O que os cientistas fizeram?
Criaram a primeira célula artificial do mundo. Primeiro, os pesquisadores decifraram, transformaram em informação computacional, alteraram e remontaram o genoma de uma bactéria causadora de doença em cabras chamada Mycoplasma mycoides. Esse novo genoma foi inteiramente criado em computador, sintetizado e implantado no citoplasma (estrutura celular menos o núcleo onde fica o DNA) de uma bactéria de uma espécie aparentada. O genoma sintético "ligou" o citoplasma e fez a bactéria viver e se replicar. Ela se dividiu até formar colônias com bilhões de bactérias. Craig Venter e sua equipe já haviam antes criado um genoma sintético. Também já haviam realizado transplantes de genomas de bactérias. Mas essa é a primeira vez que combinaram as duas técnicas.
Como os cientistas sabem que a nova bactéria funciona como o planejado?
Os pesquisadores inseriram uma espécie de marca d'água biológica no genoma sintético. Em vez de fazer proteínas, esses marcadores têm o nome de Craig Venter e seus colegas, além de citações filosóficas escritas num código secreto. Os marcadores também contêm a chave para decifrar o código. Ele pode ser lido por quem usa a "chave".
O grupo de Craig Venter criou vida artificial?
A definição de vida há séculos suscita discussão. A resposta a essa pergunta depende da interpretação que se dê para vida. Os geneticistas americanos construíram um novo genoma a partir de sequências produzidas num programa de computador. Porém, ele precisou usar bactérias e leveduras como fábricas, para multiplicar essas sequências de genes até formar um genoma que pudesse ser implantado. Além disso, a célula no qual o genoma sintético foi implantado continha um citoplasma, com lipídios e outras moléculas. Craig Venter não diz que criou vida. Prefere dizer: "Definitivamente não criamos vida do nada porque usamos uma célula preexistente para receber o genoma sintético. Criamos, sim, a primeira célula sintética". O especialista em biologia sintética Andy Ellington, da Universidade do Texas, disse à revista britânica "New Scientist" que a questão de se foi criada vida ou não é filosófica, porque do ponto de vista científico não existe diferença biológica entre uma bactéria sintética e uma natural. "Bactérias não têm alma, nenhuma propriedade animista da bactéria foi transformada", afirmou ele.
Qual a aplicação da pesquisa?
Num futuro próximo, células sintéticas poderão ser usadas para produzir biocombustíveis e remédios, entre outras substâncias. Venter já tem dois contratos. Com a Exxon Mobil quer desenvolver microalgas sintéticas produtoras de biocombustíveis. Já com a Novartis pretende criar vacinas. Venter disse que vacinas contra a gripe feitas por células sintéticas podem estar prontas em 2011. Outra possibilidade é produzir proteínas para estudar a evolução de espécies ou a adaptação ao ambiente, por exemplo.
Quanto custou a pesquisa?
Cerca de US$ 40 milhões. Cientistas consideraram uma bagatela se levarmos em conta que ninguém jamais produziu uma célula viva com informações genéticas sob medida antes.
A bactéria sintética é perigosa?
Os autores do estudo garantem que não. Eles enfraqueceram a M. mycoides de tal forma que ela não pode se reproduzir fora do laboratório. Mas outros especialistas observam que organismos sintéticos poderiam ser empregados como bioarmas ou escapar acidentalmente. Porém, para que terroristas pudessem utilizá-las precisariam ter um nível técnico que hoje pouquíssimos geneticistas do mundo possuem.
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