Dom João Carlos Petrini defende que mães encarem o ‘drama da vida’
Mais que decidir sobre o aborto de anencéfalos, o Supremo Tribunal Federal (STF) pode abrir nesta quarta-feira uma "brecha" para que a discussão sobre a legalização do aborto ganhe corpo na sociedade brasileira. Esse é um dos temores do presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom João Carlos Petrini. O religioso defende que as mães de anencéfalos concluam a gravidez como uma forma de encarar o "drama da vida" e pede que os ministros do Supremo ajam guiados pela "razão", evitando o debate religioso.O GLOBO: Qual a sua expectativa em relação à decisão do STF?
DOM JOÃO CARLOS PETRINI: Minha expectativa é que seja usada a razão da maneira mais ampla possível. Que os ministros sejam atentos a todos os fatores em jogo. Os que são a favor do aborto dizem que a dignidade da mãe está sendo ofendida quando ela é obirgada a receber uma criança anencéfala. É justo pensar em formas de dar apoio a essa mãe. Agora, persuadi-la de que o melhor a fazer é eliminar o filho-problema não é a melhor resposta.
Há especialistas que afirmam que não se trata de um aborto, mas de um natimorto cerebral.
DOM PETRINI: Não é verdade! Podemos jogar com as palavras, mas as crianças nascem vivas e tem algumas que sobrevivem por meses. Dizer que são natimortos é tentar camuflar a realidade.
A Igreja teme que uma eventual aprovação do aborto para anencéfalos seja um caminho para a legalização do aborto no Brasil?
DOM PETRINI: Eu diria que existem princípios que são colunas da vida social. E o mais importante é o da inviolabilidade da vida humana. Se for aprovado (o aborto de anencéfalo), abre-se uma brecha na lei para a prática do aborto. Mas não só na lei e sim na consciência das pessoas.
Mas e o risco para as mães nessas gestações?
DOM PETRINI: Um bom legislador e, nesse caso os ministros do Supremo agem como legisladores, procura caminhos de prevenção dos males. Todos sabem que se a mulher fizer uso do ácido fólico, sistematicamente, durante sua vida fértil, o risco de anencefalia é quase nulo. Deveriam pensar nisso em vez de recorrer à morte como solução.
Caso o aborto seja aprovado, qual será a posição da Igreja? Ela deverá excomungar as mulheres e médicos que adotem a prática?
DOM PETRINI: A Igreja não quer apelar para razões religiosas quando fala com a sociedade. As razões religiosas ela usa com os seus fieis. É claro que quem frequenta a Igreja sabe quais são as orientações e sabe que os pecados também são perdoados. Mas não se trata aqui do problema de apenas uma pessoa. Vivemos hoje uma cultura em que tudo é banalizado. Não tem lugar para o drama. Mas o drama faz parte da vida. Enfrentar o drama é sinal de maturidade.
Mas e a excomunhão? A Igreja vai fazer como fez anos atrás, quando uma criança foi violentada, engravidou e fez o aborto legal, e um bispo excomungou sua mãe e os médicos que fizeram o aborto?
DOM PETRINI: A Igreja não vai promover a excomunhão de ninguém. Quando a pessoa não segue os mandamentos é uma maneira de dizer que não faz parte daquele rebanho, de que não se importa. A Igreja não é um tribunal, mas se a pessoa toma essa postura.
Seria o quê? Uma auto-excomunhão
DOM PETRINI: É. Uma auto-excomunhão.
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