Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna. João 6, 68
Evangelho segundo S. Marcos 10,2-16.
Naquele tempo, aproximaram-se de Jesus uns fariseus e perguntaram-lhe, para O experimentar, se era lícito ao marido divorciar-se da mulher.
Ele respondeu-lhes: «Que vos ordenou Moisés?»
Disseram: «Moisés mandou escrever um documento de repúdio e divorciar-se dela.»
Jesus retorquiu:«Devido à dureza do vosso coração é que ele vos deixou esse preceito.
Mas, desde o princípio da criação, Deus fê-los homem e mulher.
Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher,
e serão os dois um só. Portanto, já não são dois, mas um só.
Pois bem, o que Deus uniu não o separe o homem.»
Ele respondeu-lhes: «Que vos ordenou Moisés?»
Disseram: «Moisés mandou escrever um documento de repúdio e divorciar-se dela.»
Jesus retorquiu:«Devido à dureza do vosso coração é que ele vos deixou esse preceito.
Mas, desde o princípio da criação, Deus fê-los homem e mulher.
Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher,
e serão os dois um só. Portanto, já não são dois, mas um só.
Pois bem, o que Deus uniu não o separe o homem.»
De regresso a casa, de novo os discípulos o interrogaram acerca disto.
Jesus disse: «Quem se divorciar da sua mulher e casar com outra, comete adultério contra a primeira.
E se a mulher se divorciar do seu marido e casar com outro, comete adultério.»
Apresentaram-lhe uns pequeninos para que Ele os tocasse; mas os discípulos repreenderam os que os haviam trazido.
Vendo isto, Jesus indignou-se e disse-lhes: «Deixai vir a mim os pequeninos e não os afasteis, porque o Reino de Deus pertence aos que são como eles.
Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como um pequenino, não entrará nele.»
Depois, tomou-os nos braços e abençoou-os, impondo-lhes as mãos.
Comentário ao Evangelho do dia feito por: Cardeal Joseph Ratzinger (Papa Bento XVI)
Retiro pregado no Vaticano em 1983
É surpreendente constatar a importância que o próprio Jesus atribui à criança, para todo o homem: «Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como um pequenino não entrará nele» (Mt 18,3). Portanto, para Jesus, ser criança não é uma etapa puramente transitória da vida do homem, devida ao seu destino biológico, e que, por isso, deva desaparecer totalmente. Na infância, o que é próprio do homem realiza-se de tal maneira que quem perdeu o essencial da infância está, por sua vez, perdido.
A partir daí, e posicionando-nos no ponto de vista humano, podemos imaginar que lembranças felizes guardaria Cristo dos dias da Sua infância, o quanto a infância continuava a ser, para Ele, uma experiência preciosa, uma forma particularmente pura de humanidade. Daí poderemos aprender a reverenciar a criança que, desarmada, assim apela ao nosso amor.
Mas isso coloca-nos sobretudo a seguinte questão: qual é exactamente o traço característico da infância que Jesus considera insubstituível? [...] É necessário desde logo recordar que o atributo essencial de Jesus, aquele que exprime a Sua dignidade, é o facto de ser «Filho». [...] A orientação da Sua vida, o motivo e o objectivo que lhe deram forma exprimem-se numa única palavra: «Abba, Pai» (Mc 14,36; Ga 4,6). Jesus sabia que nunca estava só, e até ao último grito na cruz obedeceu Àquele a Quem chamava Pai, inclinando-Se inteiramente para Ele. Basta isto para nos permitir explicar que Ele, por fim, Se tenha recusado a chamar-Se rei ou senhor ou a atribuir-Se qualquer outro título de poder, mas tenha recorrido a um termo que poderíamos também traduzir por «criancinha».
A partir daí, e posicionando-nos no ponto de vista humano, podemos imaginar que lembranças felizes guardaria Cristo dos dias da Sua infância, o quanto a infância continuava a ser, para Ele, uma experiência preciosa, uma forma particularmente pura de humanidade. Daí poderemos aprender a reverenciar a criança que, desarmada, assim apela ao nosso amor.
Mas isso coloca-nos sobretudo a seguinte questão: qual é exactamente o traço característico da infância que Jesus considera insubstituível? [...] É necessário desde logo recordar que o atributo essencial de Jesus, aquele que exprime a Sua dignidade, é o facto de ser «Filho». [...] A orientação da Sua vida, o motivo e o objectivo que lhe deram forma exprimem-se numa única palavra: «Abba, Pai» (Mc 14,36; Ga 4,6). Jesus sabia que nunca estava só, e até ao último grito na cruz obedeceu Àquele a Quem chamava Pai, inclinando-Se inteiramente para Ele. Basta isto para nos permitir explicar que Ele, por fim, Se tenha recusado a chamar-Se rei ou senhor ou a atribuir-Se qualquer outro título de poder, mas tenha recorrido a um termo que poderíamos também traduzir por «criancinha».
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