Sem usar palavras diretas, ele atacou claramente a legalização da união homoafetiva e a adoção por esses casais na França
O Papa Bento XVI se mostrou combativo nesta sexta-feira (21) ao convocar os católicos para "lutar" contra o casamento gay, em um contexto de mobilização da Igreja em
todos os grandes debates da sociedade. Em seu discurso de fim de ano à Cúria
Romana, o Papa criticou duramente as
novas concepções da família que não se baseiam na união entre um homem e uma mulher
e afirmou que "na luta pela família
está em jogo a essência do ser humano". Sem citar a palavra homossexual e sem fazer julgamento sobre a
homossexualidade, ele atacou claramente a legalização do casamento gay e a
adoção por esses casais na França, Estados Unidos e em outros países. A
posição do Vaticano sobre o casamento homossexual não mudou, mas o tom
endureceu.
No momento em
que os países ocidentais adotam reformas sobre o casamento homossexual, o "Ano da Fé", lançado em
outubro pelo Papa, parece ser a ocasião
de combate sobre essas questões morais. Alguns movimentos católicos
organizaram uma grande manifestação
contra o casamento gay na França em 18 de novembro. Uma outra manifestação
nacional está prevista para 13 de janeiro. Os representantes das grandes
religiões da França (católica, islâmica,
protestante, judaica), criticaram o projeto do governo socialista, mas
insistiram na natureza específica de seus argumentos.
Mensagem
pública
Bento XVI, em uma rara mensagem publicada quinta-feira no Financial
Times, convidou os cristãos a se
engajarem nas áreas da justiça, da paz, da vida e da família. Segundo o
Papa, os cristãos devem ser coerentes com a fé católica, disse, citando os
políticos que são encarregados de votar a favor ou contra os projetos de lei de
um governo.
Ele propôs
uma "aliança" entre fiéis de diversas religiões e ateus
sobre os temas essenciais de defesa da justiça, da paz, da família e da vida,
que seria possível em razão de serem "leis
naturais" as quais todos podem aderir. Em virtude desta lógica,
ele citou longamente, e de maneira inédita, o grande rabino da França, Gilles
Bernheim, muito crítico ao projeto de
legalizar o casamento e a adoção para os homossexuais.
O Papa elogiou o trabalho do rabino
Bernheim, que
demonstra que "atentar contra a
autêntica forma da família, constituída por um pai, uma mãe e uma criança (...)
coloca em jogo a própria visão do ser humano". "Se até o momento
percebíamos como a causa da crise da família a incompreensão sobre a essência
da liberdade humana, agora está claro que o que está em jogo é a própria visão
do ser humano, o que significa em realidade o fato de ser uma pessoa
humana", observou Bento XVI. "A
criança perdeu a posição a que pertencia até o momento e a dignidade particular
que lhe é própria", prosseguiu o Papa. "Bernheim mostra como, de sujeito jurídico independente em si
mesmo, ele se transforma necessariamente em um objeto, que é e tem o direito, e
como um objeto de direito, pode ser obtido".
Com a
rejeição do casamento tradicional, acrescentou, "desaparecem as figuras fundamentais da existência humana: o
pai, a mãe, o filho: as dimensões essenciais da experiência de ser uma pessoa
humana estão desabando". Neste discurso, no qual costuma explicar
as principais preocupações da Igreja, o Papa lamentou a "profunda falsidade" dos estudos de gênero, que
consideram que o sexo de uma pessoa é determinado, na realidade, pela sociedade
e educação.
O Papa
insistiu ao Financial Times que a "luta"
pacífica que ele convocou ultrapassa as fronteiras da Igreja: os princípios que
ela defende "não são verdades de fé,
estão inscritas na própria natureza humana, identificável pela razão, e,
portanto, comum a toda a humanidade", seja no casamento, no começo e
fim da vida, e na bioética, afirmou o Papa. Sua transformação causará "prejuízo grave para a justiça e a
paz", acrescentou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário