Em sermão, papa ressaltou ações de caridade dos canonizados: 'Um caminho de amor nas periferias existenciais do mundo'

IRMÃ DULCE (1914-1992) - A canonização será em 13 de outubro
Na cerimônia no Vaticano também subiram aos altares outros quatro santos: o cardeal britânico John Henry Newman (1801-1880), a religiosa italiana Giuseppina Vannini (1859-1911), a indiana Maria Teresa Chiramel (1876-1926) e a suíça Marguerite Bays (1815-1879). Irmã Dulce, porém, é a mais jovem do grupo — os demais morreram no século XIX ou nas primeiras três décadas do século XX. “Agradecemos ao Senhor pelos novos santos, que caminharam na fé e agora invocamos como intercessores. Três deles são freiras e mostram-nos que a vida religiosa é um caminho de amor nas periferias existenciais do mundo”, disse o papa Francisco no sermão de canonização.

Cerimônia
de canonização da brasileira Irmã Dulce, juntamente com o cardeal
inglês John Henry Newman, a religiosa italiana Giuseppina Vannini, a
indiana Maria Teresa Chiramel e a suíça Marguerite Bays (Alberto
Pizzoli/AFP)

Papa Francisco e o
príncipe Charles, no Vaticano, após cerimônia de canonização de cinco
novos santos: entre eles o inglês John Henry Newman e a brasileira Irmã
Dulce (Vaticano/AFP)
O milagre que levou à beatificação foi a intercessão da freira, a pedido de orações de um padre, para salvar a vida de uma mulher que deu à luz a um menino e estava desenganada por causa de uma hemorragia depois do parto, que os médicos não conseguiam conter. O caso ocorreu nove anos após a morte de Irmã Dulce (2001), em uma cidade do interior de Sergipe.
Para a canonização, a Constituição Apostólica exige a comprovação de um segundo milagre e semelhante ritual processual e comprobatório. A segunda graça, conforme publicado pela Arquidiocese de Salvador, foi a recuperação da visão do músico e maestro José Maurício Bragança Moreira, após 14 anos sem enxergar por causa do glaucoma. Filha de um dentista e de uma dona de casa que morreu quando ela tinha sete anos, descobriu sua vocação ainda adolescente, quando atendia mendigos e doentes na porta da casa da família. Aos 19 anos se tornou freira e adotou o nome de “Dulce”, em homenagem à mãe. Começou atuando nos bairros mais pobres de Salvador e chegou a invadir propriedades desocupadas para abrigar doentes que pediam sua ajuda.
Em nome dos pobres e dos doentes, a mulher de 1,48 metro era gigante. Criou um dos maiores complexos de saúde do Brasil, o Hospital Santo Antônio, em Salvador, que hoje faz 3,5 milhões de procedimentos ambulatoriais por ano, gratuitamente. Ela atraía atenção, carinho e dinheiro de políticos e empresários como Antonio Carlos Magalhães e Norberto Odebrecht. Nascida numa família de classe média (filha de dentista e professor), tinha uma afeição espantosa pelos miseráveis. Certa vez, foi alimentar um morador de rua. Na primeira colherada, ele cuspiu a comida na cara da religiosa. Dulce reagiu: “A primeira colher era para mim mesmo, agora coma você”. Invadiu casas para abrigar gente que morava nas ruas. Foi afastada de sua congregação, a das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, em razão de suas atividades, que não seguiam regras tradicionais.
Com agências EFE e France-Presse
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