"Anunciamos, Senhor, a vossa morte, e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus"
Na Solenidade do Santíssimo Sacramento do Corpo e Sangue de Cristo popularmente conhecida como Corpus Christi, a ser celebrada na quinta-feira, 3, a Igreja Católica manifesta publicamente o “mistério da fé” que, como ensina o Catecismo, é a “fonte e ápice da vida cristã”. “Na santíssima Eucaristia está contido todo o tesouro espiritual da
Igreja, isto é, o próprio Cristo, nossa Páscoa”, reforça o Catecismo.
Instituída por Jesus Cristo na Última Ceia, a Eucaristia perpetua o
sacrifício da cruz na Igreja ao longo dos séculos. Essa verdade é
expressa com clareza nas palavras com que o povo, durante a missa, após a
consagração do pão e do vinho, responde à proclamação “Eis o mistério
da fé”, dizendo, “Anunciamos, Senhor, a vossa morte, e proclamamos a
vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus”.
Quando a Igreja celebra a Eucaristia, o acontecimento central de salva-
ção se faz realmente presente e “realizase também a obra da nossa
redenção”, como expressou São João Paulo II, na encíclica Ecclesia de
Eucharistia (2003). “Esta é a fé que as gerações cristãs viveram ao
longo dos séculos, e que o magistério da Igreja tem continuamente
reafirmado com jubilosa gratidão por dom tão inestimável”, acrescentou.
O santo sacrifício eucarístico torna presente não só o mistério da
paixão e morte de Jesus, mas também o misté- rio da sua ressurreição.
Por estar vivo e ressuscitado é que Cristo pode tornarse “pão da vida”
(Jo 6, 35.48). Tal verdade de fé era proclamada pelos padres e doutores
dos primórdios da Igreja. Santo Ambrósio lembrava aos cristãos
recém-batizados: “Se hoje Cristo é teu, Ele ressuscita para ti cada
dia”. Já São Cirilo de Alexandria sublinhava que a participação na
Eucaristia “é uma verdadeira confissão e recordação de que o Senhor
morreu e voltou à vida por nós e em nosso favor”.
Presença real É certo
que Jesus ressuscitado está presente na Igreja de diversas
maneiras, na sua Palavra, na oração da Igreja – “onde dois ou três estão
reunidos em Meu nome...” (Mt 18,20) –, nos pobres, nos doentes, nos
prisioneiros, nos seus sacramentos, dos quais é o autor, e na pessoa do
ministro ordenado que preside a Santa Missa. Mas, a doutrina católica
ressalta que é sobretudo sob as espécies eucarísticas que o Senhor
manifesta sua presença por excelência.
Pelas palavras de Jesus na Última Ceia e pela invocação do Espírito
Santo na celebração da missa, o pão e o vinho se tornam verdadeiramente o
corpo e o sangue de Cristo. O Concílio de Trento afirma que na
Eucaristia estão “contidos, verdadeira, real e substancialmente, o
corpo, o sangue, a alma e a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo”, ou
seja, “Cristo completo”.
A doutrina católica ensina, ainda, que pela consagração do pão e do
vinho “opera-se a conversão de toda a substância do pão na substância do
corpo de Cristo Nosso Senhor, e de toda a substância do vinho na
substância do seu sangue”; a esta mudança, a Igreja Católica chama de
“transubstanciação”.
Na oração do Ângelus de 16 de agosto de 2015, o Papa Francisco
ressaltou que a Eucaristia não é uma oração privada ou uma bonita
experiência espiritual, nem uma simples comemoração daquilo que Jesus
fez na Última Ceia. “Nós dizemos, para entender bem, que a Eucaristia é
‘memorial’, ou seja, um gesto que atualiza e torna presente o evento da
morte e ressurreição de Jesus: o pão é realmente o seu Corpo oferecido
por nós, o vinho é realmente o seu Sangue derramado por nós”.
Comunhão O ápice
da participação na Eucaristia é a comunhão. É o próprio Jesus
que convida: “Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o
seu sangue, não tereis a vida em vós” (Jo 6,53).
O principal fruto da comunhão eucarística é a união íntima com Cristo
Jesus. “De fato, o Senhor diz: ‘Quem come a minha carne e bebe o meu
sangue permanece em Mim e Eu nele’ (Jo 6,56). A vida em Cristo tem o seu
fundamento no banquete eucarístico: ‘Assim como o Pai, que vive, me
enviou, e Eu vivo pelo Pai, também o que me come viverá por Mim’ (Jo
6,57) ”, recorda o Catecismo, que enfatiza, ainda, que a comunhão da
carne de Cristo Ressuscitado conserva, aumenta e renova a vida da graça
recebida no Batismo.
A comunhão também afasta o fiel do pecado. “O corpo de Cristo que
recebemos na comunhão é ‘entregue por nós’ e o sangue que nós bebemos é
‘derramado pela multidão, para remissão dos pecados’. É por isso que a
Eucaristia não pode unir-nos a Cristo sem nos purificar, ao mesmo tempo,
dos pecados cometidos, e nos preservar dos pecados futuros”, reforça o
Catecismo.
Os que recebem a Eucaristia ficam mais estreitamente unidos a Cristo,
que une todos os fiéis num só corpo: a Igreja. Como afirma o Apóstolo
São Paulo: “O cálice da bênção que abençoamos, não é comunhão com o
sangue de Cristo? O pão que partimos não é comunhão com o corpo de
Cristo? Uma vez que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só
corpo, porque participamos desse único pão” (1Cor 10, 16-17).
Como também ensina São Paulo, para receber o corpo e o sangue de
Cristo, é necessária a devida preparação. “Quem comer o pão ou beber do
cálice do Senhor indignamente será réu do corpo e do sangue do Senhor.
Examine-se, pois, cada qual a si mesmo e, então, coma desse pão e beba
deste cálice; pois quem come e bebe, sem discernir o corpo do Senhor,
come e bebe a própria condenação” (1Cor 11, 27-29). Nesse sentido, a
Igreja exorta os que tiverem consciência de um pecado grave a receber o
sacramento da Reconciliação antes de se aproximarem da Sagrada Comunhão,
com o fim de evitarem um sacrilégio e usufruírem das graças infinitas
de tão admirável dom.
Reverência Justamente pelo
fato da real e substancial presença de Jesus Cristo na
Eucaristia, a Igreja ensina os fiéis a expressarem essa fé com
reverência e devoção, dentre outras maneiras, ajoelhando-se ou
inclinando-se profundamente em sinal de adoração ao Senhor diante do
Santíssimo Sacramento. “A Igreja Católica sempre prestou e continua a
prestar este culto de adoração que é devido ao sacramento da Eucaristia,
não só durante a missa, mas também fora da sua celebração: conservando
com o maior cuidado as hóstias consagradas, apresentando-as aos fiéis
para que solenemente as venerem, e levando-as em procissão”, destaca o
Catecismo.
Quanto ao gesto ou posição para a comunhão, a instrução Redemptionis
Sacramentum (2004) recorda a orientação de que os fiéis comunguem de
joelhos ou de pé, mas quando comungarem de pé, “recomenda-se fazer,
antes de receber o Sacramento, a devida reverência”.
O documento também ressaltou que todo fiel tem sempre direito a
escolher se deseja receber a Sagrada Comunhão na boca ou na mão, onde as
conferências episcopais locais tenham permitido, como é o caso do
Brasil. No entanto, quando a comunhão é recebida na mão, recomenda-se
que haja especial cuidado e que a hóstia seja consumida imediatamente
diante do ministro – o fiel não deve retornar para seu assento com as
espécies eucarísticas na mão. Tal cuidado não só expressa a devida
reverência para com o Santíssimo Sacramento como também evita o perigo
de profanações e sacrilégios por parte de pessoas mal intencionadas que
podem tomar a Eucaristia para fins escusos.
Adoração A presença de Je
sus Cristo no Santíssimo Sacramento não se restringe à
celebração da missa, mas permanece na reserva eucarística. No
princípio, o sacrário ou tabernáculo era destinado a guardar a
Eucaristia de maneira digna para ser levada aos enfermos e aos fiéis
ausentes à missa por razões graves. Com o aprofundamento da fé na
presença real de Cristo na sua Eucaristia, a Igreja tomou consciência do
sentido da adoração silenciosa do Senhor, presente sob as espécies
sagradas. “O ato de adoração fora da Santa Missa prolonga e intensifica
aquilo que se fez na própria celebração litúrgica”, explicou o Papa
Bento XVI, na exortação apostólica Sacramentum Caritatis (2007).
A visita ao Santíssimo Sacramento presente nos sacrários das igrejas
permite o encontro pessoal de cada fiel com Jesus e o coloca em comunhão
com toda a Igreja, que se reúne em torno da Eucaristia. Por isso, além
de convidar cada um dos fiéis a encontrar pessoalmente tempo para se
demorar em oração diante do sacramento do altar, a Igreja motiva as
paróquias, comunidades e grupos eclesiais a promoverem momentos de
adoração comunitária.
Em muitas cidades, há igrejas e santuários eucarísticos, onde o
Santíssimo Sacramento fica exposto permanentemente para a adoração dos
fiéis. No centro de São Paulo, por exemplo, a Paróquia Santa Ifigênia e a
Igreja Nossa Senhora da Boa Morte realizam adorações perpétuas. Muitas
outras igrejas promovem semanalmente adorações, geralmente às
quintas-feiras, em recordação da Instituição da Eucaristia.
Na carta Dominicae Cenae (1980), São João Paulo II enfatizou: “A Igreja
e o mundo têm grande necessidade do culto eucarístico. Jesus espera-nos
neste sacramento do amor. Não regulemos o tempo para estar com Ele na
adoração, na contemplação cheia de fé e disposta a reparar as faltas
graves e os pecados do mundo. Que a nossa adoração não cesse jamais”.