Pontífice participou de celebração para religiosos
Leia abaixo o discurso na íntegra do Papa Francisco na missa
celebrada na manhã deste sábado na Catedral Metropolitana do Rio. O
evento começou às 9h e foi restrito a religiosos e convidados.
Papa Francisco em frente à Catedral Metropolitana
Freelancer / Agência O Globo
Amados Irmãos em Cristo,
Vendo
esta catedral lotada com Bispos, sacerdotes, seminaristas, religiosos e
religiosas vindos do mundo inteiro, penso nas palavras do Salmo da
Missa de hoje: «Que as nações vos glorifiquem, ó Senhor» (Sl 66). Sim,
estamos aqui reunidos para glorificar o Senhor; e o fazemos reafirmando a
nossa vontade de sermos seus instrumentos, para que não somente algumas
nações mas todas glorifiquem o Senhor. Com a mesma parresia – coragem,
ousadia - de Paulo e Barnabé, anunciemos o Evangelho aos nossos jovens
para que encontrem Cristo, luz para o caminho, e se tornem construtores
de um mundo mais fraterno. Neste sentido, queria refletir com vocês
sobre três aspectos da nossa vocação: chamados por Deus; chamados para
anunciar o Evangelho; chamados a promover a cultura do encontro.
1.
Chamados por Deus. É importante reavivar em nós esta realidade que,
frequentemente, damos por descontada em meio a tantas atividades do
dia-a-dia:
«Não fostes vós que me escolhestes, mas eu que vos escolhi»,
diz-nos Jesus (Jo 15,16). Significa retornar à fonte da nossa chamada.
No início de nosso caminho vocacional, há uma eleição divina. Fomos
chamados por Deus, e chamados para permanecer com Jesus (cf. Mc 3, 14),
unidos a Ele de um modo tão profundo que nos permite dizer com São
Paulo: «Eu vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim» (Gal 2, 20). Este
viver em Cristo configura realmente tudo aquilo que somos e fazemos. E
esta “vida em Cristo” é justamente o que garante a nossa eficácia
apostólica, a fecundidade do nosso serviço:
«Eu vos designei para irdes e
para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça» (Jo 15,16). Não é a
criatividade pastoral, não são as reuniões ou planejamentos que
garantem os frutos, mas ser fiel a Jesus, que nos diz com insistência:
«Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós» (Jo 15, 4). E nós sabemos
bem o que isso significa: Contemplá-lo, adorá-lo e abraçá-lo,
particularmente através da nossa fidelidade à vida de oração, do nosso
encontro diário com Ele presente na Eucaristia e nas pessoas mais
necessitadas. O “permanecer” com Cristo não é se isolar, mas é um
permanecer para ir ao encontro dos demais. Vem-me à cabeça umas palavras
da Bem-aventurada Madre Teresa de Calcutá: «Devemos estar muito
orgulhosas da nossa vocação, que nos dá a oportunidade de servir Cristo
nos pobres. É nas favelas, nos «cantegriles» nas Villas miseria, que nós
devemos ir procurar e servir a Cristo. Devemos ir até eles como o
sacerdote se aproxima do altar, cheio de alegria» (Mother Instructions,
I, p.80). Jesus, Bom Pastor, é o nosso verdadeiro tesouro; procuremos
fixar sempre mais n’Ele o nosso coração (cf. Lc 12, 34).
2.
Chamados para anunciar o Evangelho. Queridos bispos e sacerdotes, muitos
de vocês, senão todos, vieram acompanhar seus jovens à Jornada Mundial.
Eles também ouviram as palavras do mandato de Jesus:
«Ide e fazei
discípulos entre todas as nações» (cf. Mt 28,19). É nosso compromisso
ajudá-los a fazer arder, no seu coração, o desejo de serem discípulos
missionários de Jesus. Certamente muitos, diante desse convite, poderiam
sentir-se um pouco atemorizados, imaginando que ser missionário
significa deixar necessariamente o País, a família e os amigos. Recordo o
meu sonho da juventude: partir missionário para o longínquo Japão. Mas
Deus me mostrou que o meu território de missão estava muito mais perto:
na minha pátria. Ajudemos os jovens a perceberem que ser discípulo
missionário é uma consequência de ser batizado, é parte essencial do ser
cristão, e que o primeiro lugar onde evangelizar é a própria casa, o
ambiente de estudo ou de trabalho, a família e os amigos. Não poupemos
forças na formação da juventude! São Paulo usa uma bela expressão, que
se tornou realidade na sua vida, dirigindo-se aos seus cristãos:
«Meus
filhos, por vós sinto de novo as dores do parto até Cristo ser formado
em vós» (Gal 4, 19). Também nós façamos que isso se torne realidade no
nosso ministério! Ajudemos os nossos jovens a descobrir a coragem e a
alegria da fé, a alegria de ser pessoalmente amados por Deus, que deu o
seu Filho Jesus para nossa salvação.SALA DE IMPRENSA DA SANTA SÉ 8/2.
Eduquemo-los para a missão, para sair, para partir. Jesus fez assim com
os seus discípulos: não os manteve colados a si, como uma galinha com os
seus pintinhos; Ele os enviou! Não podemos ficar encerrados na
paróquia, nas nossas comunidades, quando há tanta gente esperando o
Evangelho! Não se trata simplesmente de abrir a porta para acolher, mas
de sair pela porta fora para procurar e encontrar. Decididamente
pensemos a pastoral a partir da periferia, daqueles que estão mais
afastados, daqueles que habitualmente não freqüentam a paróquia. Também
eles são convidados para a Mesa do Senhor.
3. Chamados a promover a
cultura do encontro. Em muitos ambientes, infelizmente, ganhou espaço a
cultura da exclusão, a
“cultura do descartável”. Não há lugar para o
idoso, nem para o filho indesejado; não há tempo para se deter com o
pobre caído à margem da estrada. Às vezes parece que, para alguns, as
relações humanas sejam regidas por dois
“dogmas” modernos: eficiência e
pragmatismo. Queridos Bispos, sacerdotes, religiosos e também vocês,
seminaristas, que se preparam para o ministério, tenham a coragem de ir
contra a corrente. Não renunciemos a este dom de Deus: a única família
dos seus filhos. O encontro e o acolhimento de todos, a solidariedade e a
fraternidade são os elementos que tornam a nossa civilização
verdadeiramente humana. Temos de ser servidores da comunhão e da cultura
do encontro. Permitam-me dizer: deveríamos ser quase obsessivos neste
aspecto! Não queremos ser presunçosos, impondo as
“nossas verdades”. O
que nos guia é a certeza humilde e feliz de quem foi encontrado,
alcançado e transformado pela Verdade que é Cristo, e não pode deixar de
anunciá-la (cf. Lc 24, 13-35). Queridos irmãos e irmãs, fomos chamados
por Deus, chamados para anunciar o Evangelho e promover corajosamente a
cultura do encontro. A Virgem Maria seja o nosso modelo. Na sua vida,
Ela deu
«exemplo daquele afeto maternal de que devem estar animados
todos quantos cooperam na missão apostólica que a Igreja, tem de
regenerar os homens» (Conc. Ecum. Vat. II, Cost. dogm. Lumen gentium,
65).
Seja Ela a Estrela que guia com segurança nossos passos ao encontro
do Senhor. Amém.