A VINDA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO
Para a santa festa de Pentecostes enfeitaram a sala da última Ceia festivamente, com árvores, grinaldas e flores. Nas vésperas da festa, Pedro benzeu dois pães ázimos, partiu e distribuiu-os aos Apóstolos e à Santíssima Virgem. A cidade, porém, chegaram muitos peregrinos para a festa de Pentecostes, estrangeiros de variadíssimos trajes e costumes estranhos.
Os
Apóstolos e discípulos passaram a noite antes de
Pentecostes, junto com Maria e as santas mulheres, na sala
da última ceia, em oração e silenciosa meditação,
preparando-se para a vinda do Espírito Santo. Estavam
reunidas ao todo mais de cento e vinte pessoas. Todos
desejavam ardentemente a vinda do Consolador prometido, que
os encheria, segundo a promessa de Jesus, de força celeste.
A piedosa serva de Deus descreve esse importante
acontecimento com palavras intuitivas:
“Percebi,
depois de meia-noite, uma maravilhosa intensidade e um
movimento misterioso e benfazejo na natureza inteira, que se
comunicava a todos os presentes. Pareceu-me também que, pela
abertura no teto da sala, se podia ver o céu tornar-se mais
claro. Os Apóstolos tinham-se retirado em silêncio do meio
da sala para junto das paredes, ficando perto das colunas;
por entre eles vi os discípulos nos pórticos laterais,
olhando pelas paredes abertas para dentro da sala. Pedro
estava diante da cortina atrás da qual se guardava o
Santíssimo Sacramento; a Santíssima Virgem, porém, estava na
sala, diante da porta do vestíbulo, no qual se achavam as
santas mulheres.
Estando
assim todos silenciosos, cheios de veemente desejo, com os
braços cruzados sobre o peito, olhos baixos, propagou-se-lhe
a calma e o silêncio por toda a casa. Os discípulos, nos
átrios laterais, se dirigiram todos aos respectivos lugares
e após alguns momentos, reinava o maior silêncio em todo o
redor da casa.
Pela manhã
vi sobre o Monte das Oliveiras, onde Nosso Senhor subira ao
céu, se aproximar uma nuvem luminosa, resplandecente,
prateada, vindo do céu, em direção à casa dos Apóstolos, em
Sião. Vi-a primeiro, a grande distância, como um globo, cujo
movimento acompanhava uma doce e ardente brisa. Ao
aproximar-se, aparecia cada vez maior a nuvem luminosa,
passando como um nevoeiro brilhante sobre a cidade, até que
parou sobre Sião e a casa da última Ceia, concentrando-se
cada vez mais e tomando-se cada vez mais clara e
transparente como um sol brilhante; finalmente desceu, com
crescente sussurro, como uma nuvem de trovoada muito baixa.
Muitos judeus, que ouviram o bramido e viram a nuvem,
correram assustados ao Templo. Toda essa cena tinha alguma
semelhança com uma trovoada que se aproxima rapidamente, mas
em vez de trovão, ouvia-se o zunido, que se sentia, porém,
como uma brisa cálida e profundamente reconfortante.
Quando a
nuvem luminosa pairava muito baixa sobre o Cenáculo e, a par
do crescente ruído, se tornava cada vez mais brilhante, vi
também a casa e os arredores banhados numa luz intensa, mas
os Apóstolos, discípulos e mulheres, cada vez mais
silenciosos e ardentes.
Eram
cerca de três horas da manhã, antes do nascer do sol,
quando vi de repente saírem das nuvem, sussurrante,
torrentes de luz branca, que se cruzavam sete vezes e ao
cruzarem, se dissolviam em raios e gotas ígneas, que caíram
sobre a casa e arredores. O ponto em que as sete torrentes
de luz se cruzaram, era cercado como de um arco-íris, onde
vi formar-se uma figura luminosa e pairar sobre a casa;
parecia-me que essa figura tinha asas estendidas sob os
ombros; mas não posso dizer com certeza se eram asas, pois
tudo parecia emanação de luz. Nesse momento, porém, toda a
casa estava cheia de luz em redor. Não vi mais a luz do
candelabro de cinco braços. As pessoas reunidas estavam
todas como pasmas e extasiadas; levantaram inconscientemente
os rostos; com desejo ardente e vi derramar-se na boca de
todos uma torrente de luz, como pequenas línguas de fogo em
chamas. Era como se respirassem e recebessem ardentemente
esse fogo e como se algo de sua boca, em ardente desejo,
fosse ao encontro dessas chamas. O santo fogo derramou-se
também sobre os discípulos e as mulheres, no vestíbulo e
desta forma se dissolveu a nuvem luminosa gradualmente, como
uma nuvem que derrama chuva de luz. As línguas de fogo
vieram sobre todos, mas com intensidade e cores diferentes.
O estrondo
semelhante a uma trovoada acordou muitos homens. O Espírito
comoveu muitos fiéis e discípulos que moravam nos arredores.
Depois de acabada a efusão do Espírito, nasceu alegre
coragem em toda a assembléia. Todos estavam comovidos e como
embriagados de alegria e confiança.
Rodeavam a Santíssima Virgem, única que permanecia toda
tranqüila e calma, em seu habitual recolhimento e santo
silêncio, apesar de feliz e confortada. Os Apóstolos, porém,
abraçavam-se uns aos outros, penetrados de uma jubilosa
audácia de falar. Era como se clamassem uns aos outros: Em
que estado estávamos? Que foi feito de nós? – Também as
santas mulheres abraçavam umas as outras; todos os
discípulos, nos corredores, estavam do mesmo modo comovidos.
Os Apóstolos correram para eles e em todos havia, por assim
dizer, nova vida, cheia de alegria, confiança e coragem.
Esse
transporte de iluminação do coração e de conforto terminou
em uma ação de graças. Reuniram-se em oração, dando graças a
Deus, com profunda comoção. No entanto desapareceu
gradualmente a luz. Pedro fez então um discurso aos
discípulos e enviou alguns para os acampamentos de
peregrinos bem-intencionados, vindos para a festa de
Pentecostes.
Havia,
porém, entre o Cenáculo e a piscina de Betesda diversos
barracões e dormitórios abertos, onde os forasteiros que
vinham para a festa, dormiam e guardavam os animais. Estavam
ali muitos dormindo; outros estavam acordados e receberam
também a graça do Espírito Santo; pois passara uma emoção
geral pela natureza. Muitos homens bons receberam iluminação
e a graça da conversão; os maus, porém, ficaram tímidos,
medrosos e ainda mais endurecidos. – A maior parte dessa
gente, que estava acampada naqueles arredores, onde se
reunira a nascente comunidade, estava já ali desde a Páscoa,
porque, pela distância de sua terra, não valia a pena fazer
a viagem de ida e volta entre a Páscoa e Pentecostes. Esses,
pois, por tudo que ouviram e viram, se tornaram mais
familiares e amigos dos discípulos do que os outros. Quando
os discípulos enviados por Pedro os procuraram e lhes
anunciaram o cumprimento da promissão do Espírito Santo,
tornaram-se de diversos modos conscientes de sua própria
conversão e, obedecendo à palavra dos discípulos,
reuniram-se todos em redor da piscina de Betesda, que ficava
próxima.
No entanto
Pedro no Cenáculo impôs as mãos a cinco Apóstolos, que
deviam ajudar a ensinar a batizar na piscina de Betesda. Se
me lembro bem, foram esses Tiago o Menor, Bartolomeu,
Matias, Tomé e Judas Tadeu. Vi nessa ordenação, que o último
tinha uma visão: foi como se o visse abraçar o corpo de
Nosso Senhor.
Antes de
Irem à piscina de Betesda, para benzer a água e batizar,
vi-os ainda receber a benção da SS. Virgem, ajoelhados
diante dela; antes da ascensão de Jesus a recebiam em pé. Vi
os Apóstolos receberem essa bênção sempre, nos dias
seguintes, antes de saírem e depois de voltarem. Nesses atos
de bênção e sempre quando comparecia entre os Apóstolos, em
sua dignidade, a SS. Virgem vestia um longo manto branco, um
véu amarelo sobre o rosto e na cabeça, caindo de ambos os
lados até quase ao chão, uma larga faixa de pano azul
celeste, dobrada sobre a testa um pouco para trás, enfeitada
de bordado e segura na cabeça por uma pequena coroa de seda
branca.
Sermão e batismo na piscina de Betesda
Convidada pelos discípulos reuniu-se uma grande multidão de
povo em redor da piscina de Betesda. Os discípulos contaram
com grande alegria o que sucedera. Pedro enviou os cinco
Apóstolos antes mencionados, que se colocaram nas cinco
entradas da piscina e falaram com entusiasmo ao povo. Esse,
porém, se assustou, porque cada um os ouvia falar em sua
própria língua.
Estavam,
pois, todos atônitos e admiravam-se, dizendo:
“Porventura não se está vendo que todos estes que falam são
galileus? E como os ouvimos falara cada um na língua de
nosso país natal? Partos e Medos e Elamitas e os que
habitavam a Mesopotâmia, a Judéia e a Capadócia, o Ponto e a
Ásia, a Frigia e o Egito, várias partes da Líbia, que fica
próximo de Cirene e os que vieram de Roma; também Judeus e
prosélitos, Cretenses e Árabes, todos nós os ouvimos narrar
nas nossas línguas as maravilhas de Deus”.
Estavam, pois atônitos e maravilharam-se, dizendo
uns aos outros: “Que quer isto dizer?” Outros, porém,
escarnecendo, diziam: “É porque estão embriagados de vinho
de doce”. (Atos 2, 7-13)
Pedro,
porém, subiu a um púlpito, levantou a voz e disse:
“Homens da Judéia e todos os que habitais em Jerusalém,
sabei e com ouvidos atentos escutar as minhas palavras.
Estes homens não estão tomados de vinho, como pensais, pois
é ainda a hora terceira do dia; mas é o que foi dito pelo
profeta Joel: E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor,
que derramarei meu Espírito sobre toda a carne e
profetizarão vossos filhos e vossas filhas e vossos jovens
terão visões e os vossos anciãos sonharão. Sim, naqueles
dias derramarei meu Espírito sobre os meus servos e sobre as
minhas servas e profetizarão; e farei ver prodígios em cima
no céu e sinais em baixo na terra, sangue e fogo e vapor de
fumo. O sol converter-se-á em trevas e a lua em sangue,
antes que venha o grande e ilustre dia do Senhor. E isto
acontecerá: Todo aquele que invocar o nome do Senhor, será
salvo.
Israelitas, ouvi estas palavras: Jesus Nazareno, homem
aprovado por Deus entre vós, com virtudes e prodígios e
sinais, que Deus operou por Ele no meio de vós, como bem o
sabeis, depois de vos ser entregue pela decreta vontade e
presciência de Deus, vós, crucificando-O por mãos de
iníquos, lhe tirastes a própria vida; Deus, porém, o
ressuscitou, dissipadas as dores do reino da morte,
porquanto era impossível que por este fosse retido. Pois
Davi diz dEle: Eu via sempre o Senhor diante de mim, porque
está à minha direita, para que eu não seja abalado; por isso
se alegrou o meu coração e se regozijou a minha língua e
além disto, também a minha carne repousará na esperança,
porque não deixarás a minha alma no reino dos mortos, nem
permitirás que o teu Santo experimente corrupção.
Fizeste-me conhecer os caminhos da vida e encher-me-ás de
alegria, mostrando-me a tua face. Irmãos, seja-me permitido
dizer-vos ousadamente do patriarca Davi que ele morreu, foi
sepultado e o seu sepulcro se vê entre nós, até o dia de
hoje. Sendo, pois, um profeta e sabendo que com juramento
lhe havia Deus prometido que do fruto de seu sangue se
assentaria alguém sobre o seu trono, antevendo-o, falou da
ressurreição de Cristo, que nem seria deixado no reino dos
mortos, nem a sua carne veria a corrupção.
Deus o ressuscitou, e todos nós somos testemunhas. Assim é
que, depois que subiu à direita de Deus e havendo recebido
do Pai a promessa do Espírito Santo, O derramou sobre nós,
como vedes e ouvis. Pois Davi não subiu ao céu, mas ele
mesmo disse: O Senhor disse ao meu Senhor: Assenta-te à
minha direita, até que eu ponha os teus inimigos por
escabelo dos teus pés. Saiba portanto toda a casa de Israel,
com a maior certeza, que Deus o fez não só Senhor, mas
também Cristo, a este Jesus que crucificastes”.
Tendo ouvido estas coisas, ficaram compungidos no coração e
disseram a Pedro e aos mais Apóstolos: “Que devemos fazer,
irmãos”? Pedro então lhes respondeu: “Fazei penitência e
cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para
remissão de vossos pecados e recebereis o dom do Espírito
Santo; porque para vós é a promessa e para vossos filhos e
para todos os que estão longe e quantos chamar a si o Senhor
nosso Deus”. Com outras muitíssimas razões e testificou
ainda e exortava-os, dizendo: “Salvai-vos dessa geração
depravada”. (Atos 2, 14-40).
Batizaram
então durante todo o dia. No entanto ensinavam os Apóstolos,
para preparar o povo à recepção dos santos Sacramentos.
Cerca de três mil homens receberam no dia de Pentecostes o
santo Batismo, inclusive as santas mulheres. Auxiliada por
elas, distribuía Maria as vestes brancas aos batizados.
A Mãe de
Deus foi batizada depois de Pentecostes, sozinhas, na
piscina de Betesda, por João, que celebrou antes a Santa
Missa, como era celebrada naqueles tempos: consagravam-se a
hóstia e o vinho com algumas orações. Fonte: Extraído do Livro "Vida, Paixão e Glorificação do Cordeiro de Deus - Anna Catharina Emmerich - Ed. MIR.
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