O SACRAMENTO DA CONFISSÃO.
CONFESSAI-VOS BEM !!!
Parte I.
1. O principal motivo da perdição.
Discípulo
— Padre, poderia explicar-me a razão deste título?
Mestre
— Chamei-o assim por causa do fato seguinte:
Conta-se
certa moça, tendo caído por desgraça num desses pecados que
tanto envergonham na confissão, vivia triste e desconsolada.
Passaram-se assim muitos meses, sem que nenhuma das
companheiras da coitada descobrisse a causa de tanta
aflição. Nesse ínterim, aconteceu que a sua melhor amiga,
muito virtuosa e devota, morreu santamente. Uma noite, a
chamam pelo nome, quando está no melhor do sono; reconhece
perfeitamente a voz da amiguinha morta que vai repetindo:
Confesse-se bem... se você soubesse o quanto Jesus é bom!
A moça
tomou aquela voz por uma revelação do céu, criou coragem e,
decidida, confessou o pecado que era a causa de tanta
vergonha e de tantas lágrimas. Naquela ocasião, tamanha foi
a sua comoção, tão grande o seu alívio que depois disso,
contava o fato a todo o mundo, e repetia por sua vez:
"Experimentem e vejam o quanto Jesus é bom".
D.
— Muito bem! — acredito nisso plenamente, porque, já fiz
mais de cem vezes a experiência de tal verdade.
BOA
CONFISSÃO – ORIENTAÇÕES
COMO FAZER UMA BOA
CONFISSÃO? - PADRE GABRIEL VILA VERDE
M.
— Pois então agradeça a Deus de todo o coração e continue a
fazer boas confissões. Ai daquele que envereda, pelo caminho
do sacrilégio! É essa a maior desgraça que nos pode
acontecer, porque dela não teremos mais a força de nos
afastar, e assim prosseguiremos, talvez até à morte,
precipitando-nos no abismo da perdição eterna.
D.
— É assim tão nefanda uma confissão mal feita?
M.
— É o principal motivo, a causa capital da perdição!
D.
— Deveras?
M.
— Assim é, infelizmente! São as confissões mal feitas o
motivo pelo qual tantas pessoas perdem suas almas e vão para
o inferno.
D.
— Mas não há exagero nisso?
M.
— Exagero nenhum, e nem sou eu quem o diz: afirmam-nos os
Santos que melhor conhecem as almas e viu-o Santa Teresa em
uma visão.
Estava a
Santa rezando, quando, de repente abrem-se diante dos seus
olhos uma voragem profunda, cheia de fogo e de chamas; e
nesse abismo precipitam-se com abundância, como neve no
inverno, as pobres almas perdidas.
...
são as confissões mal feitas o motivo pelo qual tantas
pessoas perdem suas almas e vão para o inferno!...
Assustada, a Santa levanta os olhos ao céu e:
— Meu
Deus, exclama, meu Deus! O que é que eu estou vendo? Quem
são elas, quem são todas essas almas que se perdem? Com
certeza devem ser as almas dos pobres infiéis.
—
Não, Teresa, não! Responde o Senhor. As almas que neste
momento vês precipitarem-se no inferno com o meu
consentimento, são, todas elas, almas de cristãos como tu.
— Mas
então devem ser almas de pessoas que não acreditavam, que
não praticavam a Religião, que não freqüentavam os
Sacramentos!
—
Não, Teresa, não! Fica sabendo que essas almas pertencem
todas a cristãos batizados como tu, e, que, como tu, eram
crentes e praticantes...
— Mas
se assim é, naturalmente essa gente nunca se confessou, nem
mesmo na hora da morte...
—
No entanto, são almas que se confessavam, e confessaram-se
também antes de morrer...
— Por
qual motivo então, ó meu Deus, são elas condenadas?
—
São condenadas porque se confessaram mal...
Vai
Teresa, conta a todos esta visão e recomenda aos Bispos e
Sacerdotes que nunca se cansem de pregar sobre a importância
da confissão e contra as confissões mal feitas, afim de que
os meus amados cristãos não transformem “o remédio em
veneno; afim de que não se sirvam mal desse sacramento, que
é o sacramento da misericórdia e do perdão.”
D.
— Pobre Jesus!... São assim tão numerosas as confissões mal
feitas?
M.
— S. Afonso, S. Felipe Néri, S. Leonardo de Porto Maurício,
afirmam unanimemente que, infelizmente, o número das
confissões mal feitas é incalculável. Eles, que passaram à
vida no confessionário e à cabeceira dos moribundos, sabem
dizer a pura verdade. E nós que erramos, de terra em terra,
pregando exercícios e missões, somos obrigados a afirmar a
mesma coisa.
O célebre
Padre Sarnelli, na sua obra “O mundo santificado” exclama:
“Infelizmente são incalculáveis as almas que fazem
confissões sacrílegas: sabem disso, em parte, os
Missionários de longa experiência, e cada um de nós virá
sabê-lo, com grande pasmo, no vale de Josafá. Não só nas
grandes capitais, mas nas cidades menores, nas comunidades,
no meio daqueles que passam por piedosos e devotos
encontram-se em grande número os sacrílegos...”
O Padre
Tranquillini, da Companhia de Jesus, tendo sido chamado à
cabeceira duma senhora gravemente enferma, acode com
solicitude e a confessa: mas, chegada à hora da absolvição,
ele sente qualquer coisa que, como se fosse uma mão de
ferro, o impede de prosseguir.
— Minha
senhora, diz ele, talvez se tenha esquecido de alguma
coisa...
—
Impossível, Padre, estou me preparando há oito dias...!
Depois de
algumas preces, tenta uma segunda vez; mas, a mesma mão o
impede de novo.
—
Desculpe, minha senhora, replica o Padre, talvez a senhora
não ouse confessar algum pecado...
— O quê
diz, Padre? Isso me ofende. Como pode supor que eu queira
cometer um sacrilégio?
Torna a
tentar pela terceira vez a absolvição e ainda uma vez aquela
força invisível o impede de agir. Não podendo compreender
qual o mistério que se escondia num fato tão extraordinário,
cai de joelhos, e, chorando, suplica àquela senhora, que não
se traia, que não seja a causa da própria perdição.
— Padre,
exclama ela então, Padre, há quinze anos que eu me confesso
mal! Veja, portanto, como é fácil achar-se quem se confessa
mal!
D.
— Chega, Padre, isto me faz estremecer.
M.
— Antes tremer aqui do que queimar no inferno: e, falando
disso, lembro-me de outro exemplo. São João Bosco, numa obra
sobre a confissão diz textualmente: "Eu vos afirmo que
enquanto escrevo, minha mão treme, porque eu penso no número
de cristãos que vão para a perdição eterna, somente por
terem escondido, ou por não terem exposto sinceramente os
seus pecados na confissão"!
D.
— O senhor disse também: por não terem exposto sinceramente
os seus pecados?
M.
— Certamente! Aquele que, por exemplo, confessa só os maus
pensamentos, quando além disso cometeu ações ou atos
impuros; aquele que confessa ter cometido tais atos sozinho,
quando os cometeu com outros; aquele que esconde o número
conhecido de suas faltas; aquele que, interrogado pelo
confessor não diz a verdade; todos esses fazem más
confissões.
D.
— O quê é que pensam os que assim procedem?
M.
— Pensam que no futuro poderão remediar, isto é,
confessam-se para viver como diz São Felipe Néri, quando
toda e qualquer confissão devia ser feita como se fosse a
última, como se nos preparássemos para a morte.
Um dia
uma mulher do povo confessou-se com um célebre Missionário:
de volta do confessionário, ela passou casualmente por cima
de uma laje que cobria uma sepultura. A laje, gasta pelo
tempo, cedeu, e a mulher caiu lá em baixo, no meio dos ossos
e dos esqueletos. Imagine o susto de todas as pessoas que
acudiram; mas isso não foi nada, comparado ao terror o aos
berros da coitada! Logo depois que, com muito esforço e
trabalho conseguiram tirar a mulher dali, ela, que escapou
ilesa, voou para o confessionário e:
— Padre,
padre, até hoje eu só me tinha confessado para viver, mas
agora que eu vi a morte diante do mim quero confessar-me
como se eu fosse morrer – e tornou a fazer, tremendo, aquela
confissão que, momentos antes, tinha feito mal.
D.
— Ah! o pensamento da morte é terrível.
M.
— É terrível sim, mas muitíssimo salutar e é pior isso que,
cada vez que nos confessamos, devíamos tê-lo na mente.
Dentre os
inúmeros fatos maravilhosos que se contam na história de D.
Bosco destaca-se este: No Salesiano de Turim faziam-se os
santos exercícios espirituais, e, todos os presentes, alunos
e internos com a máxima seriedade, muito piedosos, rezavam
com fervor e colhiam os frutos de suas preces para o bem de
suas almas. Enquanto esses cumpriam o seu piedoso dever, um
jovem, refratário a toda e qualquer suplica e aos mais
afetuosos cuidados de D. Bosco e dos demais superiores,
teimou em não se querer confessar nem mesmo naquela
circunstância. Os bons Padres tinham feito todo o possível
para convencê-lo, mas inutilmente. Ele repetia sempre: “Em
qualquer outra ocasião, sim, mas agora não! Vou pensar nisso
depois... Agora não sei tomar uma resolução”!
Com essa
desculpa, chegou ao último dia das cerimônias; D. Bosco,
então recorreu a um estratagema. Escreveu numa folha de
papel estas palavras: "... e se você morresse durante a
noite?!..." e escondeu-a entre o lençol e o travesseiro do
rapaz. Cai à noite: todos se vão deitar, e o nosso jovem,
despreocupado, também se despe, mas eis que quando vai
entrar na cama encontra a tal folha. Um oh! de espanto que
ele não pode conter lhe sai dos lábios; pega no papel
olha-o, vira-o e revira-o e, por fim, descobrindo que há
nele qualquer coisa escrita, arregala os olhos e lê: “... e
se você morresse durante a noite”... D. Bosco.
D. Bosco!
Exclama ele; mas D. Bosco é um santo... Ele conhece o
futuro... Talvez aconteça isso mesmo! E se eu morresse
durante a noite? ' Mas eu não quero morrer, não: quero
viver, quero viver e... Enquanto isso, para que os
companheiros não reparem, ele se deita, cobre-se e cheio de
coragem, tenta pegar no sono. Qual nada! Adormecer naquele
estado? Com aquelas palavras que o atormentavam como se
fossem espinhos agudos? É impossível! Ele vira e revira na
cama, fecha os olhos com força, mas... tudo inútil; ouve sem
cessar, cada vez mais vivo, cada vez mais forte, o som
daquelas palavras; ele imagina, como se visse o inferno
aberto e Jesus que o condena, e diz: "Pobre de mim! E se eu
morresse mesmo?..." Um arrepio gelado corre-lhe pela
espinha, ele sua frio...
— Ah, não
— exclama, — eu não quero ir para o inferno, eu quero me
confessar...
Invoca a
proteção de Maria Auxiliadora, do seu Anjo da Guarda e
depois, decidido, veste-se, sai devagarzinho, desce a
escada, atravessa corredores, sobe para o quarto de D. Bosco
e bate na porta.
D. Bosco,
que, como bom padre o esperava, abre a porta e:
— Quem é
você?... A estas horas?... O que é que você quer?
— Oh! D.
Bosco, eu quero confessar-me!
— À
vontade! se você soubesse com que ansiedade eu o esperei!
Introduzido na antecâmara, o rapaz cai de joelhos e, depois
de feita a confissão, com o perdão de Jesus volta feliz e
tranqüilo para a cama. E já não tem medo! O pensamento da
morte já não o assusta e ele diz: “Como estou
contente! Mesmo que eu tenha que morrer que importa se eu
recuperei a graça, se eu tornei a ser amigo de Jesus”!
Adormece serenamente e sonha... vê o céu aberto, os
Anjos jubilosos que voam levíssimos, entoando os cânticos
mais lindos, os mais belos hinos! Que rapaz de sorte!
M.
— De sorte são todos aqueles que acreditam no grande bem da
confissão e se servem dela, impedindo assim a própria
perdição; enquanto que é bem diferente o caso da infeliz de
quem lhe vou falar. São Leonardo de Porto Maurício, acode à
cabeceira de uma moribunda, acompanhado por um frade leigo.
Depois de confessada a doente, o padre sai sossegado, e,
reunindo-se ao companheiro que o esperava no quarto vizinho,
apronta-se para sair, quando este, muito triste e assustado
lhe diz:
— "Padre
Leonardo, o quê significa aquilo que eu vi?"
— O que é
que você viu?
— Eu vi
uma mão horrendamente negra que vagava pela antecâmara; e,
assim que o senhor saiu ela entrou, rápida como um raio, no
quarto da doente.
Diante de
tal história São Leonardo volta para trás, torna a entrar no
quarto e oh! que cena terrível. Aquela mão negra
estrangulava aquela desgraçada que, com olhos fora das
órbitas, e a língua caída, morria gritando: “Malditos
sejam os sacrilégios... Malditos sejam os sacrilégios...”
D.
— Oh, Padre, então é mesmo verdade que as confissões mal
feitas são a causa principal da perdição!
M.
— Por conseguinte, guerra à mentira e sinceridade absoluta
na confissão.
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