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segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

O Menino Jesus nasceu, viva o Natal do Senhor

O Menino Jesus nasceu, viva o Natal do Senhor

Imagem do Natal do Senhor, o Presépio

Solenidade do Natal

Etimologia do termo Natal

O nome “Natal” está repleto de sugestões reais e fantásticas, de fé e devoção, tanto artísticas quanto filosóficas e teológicas. Nome simples e complexo, comum e erudito, divino e humano ao mesmo tempo. É um nome cheio de mistérios. Sua etimologia remonta ao adjetivo latino natalis, com o significado de natal, no sentido de “algo relativo ao nascimento”, que, por sua vez, deriva do particípio perfeito natus, do verbo nasci “nascer”.

A data do natal

O culto oriental ao Sol foi perpetrado na época romana, desaguando no culto ao deus Mithras. Também é representado como uma criança que mata um touro sagrado, daí o termo tauroctonia, ou seja, o culto reservado a Mithras. A origem histórica do Natal não é totalmente certa e segura. Existem muitas e variadas hipóteses para explicá-lo. Talvez a data de 25 de dezembro, como dia de celebração do nascimento de Cristo, tenha sido fixada para substituir uma festa pagã dedicada ao nascimento do Sol (Mithras). O Dies Natalis Solis Invicti, que o imperador Aureliano havia oficializado em 274, precisamente em 25 de dezembro. 

A antiga festa popular

As comemorações do nascimento do Sol, consistindo no acendimento de grandes fogueiras em sinal de festividade. Em torno das fogueiras o povo se reunia para festejar comendo e bebendo, como em todas as festas populares. Neste período celebravam-se também as Saturnálias, (de 17 a 23 de Dezembro), em honra de Saturno, deus da agricultura, durante as quais ocorriam trocas de presentes e banquetes sumptuosos, em que participavam também os escravos como cidadãos livres, que também receberam presentes de seus mestres. 

Natal: Da festa popular a Solenidade Cristã

A data do Natal Cristão

A instituição do Natal cristão convergia para o culto solsticial. Os dois cultos, o da novidade cristã e o popular e camponês do mundo pagão, se entrelaçaram, as autoridades eclesiásticas, para evitar abusos e mal-entendidos decidiram celebrar e proclamar 25 de dezembro apenas a Natividade de Cristo. Com alguma probabilidade, este é um exemplo bastante significativo de como a política do cristianismo primitivo absorveu e transformou uma tradição pagã com um novo conteúdo. Claro que esta substituição não foi isenta de consequências, pois as tradições custam a morrer. No Natal de 460 o Papa Leão I ainda recorda a presença do culto do Sol na cidade de Roma. 

O Nascimento do Menino Jesus

As primeiras referências, portanto, à festividade do Natal cristão datam da primeira metade do século IV, quando a primeira menção histórica à celebração da Natividade de Cristo se encontra no ano 336, conforme especifica o Chronographes, o mais antigo Calendário cristão que chegou até hoje, escrito em 354 pelo calígrafo do Papa Dâmaso, o estudioso romano Furius Dionysius Philocalus. Certamente algumas referências escriturísticas devem ter influenciado a escolha do dia 25 de dezembro, como, por exemplo, o texto do profeta Malaquias que chama o Cristo, que nasceria daquela que deve dar à luz em Belém, com o nome do “Sol da Justiça” (3, 20). Assim, temos a identificação da data de 25 de dezembro como o dia do nascimento do Menino Jesus.

Os Fundamentos Bíblicos da Celebração

Revelação para São Paulo

O autêntico significado do Natal cristão tem seu fundamento no grande desígnio de Deus, revelado por Paulo em dois importantes textos. 

O Primeiro Texto

A Primeira: “Bendito seja Deus, o Pai do Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos céus em Cristo. Nele [Cristo] nos escolheu antes da criação do mundo, para sermos santos e imaculados diante dele na caridade, predestinando-nos para sermos seus filhos adotivos [do Pai] por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade. E isto para louvor e glória de sua graça, que ele nos deu em seu Filho amado” (Ef 1:3-6). 

O Segundo Texto

E a outra: “Ele [Cristo] é a imagem do Deus invisível, gerado antes de toda criatura; porque por meio dele foram criadas todas as coisas, as que estão no céu e as que estão na terra, as visíveis e as invisíveis: Tronos, Dominações, Principados e Poderes. Todas as coisas foram criadas por meio dele e para ele. Ele é o primeiro de todas as coisas e todas existem nele” (Cl 1, 15-18). 

Uma reflexão

Os dois textos têm algumas características em comum: o desígnio de Deus, riqueza de títulos e universalidade das afirmações. A intenção de Paulo é conhecer o desígnio secreto de Deus ad extra, baseado no “bom prazer da vontade do Pai”. Está tudo centrado na predestinação de Cristo, da qual depende também a predestinação do homem, com a diferença de que a de Cristo é absoluta e a do homem condicionado. 

O Mediador entre Deus e os homens

Sempre atual
O discurso de Paulo está no presente, porque a predestinação de Cristo, da qual provêm todos os benefícios para o homem, é sempre atual. Por isso, celebra-se Cristo como o único Mediador entre Deus e os homens e entre os homens e Deus, ou como diríamos com o latim medieval omnia a Deo per Christum et omnia a Deo in Christum

A História da Solenidade mais esperada pelos Cristãos

História Litúrgica 

Desde o início, os cristãos celebravam o que o Senhor Jesus fez pela salvação da humanidade. Todos os domingos, na “Páscoa semanal” e a festa anual, no domingo após a primeira lua cheia de primavera, a Páscoa.  No início do século IV, o calendário litúrgico começou a mudar, dando mais valor à experiência “histórica”​​ de Jesus. Na Sexta-feira Santa comemorava-se a morte de Jesus e também a Última Ceia. 

O Nascimento de Jesus

Neste prisma, temos o Natal, o nascimento de Jesus, sobre o qual, em 336, temos o primeiro testemunho, depois do qual, veio a festa do Natal oriental da Epifania, em 6 de janeiro. Esta data era associada à festa civil pagã do “Natal do Sol Invencível” (“Natale Solis Invicti”), que o imperador Aureliano havia introduzido, em 274, em homenagem à divindade siríaca do Sol de Emesa, celebrada, precisamente, no dia 25 de dezembro. 

A Solenidade

A Solenidade do Natal é a única festa, que podia ser celebrada com quatro Missas próprias: véspera, noite, amanhecer e dia. Os textos desta solenidade são os mesmos para os três Anos Litúrgicos. Trata-se de uma escolha que visa aprofundar e valorizar, quase em câmara lenta, o Acontecimento que mudou o curso da história: Deus se fez homem!

Como pensar o Natal hoje? 

O sentido do Natal

O Natal de nosso Senhor Jesus recorda-nos que Deus está presente em todas as situações. Pensamos que Ele está ausente ou nas quais achamos que Ele não pode estar. A nossa fé estimula-nos a viver o tempo natalino com maior serenidade e esperança! Deus está aqui, tão presente que, talvez ou com certeza, nos convida a rever nossos costumes; convida-nos a lembrar que, assim como Ele veio para nos salvar, também nós, através d’Ele, só podemos nos salvar se caminharmos juntos, se aprendermos a cuidar uns dos outros. Somos convidados a ser uma “manjedoura”, onde os outros possam se alimentar do pão da amizade, do amor, da misericórdia, da esperança. 

Um convite

O Senhor oferece-se a nós para que possamos dar seu testemunho com a nossa vida. Como cristãos, somos convidados a assumir a esperança desta humanidade desnorteada e solitária, a sermos sentinelas da nova manhã, para que as trevas deste tempo sejam rompidas pela Luz, que vem do Senhor Jesus.

Minha oração

“ Ó Senhor que vos revelastes tão pequenino e frágil, um Deus escondido na humanidade, porém não menos poderoso. Concedei a nós a sabedoria para te encontrar nesses mistérios e a certeza da tua presença no meio de nós, todos os dias. Salvai-nos de nossas mazelas e durezas tornando-nos mais humildes e humanos assim como tu o fizeste. Amém

Um Santo Natal para você e para a sua família!


quinta-feira, 9 de novembro de 2023

O que é um judeu? O caso Herzl

Bruna Frascolla - VOZES

Sionismo

A escalada do conflito em Israel voltou os holofotes para o sionismo. De um lado, diz-se que o sionismo é uma coisa essencialmente maléfica; de outro, diz-se que ser contra o sionismo é o mesmo que tatuar uma suástica na testa
Arrisco dizer, porém, que a imensa maioria dos que falam sobre sionismo não fez mais que seguir as exortações e invectivas dos seus influencers prediletos, sem se dar ao trabalho de averiguar nada. 
Ninguém tem obrigação de saber sobre tudo, claro. 
Mas o mínimo que se espera é que, quando não temos a pretensão de conhecer um assunto, não subamos em palanques virtuais para pedir cabeças e dar chiliques.

Como faz parte da minha profissão escrever sobre as coisas – e como, ainda por cima, tenho interesse em história do pensamento racial por causa das semelhanças entre o neorracismo negro e o nazismo –, fiz o elementar: li O Estado Judeu (1895), de Theodor Herzl, a fim de comentá-lo aqui. Esse opúsculo é a fundação do sionismo (ou do “sionismo moderno”, como dizem os sionistas mais ousados que alegam que o sionismo está na Torá).

Theodor Herzl (1860 – 1904) nasce em Peste (metade de Budapeste), no Império Austro-Húngaro, numa família de judeus assimilados. O que é um judeu assimilado?

Bom, o judaísmo é pelo menos duas coisas ao mesmo tempo: uma religião e uma etnia
Ao contrário das demais religiões abraâmicas, o judaísmo não faz proselitismo e não está de portas abertas para a entrada de qualquer um. Nem sempre foi assim. 
Na Antiguidade tardia, os judeus converteram pelo menos dois grupos populacionais relevantes: algumas tribos nômades dos cazares, que ficavam rodando pela atual Ucrânia, Rússia e Cazaquistão, e algumas vilas etíopes. 
Os etíopes ficaram em relativo isolamento na maior parte da História, mas hoje judeus negros têm direito à cidadania israelense e, de fato, a esmagadora maioria vive lá hoje. 
Já os cazares, que deixaram de existir enquanto povo ou tribo, deixaram descendentes entre os judeus asquenazitas. Isso não quer dizer que os judeus asquenazitas não têm origem hebraica; quer dizer somente que são mestiços que têm o sangue dessa tribo extinta de língua túrquica.
De meados do século XIX a meados do século XX, floresceu o racismo científico. Por isso, o judaísmo era facilmente identificado com uma raça. À epoca de Herzl, portanto, um “judeu assimilado” era um indivíduo de raça judaica que aderiu à cultura do seu meio. 
Isso poderia incluir a conversão à cristandade, ou a adoção de um cientificismo ateu.
 
Theodor Herzl, então, era um judeu assimilado no Império Austro-Húngaro. Sua primeira língua era o alemão e ele era um fervoroso germanófilo em sua juventude: achava que a germanização progressiva faria os indivíduos de origem judaica, como ele, a evoluírem. No âmbito pessoal, tinha planos de ser um grande engenheiro. 
O motivo era o Canal de Suez, um grande um projeto utópico dos sansimonianos que acabou dando certo. 
Os sansimonianos eram engenheiros utópicos e predecessores tanto do positivismo como do marxismo. 
 Fizeram parte do movimento, inclusive, judeus sefarditas franceses, os Irmãos Pereire (um afrancesamento de Pereira), que eram banqueiros rivais dos Rothschild, também banqueiros judeus, porém asquenazitas.
 
Herzl não deu certo na engenharia e foi para as humanas. Virou jornalista, poeta e folhetinista (profissão hoje extinta, a do escritor de romances que saíam em capítulos nos jornais, como novela de TV, só que por escrito: Machado de Assis e Victor Hugo eram folhetinistas). 
Um episódio, porém, o converteu num ativista político: o Caso Dreyfus (1894 - 1906). 
Em resumo, um militar francês de origem judaica, Alfred Dreyfus, perdeu as patentes e foi condenado pela França à prisão perpétua por traição, mesmo sendo inocente.  
No fim, após grande comoção pública, Dreyfus foi inocentado e recuperou as patentes. A França é um país bem antissemita (basta comparar a boa vontade dos franceses para delatar aos nazistas gente de sangue judaico); assim, restou claro que o preconceito contra a origem racial de Dreyfus foi o motivo da condenação.
 
Para piorar, o demagogo Karl Lueger, na Áustria-Hungria natal de Herzl, arrastava multidões com sua pauta antissemita. Foi um modelo para o jovem austríaco Adolf Hitler. 
Assim, Theodor Herzl viu frustrada a sua ideia de viver reconhecido como um germânico pleno, cultor da língua. Daí resultou a sua ideia do Estado Judeu. O Caso Dreyfus começa em 1894; em 1895 sai Der Judenstaat, ou O Estado Judeu.

Mas o que é um judeu? Essa é uma questão com a qual Herzl se bate no seu opúsculo. Herzl decididamente não era um religioso: não se deu nem mesmo ao trabalho de circuncidar o filho. No entanto, a “fé” é apenas a segunda das duas coisas apontadas que unem o povo judeu, e aparece como fator de união só do meio para o fim do escrito. A primeira dela é o antissemitismo. Diz ele: “Nós somos um povo: nossos inimigos nos fizeram um só sem o nosso consentimento, como sempre acontece na História. Nós nos unimos no sofrimento, e no sofrimento descobrimos, de repente, a nossa força. Sim, nós temos a força para construir um Estado; na verdade, um Estado Modelo.” (Eis o alemão para quem quiser comparar: “Wir sind ein Volk – der Feind macht uns ohne unseren Willen dazu, wie das immer in der Geschichte so war. In der Bedrängniss stehen wir zusammen und da entdecken wir plötzlich unsere Kraft. Ja, wir haben die Kraft, einen Staat, und zwar einen Musterstaat zu bilden.” Basta ir no Wikisource, pois o texto original está em domínio público. Os direitos das traduções são outra história.)

Abstraída a questão religiosa, o que é um judeu? Para Herzl, um judeu é aquele que é perseguido por ser judeu. Assim, uma consequência óbvia tirada pelos contemporâneos de Herzl é que ele fomentaria o antissemitismo para fazer prosperar o seu projeto político. Do mesmo jeito que os líderes do movimento negro precisam aumentar o racismo para provar que o seu próprio trabalho é fundamental. A pretensão de falar em nome da coletividade dos judeus também lembra o identitarismo. Mas o que me salta às vistas nesse trecho é a possibilidade de criar uma identidade baseada na opressão social, em vez de numa realidade concreta. Transfira isso para a definição de “mulher” e pense no que pode dar.

Herzl se defende das acusações de que ele precisa criar antissemitismo onde não há, ou aumentar onde já há. A sua defesa consiste em atacar a “assimilação”, dizendo ser ela impossível, exceto por meio dos casamentos mistos. Só por meio da miscigenação os judeus poderiam ser assimilados: “A assimilação, pela qual compreendo não só a mera aparência exterior das roupas, dos estilos de vida, dos costumes e da língua, mas, em vez disso, uma identificação em um sentido e um tipo... A assimilação generalizada dos judeus só poderia ser feita por meio dos casamentos mistos.” (Em alemão, procurar pelo parágrafo que começa com “Die Assimilirung, worunter…)

Resta perguntar, então, o porquê. Será o judaísmo considerado uma raça também por Herzl? Uma raça associada a um modo interno de sentir? A biologia molda o nosso sentido interno, de modo que acabar com o judaísmo só seria possível por meio de uma mudança biológica? Outra vez, isso lembra o cartaz dos racialistas na Avenida Paulista: “Miscigenação é genocídio.” E os tribunais de heteroidentificação racial também exigem uma conformação psicológica (que nada mais é que a adesão ao movimento) para reconhecer alguém como negro.

Seja como for, uma coisa relevante que transparece em Herzl é que as comunidades de origem judaica àquela altura mantinham o hábito de casar entre si, de modo que a “raça” permaneceria sem muita mestiçagem. (O exemplo que ele dá é o de um "casamento misto" reconhecido pela Hungria no qual uma judia se casava com um "judeu batizado".) A relevância do caráter racial para o debate sionista não pode ser diminuída, e o melhor exemplo disso é a politização que a questão da remotíssima miscigenação com os cazares (lá na antiguidade…) causou entre judeus e não-judeus no século XX, com a publicação do livro de Arthur Koestler, um judeu asquenazita que queria provar que não tinha nada a ver com semitas.

Mas bom, a maior diferença entre os negros e os judeus, no que concerne a essa questão, é que podemos sem pestanejar dizer o que é um negro: um negro é alguém de pele negra. 
Não há nada de cultural envolvido nessa questão; negros podem ser judeus, muçulmanos, ateus, brasileiros, congoleses, etíopes... 
Não faz sentido perguntar se um negro é assimilado; faz menos sentido ainda um negro dizer que “se descobriu” negro. Por outro lado, as discussões sobre assimilação eram habituais na Europa de Herzl; e é possível alguém se descobrir judeu após analisar o próprio histórico familiar. 
Afinal, o que é um judeu? Herzl não dá uma definição, nem toca nos critérios pelos quais alguém é reconhecido ou se reconhece como judeu.

Respondamos, então. Considerando a biologia algo apenas acidental, podemos com facilidade apontar o critério primário segundo o qual alguém é apontado como judeu: ter nascido de um ventre judaico. Ou seja, o judeu é o filho da judia (e não necessariamente do judeu). Judeu nasce judeu, não se torna. E como a própria judia pode ser ateia ou convertida a outra religião, resulta que esse critério cultural acaba redundando na matrilinearidade pura e simples. Assim, das três religiões abraâmicas, só uma tem porta de saída: se no islamismo podem te matar caso você queira sair, no judaísmo você continua sendo considerado judeu mesmo que nunca tenha sido nem sequer circuncidado.

O leitor deve saber da “conversão” ao judaísmo de figuras ilustres, tais como a filha de Trump, que se casou com um judeu e hoje é considerada judia. A mãe da israelense Shani Louk é uma alemã de origem católica que fez o mesmo trajeto da Ivanka Trump: casou com um judeu e foi aceita como judia. Não posso apontar fontes, porque meu conhecimento do assunto é oral e o judaísmo não tem Papa, de modo que não é fácil apontar uma doutrina oficial. De todo modo, explico o que eu aprendi oralmente: não é possível se tornar judeu; o que é possível é a autoridade religiosa reconhecer que você é uma alma judaica que foi, digamos assim, extraviada para um útero não-judaico.

Sei disso porque um familiar mestiço, judeu segundo critérios étnicos, resolveu virar judeu religioso e quis que o lado gentio da família aderisse à religião judaica junto com ele. De minha parte, achei a religião mais parecida com um transtorno obsessivo compulsivo generalizado, e não poderia haver proposta menos tentadora. E por aí eu entendi também por que tem tanto judeu ateu: dá trabalho demais ser religioso e é muito aflitivo, pois envolve passar o dia inteiro pensando nisso. A religião inclui até agradecimento a Hashem quando se vai ao banheiro. E Hashem é o modo de se referir a Deus, cujo nome não deve ser pronunciado ou escrito à toa.

Em seu opúsculo, Herzl menciona a acusação de que ele fortaleceria o antissemitismo justamente quando o processo de assimilação estaria quase concluído. 
 De fato, muitos europeus de origem judaica (como se costumava dizer então) haviam se convertido a diversas religiões cristas, ou haviam até nascido num lar cristão novo. 
Karl Popper, austro-húngaro, nasceu num lar cristão novo luterano; 
Edith Stein se converteu ao catolicismo, virou freira e foi canonizada; Jacques Maritain, filósofo católico francês, casou-se com uma judia que se converteu ao catolicismo junto com a irmã; 
Karl Polanyi, austro-húngaro, nasceu num lar cristão novo calvinista; 
Aurel Kolnai, austro-húngaro, converteu-se ao catolicismo… 
Que eu saiba, não existia isso de ser reconhecida como alma judaica para se casar com um judeu; ou, se havia, não havia interesse. A tendência parecia ser a de o grosso da tribo judaica se dissolver na cristandade (como as tribos europeias fizeram antes), sobrando só os ortodoxos, cuja identidade estaria fundada na observância à religião judaica… Até aparecer o sionismo. Aí ficamos fazendo cálculos de matrilinearidade, ou recorrendo a tribunais de heteroidentificação de alma, para decidir quem é judeu.

Porém, uma fé que concorria com as confissões cristãs era a fé laica na ciência, o cientificismo que tanto atraíra o jovem Herzl à engenharia. E o que vemos no seu esboço de como deveria ser o Estado Judeu é a manifestação da fé na Ciência. Que fica para o próximo texto.

domingo, 25 de dezembro de 2022

O Menino Jesus nasceu, viva o Natal do Senhor!

     O Menino Jesus nasceu, viva o Natal do Senhor

Imagem do Natal do Senhor, o Presépio

Solenidade do Natal

Etimologia do termo Natal

O nome “Natal” está repleto de sugestões reais e fantásticas, de fé e devoção, tanto artísticas quanto filosóficas e teológicas. Nome simples e complexo, comum e erudito, divino e humano ao mesmo tempo. É um nome cheio de mistérios. Sua etimologia remonta ao adjetivo latino natalis, com o significado de natal, no sentido de “algo relativo ao nascimento”, que, por sua vez, deriva do particípio perfeito natus, do verbo nasci “nascer”.

A data do natal

O culto oriental ao Sol foi perpetrado na época romana, desaguando no culto ao deus Mithras. Também é representado como uma criança que mata um touro sagrado, daí o termo tauroctonia, ou seja, o culto reservado a Mithras. A origem histórica do Natal não é totalmente certa e segura. Existem muitas e variadas hipóteses para explicá-lo. Talvez a data de 25 de dezembro, como dia de celebração do nascimento de Cristo, tenha sido fixada para substituir uma festa pagã dedicada ao nascimento do Sol (Mithras). O Dies Natalis Solis Invicti, que o imperador Aureliano havia oficializado em 274, precisamente em 25 de dezembro. 

A antiga festa popular

As comemorações do nascimento do Sol, consistindo no acendimento de grandes fogueiras em sinal de festividade. Em torno das fogueiras o povo se reunia para festejar comendo e bebendo, como em todas as festas populares. Neste período celebravam-se também as Saturnálias, (de 17 a 23 de Dezembro), em honra de Saturno, deus da agricultura, durante as quais ocorriam trocas de presentes e banquetes sumptuosos, em que participavam também os escravos como cidadãos livres, que também receberam presentes de seus mestres. 

Natal: Da festa popular a Solenidade Cristã

A data do Natal Cristão

A instituição do Natal cristão convergia para o culto solsticial. Os dois cultos, o da novidade cristã e o popular e camponês do mundo pagão, se entrelaçaram, as autoridades eclesiásticas, para evitar abusos e mal-entendidos decidiram celebrar e proclamar 25 de dezembro apenas a Natividade de Cristo. Com alguma probabilidade, este é um exemplo bastante significativo de como a política do cristianismo primitivo absorveu e transformou uma tradição pagã com um novo conteúdo. Claro que esta substituição não foi isenta de consequências, pois as tradições custam a morrer. No Natal de 460 o Papa Leão I ainda recorda a presença do culto do Sol na cidade de Roma. 

O Nascimento do Menino Jesus

As primeiras referências, portanto, à festividade do Natal cristão datam da primeira metade do século IV, quando a primeira menção histórica à celebração da Natividade de Cristo se encontra no ano 336, conforme especifica o Chronographes, o mais antigo Calendário cristão que chegou até hoje, escrito em 354 pelo calígrafo do Papa Dâmaso, o estudioso romano Furius Dionysius Philocalus. Certamente algumas referências escriturísticas devem ter influenciado a escolha do dia 25 de dezembro, como, por exemplo, o texto do profeta Malaquias que chama o Cristo, que nasceria daquela que deve dar à luz em Belém, com o nome do “Sol da Justiça” (3, 20). Assim, temos a identificação da data de 25 de dezembro como o dia do nascimento do Menino Jesus.

Os Fundamentos Bíblicos da Celebração

Revelação para São Paulo

O autêntico significado do Natal cristão tem seu fundamento no grande desígnio de Deus, revelado por Paulo em dois importantes textos. 

O Primeiro Texto

A Primeira: “Bendito seja Deus, o Pai do Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos céus em Cristo. Nele [Cristo] nos escolheu antes da criação do mundo, para sermos santos e imaculados diante dele na caridade, predestinando-nos para sermos seus filhos adotivos [do Pai] por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade. E isto para louvor e glória de sua graça, que ele nos deu em seu Filho amado” (Ef 1:3-6). 

O Segundo Texto

E a outra: “Ele [Cristo] é a imagem do Deus invisível, gerado antes de toda criatura; porque por meio dele foram criadas todas as coisas, as que estão no céu e as que estão na terra, as visíveis e as invisíveis: Tronos, Dominações, Principados e Poderes. Todas as coisas foram criadas por meio dele e para ele. Ele é o primeiro de todas as coisas e todas existem nele” (Cl 1, 15-18). 

Uma reflexão

Os dois textos têm algumas características em comum: o desígnio de Deus, riqueza de títulos e universalidade das afirmações. A intenção de Paulo é conhecer o desígnio secreto de Deus ad extra, baseado no “bom prazer da vontade do Pai”. Está tudo centrado na predestinação de Cristo, da qual depende também a predestinação do homem, com a diferença de que a de Cristo é absoluta e a do homem condicionado. 

O Mediador entre Deus e os homens

Sempre atual
O discurso de Paulo está no presente, porque a predestinação de Cristo, da qual provêm todos os benefícios para o homem, é sempre atual. Por isso, celebra-se Cristo como o único Mediador entre Deus e os homens e entre os homens e Deus, ou como diríamos com o latim medieval omnia a Deo per Christum et omnia a Deo in Christum

A História da Solenidade mais esperada pelos Cristãos

História Litúrgica 

Desde o início, os cristãos celebravam o que o Senhor Jesus fez pela salvação da humanidade. Todos os domingos, na “Páscoa semanal” e a festa anual, no domingo após a primeira lua cheia de primavera, a Páscoa.  No início do século IV, o calendário litúrgico começou a mudar, dando mais valor à experiência “histórica”​​ de Jesus. Na Sexta-feira Santa comemorava-se a morte de Jesus e também a Última Ceia. 

O Nascimento de Jesus

Neste prisma, temos o Natal, o nascimento de Jesus, sobre o qual, em 336, temos o primeiro testemunho, depois do qual, veio a festa do Natal oriental da Epifania, em 6 de janeiro. Esta data era associada à festa civil pagã do “Natal do Sol Invencível” (“Natale Solis Invicti”), que o imperador Aureliano havia introduzido, em 274, em homenagem à divindade siríaca do Sol de Emesa, celebrada, precisamente, no dia 25 de dezembro. 

A Solenidade

A Solenidade do Natal é a única festa, que podia ser celebrada com quatro Missas próprias: véspera, noite, amanhecer e dia. Os textos desta solenidade são os mesmos para os três Anos Litúrgicos. Trata-se de uma escolha que visa aprofundar e valorizar, quase em câmara lenta, o Acontecimento que mudou o curso da história: Deus se fez homem!

Como pensar o Natal hoje? 

O sentido do Natal

O Natal de nosso Senhor Jesus recorda-nos que Deus está presente em todas as situações. Pensamos que Ele está ausente ou nas quais achamos que Ele não pode estar. A nossa fé estimula-nos a viver o tempo natalino com maior serenidade e esperança! Deus está aqui, tão presente que, talvez ou com certeza, nos convida a rever nossos costumes; convida-nos a lembrar que, assim como Ele veio para nos salvar, também nós, através d’Ele, só podemos nos salvar se caminharmos juntos, se aprendermos a cuidar uns dos outros. Somos convidados a ser uma “manjedoura”, onde os outros possam se alimentar do pão da amizade, do amor, da misericórdia, da esperança. 

Um convite

O Senhor oferece-se a nós para que possamos dar seu testemunho com a nossa vida. Como cristãos, somos convidados a assumir a esperança desta humanidade desnorteada e solitária, a sermos sentinelas da nova manhã, para que as trevas deste tempo sejam rompidas pela Luz, que vem do Senhor Jesus.

Minha oração

“ Ó Senhor que vos revelastes tão pequenino e frágil, um Deus escondido na humanidade, porém não menos poderoso. Concedei a nós a sabedoria para te encontrar nesses mistérios e a certeza da tua presença no meio de nós, todos os dias. Salvai-nos de nossas mazelas e durezas tornando-nos mais humildes e humanos assim como tu o fizeste. Amém”

Um Santo Natal para você e para a sua família!



segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Dom Raymundo Damasceno Assis: 'não se pode equiparar a união do mesmo sexo ao matrimônio'



Um dos presidentes-delegados do Sínodo, Arcebispo de Aparecida diz que gays têm que mudar comportamento para comungar
Apesar de o Vaticano ter publicado, nesta segunda-feira, um documento dizendo que gays têm "dons e tributos" a oferecer à Igreja, Dom Raymundo Damasceno Assis, um dos três presidentes-delegados do Sínodo sobre a Família, alerta que "não quer dizer que essa publicação foi aprovada pelos padres sinodais, mas apresentada". Em entrevista ao GLOBO pelo telefone, o Arcebispo de Aparecida disse que "não se pode equiparar a união do mesmo sexo ao matrimônio" e que os homossexuais têm que mudar seu comportamento para receber sacramentos como a Eucaristia.

Dom Damasceno ressalta que muitas observações foram feitas ao documento, e nenhuma decisão foi tomada. Segundo o cardeal, as temáticas serão aprofundadas nas dioceses depois o que encontro de 200 bispos terminar neste domingo. Apenas após a segunda etapa do Sínodo, no ano que vem, serão votadas proposições elaboradas pelos padres sinodais, que serão entregues ao Papa Francisco para decidir o que fazer em relação às orientações pastorais. Confira, abaixo, a entrevista.

O GLOBO - Reconhecer a união homoafetiva como matrimônio está fora de cogitação?
Dom Raymundo Damasceno Assis - Claro, evidentemente. Acolher essas pessoas é um dever nosso enquanto seres humanos, criaturas feitas à imagem e semelhança de Deus. Temos que acolher toda pessoa, sempre, em qualquer condição em que ela se encontre. Ao acolher não significa aprovar o que muitas pessoas fazem. É claro que essas uniões para a Igreja não podem ser equiparadas ao matrimônio que, para nós, é sempre a união fundada no amor, indissolúvel, entre um homem e uma mulher em vista de uma comunhão total de vida e da formação de uma família. No Novo Testamento, Cristo elevou essa união à condição de um sacramento, sinal do amor de Deus pela humanidade. Portanto, não se pode equiparar a união do mesmo sexo ao matrimônio e não significa aprovar essa união nem reconhecer os mesmos direitos que se dão a uma família.

Os homossexuais teriam direito a receber sacramentos como a Eucaristia e a Reconciliação?
Estamos falando de pessoas cristãs, que pertencem à Igreja pelo batismo. Elas têm que ser orientadas de como proceder no sentido de crescer humana e espiritualmente. A Igreja não aprova essas uniões. Respeita. É diferente.

Mas o que seria orientar a crescer humana e espiritualmente? Eles têm direito a receber a comunhão?
Na medida em que vivem de acordo com a doutrina da Igreja. Não está mudando sua doutrina moral, seus ensinamentos sobre a família e sobre o matrimônio. Isso permanece. Uma pessoa num estado como esse (homossexual), terá que buscar orientação da Igreja para ver se está em condição de receber os demais sacramentos se o desejar.http://ads.globo.com/RealMedia/ads/adstream_lx.ads/ogcoglobo8/sociedade/religiao/materia/L37/1478434715/x21/ocg/adnetwork_globo_rein/teste_x21.html/735573426f6c5137374767414467307a?_RM_EMPTY_&idArtigo=14232069

A Igreja fala em acolher, mas o ato homossexual em si é considerado um pecado?
Não se aprova. Acolher as pessoas não significa aprovar o que elas fazem. Não discriminamos as pessoas seja em que situação se encontrarem. Mas a Igreja quer ajudá-las a crescer, a progredir em todas as dimensões da vida, inclusive espiritualmente. Muitas vezes uma pessoa que vive essa situação procura uma orientação na Igreja. Como disse o Papa, se a pessoa acredita em Deus e quer progredir na vivência cristã, é um processo que se dá nessa conversa da confissão com o padre no seu foro íntimo.

Mas essa orientação e esse crescimento espiritual seriam uma "conversão", a pessoa se tornar heterossexual?
Os sacramentos alimentam, fortificam e ao mesmo tempo celebram a nossa fé. Portanto, quem vai se aproximar de um sacramento supõe-se que sua vida seja coerente com a sua fé. Isso é fundamental para a participação nos sacramentos.

Como a homossexualidade é contrária à doutrina da Igreja, o homossexual não estaria apto a receber os sacramentos?
Claro, a não ser que ele começasse um caminho diferente de crescimento.

E esse caminho pressupõe abrir mão dessas relações homossexuais?
Certamente, é claro... assim como você exige para o casal uma vivência no matrimônio segundo os mandamentos, as leis de Deus, a moral cristã para ele poder se aproximar dos sacramentos. Não basta ser casado para comungar. É preciso que ele também procure levar sua cristã para poder se aproximar da Eucaristia.

No caso dos homossexuais mudar de vida seria mudar a orientação sexual?
É, seria. Teria que caminhar na vida segundo os ensinamentos da Igreja. Isso se dá numa orientação pessoal caso ele procure um padre numa direção espiritual.

Incluindo a mudança da orientação sexual...
É, pelo menos a forma de vida teria que mudar. Uma pessoa pode ter tendências, e outra coisa é viver de maneira correta sua vida cristã.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

IDEOLOGIA DE GÊNERO. META: DESTRUIÇÃO DAS FAMÍLIAS

Diga não à Ideologia de Gênero em nosso sistema educacional! 
A ideologia do gênero acaba com o principio de que familia é resultado da união estável entre homem e mulher e tem como objetivo maior ACABAR com a instituição FAMÍLIA
 
Esse projeto, caso seja aprovado, introduzirá a igualdade de gênero e a orientação sexual como diretrizes da educação nacional para os próximos 10 anos.

Qual é o problema em relação à ideologia de gênero? A palavra “gênero”, segundo os ideólogos da ideologia de gênero, deve aos poucos substituir o uso corrente de palavra “sexo” e referir-se a um papel socialmente construído, não a uma realidade que tenha seu fundamento na biologia. Desta maneira, por serem papéis socialmente construídos, poderão ser criados gêneros em número ilimitado, e poderá haver inclusive gêneros associados à pedofilia ou ao incesto. É o que diz, por exemplo, a feminista radical Shulamith Firestone: O tabu do incesto hoje é necessário somente para preservar a família; então, se nós nos desfizermos da família, iremos de fato desfazer-nos das repressões que moldam a sexualidade em formas específicas (trecho retirado do livro A Dialética do Sexo). 

Ora, uma vez que a sexualidade seja determinada pelo "gênero" e não pela biologia, não haverá mais sentido em sustentar que a família é resultado da união estável entre homem e mulher.

Se estes novos conceitos forem introduzidos na legislação, estará comprometido todo o edifício social e legal que tinha seu sustento sobre a instituição da família. Os princípios legais para a construção de uma nova nova sociedade, baseada na total permissividade sexual, terão sido lançados. A instituição familiar passará a ser vista como uma categoria “opressora” diante dos gêneros novos e inventados, como a homossexualidade, bissexualidade, transexualidade e outros. 

Para que estes novos gêneros sejam protegidos contra a discriminação da instituição familiar, kits gays, bissexuais, transexuais e outros poderão tornar-se obrigatórios nas escolas. Já existe inclusive um projeto de lei que pretende inserir nas metas da Lei de Diretrizes e Bases da Educação nacional a expressão “igualdade de gênero”. [projeto que será submetido à votação na próxima semana.]

Portanto, trata-se da mesma ameaça contida no PLC 122 em sua versão atual. 

O que é a ideologia de gênero?

O que faz a ideologia de gênero é tirar o caráter de moralidade – por assim dizer – do que é correto em nosso corpo. 
Trata portanto de eliminar o conceito de dizer: esta é uma pessoa do sexo masculino ou do sexo feminino’ diminuindo então a importância do feito biológico, de ser homem ou mulher. 
 
A ideologia de gênero quer é diminuir o significado dos aspectos da sexualidade de modo que não haja um alcance da identidade que tenha relação com o que você é na essência, daquilo que Deus colocou em ti, ou seja, o ser homem e o ser mulher.
 
 

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Nove das oito, amor à vida, faz campanha pró-aborto

Merchandising pró-aborto na novela “Amor à Vida”, da Globo, mente, mistifica, doutrina e demoniza a religião. 

É um atentado ao bom senso, aos fatos e à educação dos telespectadores. Em uma palavra: vergonhoso!

Estava programada para esta quinta uma manifestação de militantes de esquerda no Congresso Nacional em defesa do controle da mídia. Nem sei se aconteceu. Acompanhei depois o julgamento do mensalão, fiquei estudando o caso da saúde, li sobre as barbaridades na Síria e deixei de lado os pterodáctilos. Escrevi no começo da tarde um post a respeito. Perguntei, então, por que as esquerdas querem tanto controlar essa tal mídia se controlada ela já está. E citei o caso da Globo. Indaguei se havia como a emissora ser mais de esquerda em qualquer área que se escolha, incluindo as novelas.

Vi há pouco uma cena chocante de “Amor à Vida”. Está inaugurado o merchandising militante pró-aborto. Nunca houve antes nada parecido. Como há no enredo um hospital, lugar preferencial paras as maldades de Félix, o vilão que caiu no gosto popular, eis que, do nada, chega uma paciente com hemorragia. Mobiliza-se o socorro de emergência. Um médico então diz: “Eu não posso atender!”.

A equipe tenta salvar a moça, mas em vão. Ela morre. E começa a discurseira. O médico mais velho diz que ela fez um aborto ilegal, que o procedimento foi malfeito e que a mulher morreu por isso. Vai mais longe: “Infelizmente, essa é uma das principais causas da morte de mulheres no Brasil”. É mentira! É mentira escandalosa! Já chego lá. A enfermeira, com o cadáver ainda à sua frente, quentinho, dispara: “Morte de mulheres pobres, né? Porque as ricas fazem aborto em segurança” (se a fala não é exata, tratou-se de algo ainda mais primitivo). Foi mais longe, dizendo que essas mulheres também são vítimas da miséria e da ignorância. Ainda era pouco. O médico mais velho vai, então, procurar o outro, que havia dito que não poderia fazer o atendimento.
— Por que você não quis atender a paciente?
— Porque ela fez aborto. Isso é contra as leis divinas.

O chefe lhe dá uma carraspana. O rapaz, então, reproduzindo uma caricatura do discurso religioso, emenda:
— Me recuso a atender uma pecadora!
— Você está fora do corpo de residentes deste hospital!

Vergonha
Fiquei com vergonha de assistir à cena.  As peças didáticas de Padre Anchieta para convencer os índios de que sua cultura original estava cheia de demônios eram mais complexas, mais sofisticadas, com  mais nuances. Estou lendo “Sussurros”, de Orlando Figes, sobre a vida cotidiana na URSS de Stálin. O didatismo brucutu dos comunas, nas escolas, contra os reacionários, era mais sutil e nuançado. Prometi a mim mesmo que não vejo a novela nunca mais, nem excepcionalmente, como hoje. Como vocês sabem, de hábito, estou trabalhando a essa hora. E nunca mais verei não porque ofenda as minhas convicções, mas porque ofende a minha inteligência. O merchandising social — a morte de fetos se insere nessa categoria? — tem um compromisso com a verdade.

Principal causa de mortes?
Eu não sei, ou sei, por que os abortistas precisam mentir tanto. Qual é o problema dessa gente com os fatos e os fetos? Até outro dia, os mentirosos contumazes diziam que 200 mil mulheres morriam, por ano, vítimas de aborto. Eleonora Menicucci, a abortista e ex-aborteira que é ministra das Mulheres, chegou a levar esses números a uma reunião da ONU. Em fevereiro de 2012, fiz uma conta com os dados disponíveis, todos oficiais.

Acompanhem.
Em 2010, o Censo do IBGE passou a investigar a ocorrência de óbitos de pessoas que haviam residido como moradoras no domicílio pesquisado. ATENÇÃO! Entre agosto de 2009 e julho de 2010, foram contabilizadas 1.034.418 mortes, sendo 591.252 homens (57,2%) e 443.166 mulheres (42,8%). Houve, pois, 133,4 mortes de homens para cada grupo de 100 óbitos de mulheres.

Vocês começam a se dar conta da estupidez fantasiosa daquele número? Segundo o Mapa da Violência, dos 49.932 homicídios havidos no país em 2010, 4.273 eram mulheres. Muito bem: dados oficiais demonstram que as doenças circulatórias respondem por 27,9% das mortes no Brasil — 123.643 mulheres. Em seguida, vem o câncer, com 13,7% (no caso das mulheres, 60.713). Adiante. Em 2009, morreram no trânsito 37.594 brasileiros — 6.496 eram mulheres. As doenças do aparelho respiratório matam 9,3% dos brasileiros — 41.214 mulheres. As infecciosas e parasitárias levam outros 4,7% (20.828). A lista seria extensa.

Agora eu os convido a um exercício aritmético elementar. Peguemos aquele grupo de 443.166 óbitos de mulheres e subtraiamos as que morreram assassinadas, de doenças circulatórias, câncer, acidentes de trânsito, doenças do aparelho respiratório, infecções (e olhem que não esgotei as causas). Chegamos a este número: 185.999!!!

Já começou a faltar mulher. Ora, para que pudessem morrer 200 mil mulheres vítimas de abortos de risco, é forçoso reconhecer, então, que essas mortes teriam se dado na chamada idade reprodutiva entre 15 e 49 anos. É mesmo? Ocorre que, segundo o IBGE, 43,9% dos óbitos são de idosos, e 3,4% de crianças com menos de um ano. Então vejam que fabuloso:
Total de mortes de mulheres – 443.166
Idosas mortas – 194.549
Meninas mortas com menos de um ano – 15.067
Sobra – 233.550
Dessas, segundo os delirantes de então, 200 mil teriam morrido em decorrência do aborto — e necessariamente na faixa dos 15 aos 49 anos!!!

Cessou a mentira
Quando desmoralizei, COM NÚMEROS OFICIAIS, a mentira das 200 mil mortes, essa bobagem parou de ser veiculada no país. O doutor que disse aquela besteira na novela, fosse de verdade, seria um mentiroso, um mistificador, um vigarista. Vejam acima as principais causas da morte de mulheres no Brasil, ricas ou pobres. Se a enfermeira histérica faz seu trabalho tão bem quanto pensa, coitados dos pacientes!

Os números reais
O número de mortes maternas, no Brasil, está abaixo de 2.000 por ano! Atenção! Estou me referindo à morte de mulheres em decorrência da gravidez. O aborto, segundo dados do DataSUS, corresponde a 5% dessas mortes, entenderam? Ocorre que esse número inclui tanto o aborto espontâneo como o provocado. Assim:
a: o aborto não é a principal causa da morte de mulheres;
b: o aborto não é nem mesmo a principal causa de morte materna.

Não gosto de merchandising, de nenhuma natureza, comercial, social ou, como é o caso, ideológico. Repugna-me a ideia de que se deve pegar o telespectador distraído para, então, “pimba!”. Sabem por que jamais defenderia a sua proibição? Porque a engenharia legal para isso resultaria, com certeza, em algo ainda pior. Então que permaneça o mal menor — mas que chamo de “mal” ainda assim.

Demonização da religião
Aquele médico que se negou a atender a paciente que chegou morrendo, exibido na novela, não existe. Criou-se uma caricatura para, no fundo, demonizar o discurso religioso. Os índios caracterizados como diabos nas peças de Anchieta, no século XVI, eram personagens mais complexas e verossímeis. Imaginem se alguém formado em medicina se referiria a uma paciente terminal como “pecadora”; se diria a seu chefe que o aborto atenta “contra as leis divinas”. Usa-se, então, o discurso ridículo de um médico para ridicularizar os que se opõem ao aborto por motivos religiosos, o que é um direito num país em que há liberdade de crença.

Há um outro nível de falsificação nessa história. Existem médicos às pencas que são agnósticos, mas que se recusam a praticar o aborto mesmo nos casos em que ele é legalmente permitido. O Código de Ética Médica lhes assegura o direito de alegar objeção de consciência. Nesse caso, sua obrigação é informar a paciente dos seus direitos e encaminhá-la para um colega. “E no caso de não haver quem faça, num rincão do Brasil qualquer?” Assegurado um direito a ser conferido pelo poder público, o estado tem a obrigação de prover os meios. Que se crie, sei lá, uma central nacional, com um número de telefone, para ocorrências dessa natureza e garantia de atendimento.

Uma coisa é certa: obrigar um médico a fazer um procedimento que viola a sua consciência seria um absurdo. Mas há uma pressão nesse sentido. Que eu saiba, nem os cubanos poderão se encarregar da tarefa…  A novela entrou de forma grosseira nessa questão. “Amor à Vida” faz proselitismo em favor da adoção de crianças por gays e levou ao ar, nesta quinta, essa cena patética, mentirosa e patrulheira, sobre aborto. No Globo Repórter, a gente aprendeu que só uma família deve ser chata: a que tem papai e mamãe. Dia desses, um programa discutia a descriminação das drogas na base de quatro (a favor) a um (contra). Certamente não reproduz os percentuais que estão na sociedade.

E os pterodáctilos ainda querem fazer o controle social da mídia, muito especialmente da Globo, acusando-a, imaginem só!, de ser conservadora, reacionária. Pois é! Com todo o suposto conservadorismo e reacionarismo, um “médico” foi demitido. Deus nos livre da versão progressista. O coitado teria sido fuzilado em nome do povo e da vida.

Pode não parecer, eu sei, mas o que se viu em “Amor à Vida” foi uma manifestação absurda de intolerância. Intolerância com a divergência (os que se opõem ao aborto — e que, curiosamente, são maioria absoluta no Brasil) e intolerância com a religião, reduzida a uma patética caricatura. Deus nos livre da intolerância dos tolerantes! Sabem ser obscurantistas em nome das luzes.

Finalmente
A militância pró-aborto não tente tomar de assalto a área de comentários. Será inútil. E não porque eu me oponha à descriminação, mas porque este texto não propõe um debate de mérito. Admito, sim, uma contestação: quero que provem que os dados com os quais trabalho são falsos. Mas têm de provar. Não basta apenas repudiá-los porque eles desmontam as teses pró-aborto. Eu estou é contestando uma mentira transmitida a milhões de brasileiros.

CORREÇÃO
Um colega da VEJA.com me alertou — e, depois, constatei que leitores já haviam me advertido nos comentários — que, em vez de “Amor à Vida”, chamei a novela das 21h de “Páginas da Vida”. Já fiz a correção. Não era telespectador habitual do que nunca mais verei nem ocasionalmente. E, fico sabendo, já houve uma com aquele nome, o que pode explicar a confusão. Mas também pode ser algum mecanismo de resistência que disparei sem querer. Talvez tenha me negado a aceitar que uma novela chamada “Amor à Vida” faça um proselitismo tão furioso e desinformado em favor do aborto…

Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo