A Quarta-feira de Cinzas marca o início da Quaresma
A Quarta-feira de Cinzas foi instituída há muito tempo na Igreja;marca o início da Quaresma, tempo de penitência e oração mais intensa.
Qual é o sentido?
A
intenção deste sacramental é levar-nos ao arrependimento dos pecados,
marcando o início da Quaresma; e fazer-nos lembrar que não podemos nos
apegar a esta vida achando que a felicidade plena possa ser construída
aqui. É uma ilusão perigosa. A morada definitiva é o céu.
A
maioria das pessoas, mesmo os cristãos, passa a vida lutando para
“construir o céu na terra”. É um grande engano. Jamais construíremos o
céu na terra; jamais a felicidade será perfeita no vale em que o pecado
transformou num vale de lágrimas. Devemos, sim, lutar para deixar a vida
na terra cada vez melhor, mas sem a ilusão de que ficaremos sempre
aqui.
Deus
dispôs tudo de modo que nada fosse sem fim aqui nesta vida. Qual seria
o desígnio do Senhor nisso? A cada dia de nossa vida temos de renovar
uma série de procedimentos: dormir, tomar banho, alimentar-nos, etc…
Tudo é precário, nada é duradouro, tudo deve ser repetido todos os dias.
A própria manutenção da vida depende do bater interminável do coração e
do respirar contínuo dos pulmões. Todo o organismo repete, sem cessar,
suas operações para a vida se manter. Tudo é transitório… nada eterno.
Toda criança se tornará um dia adulta e, depois, idosa. Toda flor que se
abre logo estará murcha; todo dia que nasce logo se esvai… e assim tudo
passa, tudo é transitório.
Por que será? Qual a razão de nada ser duradouro?
Compra-se
uma camisa nova e, logo, já está surrada; compra-se um carro novo e,
logo, ele estará bastante rodado e vencido por novos modelos, e assim
por diante.
A
razão inexorável dessa precariedade das coisas também está nos planos
de Deus. A marca da vida é a renovação. Tudo nasce, cresce, vive,
amadurece e morre. A razão profunda dessa realidade tão transitória é a
lição cotidiana que o Senhor nos quer dar de que esta vida é apenas uma
passagem, um aperfeiçoamento, em busca de uma vida duradoura, eterna,
perene.
Em
cada flor que murcha e em cada homem que falece, sinto Deus nos dizer:
“Não se prendam a esta vida transitória. Preparem-se para aquela que é
eterna, quando tudo será duradouro, e nada precisará ser renovado dia a
dia.”
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E
isso mostra-nos também que a vida está em nós, mas não é nossa. Quando
vemos uma bela rosa murchar é como se ela estivesse nos dizendo que a
beleza está nela, mas não lhe pertence. Ainda assim, mesmo com essa
lição permanente que Deus nos dá, muitos de nós somos levados a viver
como aquele homem rico da parábola narrada por Jesus. Ele abarrotou seus
celeiros de víveres e disse à sua alma: “Descansa, come, bebe e
regala-te” (Lc 12,19b); ao que o Senhor lhe disse: “Insensato! Nesta
noite ainda exigirão de ti a tua alma” (Lc 12,20).
A
efemeridade das coisas é a maneira mais prática e constante encontrada
por Deus para nos dizer, a cada momento, que aquilo que não passa, que
não se esvai, que não morre, é aquilo de bom que fazemos para nós mesmos
e, principalmente, para os outros. Os talentos multiplicados no dia a
dia, a perfeição da alma buscada na longa caminhada de uma vida de
meditação, de oração, de piedade, essas são as coisas que não passam,
que o vento do tempo não leva e que, finalmente, nos abrirão as portas
da vida eterna e definitiva, quando “Deus será tudo em todos” (cf. 1 Cor
15,28).
A
transitoriedade de tudo o que está sob os nossos olhos deve nos
convencer de que só viveremos bem esta vida se a vivermos para os outros
e para Deus. São João Bosco dizia que “Deus nos fez para os outros”. Só
o amor, a caridade, o oposto do egoísmo, pode nos levar a compreender a
verdadeira dimensão da vida e a necessidade da efemeridade terrena.
E se a vida fosse incorruptível?
Se
a vida na terra fosse incorruptível, muitos de nós jamais pensaríamos
em Deus e no céu. Acontece que o Todo-poderoso tem para nós algo mais
excelente, aquela vida que levou São Paulo a exclamar:
“Coisas
que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano
imaginou (Is 64,4), tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles
que o amam” (1 Cor 2,9).
A
corruptibilidade das coisas da vida deve nos convencer de que Deus quer
para nós uma vida muito melhor do que esta – uma vida junto d’Ele. E,
para tal, o Senhor não quer que nos acostumemos com esta [vida], mas que
busquemos a outra com alegria, onde não haverá mais sol porque o
próprio Deus será a luz, nem haverá mais choro nem lágrimas.
Aqueles
que não creem na eternidade jamais se conformarão com a precariedade
desta vida terrena, pois sempre sonharão com a construção do céu nesta
terra. Para os que creem a efemeridade tem sentido: a vida não será
tirada, mas transformada; o “corpo corruptível se revestirá da
incorruptibilidade” (cf 1Cor 15,54) em Jesus Cristo.
A expectativa do céu
Santa Teresinha não se cansava de exclamar:
Tenho
sede do Céu, dessa mansão bem-aventurada, onde se amará Jesus sem
restrições. Mas, para lá chegar é preciso sofrer e chorar; pois bem!
Quero sofrer tudo o que aprouver a meu Bem Amado, quero deixar que Ele
faça de sua bolinha o que Ele quiser.
São
Paulo lembrou aos filipenses: Nós somos cidadãos do Céu!. É de lá que
também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Ele transformará
nosso corpo miserável, para que seja conforme o seu corpo glorioso, em
virtude do poder que tem de submeter a si toda a criatura (Fl 3,
20-21).
A esperança do Céu e da Sua glória fazia o Apóstolo dizer:
Os
olhos não viram, nem ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou (Is
64,4), o que Deus tem preparado para aqueles que o amam (1 Cor 2,9).
E
essa esperança lhe dava as forças necessárias para vencer as
tribulações: Tenho para mim que os sofrimentos da vida presente não têm
proporção alguma com a glória futura que nos deve ser manifestada (Rom
8,18).
Este é o sentido das Cinzas.
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