Neste domingo celebramos o mistério da nossa fé, que nos distingue de todas as expressões de fé não cristãs do mundo. Quando afirmamos o mistério da Santíssima Trindade, tratamos da nossa própria identidade. Em nenhuma outra religião, Deus é entendido como Pai, Filho e Espírito Santo. É bem verdade, que todos os que vivem suas religiões expressam fé, devoção, amor e desejo de conversão do mundo, mas não a partir da revelação em Jesus Cristo, que é a revelação absoluta de Deus, e é Cabeça da fé revelada por vontade do Pai no Espírito Santo. Esta é a fé da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, a qual professamos no mundo e para salvação de todos.
As leituras de hoje nos colocam no contexto histórico da revelação trinitária de Deus. A primeira leitura diz-nos que Deus criou a sabedoria e, na presença dela, também criou o universo. A sabedoria era o seu encanto, era amável e sublime; diante dele, ela brincava e se deleitava e, ainda, manifestava seu desejo de permanecer junto aos filhos dos homens, participando de sua história. O texto quer nos dizer que Deus criou todas as coisas por meio de sua sabedoria e que tudo tem uma finalidade, um sentido e uma ordem.
Diante dessa realidade, olhando para o mundo, percebemos uma tremenda diferença com relação ao plano de Deus. O mundo se encontra dividido, sem horizonte, envolvido em guerras e atrocidades. O mundo está banhado de soberba e individualismo; não valoriza mais o ser humano como tal, mas o interpreta como coisa e, portanto, algo descartável. Estamos numa época tremendamente relativista! O hedonismo e o consumismo dominam muitos homens e mulheres. O resultado de tudo isso é percebido na sombra de morte que cobre a humanidade, na dor estampada nas lágrimas de tantos, nos desequilíbrios naturais e pessoais. O mundo parece não entender a sabedoria de Deus, a única que pode tornar o homem conhecedor de sua própria realidade última e lançá-lo no horizonte de sua edificação.
A sabedoria não faz parte do caos. Ela nos faz perceber que o mundo é obra de Deus e que, por Ele, tudo pode ser transformado. Daí ser necessário o uso de duas importantes faculdades, que nos possibilitam enxergar a presença de Deus na criação: admiração e contemplação (cf. GS 56-59) e, ao lado delas, cultivarmos o senso religioso. Se bem que essa sabedoria é ainda uma figura, um sinal do Verbo feito carne, único capaz de nos conceder a plenitude de vida. É o Verbo feito carne a única condição de salvação para o homem; a Sabedoria do Pai por excelência.
O Catecismo da Igreja Católica, nos parágrafos de 456-460, diz-nos que a Palavra de Deus se fez carne "por causa de nós homens e para nossa salvação; para nos fazer conhecer o seu amor infinito; para ser nosso modelo de santidade; e para nos tornar 'participantes da natureza divina' (2Pd 1,4)". Assim, por meio do seu Filho feito carne, o Pai nos justifica, nos liberta, nos restaura e nos redime. A ação de Deus a nosso favor e para o bem de todo o cosmo se completa com o envio do Espírito Santo, que é Espírito do Pai e do Filho; Ele é "Senhor que dá vida; e procede do Pai e do Filho e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado, Ele que falou pelos profetas" (Credo Niceno-Constantinopolitano).
No Evangelho (Jô 16,12-15), o Espírito Santo é aquele que vem do Pai e do Filho como verdadeiro intérprete dos ensinamentos de Jesus Cristo. Certamente não ensinará outra verdade, não vem com outra revelação. É sabido que somente Jesus Cristo é a Verdade (cf. Jô 14,6) e a revelação única do Pai (cf. Jô 14,6; At 4,12; Gl 4,4). A missão do Espírito não é outra senão iluminar os discípulos de Jesus Cristo na compreensão da fé, do amor e da verdade; edificá-los, animá-los e santificá-los. É o Espírito de Jesus Cristo que gera a unidade do Corpo Místico, que é a Igreja; que age em cada sacramento, configurando cada fiel a Cristo; que nos faz conquistar a semelhança com Deus, perdida com o pecado; e que lança a Igreja na novidade da história, a fim de que ela brilhe como instrumento de salvação. O Espírito Santo nos ajuda a entender a nossa vida na terra à semelhança da realidade de Deus, na comunhão das três Pessoas divinas.
O mistério da Santíssima Trindade é absoluto em nossa fé. Nele encontramos os ensinamentos legítimos para nossa vida na Igreja, na comunidade e na sociedade. Ele é o fundamento da nossa vida espiritual e familiar, vocacional, profissional e dialogal. A realidade de uma única natureza em três pessoas já nos chama a atenção para o fato da unidade e da comunhão. Ora, se somos o povo do Deus Trindade, não podemos agir de outra forma senão como sinais autênticos de unidade, que deve se manifestar na liturgia, na fé que professamos, na comunhão entre si e com os demais cristãos, na busca pela justiça e pela paz e no exercício do amor a todos, sem acepção de pessoas, raças ou nações, pois todos, mesmo que alguns desconheçam, pertencemos ao mesmo Criador. Nós cristãos, batizados em nome da Trindade (cf. MT 28,19), somos os verdadeiros responsáveis, no Espírito Santo, a manifestar ao mundo o amor de Deus e a beleza da salvação por meio de Jesus Cristo Nosso Senhor.
Glória ao Pai, pelo Filho, no Espírito Santo / Glória ao Pai, e ao Filho, e ao Espírito Santo. Amém.
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domingo, 30 de maio de 2010
DOMINGO DA SANTÍSSIMA TRINDADE
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