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sábado, 16 de fevereiro de 2013

Religião, qualquer uma, não lida com valores como modernidade ou popularidade. Não há como atualizar doutrinas espirituais, pois elas são expressão da Eternidade. Não católicos, deixem a Igreja Católica cuidar dos seus assuntos



Política e religião
A renúncia do Papa Bento XVI deflagrou especulações múltiplas na mídia mundial, marcadas por um paradoxo: para uns, expõe a decadência de uma instituição de mais de dezesseis séculos (a contar da romanização do cristianismo), combalida por divisões internas que seriam insanáveis. Para outros, ao contrário, o interesse em escala planetária mostra a força de uma instituição que, como nenhuma outra, é capaz de mobilizar não apenas seus adeptos, mas também, e na mesma medida (com alguns decibéis acima), os não adeptos.

Ambos os diagnósticos – o que proclama a decadência e o que sustenta o oposto – têm procedência: a Igreja está fragilizada, sim, perdendo seguidores; não obstante, continua poderosa, peça-chave na geopolítica mundial. Tem 1,2 bilhão de adeptos espalhados por todo o planeta – uma Índia espiritual. Responsável pelo que se convencionou chamar de Civilização Ocidental, é contestada em seu berço, a Europa. Lá, mais que em qualquer outra parte, questiona-se o suposto anacronismo de sua doutrina e acusa-se o renunciante, Bento XVI, de reacionário e ultraconservador. Exige-se sua modernização e a absorção de uma agenda comportamental que lhe é antípoda
 Nota dos redatores do Blog Catolicismo: A Igreja Católica jamais será abalada por intrigas, por ataques de modernidade, já que os principios cristãos, os alicerces sobre os quais está assentada, são perenes. 
Não podemos olvidar que a Igreja Católica foi criada por decreto do próprio Nosso Senhor Jesus Cristo, conforme Evangelho de São Mateus, Capítulo 16, versículos 17 a 19: 
"17 Jesus então lhe disse: Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus. 18 E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. 19 Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus." 

Antes de mais nada, é preciso que se diga que religião, qualquer uma, não lida com valores como modernidade ou popularidade. Não há como atualizar doutrinas espirituais, pois elas se pretendem expressão da Eternidade. Ninguém é obrigado a crer nisso, nem a aderir. Mas é preciso admitir que assim é – ou não será religião, mas outra coisa. Uma vez que se decide professar os seus cânones – e, no Ocidente ao menos, isso se dá por livre e espontânea vontade -, não faz sentido contestá-los.

É como alguém tornar-se sócio do Flamengo e protestar contra o fato de que o clube joga futebol. Ou, pior ainda, não sendo sócio, querer determinar o comportamento do clube.
Os cânones católicos estão lá há mais de um milênio e meio, depositários de uma fé que ultrapassa dois milênios. Por isso, mudanças, mesmo as mais tópicas, provocam séculos de discussão em sucessivos concílios, antes de serem adotadas. A instituição é intrinsecamente conservadora, pois sua missão é exatamente conservar uma Revelação de que se crê portadora – e isso vale para todas as religiões. 
Nota dos redatores do Blog Catolicismo: sempre devemos  ter em conta que apenas uma - Igreja Católica Apostólica - foi fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo.

Não tem, nem pode ter, compromissos com governos, ideologias, modas ou revoluções, por mais afinidades que possam ter com aspectos pontuais de sua doutrina. Como então cobrar do Papa, qualquer um deles, comportamento “progressista”? Não é casual que essa discussão seja promovida sobretudo por quem não professa a fé católica, nem vê nela qualquer sentido. São grupos militantes que enxergam a Igreja pelo ângulo geopolítico e sua influência sobre governos e populações.

Querem que absorva seus princípios ideológicos e comportamentais pela influência que pode exercer na conduta de milhões de pessoas. Não é, portanto, uma questão religiosa; é política. Por isso, não católicos se mostram tão interessados no encaminhamento da sucessão papal, tema que, em circunstâncias normais, deveria mobilizar apenas os adeptos. Não há dúvida de que a própria Igreja, ao longo de sua história, contribuiu para essa deformidade, ao imiscuir-se no jogo do poder político. Na Idade Média, não apenas influía, mas agia sobre governos e impérios. Seus fundamentos eram impostos a todos, crentes ou não. Há muitos séculos não é mais assim.

Ou não era: o Concílio Vaticano II, nos anos 60 do século passado, ao admitir seu ingresso no jogo político-ideológico da Guerra Fria, contaminou-a com um debate alheio à sua missão pastoral introduzindo em seu glossário termos como modernidade e progressismo e, o que é pior, tornando-a vulnerável à cobrança de seus parceiros seculares. O advento da Teologia da Libertação, que busca conciliar cristianismo e marxismo, não é o único, nem o maior problema. Pior é o ambiente divisionista, que semeia desunião e desconfiança, levando o conflito do mundo às quatro paredes da Sé.

É sob esse foco que se desdobra a sucessão de Bento XVI, adepto da ortodoxia, cuja renúncia indica que já não via meios pessoais de liderar a resistência às correntes antagônicas. Possivelmente – e a especulação é pertinente –, viu na renúncia a estratégia de fortalecer a defesa do legado milenar, que sente ameaçado pelas facções progressistas e relativistas. Garante assim fôlego à ala ortodoxa para, quem sabe, mais um mandato no Trono de São Pedro.

Fonte: Blog do Noblat - Ruy Fabiano, jornalista

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