O que significa a Assunção de Nossa Senhora?
Ouvi um padre amigo dizer na homilia da Missa da Assunção de Nossa Senhora, que nos lembra que “há um lugar em Deus para nós; e em nós deve, então, haver um lugar para Deus”. Deus nos fez para Ele e Ele nos quer vivendo sempre com Ele na eternidade. E, por isso, disse São Paulo, “Se
ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto, onde Cristo está
sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas lá de cima, e não às
da Terra” (Col 3,1-2).
A Virgem Imaculada foi elevada ao Céu de corpo e alma após sua morte, que
a Igreja desde os primeiros séculos chama de “dormição”; Deus a
ressuscitou e levou para o Céu. O Papa Pio XII, em 1 de novembro de
1950, por meio da Constituição Apostólica “Munificientissimus Deus”
proclamou como dogma de fé, dizendo: “Finalmente, a Imaculada Virgem,
preservada imune de toda mancha da culpa original, terminado o curso da
vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celeste. E para que
mais plenamente estivesse conforme a seu Filho, Senhor dos senhores e
vencedor do pecado e da morte, foi exaltada pelo Senhor como Rainha do
universo.”
A
Festa de Nossa Senhora Rainha do Céu e da Terra é celebrada no dia 22
de agosto. A Assunção da Virgem Maria é uma participação especial na
Ressurreição de Jesus e uma antecipação da ressurreição dos outros
cristãos. A Liturgia bizantina reza: “Em vosso parto, guardastes a
virgindade; em vossa dormição, não deixastes o mundo, ó mãe de Deus:
fostes juntar-vos à fonte da vida, vós que concebestes o Deus vivo e,
por vossas orações, livrareis nossas almas da morte”.
Na Missa da Assunção a Igreja reza: “Deus
eterno e todo poderoso, que elevastes `a glória do Céu, em corpo e
alma, a Imaculada Virgem Maria, mãe do Vosso Filho, dai-nos viver
atentos às coisas do alto, a fim de participarmos de Sua glória”.
Muitos
santos perguntavam se o melhor dos filhos poderia recusar à melhor das
mães a participação em sua ressurreição e o glorioso domínio à direita
do Pai? Para eles sua dignidade de Mãe de Deus exige a Assunção. Para
Santo Irineu de Lião (†200), como a nova Eva, Maria participou da sorte
do novo Adão, Jesus Cristo, ressuscitou depois da morte, seu corpo não
experimentou a corrupção.
A
Assunção de Nossa Senhora ao Céu é, para nós que ainda vivemos neste
vale de lágrimas, a certeza de que o Céu existe e é nosso destino. A
chegada de nossa Mãe ao Céu é a certeza antecipada da vitória final de
todos os justos amigos de Deus, que amam o Evangelho e obedecem a
Igreja, vivendo como verdadeiros cristãos. Lá do alto a Mãe querida, ao
lado do trono do Rei, prepara um lugar no céu para cada um de nós, e ali
intercede por nós sem cessar, ela que é a “onipotência suplicante”. A
Igreja reza na Assunção: “Hoje a Virgem Maria, Mãe de Deus, foi
elevada à glória do Céu. Aurora e esplendor da Igreja triunfante, ela é
consolo e esperança para o vosso povo ainda em caminho”.(Pref. da Or. Euc.)
A
Assunção de Nossa Mãe ao céu é um sinal da nossa ressurreição. É uma
mensagem especial e convite dessa Mãe a cada um de nós para segui-la ao
Céu, desprezando toda a sedução dos apegos e prazeres desta vida, que
por mais abundantes que sejam não conseguem saciar os anseios de uma
alma imortal criada em Deus, para Deus e à semelhança de Deus. O coração
do homem que foi feito para o Alto.
A
Assunção de Nossa Mãe é o testemunho certo de que a filosofia
consumista, materialista e hedonista de nossos tempos, que tiraniza o
ser humano, afastando-o de Deus e dos irmãos, longe de trazer-lhe a
verdadeira felicidade, ao contrário, enche sua alma de tristeza,
frustração e pessimismo, numa vida sem rumo e sem ideal.
A
Assunção de Maria é a festa da esperança do cristão verdadeiro que
espera a felicidade eterna e perfeita. Maria subiu ao Céu deixando na
terra um túmulo vazio, sinal de que nossa vida aqui nesta terra é uma
caminhada para o Céu. É um alerta para que não nos deixemos enganar
pelas delícias ilusórias da viagem, as quais não podem satisfazer os
anseios infinitos do homem, cujo destino é viver em Deus para sempre.
A
Assunção de Maria é a vitória da vida sobre a morte, da esperança sobre
o pessimismo, do sofrimento sobre o prazer, da humildade sobre a
soberba, do amor sobre o egoísmo, da pureza sobre a luxúria, da mansidão
sobre o ódio, da bondade sobre a inveja, da solicitude sobre a
preguiça… do bem sobre o mal.
A
subida de Maria ao céu é um chamado vibrante a cada um de nós para que
vivamos na terra como ela viveu: simples, humilde, pobre, oculta,
silenciosa, discreta, generosa, mansa, bondosa e prestativa, para que
sejamos um dia exaltados por termos vivido a humildade.
É
lá na casa de Maria, no esplendoroso palácio celeste que deve habitar
nosso pobre coração. Conquistar o céu, como Maria, deve ser a meta de
cada um de nós, e o objetivo de todos nossos esforços.
O cristão vive com os pés na terra e o coração no céu.
São
Paulo expressa isso bem quando diz: “Se é só para esta vida que temos
colocado nossa esperança em Cristo, somos de todos os homens os mais
dignos de lástima” (1Cor 15,19). Em outras palavras, é perder tempo
querer seguir Jesus apenas para ser feliz nesta vida, que é rápida e
muito precária. No céu é que receberemos a recompensa, “a herança das
mãos do Senhor” (Cl 3,24).
Quem
deseja o Reino de Cristo nunca pode esquecer-se de que Ele disse: “Meu
reino não é deste mundo” (Jo 18,26). Cristo nos quer a todos no Céu,
porque ali está nosso destino. Seu coração fica frustrado quando um
lugar no céu não é ocupado por alguém. As alegrias do Céu são tantas e
tão insondáveis que fizeram S. Paulo exclamar: “O que os olhos não
viram, os ouvidos não ouviram e o coração do homem não percebeu, isso
Deus preparou para aqueles que O amam” (1Cor 2,9).
“Nós
somos cidadãos dos céus. É de lá que também aguardamos o Salvador, o
Senhor Jesus Cristo. Ele transformará nosso corpo glorioso” (Fl.
3,20-21). “Temos no céu uma casa feita por Deus e não por mãos humanas”
(2Cor 5,1). Para o Apóstolo, era um exílio viver na terra. “Todo o tempo
que passamos no corpo é um exílio longe do Senhor… suspiramos e
anelamos ser sobrevestidos de nossa habitação celeste… Pois, enquanto
permanecemos nesta tenda, gememos oprimidos… Estamos, repito, cheios de
confiança, preferindo ausentar-nos deste corpo, para ir habitar junto do
Senhor” (2Cor 5,2-8). Desejar o paraíso é desejar a Deus, diz Santo
Afonso, nosso fim último, onde O amaremos perfeitamente.
A
vida aqui sem a perspectiva do céu é um desastre total, uma frustração
inexplicável. Sem a fé no céu a vida na terra é vazia, sem sentido, como
um barco que navega à deriva…
Maria,
agora gloriosa no Céu, é a “âncora lançada no infinito de Deus”, é “a
Porta do Céu” aberta para seus filhos devotos. Vamos ao Céu por Maria,
Ela é a escada que Jesus nos deu para chegar até lá.
Pela
Assunção de Nossa Senhora Deus nos revela o sentido pleno da redenção;
isto é, uma completa divinização do corpo humano, a transfiguração da
própria dimensão material do homem e a vitória sobre a morte em todas
suas formas.
Outro
aspecto muito relevante da Assunção de Nossa Senhora é que, com seu
corpo transfigurado e glorificado, ela pode estar sempre presente ao
lado de Jesus e, de modo muito especial numa presença misteriosa junto à
Eucaristia. Em vista disso, São Pedro Julião Eymard deu a ela o título
de: “Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento”.
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