A história curta é que a presidente da República sancionou o projeto e agora entramos para a lista de países que legalizaram a mais abjeta das práticas humanas.
Todos nós sabemos – ou pelo menos temos
alguma noção de – que no mundo real
opera a lei da ação e da reação. Claro que existe um incontável número de
variáveis operando nas relações pessoais – e cósmicas, por assim dizer –,
entretanto, uma das mais visíveis é o
princípio da ação e reação.
Por exemplo, quando se
colocam crianças para aprender com maus professores, depositando toda a
confiança neles e não buscando uma fonte alternativa de conhecimento (ação), daí surgirão, com
certeza quase absoluta, maus alunos (reação).
Aí entram as variáveis que impedem que as relações sejam transformadas em
tratados de lógica, mas mesmo assim elas não chegam a anular o quadro da realidade ‘cósmica’: “uma árvore má não dá bom
fruto” é infalível, pois a árvore má é a “causa
formal”.
Falando concretamente: a “educação para todos” do nosso país foi
um notável desastre. Sob o pretexto de erradicar o analfabetismo, a única coisa
que se conseguiu erradicar quase que totalmente foi o senso comum. A cada nova geração, mais esperanças são
depositadas no Estado e mais se deixa de
depositar a confiança em si mesmo, na família e em Deus – os pilares por
excelência de um povo são. A educação como fim e não como meio – sim, o mesmo
problema que abordei no artigo anterior sobre confundir meios e fins – trouxe
um notável resultado: o óbvio virou esotérico.
O reflexo da transformação
da obviedade em esoterismo é que não mais se percebe que, ao colocar o intelecto dos brasileiros nas mãos de desqualificados,
só poderia se
gerar pessoas desqualificadas, pois “o discípulo não é
superior ao mestre; mas todo discípulo perfeito será como o seu mestre”. Em
outras palavras – ou em termos educacionais -, mesmo que houvessem apenas
alunos plenamente dedicados ao que lhes é ensinado de agora em diante – obviamente
não é, nem nunca será o caso – ainda assim se teria uma maioria esmagadora de
desqualificados, pois seus mestres vieram de uma longa linha de pessoas que vêm
se desqualificando e fazendo questão de anular os grandes cérebros a fim de que
a tal cadeia de emburrecimento não seja perturbada.
No Brasil a burrice começa a ser inculcada nos cérebros a partir
dos quatro anos; assim, quando se chega à idade adulta, tudo passa a ser
permitido, já que há apenas resquícios de senso comum – o que praticamente impossibilita
a pessoa de perceber qualquer perigo iminente. Esse pequeno comentário anterior
foi para falar da sanção presidencial da
PLC 03/2013 assinada no último dia 01 de agosto, que, dentre outras coisas, legaliza o aborto no Brasil. Se você ainda não sabe o
que está acontecendo, veja este vídeo e compreenda o que se passa:
Os
perigos do veto parcial do PLC 03/2013
Pe. Paulo Ricardo
À época que foi gravado o
referido vídeo, o Padre Paulo Ricardo e
mais alguns poucos bispos lutavam pelo veto total ao projeto, enquanto a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil lutava apenas
pelo veto parcial da lei.
Para ver o que significa o
veto parcial e o veto total, veja:
Esclarecimento
sobre a PLC 03-2013
Pe. Paulo Ricardo
Enfim, a história curta é que a presidente da
República sancionou o projeto e agora entramos para a lista
de países que legalizaram a mais abjeta das práticas humanas (e olha que há uma longa lista no catálogo, uma pior que a outra). Houve até uma discreta comemoração no twitter oficial do Foro de São Paulo.
Agora as mulheres têm o poder de optar por assassinar seus próprios
filhos com a ajuda estatal.
O que virá após tão abjeta legislação ser aprovada? Não podemos esperar que de
algo ruim saia algo bom, pois “acreditar em
mentiras de modo a satisfazer um desejo constitui uma inferioridade pronunciada
e um sintoma histérico bem conhecido”, disse o psiquiatra Carl Gustav Jung
no ensaio “Depois da catástrofe”, que
se encontra na obra Aspectos do drama contemporâneo.
A essência da histeria,
segundo Jung, é uma cisão da personalidade em que o indivíduo chega ao estado
de contradição existencial, ou seja, o sujeito pensa a e
faz z. “Em geral, ocorre um
espantoso desconhecimento acerca das próprias sombras, conhecendo-se apenas as
boas intenções. E quando não é mais possível negar o mal, surge o “super-homem
e o herói” que se enobrece pela envergadura de suas metas” disse Jung.
O povo brasileiro abraçou de
vez esse estado de contradição existencial e ainda reelegeu mais duas vezes esse partido – e nada indica que haverá alguma oposição a um quarto mandato. É visível aí imagem do
sujeito histérico que não admite estar
errado e então redobra a aposta em seu erro. Esta
crítica serve também para os cristãos que votaram no PT. O próprio ex-presidente Lula
sempre faz questão de lembrar que sem o apoio do eleitorado cristão – sobretudo o católico – seria impossível a ascensão
do PT ao poder. Eis aí uma situação que o
Brasil compartilha com a Alemanha nazista a qual Jung fazia referência nesse ensaio:
com a ajuda do eleitorado religioso, ambos os povos permitiram ser guiados pela
pior estirpe possível de sujeitos. Admitir-se errado em tempos de exacerbado
relativismo é uma tarefa hercúlea. A
contradição virou a regra. A histeria quase obrigatória. Para falar da
Alemanha da década de 1930, que encontrou em Hitler o personagem perfeito para
representar suas neuroses [1], Jung disse no mesmo ensaio:
“Todos se apoiam uns nos outros, num falso sentimento de segurança,
pois o apoio de 10.000 é um apoio no ar. A diferença é que não mais se percebe
a insegurança. A esperança crescente no Estado não é um bom sintoma e
significa, na verdade, que o povo está a caminho de se transformar num rebanho
o qual sempre espera de seus pastores bons pastos. Logo o cajado do pastor se
converterá em vara de ferro e os pastores em lobos” [§413].
Eis outra situação que o povo brasileiro compartilha com os
alemães daquela época: a crença no Estado como o único pai e feitor de tudo. E não estou
falando apenas do sujeito que se beneficia com medidas assistencialistas; estou
falando de todos nós, em melhores condições, que somos
incapazes sequer de mobilizar os próprios vizinhos de bairro para podar o
jardim da praça, deixando para o poder público uma tarefa das mais elementares.
Enfim, eis o que foi feito no Brasil: O nosso
cajado foi dado ao Estado – esse ‘pastor lupino’ que tem se mostrado o mais cruel e sanguinário
de toda a história da humanidade. Agora, como reação, o cajado estatal virou a vara de ferro
que fará as curetagens uterinas Brasil afora. Se existe uma coisa a
qual sempre poderemos confiar nos lobos é que eles jamais abandonarão sua
natureza lupina. Só algum distúrbio psicológico semelhante ao que afeta o
eleitorado brasileiro (com a não
desprezível ‘ajuda’ do sistema educacional) permite pensar que um dia eles
se transmutarão em ovelhas.
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[1] Olavo de Carvalho, citando o psicólogo Juan A. C. Müller, diz que a “neurose é uma mentira esquecida na qual você ainda acredita”.
Publicado no site da revista Vila Nova - Leonildo Trombela Júnior é jornalista e tradutor.
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