com sacrilégios durante anos e anos até o
dia em que, tocados por graça especial, podem finalmente
abrir os olhos e tranqüilizar a consciência por tanto tempo
torturada pelo remorso.
Pregavam-se os Exercícios em uma paróquia do Piemonte. Havia
já alguns dias que tinham começado as confissões e desde o
princípio eu notara uma pessoa de aspecto triste e
indizivelmente constrangida que rondava o confessionário.
Não fazia, porém, muito caso disso, quando eis que uma noite
ela caiu aos meus pés e disse:
—
Padre, ajudai-me; eu sou uma infeliz. Há quinze anos que eu
me confesso mal; só fui capaz de cometer sacrilégios... e
desatou em pranto.
— Pois
bem, cria coragem, eu respondi, Deus será misericordioso;
para a senhora também Jesus será infinitamente bom. Diga-me:
quantos anos tem? Como é que enveredou por esse caminho?
—
Tenho vinte e sete anos; quando tinha doze apenas, por causa
de uma curiosidade ilícita eu cometi um pecado que não ousei
confessar. Com tal sacrilégio, aproximei-me da mesa da
Comunhão e, desde aquele dia até hoje os pecados e
sacrilégios sucederam-se uns aos outros. Rezei muito, chorei
muito, fiz romarias mas tudo em vão! Confessava-me todos os
meses e até com mais freqüência por ocasião dos Exercícios
Espirituais; repetia as confissões gerais mas esses
pecados eu sempre os escondi, por pura vergonha.
— E a
senhora estava satisfeita com as suas Confissões: Comungava
tranquilamente?
— Oh,
Padre! se soubésseis como os remorsos amargos
atormentavam o meu coração, cravando-se nele como espinhos
agudos!
— Mas
então por quê continuava sempre do mesmo modo?
Porque
fui uma tola, eis tudo... Um medo indizível das reprimendas
do confessor fechava-me a boca e um exagerado respeito
humano das minhas companheiras arrastava-me para a Comunhão
nesse estado.
— Há
quanto tempo confessou-se pela ultima vez?
— Ah!
Padre! confessei-me já três vezes durante esta Missão, com
três confessores diferentes, sempre com o firme propósito de
acabar com isto de uma vez por todas e dizer tudo.
Mas, chegando ao ponto terrível, sentia um nó cruel que me
apertava a garganta e assim calava-me.
— E
agora, como conseguiu manifestar-se?
—
Padre, o vosso sermão de hoje sobre a necessidade
absoluta da confissão bem feita, aquelas palavras tantas
vezes repetidas “experimentem e verão o quanto Jesus é bom”,
comoveram-me e foi então que decidi falar, custasse o que
custasse.
Ajudada pelo confessor ela fez uma confissão geral das mais
consoladoras, tendo recebido a absolvição, não parava de
repetir:
— Agora chega, Padre, chega de pecados e sacrilégios. Direi
a todos que experimentei e que vi como Jesus é bom!...
D.
— São fatos que consolam, não é Padre?... E ainda bem que
reconhecem suas faltas!
M.
— Mas quantos não as reconhecem mesmo em ponto de
morte! É uma coisa muito triste, mas infelizmente
verdadeira; não raro há moribundos que às portas da morte,
teimam em esconder os pecados não confessados ou mal
confessados desde a juventude, nesse estado deplorável
passam para a eternidade.
“Tirem
da minha frente este Cristo, não preciso dele!”
D.
— Coitados!
M.
— Pode chamá-los desgraçados! Ai de quem começa.
D.
— Mas a misericórdia infinita de Deus não vem em auxílio?
M.
— Você pode supor que Deus queira sempre, na hora da morte,
usar de misericórdia com quem durante toda a vida abusando
dessa misericórdia, injuriou-O com sacrilégios? E além disso
na maioria dos casos, nem invocam essa misericórdia; pelo
contrário, muitas vezes a desprezam. Aqui também quero
persuadi-lo com fatos.
O
Padre dal Rio conta que uma jovem empregada se confessava
freqüentemente, pois que a patroa exigia, mas por
vergonha e teimosia calava os pecados desonestos.
Uma ocasião ela caiu gravemente enferma; sempre por causa da
solicitude da patroa, confessou-se, e mais de uma vez,
sacrílegamente. Depois que a curaram com muitos cuidados,
chegava até a caçoar com as amigas pondo em ridículo o zelo
da patroa e do confessor para induzi-la a fazer uma boa
confissão.
Tendo
adoecido pela segunda vez e mais gravemente do que da
primeira, a patroa tornou a chamar o sacerdote o qual acudiu
com presteza. Com toda a piedade e paciência que Deus
concede em casos análogos, o padre procurou induzir a
infeliz a uma sincera e dolorosa confissão. Mas tudo
em vão! Sempre teimosa, perseverou durante a longa agonia no
propósito de se esquivar e de se calar, recusando-se até a
repetir a jaculatória e as invocações sugeridas pelo
confessor; mostrava-se aborrecida com tudo aquilo e com a
presença do Padre.
E,
quando por fim vendo que chegava o momento da morte, o
sacerdote lhe pediu que beijasse o crucifixo, ela com um
esforço supremo o afastou com maus modos e olhando-o com
desprezo disse:
—Tirem
da minha frente este Cristo, não preciso dele!
— E
voltou-se para o outro lado; assim com um suspiro horrível
expirou aquela alma impenitente e sacrílega. Ai
daquele que começa!
O
Padre Agostinho de Fusignano conta-nos um fato análogo, que
se deu na sua presença. Uma mulher infeliz escondia na
confissão os pecados mais graves. Apesar dos sermões ouvidos
contra essa vergonha sacrílega, apesar das mais amorosas
exortações, apesar do mais agudo remorso da consciência ela
não soube aproveitá-los. Cansada a misericórdia de Deus de
esperar, feriu-a com uma doença violenta que a pos em ponto
de morte. O confessor foi chamado prontamente, mas a infeliz
assim que o viu, exclamou:
—
Padre, chegastes a tempo para ver uma mentirosa penitente ir
para o inferno. Eu me confessava com freqüência, mas deixava
sempre os pecados mais graves.
— Pois
bem, confesse-os agora, respondeu o confessor.
— Não
posso, não posso, gritou desesperada a infeliz. O tempo da
misericórdia já passou; é chegado o momento da justiça!
E,
delirando e contorcendo-se raivosamente, expirou, deixando
em todos os presentes a mais triste e horrível impressão.
Aqui também não será demais repetir: Ai daquele que começa!
Santo
Afonso conta o caso de um senhor cuja conduta era
aparentemente boa; fazia, porém, más confissões.
Tendo adoecido gravemente, foi visitado pelo Vigário o qual
suplicou-lhe que recebesse os sacramentos pois estava em
perigo de vida. Mas o enfermo recusava-se a confessar.
— E
por que meu caro senhor não quer confessar-se? Ah! respondeu
o doente, é porque estou condenado! E Deus, para castigar os
meus sacrilégios, tira-me a vontade e a força de repará-los.
Dito
isto, começou a morder a língua, a debater-se
desesperadamente, gritando: “Maldita língua, maldito
silêncio, malditos sacrilégios”. Não foi possível
convencê-lo, até que miseravelmente morreu.
D.
— Chega Padre! São coisas que arrepiam a gente. Eu por mim
não quero cometer sacrilégios.
M.
— Mantenha essa santa resolução. Por que deixar-se
dominar pelo demônio mudo, pisar o Sangue de Jesus Cristo,
mudar o remédio em veneno e obrigá-lo a nos condenar, quando
pelo contrário, Ele quer a nossa salvação?
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