Flagelação de Jesus
Como em Jesus, Pilatos não encontrava
crime algum, mandou-O flagelar. Esta é a atitude frequente de todos os que
buscam uma posição neutra entre o Bem e o mal: em situação crítica, preferem de
certa maneira, sacrificar algo do Bem, em busca de um abrandamento do mal.
Pilatos entrou
no pretório, chamou Jesus e perguntou-lhe: És tu o rei dos judeus?
Jesus respondeu: Dizes isso por ti mesmo, ou foram outros que to
disseram de mim?
Disse Pilatos: Acaso sou eu judeu? A tua nação e os
sumos sacerdotes entregaram-te a mim. Que fizeste? Respondeu Jesus: O
meu Reino não é deste mundo. Se o meu Reino fosse deste mundo, os meus
súditos certamente teriam pelejado para que eu não fosse entregue aos
judeus. Mas o meu Reino não é deste mundo.
Perguntou-lhe então Pilatos:
És, portanto, rei? Respondeu Jesus: Sim, eu sou rei. É para dar
testemunho da verdade que nasci e vim ao mundo. Todo o que é da verdade
ouve a minha voz.
Disse-lhe Pilatos: Que é a verdade?… Falando isso,
saiu de novo, foi ter com os judeus e disse-lhes: Não acho nele crime
algum. Pilatos mandou então flagelar Jesus (Jo 18, 33-40; 19, 1).
Esta é a
atitude frequente de todos os que buscam uma posição neutra entre o Bem e
o mal: em situação crítica, preferem de certa maneira, sacrificar algo
do Bem, em busca de um abrandamento do mal. Como em Jesus, Pilatos não
encontrava crime algum, mandou-O flagelar.
Por este
Mistério, peçamos por intercessão da Santíssima Virgem a graça de sempre
atender com entusiasmo e perfeição aos chamados de Deus, a fim de que
não sigamos jamais o exemplo de Pilatos, mandando flagelar Jesus.
(Pausa para meditação)
Pai-Nosso, 10 Ave-Marias, Glória, Ó meu Jesus…
Graças do Mistério da Flagelação, descei em nossas almas. Amém.
As Cinco Chagas do Senhor
O
primeiro ato de adoração às Santas Chagas foi realizado por Maria
Santíssima, quando desceram Jesus da Cruz. De São Tomé até nossos dias,
muitos foram os devotos e propagadores desta belíssima devoção.
Jesus é
descido da Cruz. Cuidadosamente, Nicodemos, José de Arimatéia e São João
O conduzem até Maria Santíssima e O depositam em seu virginalíssimo
regaço. Sentada, Ela O acolhe transida de dor e O adora. Enquanto as
Santas Mulheres

preparam
os bálsamos com que em breve irão ungi-Lo, para ser depositado no
sepulcro, Ela oscula, uma a uma, suas Chagas: a do peito rasgado, as dos
divinos pés e mãos. Realiza- se ali o primeiro ato de devoção e
adoração às Chagas do Redentor, que iria perpetuar-se por todas as
gerações. A Bem-Aventurada por excelência rende o mais perfeito culto de
latria às fontes sagradas de onde jorrou o Sangue que redimiu total e
superabundantemente todo o gênero humano.
Por causa daquelas Santíssimas Chagas, Ela
fora preservada do pecado original e aos homens de boa vontade
abriram-se as portas do Céu. Cinco fontes de graças infinitas, plenas de
formosura, saciando a santidade das almas contemplativas, missionárias e
apostólicas, selando a coroa de glória dos mártires e as vitórias de
todos os tempos. Eis o manancial que nos purifica no Batismo, nos
revivifica na Eucaristia e dá fecundidade a toda a Santa Igreja, nos
seus sacramentos. Eis a santa argamassa que, ligada aos sacrifícios dos
homens, erguerá os mais belos monumentos e poemas da Civilização Cristã.
“Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos.
Aproxima a tua mão e mete-a no meu lado”. Poucos dias após a
ressurreição, é o próprio Redentor que convida o incrédulo Tomé a ter
devoção às suas Santas Chagas. Já deslumbrado, ele respondeu-Lhe: “Meu
Senhor e meu Deus!” As tíbias almas que dificilmente se deixam
convencer, a progênie dos cépticos, a própria incredulidade, quase se
diria, sucumbiram no instante mesmo em que aquele feliz e invejado
Apóstolo introduziu seu dedo no lado de Jesus.
São Francisco de Assis, Santa Gemma
Galgani, São Pio de Pietrelcina – enfim, uma legião de santos e almas
virtuosas – foram galardoados com os estigmas da Paixão de Cristo. É um
modo maravilhoso de Ele condecorar alguns daqueles a quem mais ama, na
face da terra. É seu invisível e puro amor tornado visível em seus
prediletos, para perpetuar na memória dos homens a bem-aventurança
daqueles que acreditam sem terem visto e tocado as Chagas do Senhor,
como Tomé.
A devoção às Santas Chagas não é privilégio
apenas de algumas almas, mas o é também de nações. Em Portugal, por
exemplo, ela é muito antiga e marcou profundamente a piedade dos fiéis,
quase desde os alvores da nacionalidade.
Camões, em seu imortal poema,
“Os Lusíadas”, na dedicatória ao rei Dom Sebastião, registra em versos
essa antiga e piedosa tradição, gravada também na bandeira nacional e no
escudo heráldico da Casa Real:
Vede-o no vosso escudo, que presente
Vos amostra a vitória já passada,
Na qual vos deu por armas e deixou
As que Ele para si na Cruz tomou.
A devoção às Chagas de Jesus Cristo, sinais
amorosos de seu martírio e, posteriormente, de sua glorificação,
aperfeiçoam em nós a gratidão, que leva a pagar amor com amor, até o
holocausto total, por Deus e pelos irmãos. Adoremo-las profunda e
devotamente nesta Semana Santa.
Hino às Santas Chagas do Senhor
Cinco fontes de graças infinitas,
Ó Chagas, cheias de alta formosura,
Aceitai a tensão humilde e pura
Das palavras que digo e tenho ditas.
E quantas na minha alma têm escritas
Mil culpas feias, com mão feia e dura,
Curai com vossa graça e com brandura,
Ó Chagas d’meu Senhor, Chagas benditas.
No sacro Sangue que de Vós correu
Se cure; e lave e gaste e purifique
As nódoas que com dor nelas estou vendo.
Por vós, que belas sois, formosa fique,
Por vós resplandecente entre no Céu,
Onde vos veja estar resplandecendo.