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quarta-feira, 3 de outubro de 2018
Estes seis pecados ficaram “fora de moda”...
…mas
nem por isso deixaram de ser pecado. Pior: justamente por ninguém mais
colocar o dedo nessas feridas, estes males “não são combatidos e
persistem tranquilamente impunes em nossa época”.
“Um catálogo de pecados descatalogados”. Parece até um trava-língua; mas, lendo o que vem a seguir, você entenderá a expressão.
Declaratio terminorum, “esclarecimento dos termos”. Catálogo (do latim catalogus, e do grego katálogos):
é uma relação ordenada de objetos (livros, documentos etc.) que estão
relacionados entre si. Descatalogar: tirar objetos que faziam parte de
um catálogo. Neste sentido, é possível falar, por exemplo, de um catálogo de pecados.
Já na doutrina de Cristo nós encontramos catálogos de pecados, e desses alguns podem ser leves e outros, mortais, ou seja, que separam o homem da união com Deus, fonte da vida,
e que podem conduzir à condenação eterna. No Novo Testamento
encontramos mais de vinte listas de pecados, algumas nos evangelhos
sinóticos, ou seja, no próprio ensinamento de Cristo: “É do interior do
coração dos homens que procedem os maus pensamentos: devassidões,
roubos, assassinatos, adultérios, cobiças, perversidades, fraudes,
desonestidade, inveja, difamação, orgulho e insensatez” (Mc 17, 21-22; em Mt 15, 19-20 mencionam-se sete). Na parábola do publicano citam-se três: “ladrões, injustos, adúlteros” (Lc
18, 11). E de outros pecados concretos falam as parábolas da cizânia,
do rico epulão, do homem avaro, do servo infiel, do juízo final, do
escândalo etc.
Também nos escritos dos Apóstolos se formulam catálogos de pecados,
sobretudo em São Paulo. A lista mais completa e impressionante
encontra-se na Carta aos Romanos (cf. 1, 24-32), onde achamos
denunciado, de maneira muito especial, o nefando pecado da união
homossexual entre homens ou entre mulheres (cf. 1, 26-28). Outra lista
enumera: “Nem os impuros, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os
efeminados, nem os devassos, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os
bêbados, nem os difamadores, nem os assaltantes hão de possuir o Reino
de Deus” (1Cor 6, 9-10). “Com tais indivíduos nem sequer deveis comer… Tirai o perverso de vosso meio” (1Cor 5, 11.13).
Deve haver, portanto, na consciência dos discípulos de Jesus um sentido bem vivo do pecado, que nunca considere o mal como bem; que descubra inclusive os pecados internos, e não somente os que se manifestam em obras externas (“Todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher, já adulterou com ela em seu coração”, Mt 5, 28); e que leve em conta não somente os pecados de comissão, mas também os de omissão (as virgens néscias, cf. Mt
25, 11-13; o servo que não faz render os seus talentos, 25, 27-29; o
juízo final, que indica as obras de caridade necessárias e não
realizadas, 25, 41-46) etc.
Três observações prévias. Primeiro, um pecado torna-se descatalogado, mais ou menos, quando se dão estes sinais:
Quando a pregação deixa de falar de uma certa virtude e de assinalar os pecados que lhe são contrários.
Quando o pecado se tornou de tal modo generalizado que chega a ser visto como algo “normal”, que não mais pesa na consciência.
Quando
já é um pecado que não costuma ser acusado no sacramento da Confissão,
nem mesmo pelos poucos cristãos praticantes que continuam se
confessando, ou porque não o consideram relevante ou porque ignoram na
prática sua pecaminosidade, ainda que às vezes tenham dele algum
conhecimento doutrinal.
A simonia pode ser um exemplo de pecado descatalogado em
grande medida naquelas regiões e épocas em que se tornou quase que o
modo normal através do qual os filhos dos nobres, mais instruídos e de
presença mais forte no mundo, ascendiam aos altos cargos da Igreja. No
século IX muitos senhores consideravam (erro crasso) que bispados,
monastérios e paróquias faziam parte de seus domínios. Por isso,
pensavam que cabia a eles dar a investidura de autoridade nessas entidades eclesiais. O tráfico dos postos eclesiásticos mais importantes era considerado geralmente como algo lícito e normal. Era um pecado descatalogado.
No entanto, no século XI e na primeira metade do XII, celebraram-se
oito concílios regionais na Inglaterra, na França e na Itália para
erradicar o erro e o pecado da simonia. A ação de papas como Nicolau II
(1058-1061) e Gregório VII (1072-1085), a obra e pregação de grandes
santos, como São Bruno (1030-1101) e São Bernardo (1090-1153), foram
vencendo essa praga. Note-se, porém, que enquanto a epidemia espiritual
da simonia estava com toda a sua força, podia haver bispos — como de
fato houve —, abades e párocos bons, ortodoxos e pastoralmente zelosos,
os quais, no entanto, de boa consciência, haviam ascendido a suas
posições por meios simoníacos.
Segundo, não tratarei aqui da culpabilidade subjetiva dos
que incorrem em pecados descatalogados. É possível que haja uma
culpabilidade atenuada ou quase nula nas pessoas que incorrem em pecados
descatalogados objetivamente graves. Esta é a doutrina moral — a ignorância invencível, por exemplo, e outras considerações — sempre comum na Igreja.
Terceiro, o catálogo que forneço aqui de pecados
descatalogados é muito incompleto. Justamente por isso, prefiro
apresentá-lo de modo desordenado. Exponho alguns somente a título de
exemplo. Seria possível mencionar muitos outros, pois são muitos os que
se dão sobretudo nas igrejas locais que estão em boa parte arruinadas e à
beira da extinção.
— O afastamento crônico da Missa dominical tornou-se
um pecado descatalogado. O terceiro mandamento da lei de Deus ordena
que seja dado, em privado e em público, um culto de louvor, adoração e
ação de graças a Deus. Esta obrigação é muito grave, porque a Igreja
existe para a glória de Deus. Por isso, os cristãos não praticantes são pecadores públicos.
Não há vida cristã se não há vida eucarística, já que, como em vários
textos afirma o Concílio Vaticano II, a Eucaristia é a fonte e o ápice
da vida cristã.
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