'Lembra-te que do pó viestes e ao pó, hás de retornar'
A quarta-feira de cinzas é o primeiro dia da Quaresma no calendário cristão  ocidental. As cinzas que os cristãos católicos Apostólico Romano recebem neste  dia é um símbolo para a reflexão sobre o dever da conversão, da mudança de vida,  recordando a passageira, transitória, efêmera fragilidade da vida humana,  sujeita à morte. Ela ocorre quarenta dias antes da Páscoa sem contar os domingos  ( que não são incluídos na Quaresma); ela ocorre quarenta e quatro dias antes da  Sexta-feira Santa contando os domingos. Seu posicionamento varia a cada ano,  dependendo da data da Páscoa. A data pode variar do começo de fevereiro até a  segunda semana de março.
Alguns cristãos tratam  a quarta-feira de cinzas como um dia para se lembrar a mortalidade da própria  mortalidade. Missas são realizadas tradicionalmente nesse dia nas quais os  participantes são abençoados com cinzas pelo o padre administrando a cerimônia.  O padre marca a testa de cada celebrante com cinzas, deixando uma marca que o  cristão normalmente deixa em sua testa até o pôr do sol, antes de lavá-la. Esse  simbolismo relembra a antiga tradição do Oriente Médio de jogar cinzas sobre a  cabeça como símbolo de arrependimento perante a Deus (como relatado diversas  vezes na Bíblia). No Catolicismo Romano, é um dia de jejum e  abstinência.
Como é o primeiro dia da Quaresma, ele ocorre um dia depois da  terça-feira gorda ou Mardi Gras, o último dia da temporada de Carnaval. A Igreja  Ortodoxa não observa a quarta-feira de cinzas, começando a quaresma já na  segunda-feira anterior a ela.
 QUE SIGNIFICAM AS CINZAS?
O uso litúrgico das cinzas tem sua origem no  Antigo Testamento. As cinzas simbolizam dor, morte e penitência. Por exemplo, no  livro de Ester, Mardoqueu se veste de saco e se cobre de cinzas quando soube do  decreto do Rei Asuer I (Xerxes, 485-464 antes de Cristo) da Pérsia que condenou  à morte todos os judeus de seu império. (Est 4,1). Jó (cuja história foi escrita  entre os anos VII e V antes de Cristo) mostrou seu arrependimento vestindo-se de  saco e cobrindo-se de cinzas (Jó 42,6). Daniel (cerca de 550 antes de Cristo) ao  profetizar a captura de Jerusalém pela Babilônia, escreveu: “Volvi-me para o  Senhor Deus a fim de dirigir-lhe uma oração de súplica, jejuando e me impondo o  cilício e a cinza” (Dn 9,3). No século V antes de Cristo, logo depois da  pregação de Jonas, o povo de Nínive proclamou um jejum a todos e se vestiram de  saco, inclusive o Rei, que além de tudo levantou-se de seu trono e sentou sobre  cinzas (Jn 3,5-6). Estes exemplos retirados do Antigo Testamento demonstram a  prática estabelecida de utilizar-se cinzas como símbolo (algo que todos  compreendiam) de arrependimento.
O próprio Jesus fez referência ao uso das  cinzas. A respeito daqueles povos que recusavam-se a se arrepender de seus  pecados, apesar de terem visto os milagres e escutado a Boa Nova, Nosso Senhor  proferiu: “Ai de ti, Corozaim! Ai de ti, Betsaida! Porque se tivessem sido  feitos em Tiro e em Sidônia os milagres que foram feitos em vosso meio, há muito  tempo elas se teriam arrependido sob o cilício e as cinzas. (Mt 11,21) A Igreja,  desde os primeiros tempos, continuou a prática do uso das cinzas com o mesmo  simbolismo. Em seu livro “De Poenitentia” , Tertuliano (160-220 DC), prescreveu  que um penitente deveria “viver sem alegria vestido com um tecido de saco rude e  coberto de cinzas”. O famoso historiador dos primeiros anos da igreja, Eusébio  (260-340 DC), relata em seu livro A História da Igreja, como um apóstata de nome  Natalis se apresentou vestido de saco e coberto de cinzas diante do Papa  Ceferino, para suplicar-lhe perdão. Sabe-se que num determinado momento existiu  uma prática que consistia no sacerdote impor as cinzas em todos aqueles que  deviam fazer penitência pública. As cinzas eram colocadas quando o penitente  saía do Confessionário.
Já no período medieval, por volta do século VIII,  aquelas pessoas que estavam para morrer eram deitadas no chão sobre um tecido de  saco coberto de cinzas. O sacerdote benzia o moribundo com água benta  dizendo-lhe: “Recorda-te que és pó e em pó te converterás”. Depois de aspergir o  moribundo com a água benta, o sacerdote perguntava: “Estás de acordo com o  tecido de saco e as cinzas como testemunho de tua penitência diante do Senhor no  dia do Juízo?” O moribundo então respondia: “Sim, estou de acordo”. Se podem  apreciar em todos esses exemplos que o simbolismo do tecido de saco e das cinzas  serviam para representar os sentimentos de aflição e arrependimento, bem como a  intenção de se fazer penitência pelos pecados cometidos contra o Senhor e a Sua  igreja.
Com o passar dos tempos o uso das cinzas foi adotado como sinal do  início do tempo da Quaresma; o período de preparação de quarenta dias  (excluindo-se os domingos) antes da Páscoa da Ressurreição. O ritual para a  Quarta-feira de Cinzas já era parte do Sacramental Gregoriano. As primeiras  edições deste sacramental datam do século VII. Na nossa liturgia atual da  Quarta-feira de Cinzas, utilizamos cinzas feitas com os ramos de palmas  distribuídos no ano anterior no Domingo de Ramos. O sacerdote abençoa as cinzas  e as impõe na fronte de cada fiel traçando com essas o Sinal da Cruz. Logo em  seguida diz : “Recorda-te que és pó e em pó te converterás” ou então  “Arrepende-te e crede no Evangelho”.
 O JEJUM
A igreja propõe o jejum principalmente como forma de sacrifício,  mas também como uma maneira de educar-se, de ir percebendo que, o que o ser  humano mais necessita é de Deus. Desta forma se justifica as demais  abstinências, elas têm a mesma função. Oficialmente, o jejum deve ser feito  pelos cristãos batizados, na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira  Santa.
Pela lei da igreja, o jejum é obrigatório nesses dois dias para  pessoas entre 18 e 60 anos. Porém, podem ser substituídos por outros dias na  medida da necessidade individual de cada fiel, e também praticados por crianças  e idosos de acordo com suas disponibilidades.
O jejum, assim como todas as  penitências, é visto pela igreja como uma forma de educação no sentido de se  privar de algo e reverte-lo em serviços de amor, em práticas de caridade. Os  sacrifícios, que podem ser escolhidos livremente, por exemplo: um jovem deixa de  mascar chicletes por um mês, e o valor que gastaria nos doces é usado para o bem  de alguém necessitado. 
 Qual é a relação entre Campanha da Fraternidade e a Quaresma?
A Campanha  da Fraternidade é um instrumento para desenvolver o espírito quaresmal de  conversão e renovação interior a partir da realização da ação comunitária, que  para os católicos, é a verdadeira penitência que Deus quer em preparação da  Páscoa. Ela ajuda na tarefa de colocar em prática a caridade e ajuda ao próximo.  É um modo criativo de concretizar o exercício pastoral de conjunto, visando a  transformação das injustiças sociais.
Desta forma, a Campanha da Fraternidade  é maneira que a Igreja no Brasil celebra a quaresma em preparação à Páscoa. Ela  dá ao tempo quaresmal uma dimensão histórica, humana, encarnada e principalmente  comprometida com as questões específicas de nosso povo, como atividade essencial  ligada à Páscoa do Senhor. 
 Quais são os rituais e tradições associados com este tempo?
As celebrações  têm início no Domingo de Ramos, ele significa a entrada triunfal de Jesus, o  começo da semana santa. Os ramos simbolizam a vida do Senhor, ou seja, Domingo  de Ramos é entrar na Semana Santa para relembrar aquele momento.
Depois,  celebra-se a Ceia do Senhor, realizada na quinta-feira Santa, conhecida também  como o lava pés. Ela celebra Jesus criando a eucaristia, a entrega de Jesus e  portanto, o resgate dos pecadores.
Depois, vem a missa da Sexta-feira da  paixão, também conhecida como Sexta-feira Santa, que celebra a morte do Senhor,  às 15h00. Na sexta à noite geralmente é feita uma procissão ou ainda a Via  Sacra, que seria a repetição das 14 passagens da vida de Jesus.
No sábado à  noite, o Sábado de Aleluia, é celebrada a Vigília Pascal, também conhecida como  a Missa do Fogo. Nela o Círio Pascal é acesso, resultando as cinzas. O  significado das cinzas é que do pó viemos e para o pó voltaremos, sinal de  conversão e de que nada somos sem Deus. Um símbolo da renovação de um ciclo. Os  rituais se encerram no Domingo, data da ressurreição de Cristo, com a Missa da  Páscoa, que celebra o Cristo vivo.