A Ascensão de JESUS e a
Vinda do Divino Espírito Santo.
O Senhor despede-se dos seus.
Na
véspera da ascensão veio Jesus, com cinco discípulos à casa
de Lázaro, em Betânia, onde se encontraram com Maria e as
outras santas mulheres. Muito povo se reuniu em redor da
casa, para ver mais uma vez Jesus e despedir-se dEle. O
Divino Mestre apareceu à gente de fora, benzeu e
distribuiu-lhes muitos pãezinhos; depois se afastaram.
Na casa
tomou Jesus, em pé, um refresco com os discípulos, que
choravam amargamente, porque ia deixá-los. Ele, porém,
disse: “Por quê chorais, queridos irmãos?
Vede esta mulher, que não chora”. Dizendo-o, apontou
para a Mãe Santíssima.
Jesus
despediu-se mais intimamente de Lázaro. Deu-lhe do pão bento
a comer, abençoou-o e apertou-lhe a mão.
Depois se
encaminharam todos, com exceção de Lázaro, que morava
escondido em casa, para Jerusalém, onde Nicodemos e José de
Arimatéia prepararam uma refeição.
“Vi Jesus,
com os Apóstolos, andando por vários caminhos, em redor do
Monte das Oliveiras; os outros grupos O seguiam. Às vezes
parava Jesus, para lhes explicar alguma coisa. Todos estavam
em grande angústia, alguns choravam; outros estavam muito
abatidos. Vi um deles pensando:
“Quando Ele for embora, quem será o mestre? E como se
cumprirá tudo o que foi prometido a respeito do Messias?”
Pedro e
João parecia-me mais calmos e compreendendo tudo melhor.
Muitas vezes faziam perguntas ao Senhor e Ele parava,
explicando-lhes muitas coisas. Assim andaram até à noite. O
Senhor parava freqüentemente, estava muito sério, ao
ensinar-lhes, às vezes desaparecia repentinamente. Então
ficavam muito assustados, mas de repente lhes voltava de
novo. Era como se quisesse prepará-los para a próxima
separação. Vi-os andando por belas campinas, por caminhos
agradáveis e debaixo de árvores. O sol brilhava lindamente à
tarde.
Quando
Jesus e os Apóstolos se aproximaram da casa do banquete, já
o sol se tinha posto. Maria, Nicodemos e José de Arimatéia
vieram-Lhe ao encontro em frente à casa. Jesus entrou ao
lado de sua Mãe. As outras mulheres vieram mais tarde.
Depois de lhes haver dito algumas palavras e de terem
chegado os outros discípulos, Jesus entrou na grande sala do
banquete. Benzeu o peixe, o pão e as verduras e ofereceu a
todos; cada um recebeu um bocado.
Durante o
banquete, Jesus não deixou de ensinar-lhes, com palavras
muito sérias. Vi as palavras saírem-lhe da boca como raios
de luz e entrarem na boca dos Apóstolos, num mais depressa,
noutro mais vagarosamente, conforme o grau de desejo ou sede
de doutrina de Jesus.
No fim da
refeição Jesus benzeu também um cálice de vinho, bebeu e
ofereceu-o aos outros e todos beberam. Mas não foi o
Santíssimo Sacramento.
Depois dos
discípulos se terem levantado do ágape
(refeição),
reuniram-se os outros, que comeram nas salas laterais,
debaixo das árvores, em frente à grande sala; vi Jesus
aproximar-se-lhes, ensinar-lhes por muito tempo e
abençoá-los; depois se afastaram.
Vi então as
outras mulheres, que nesse meio tempo tinham chegado,
entrarem no jardim, debaixo das árvores. A Santíssima Virgem
estava com elas. Jesus aproximou-se-lhes e deu a mão a sua
Mãe. Falou-lhes muito sério. Todas estavam muito comovidas e
senti que Madalena desejava veemente abraçar os pés do
Senhor. Tendo-lhes falado assim por algum tempo e depois de
as haver abençoado, deixou-as Jesus. Choraram muito, mas
silenciosamente, abafando a dor; a Santíssima Virgem, porém,
não a vi chorar, nessa ocasião.
Ao
aproximar-se a meia noite, saiu Jesus com os Apóstolos,
tomando o caminho pelo qual viera à cidade no domingo de
Ramos. Maria seguiu depois dos Apóstolos e após ela, um
grupo de discípulos. Muita gente se lhes aproximou no
caminho e o Senhor falou-lhes.
“Em
companhia dos onze apóstolos, cerca de trinta discípulos, a
Santíssima Virgem e algumas mulheres, dirigiram-se ao
Cenáculo.
Só Jesus,
os onze e Maria penetraram na sala interior; os discípulos
entraram nas salas laterais, onde havia bancos de dormir,
não sei se dormiram ou rezaram. As companheiras de Maria
ficaram no vestíbulo. Foi preparada a mesa da última Ceia e
aceso o candeeiro. Havia na mesa apenas um pão ázimo e um
pequeno cálice. Os Apóstolos revestiram-se das vestes de
cerimônia e Pedro pôs a veste própria de sua dignidade. A
Santíssima Virgem sentou-se em frente ao Senhor. Vi Jesus
fazer o mesmo que fizera na última ceia: marcar o pão,
oferecê-lo a Deus, partir, benzer e dá-lo aos discípulos;
depois beberam também do cálice, sem que o enchessem de
novo. Vi o Santíssimo Sacramento brilhando, ao
pronunciar Jesus as palavras, penetrar como um pequeno corpo
luminoso na boca dos Apóstolos. Na consagração do cálice, se
lhe derramou a palavra sacramental no cálice como um rubro
fulgor de sangue. Madalena, Marta e Maria Cleofé já
tinham recebido o SS. Sacramento nos últimos dias.
No começo
da noite fizeram a oração e cantaram com mais solenidade do
que comumente, à luz do candeeiro. Jesus deu mais uma vez a
Pedro poder sobre os outros.
Impôs-lhe mais uma vez o manto, repetindo o que dissera, ao
aparecer-lhes na praia do lago Tibérias e no cume da
montanha. Ensinou ainda sobre o batismo e a bênção da água.
– durante a oração e a doutrina, já pela manhã, vi ainda
cerca de dezessete discípulos, dos mais íntimos de Jesus,
atrás da SS. Virgem, na sala do Cenáculo.
Antes
de saírem de casa, o Senhor apresentou-lhes a Santíssima
Virgem como centro e intercessora dos fiéis. Pedro e os
outros inclinaram-se diante dela; Maria, porém, abençoou-os.
No momento
em que isso se deu, vi Maria revestida, de um modo
sobrenatural, de um grande manto, de cor azul celeste,
colocada sobre um trono, tendo na cabeça uma coroa.
Era um símbolo de sua dignidade”.
Jesus sobe ao céu
Ao
amanhecer do dia, saiu o Senhor do Cenáculo, conduzindo os
onze Apóstolos pelas ruas de Jerusalém, por todo o caminho
da Paixão. Seguiram-nos Maria e um grupo de discípulos. Onde
se dera uma cena da Paixão, demorava-se alguns momentos,
explicando-lhes a significação do lugar ou um trecho dos
profetas referente a isso. Onde, porém, os judeus tinham
obstruído o lugar, para impedir a veneração dos fieis,
mandou Jesus tirar esses obstáculos.
Assim
saíram da cidade e vieram a um jardim ou lugar de oração,
onde se sentaram à sombra das árvores e Jesus ensinou e
consolou-os. Como no entanto começava a amanhecer,
tornaram-se-lhes os corações um pouco mais alegres, na
esperança de que Jesus ainda ficasse com eles.
Aproximaram-se então muitas turbas de povo. Jesus continuou
o caminho para o monte Calvário e dali para o Monte das
Oliveiras, onde se sentou novamente num jardim, falando
ainda muito tempo com os discípulos, como para terminar a
sua obra.
Já estava
reunida numerosa multidão em redor de Jesus e por toda a
redondeza; em Jerusalém correu o boato do grande concurso de
povo no Monte das Oliveiras, ao qual se juntaram novos
grupos da cidade.
Então se
dirigiu o divino Salvador do Horto de Getsêmani e subiu o
Monte das Oliveiras.
“A multidão
caminhava como em procissão, subindo o monte pelos diversos
caminhos, de todos os lados e muitos grupos passavam pelas
moitas, pelas sebes e cercas.
O Senhor,
porém, tornava-se cada vez mais resplandecente e ligeiro. Os
discípulos seguiam-no, mas não mais podiam alcançá-Lo.
Tendo o Senhor chegado ao cume do monte, brilhava como a luz
branca do sol. Do céu, porém, desceu sobre Ele um circulo
luminoso, que brilhava com todas as cores do arco-íris.
Todos os que O seguiram, ficaram parados, em vasto círculo,
como que ofuscados. O Senhor brilhava ainda mais do que o
esplendor que o cercava. Pousando a mão esquerda sobre o
peito, abençoou com a direita elevada todo o mundo,
virando-se para todos os lados. A multidão ficou
imóvel, vi que todos foram abençoados. Jesus não abençoava
como os rabinos, com a mão aberta para a frente, mas
como os bispos cristãos. Senti com grande felicidade
esse benção sobre todo o mundo.
Então se
lhe uniu o próprio esplendor à luz do alto e notei que se
tornava invisível, a partir da cabeça, dissolvendo-se-lhe a
figura na luz celeste e desaparecia como que subindo. Era
como se um sol entrasse no outro ou como uma chama entrando
numa luz ou uma centelha numa chama. Era como se se fitasse
o sol radioso do meio-dia e ainda mais branco e claro; o
pleno dia parecia escuro, em comparação com aquela luz.
Quando já não se Lhe via mais a cabeça, ainda se podia
distinguir-Lhe os pés resplandecentes, até que desapareceu
inteiramente, no esplendor do céu. Inúmeras almas vieram de
todos os lados, entrando nessa luz e desapareceram no céu
com o Senhor. Não posso dizer que O vi tornar-se cada vez
mais pequeno, como algo que voa no ar; mas vi-O desaparecer
numa nuvem de luz.
Ao aparecer
a nuvem luminosa, caiu, por assim dizer, um orvalho de luz
sobre todos e não podendo mais suportar essa luz, ficaram
todos cheios de espanto e admiração. Os Apóstolos e
discípulos achavam-se mais perto de Jesus; estavam em parte
deslumbrados e olhavam para baixo; muitos se prostraram por
terra. A santíssima Virgem estava logo atrás dos
Apóstolos, olhando tranqüilamente para a frente.
Após alguns
momentos, quando o esplendor diminuiu um pouco, toda a
assembléia, no maior silêncio e nas mais intensas emoções da
alma, olhou para a luz do alto, que ainda ficou por algum
tempo. Nessa luz vi descer duas figuras, no começo
pequenas, crescendo cada vez mais e aparecer, com vestes
longas e brancas e um bastão na mão, como profetas, falando
à multidão; as vozes soavam alto e forte, como a de
trombetas e parecia-me que as deviam ouvir em Jerusalém. Não
se movimentam, mas estavam inteiramente imóveis, ao dizer as
poucas palavras:
“Homens da Galiléia, que estais aí
olhando para o céu? Esse Jesus que acaba de vos ser
arrebatado, para subir ao céu, voltará como o vistes subir
ao céu”. Tendo dito essas palavras,
desaparecerem.
O
esplendor, porém, ficou ainda por algum tempo, até que
afinal se desfez, como do dia se passa à noite. Os
discípulos estavam fora de si, sabiam agora o que lhes tinha
sucedido: O Senhor tinha ido embora para o Pai
Celestial. Muitos caíram por terra de dor e
atordoamento. Enquanto desaparecia o esplendor, recobraram
ânimo e ergueram-se, cercados pelos outros. Muitos formaram
grupos, as mulheres aproximaram-se também e assim se
demoraram ainda, olhando para o céu, pensando e falando
sobre o sucedido; depois voltaram os discípulos a Jerusalém,
seguidos pelas mulheres. Alguns dos mais simples choravam
como crianças, outros se conservavam recolhidos e
pensativos. A Santíssima Virgem, Pedro e João estavam
muito tranqüilos e consolados. Vi, porém, também
muitos outros que não estavam comovidos, mas descrentes e
duvidosos e que apartaram dos outros e se afastaram; pouco a
pouco se dispersou toda a multidão.
No lugar
onde Jesus subiu ao céu, havia uma grande laje, sobre a qual
o Divino Mestre estava ensinado ainda, antes de dar a bênção
e desaparecer nas nuvens luminosa. As pegadas do Senhor
ficaram impressas na pedra e numa outra se imprimiu uma das
mãos da Santíssima Virgem.
Meio dia já
tinha passado, quando toda a multidão acabou de
dispersar-se. Os discípulos e a Santíssima Virgem
dirigiram-se ao Cenáculo. Sentindo a princípio a separação
de Jesus, estavam inquietos e julgavam-se abandonados.
Quando, porém, se acharam reunidos no Cenáculo, encheram-se
todos de consolação, principalmente pela presença
calma da Santíssima Virgem no meio deles e, confiando
inteiramente na palavra de Jesus, de que Maria lhes seria o
centro, a Mãe e intercessora, recuperaram a paz de coração.
Preparação dos Apóstolos e discípulos para a vinda do
Espírito Santo
Os dez
dias entre a ascensão do Senhor e a vinda do Espírito
Santo passaram-nos os Apóstolos reunidos com a
Santíssima Virgem, no Cenáculo. Reuniram-se freqüentemente
para a oração, na sala da última Ceia, em que observavam uma
ordem mais rigorosa do que o grande número de discípulos e
fiéis, também presentes. Demais viviam muito recolhidos,
tremendo também a perseguição dos Judeus.
Um dia
Pedro, estando no meio dos Apóstolos, vestido da vestidura
episcopal, propôs a eleição de um Apóstolo em lugar de
Judas, indicando a José Bársabas e Matias para esse fim.
Ambos nunca tinham pensando nisso, nem desejado tal
dignidade, enquanto muitos dos discípulos que assistiram à
eleição, desejavam ser Apóstolos.
Matias,
apesar de mais delicado e fraco, por possuir maior fortaleza
da alma foi preferido por Deus a Bársabas, que era jovem, na
flor da idade. Como a piedosa Emmerich relata em poucas
palavras apenas esse acontecimento importante, damos a
seguir aqui a bela narração dos Atos dos Apóstolos de S.
Lucas (1, 15-26):
Naqueles dias, levantando-se Pedro no meio dos Irmãos (e
montava a multidão dos que ali se achavam juntos, a quase
cento e vinte pessoas), disse: Irmãos, é necessário que se
cumpra a Escritura, em que o Espírito Santo predisse, pela
boca de Davi, acerca de Judas, que foi o condutor daqueles
que prenderam Jesus; e o qual estava entre nós alistado no
mesmo número e a quem coube parte deste ministério. E este
possui de fato um campo do preço da iniqüidade; e depois de
se enforcar, arrebentou pelo meio e todas as entranhas se
lhe derramaram na terra. E tão notório se fez a todos os
habitantes de Jerusalém este fato, que se ficou chamando
aquele campo, na língua deles, Hacéldama, isto é, campo de
sangue. Porque escrito está no livro dos Salmos: Fique
deserta a habitação dele e não haja quem nela habite e
receba-lhe outro o seu cargo. Convém, pois, que destes
homens, que têm estado juntos na nossa companhia, todo o
tempo em que viveu entre nós o Senhor Jesus, começando desde
o batismo de João, até o dia em que foi arrebatado ao céu,
que um dos tais seja testemunha conosco da ressurreição.
E
propuseram dois: José, que era chamado Bársabas, o qual
tinha por sobrenome o Justo e Matias. E orando, disseram:
Tu, Senhor, que conheces os corações de todos, mostra-nos
destes dois a quem escolheste, para que tome o lugar deste
ministério e apostolado, do qual pela prevaricação decaiu
Judas, para ir ocupar-lhe o lugar. E a respeito lançaram
sortes e caiu a sorte sobre Matias, que foi contado no
número dos Apóstolos.
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