Vozes - Marcio Antonio Campos
Dom Bruno Elizeu Versari, bispo de Campo Mourão (PR) e presidente da Comissão Episcopal para a Vida e a Família da CNBB, assina carta pedindo a todos os bispos que convoquem orações pela rejeição da ADPF 442.| Foto: Victória Holzbach/CNBB
Rosa Weber é um dos três votos certos em favor da ADPF, ao lado de Luís Roberto Barroso (que assume a presidência do Supremo em outubro) e Edson Fachin – o trio já deixou isso claro quando sequestrou o julgamento de um habeas corpus para médicos e funcionários de uma clínica de aborto. Cármen Lúcia provavelmente também será favorável, a julgar pelo teor de uma carta que assinou no início de 2022. Hoje, eu diria que o único voto garantido em defesa do nascituro seria o de André Mendonça, já que Ricardo Lewandowski se aposentou – deixando de lado todo o resto da sua lamentável obra no STF em defesa dos corruptos, temos de admitir que Lewandowski deu muitos bons votos em defesa da vida e da família, e foi um dos dois únicos ministros contrários à liberação do aborto de anencéfalos em 2012.
Aqui, a Oração do Nascituro e a sugestão para a invocação no momento das preces:
"Nós vos louvamos, Senhor Deus da Vida; bendito sejais, porque nos criaste por amor; vossas mãos nos moldaram desde o ventre materno"
Oração do Nascituro
Nós vos louvamos, Senhor Deus da Vida.
Bendito sejais, porque nos criaste por amor.
Vossas mãos nos moldaram desde o ventre materno.
Nós vos agradecemos pelos nossos pais
e todas as pessoas que cuidam da vida
desde o seu início, até o fim.Em Vós somos, vivemos e existimos.
Abençoai todos que zelam pela vida humana e a promovem.
Abençoai as gestantes e todos os profissionais da saúde.
Dai às pessoas e às famílias o pão de cada dia,
a luz da fé e do amor fraterno.Nossa Senhora Aparecida,
intercedei por nossos nascituros,
nossas crianças, nossos jovens,
nossos adultos e nossos idosos,
para que tenham vida plena em Jesus,
que ofereceu sua vida em favor de todos.Amém!
A carta é um pedido, ou seja, não obriga os bispos a nada, mas
quero muito acreditar que nenhum dos bispos brasileiros seria capaz de
recusar algo tão simples e ao mesmo tempo tão essencial.
Que neste próximo fim de semana cheguem a Deus as preces de um país inteiro unido em favor da vida humana, porque, como diz a carta, “estamos em uma situação que requer muita atenção e oração”.
“Mas é só isso?”
Espero
que nenhum católico tenha feito essa pergunta – se tiver, bem, eu diria
que esse leitor ainda precisa aprender uma ou duas coisinhas básicas
sobre a sua fé, por exemplo sobre como um convento de freiras de
clausura faz muito mais pela Igreja e pelo mundo que uma dúzia de gente
bem “zelosa” xingando muito no Instagram.
Pior que uma Igreja que não se ajoelha é uma Igreja que não deixa ajoelhar
Falando
em xingar muito no Instagram, o leitor provavelmente já viu as imagens,
ou ao menos ficou sabendo do caso em que dom Joaquim Mol, bispo
auxiliar de Belo Horizonte, negou a comunhão a uma jovem que quis
receber a Eucaristia de joelhos na missa em que ela foi crismada. No
início houve uma confusão sobre quando é que isso teria acontecido, mas
depois o próprio bispo publicou uma explicação e ficamos sabendo que o
episódio ocorreu neste último domingo, dia 6.
“Na Igreja há
espaço para todos”, disse o papa Francisco em Lisboa. Pois que também
não se fechem as portas a quem quer demonstrar sua devoção a Jesus
Eucarístico da forma que julga mais apropriada e que a Igreja considera
legítima
O problema é que a explicação do bispo não para em pé.
Se a preocupação do bispo é com a pandemia (que já acabou), medo de
pegar ou transmitir Covid, ele nem deveria estar dando a comunhão para
ninguém, porque afinal é aquela coisa de mão pega hóstia, mão bota
hóstia em outra mão, mão coloca a hóstia na boca... e, se formos nos
apoiar mesmo em ciência-ciência-ciência, há motivos bastante razoáveis
para supor que a comunhão na boca é mais segura que a comunhão na mão, e
eu os expliquei em minha coluna de ciência e fé ainda antes que
mandassem fechar tudo aqui no Brasil. Além disso, as normas da Igreja,
reiteradas pela CNBB, deixam claro que o fiel tem o direito de escolher
como deve receber a Eucaristia.
A frase “jamais se obrigará algum fiel a
adotar a prática da comunhão na mão. Deixar-se-á a liberdade de receber
a comunhão na mão ou na boca, em pé ou de joelhos” aparece em seguidas
edições do Guia Litúrgico-Pastoral e do Diretório Litúrgico da CNBB.
Outro
argumento que dom Joaquim usou foi o da locomoção/rapidez, que também
não faz sentido. A pessoa não vai ajoelhada do banco ao presbitério,
como quem cumpre promessa na passarela de Aparecida. A jovem seguiu
normalmente na fila, e só diante do bispo foi se ajoelhar. O que
custaria isso, alguns poucos segundos a mais? Mas missa não é pit-stop
de Fórmula 1, pelo contrário: quanto mais pressa, maiores as chances de
as coisas saírem erradas. No fim, como se vê no vídeo, a insistência de
dom Joaquim atravancou a comunhão dos jovens muito mais do que se ele
tivesse simplesmente dado a comunhão à garota: ela teria se levantado
imediatamente, voltado para o seu lugar e os demais crismados
continuariam recebendo a comunhão sem demora.
Por
fim, não podia faltar o “tiraram de contexto”. Dom Joaquim reclamou que
“manipularam” o vídeo, que “passaram a divulgar que a ela foi negada a
comunhão”, e esclareceu que a jovem recebeu, sim, a Eucaristia, mas das
mãos do pároco. Isso, para mim, é mero jogo de palavras. Ela recebeu a
comunhão? Recebeu. Mas que dom Joaquim não quis lhe dar a Eucaristia,
quando era ele quem estava distribuindo o sacramento aos crismados, é
mais que evidente.
No seu Introdução ao Espírito da Liturgia, o
então cardeal Joseph Ratzinger foi bastante incisivo ao dizer que “uma
fé e uma liturgia que já não estão acostumadas ao ajoelhar-se estão
profundamente doentes”.
Se ele diz isso de quem já não se ajoelha, o que
não diria de quem não deixa ajoelhar? Rezemos, então, pela cura dessa
doença, para que, como afirma Ratzinger, “onde o ato de se ajoelhar se
perdeu, precisa ser redescoberto, de forma que, em nossa oração,
permaneçamos em comunhão com os apóstolos e mártires, com todo o cosmos,
em união com o próprio Jesus Cristo”.
Marcio Antonio Campos - Coluna no Gazeta do Povo
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