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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

29 de fevereiro - Santo do dia

São Leandro

Religioso espanhol nascido em Cartagena , Leandro foi bispo de Sevilha e fez parte de uma família de santos. Além dele, foram canonizados seus irmãos Fulgêncio e Isidoro, além da irmã Florentina.

Desde rapaz, Leandro era conhecido como dono de grande cultura e sua fama cresceu ainda mais quando entrou para a Ordem de São Bento, em Hispalis, Espanha. Assim, nada mais natural que, morto o bispo de Sevilha, fosse ele, Leandro, nomeado para o cargo, com grande aceitação popular e também do clero. Porém, teve que enfrentar os poderosos governantes que queriam destruí-lo, pois, graças a ele, Hermenegildo, filho mais velho do rei Leovegildo havia se convertido cristão. A conversão do príncipe real, que significava a futura conversão do reino, bem como de dezenas de outros pagãos, deixou irados os hereges arianos, que arquitetaram vários planos para matá-lo.

Os registros mostram que o bispo Leandro só escapou da morte pela Providencia Divina. Mas, se não conseguiram matar o bispo, os hereges passaram a pressionar tanto o rei, que até o príncipe convertido foi condenado à morte e levado ao martírio. Leandro, por sua vez, foi exilado e teve que deixar suas paróquias. No entanto, mesmo afastado de seu rebanho ele não parou de guiá-los. Enviava contínuas cartas e artigos orientando sobre o cristianismo e combatendo os arianos, além de dirigir e seguir as pastorais mesmo no exílio.

De repente, o vento voltou a soprar a seu favor. Diversos prodígios e graças passaram a ser registrados no túmulo do príncipe cristão martirizado, com o rei se arrependendo do que fizera. Mandou repatriar o bispo Leandro e a ele entregou a educação religiosa do segundo filho, Recaredo, que seria o futuro monarca.

A conversão do rei acabou com o poder dos hereges seguidores de Ário e fez com que quase toda a população se convertesse também. Por este trabalho de evangelização, o bispo Leandro, que morreu aos oitenta anos, na cidade de Sevilha, em 600, figura na História da Igreja, merecidamente, como o "Apóstolo dos Godos".

São Leandro, rogai por nós!

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

28 de fevereiro - Santo do dia

Santo Osvaldo


Osvaldo figura entre os grandes nomes católicos da Inglaterra e da Europa ao final do primeiro milênio. De origem dinamarquesa, ele era sobrinho de Oto, arcebispo da Cantuária e parente de Osil, arcebispo de York. Para abraçar a religião escolheu a vida de monge beneditino e, por isso, ingressou no convento de Fleury-sur-Lofre, na França.

Entretanto, Osvaldo foi chamado por seu tio Oscil que, desejando fazer reformas em sua diocese, escolheu o sobrinho para encabeçá-las, por causa de seu senso de justiça e da generosidade para com os pobres.

Assim, ele foi nomeado bispo de Worcester e uniu-se a dois outros religiosos da mesma estirpe da região: Dunstan, arcebispo de Cantuária e Eteluolde , bispo de Winchester. Desse modo, Osvaldo conseguiu restabelecer a disciplina monástica que levou a diocese de seu tio a recuperar o caminho correto dentro do cristianismo. Fundou dois mosteiros em Westburi, perto de Bristol e o mais influente, o de Ramsei.

Por esta e muitas outras obras, o rei Edgar, o nomeou arcebispo de York, em 972. Osvaldo fundou ainda uma abadia de beneditinos em Worcester e desenvolveu muito o estudo científico nos mosteiros e conventos que dirigiu.

Mas, ao mesmo tempo em que dava grande importância aos estudos terrenos, em nenhum momento se desprendeu das obrigações e regras espirituais, alcançando a graça de receber dons especiais e vivenciar muitos fatos prodigiosos. Consta que ele operou diversas graças em vida.

No dia 28 de fevereiro de 992, como de hábito o bispo Osvaldo reproduzia durante a Quaresma a cerimônia do lava-pés e estava banhando ele próprio os pés de doze mendigos, quando morreu. O seu corpo foi transladado para uma nova sepultura na igreja de Santo Vulfistano, ele também bispo de Worcester de 1062 até 1095.

Santo Osvaldo, rogai por nós!

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Santo do dia - 27 de fevereiro


São Gabriel de Nossa Senhora das Dores

No dia primeiro de março de 1838 recebeu o nome de Francisco Possenti, ao ser batizado em Assis, sua cidade natal. Quando sua mãe Inês Friscioti morreu, ele tinha quatro anos de idade e foi para a cidade de Espoleto onde estudou em instituição marista e Colégio Jesuíta, até aos dezoito anos. Isso porque, como seu pai Sante Possenti era governador do Estado Pontifício, precisava a mudar de residência com freqüência, sempre que suas funções se faziam necessárias em outro pólo católico.

Possuidor de um caráter jovial, sólida formação cristã e acadêmica, em 1856 ingressou na congregação da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, fundada por São Paulo da Cruz, ou seja, os Passionistas. Sua espiritualidade foi marcada fortemente pelo amor a Jesus Crucificado e a Virgem Dolorosa

Depois foi acolhido para o noviciado em Morrovalle, recebendo o hábito e assumindo o nome de Gabriel de Nossa Senhora das Dores, devido à sua grande devoção e admiração que nutria pela Virgem Dolorosa. Um ano após emitiu os votos religiosos e foi por um ano para a comunidade de Pievetorina para completar os estudos filosóficos. Em 1859 chegou para ficar um período com os confrades da Ilha do Grande Sasso. Foi a última etapa da sua peregrinação. Morreu aos vinte e quatro anos, de tuberculose, no dia 27 de fevereiro de 1862, nessa ilha da Itália.

As anotações deixadas por Gabriel de Nossa Senhora das Dores em um caderno que foi entregue a seu diretor espiritual, padre Norberto, haviam sido destruídas. Mas, restaram de Gabriel: uma coleção de pensamentos dos padres; cerca de 40 cartas testemunhando sua devoção à Nossa Senhora das Dores e um outro caderno, este com anotações de aula contendo dísticos latinos e poesias italianas.

Foi beatificado em 1908, e canonizado em 1920 pelo Papa Bento XV, que o declarou exemplo a ser seguido pela juventude dos nossos tempos.

São Gabriel de Nossa Senhora das Dores, teve uma curta existência terrena, mas toda ela voltada para a caridade e evangelização, além de um trabalho social intenso que desenvolvia desde a adolescência. Foi declarado co-patrono da Ação Católica, pelo Papa Pio XI, em 1926 e padroeiro principal da região de Abruzzo, pelo Papa João XXIII, em 1959.

O Santuário de São Gabriel de Nossa Senhora das Dores, é meta de incontáveis peregrinações e assistido pelos Passionistas, é um dos mais procurados da Itália e do mundo cristão. A figura atual deste Santo jovem, mais conhecido entre os devotos como o "Santo do Sorriso", caracteriza a genuína piedade cristã inserida nos nossos tempos e está conquistando cada dia mais o coração de muitos jovens, que se pautam no seu exemplo para ajudar o próximo e se ligar à Deus e à Virgem Mãe.

São Gabriel de Nossa Senhora das Dores, rogai por nós!

domingo, 26 de fevereiro de 2012

EVANGELHO DO DIA

EVANGELHO COTIDIANO

Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna.  João 6, 68

1º Domingo da Quaresma

Evangelho segundo S. Marcos 1,12-15.
Naquele tempo, o Espírito Santo impeliu Jesus para o deserto.
E ficou no deserto quarenta dias. Era tentado por Satanás, estava entre as feras e os anjos serviam-no.
Depois de João ter sido preso, Jesus foi para a Galileia, e proclamava o Evangelho de Deus, dizendo: «Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: arrependei-vos e acreditai no Evangelho.» 

Comentário ao Evangelho do dia feito por: Orígenes (c. 185-253), presbítero e teólogo

                 «Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo»

A vida dos mortais está cheia de armadilhas que nos fazem tropeçar, está cheia de redes de enganos [...]. E como o inimigo teceu essas redes por todo o lado,e nelas apanhou quase todos os homens, era necessário que aparecesse Alguém mais forte para as dominar, as romper, e para trilhar o rumo àqueles que O seguissem. Eis porque, antes de vir unir-se à Igreja como Sua esposa, também o Salvador foi tentado pelo diabo. [...] Ensinava desta maneira à Igreja que nãoseria por ociosidade e prazer, mas através de provações e tentações, que elahaveria de chegar a Cristo.

Mais ninguém poderia, de facto, triunfar daquelas teias. Porque «todospecaram», como está escrito (Rm 3, 23) [...]; Nosso Senhor e Salvador Jesusfoi o único que «não cometeu pecado» (1Pe 2,22). Mas o Pai «O fez pecado pornós» (2Co 5,21). [...] «De facto, Deus fez o que era impossível à Lei, porestar sujeita à fraqueza da carne: ao enviar o Seu próprio Filho, em carne idêntica à do pecado e como sacrifício de expiação pelo pecado, condenou opecado na carne» (Rm 8,3). Jesus entrou portanto naquelas teias, mas foi o único a não ficar nelas enleado. Mais ainda, tendo-as rompido e rasgado, deuconfiança à Igreja, de tal forma que ela ousou, a partir de então, calcar aospés as armadilhas, libertar-se das teias, e dizer cheia de alegria: «A nossa vida escapou como um pássaro do laço de caçadores; rompeu-se o laço e nós libertámo-nos» (Sl 123,7).

Também Ele sucumbiu à morte, mas voluntariamente e não, como nós, pelasujeição do pecado. Porque Ele foi o único a ter sido libertado de «entre osmortos» (Sl 87,6, LXX). E porque estava livre entre os mortos, venceu «aquele que tinha o poder da morte, isto é, o diabo» (Heb 2,14) e levou-lhe os«cativos em cativeiro» (Ef 4,8) que estavam prisioneiros na morte. Não só Ele próprio ressuscitou dos mortos, como, simultaneamente, «nos ressuscitou e nos sentou no alto do Céu, em Cristo» (Ef 2,5ss); «ao subir às alturas, levou cativos em cativeiro» (Ef 4,8).

Santo do dia - 26 de fevereiro

São Porfirio de Gaza

Porfírio teve muitos fatos prodigiosos em sua vida que começou em Tessalônica, na Grécia, onde nasceu no ano 347. Ele já era formado nas ciências quando, aos trinta e um anos, decidiu viver no deserto de Scete, no Egito onde se tornou um eremita e ficou por cinco anos. Depois visitou os lugares santos de Jerusalém e se estabeleceu às margens do rio Jordão, por outros cinco anos. Nessa ocasião conheceu o discípulo Marcos e se juntou à ele na evangelização. Mas a caverna onde residia era tão insalubre que Porfírio ficou muito doente, tendo que voltar a Jerusalém.

Recebeu então a notícia da morte dos pais, de quem tinha grande herança para receber. Mas, ele decidiu continuar pobre e mandou que todos os bens fossem divididos entre os pobres de sua terra natal. Depois, Porfírio teve um desmaio em Jerusalém e, de repente, viu-se frente a frente com Cristo crucificado, tendo ao seu lado o bom ladrão, Dimas. Jesus mandou que este levantasse Porfírio do chão, depois desceu Ele mesmo da cruz e deu-a ao santo, ordenando-lhe que cuidasse dela. Ao voltar do desmaio, Porfírio estava curado. A ordem recebida na visão foi aplicada por João, bispo de Jerusalém, que nomeou Porfírio como "guarda do santo lenho".

As notícias sobre as graças e prodígios que aconteciam com ele se espalharam e os sacerdotes de Gaza, após a morte do bispo, pediram que Porfírio assumisse o posto. A sua modéstia o impedia de aceitar, mas tantos foram os pedidos e a insistente atuação dos pagãos idólatras era tão intensa na cidade, que ele acabou concordando. Existia em Gaza um grande templo para adoração das divindades pagãs. Os infiéis, sabendo da decisão de Porfírio de combatê-los, planejaram matá-lo. Entretanto, o bispo acabou vencendo todos os inimigos pela fé.

Uma seca violenta assolou a região e os agricultores, desesperados, faziam muitos sacrifícios nesse templo, pedindo chuva aos deuses pagãos. Nenhuma gota de água caía do céu. Porfírio ordenou então, um dia de jejum. Depois comandou uma procissão de penitência à uma capela situada na periferia da cidade. Mal terminou a procissão, a chuva começou a cair, abençoada e insistente. A partir daí, a maioria dos pagãos passou a se converter.

Porém, sobraram ainda alguns poucos pagãos para tramar a morte do bispo Porfírio. Aconteceu, porem, que o imperador também passou a ficar contra os pagãos e o bispo conseguiu autorização para derrubar o templo pagão que estava instalado na diocese de Gaza. Ficou na cidade apenas uma última estátua pagã, a da deusa Vênus. Certo dia, o bispo colocou-se diante dela e a estátua desmoronou sozinha, formando dezenas de pedaços. Era o que faltava para que mais pagãos se convertessem.

A fama de santidade acompanhou o bispo Porfírio até sua morte, em 26 de fevereiro 420, aos setenta e três anos de idade, quando, depois dos vinte e cinco anos de episcopado, quase não havia pagãos na sua querida diocese de Gaza.

São Porfirio de Gaza, rogai por nós!

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Santo do dia - 25 de fevereiro

Santa Valburga

Valburga nasceu em Devonshire, na Inglaterra meridional em 710. Era uma princesa dos Kents, cristãos que desde o século III se sucediam no trono. Ela viveu cercada de nobreza e santidade. Seus parentes eram reverenciados nos tronos reais, mas muitos preferiram trilhar o caminho da santidade e foram elevados ao altar pela Igreja, como seu pai, são Ricardo e os irmãos Vilibaldo e Vunibaldo.

Valburga tinha completado dez anos quando seu pai entregou o trono ao sobrinho, que tinha atingido a maioridade e levou a família para viver num mosteiro. Poucos meses depois, o rei e os dois filhos partiram em peregrinação para Jerusalém, enquanto ela foi confiada à abadessa de Wimburn. Dois anos depois seu pai morreu em Luca, Itália. Assim ela ficou no mosteiro onde se fez monja e se formou. Depois escreveu a vida de Vunibaldo e a narrativa das viagens de Vilibaldo pela Palestina, pois ambos já eram sacerdotes.

Em 748, foi enviada por sua abadessa à Alemanha, junto com outras religiosas, para fundar e implantar mosteiros e escolas entre populações recém-convertidas. Na viagem, uma grande tempestade foi aplacada pelas preces de Valburga, por ela Deus já operava milagres. Naquele país, foi recebida e apoiada pelo bispo Bonifácio, seu tio, que consolidava um grande trabalho de evangelização, auxiliado pelos sobrinhos missionários.

Designou a sobrinha para a diocese de Eichestat onde Vunibaldo que havia construído um mosteiro em Heidenheim e tinha projeto para um feminino na mesma localidade. Ambos concluíram o novo mosteiro e Valburga eleita a abadessa. Após a morte do irmão, ela passou a dirigir os dois mosteiros, função que exerceu durante dezessete anos. Nessa época transpareceu a sua santidade nos exemplos de sua mortificação, bem como no seu amor ao silêncio e na sua devoção ao Senhor. As obras assistenciais executadas pelos seus religiosos fizeram destes mosteiros os mais famosos e procurados de toda a região.

Valburga se entregou a Deus de tal forma que os prodígios aconteciam com freqüência. Os mais citados são: o de uma luz sobrenatural que envolveu sua cela enquanto rezava, presenciada por todas as outras religiosas e o da cura da filha de um barão, depois de uma noite de orações ao seu lado.

Morreu no dia 25 de fevereiro de 779 e seu corpo foi enterrado no mosteiro de Heidenheim, onde permaneceu por oitenta anos. Mas, ao ser trasladado para a igreja de Eichestat, quando de sua canonização, em 893, o seu corpo foi encontrado ainda intacto. Além disso, das pedras do sepulcro brotava um fluído de aroma suave, como um óleo fino, fato que se repetiu sob o altar da igreja onde o corpo foi colocado.

Nesta mesma cerimônia, algumas relíquias da Santa foram enviadas para a França do Norte, onde o rei Carlos III, o Simples, havia construído no seu palácio de Atinhy, uma igreja dedicada a Santa Valburga. O seu culto, em 25 de fevereiro, se espalhou rápido, porque o óleo continuou brotando. Atualmente é recolhido em concha de prata e guardado em garrafinhas distribuídas para o mundo inteiro. Os devotos afirmam que opera milagres.

Santa Valburga, rogai por nós!

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

24 de fevereiro - Santo do dia

São Sérgio

Sérgio, mártir da Cesarea, na Capadócia, por muito pouco não se manteve totalmente ignorado na história do cristianismo. Nada foi escrito sobre ele nos registros gregos e bizantinos da Igreja dos primeiros tempos. Entretanto, ele passou a ter popularidade no Ocidente, graças a uma página latina, datada da época do imperador romano Diocleciano, onde se descreve todo seu martírio e o lugar onde foi sepultado.

O texto diz que no ano 304, vigorava a mais violenta perseguição já decretada contra os cristãos, ordenada pelo imperador Diocleciano. Todos os governadores dos domínios romanos, sob pena do confisco dos bens da família e de morte, tinham de executá-la. Entretanto alguns, já simpatizantes dos cristãos, tentavam em algum momento amenizar as investidas. Não era assim que agia Sapricio, um homem bajulador, oportunista e cruel que administrava a Armênia e a Capadócia, atual Turquia.

A narrativa seguiu dizendo que durante as celebrações anuais em honra do deus Júpiter, Sapricio, estava na cidade de Cesarea da Capadócia, junto com um importante senador romano. Num gesto de extrema lealdade, ordenou que todos os cristãos da cidade fossem levados para diante do templo pagão, onde seriam prestadas as homenagens àquele deus, considerado o mais poderoso de todos, pelos pagãos. Caso não comparecessem e fossem denunciados seriam presos e condenados à morte.

Poucos conseguiram fugir, a maioria foi ao local indicado, que ficou tomado pela multidão de cristãos, à qual se juntou Sérgio. Ele era um velho magistrado, que há muito tempo havia abandonado a lucrativa profissão para se retirar à vida monástica, no deserto. Foi para Cesarea, seguindo um forte impulso interior, pois ninguém o havia denunciado, o povo da cidade não se lembrava mais dele, podia continuar na sua vida de reclusão consagrada, rezando pelos irmãos expostos aos martírios. A sua chegada causou grande surpresa e euforia, os cristãos desviaram toda a atenção para o respeitado monge, gerando confusão. O sacerdote pagão que preparava o culto ficou irado. Precisava fazer com que todos participassem do culto à Júpiter, o qual, segundo ele, estava insatisfeito e não atendia as necessidades do povo. Desta forma, o imperador seria informado pelo seu senador e o cargo de governador continuaria com Sapricio. Mas, a presença do monge produziu o efeito surpreendente de apagar os fogos preparados para os sacrifícios. Os pagãos atribuíram imediatamente a causa do estranho fenômeno aos cristãos, que com suas recusas haviam irritado ainda mais o seu deus.

Sérgio, então se colocou à frente e explicou que a razão da impotência dos deuses pagãos era que estavam ocupando um lugar indevido e que só existia um único e verdadeiro Deus onipotente, o venerado pelos cristãos. Imediatamente foi preso, conduzido diante do governador, que o obrigou a prestar o culto à Júpiter. Sérgio não renegou a Fé, por isto morreu decapitado naquele mesmo instante. Era o dia 24 de fevereiro. O corpo do mártir, recolhido pelos cristãos, foi sepultado na casa de uma senhora muito religiosa. De lá as relíquias foram transportadas para a cidade andaluza de Ubeda, na Espanha.

São Sérgio, rogai por nós!

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Santo do dia - 23 de fevereiro

São Policarpo de Esmirna

Nascido em uma família cristã da alta burguesia no ano 69, em Esmirna, Ásia Menor, atual Turquia. Os registros sobre sua vida nos foram transmitidos pelo seu biógrafo e discípulo predileto, Irineu, venerado como o "Apóstolo da França" e sucessor de Timóteo em Lion. Policarpo foi discípulo do apóstolo João, e teve a oportunidade de conhecer outros apóstolos que conviveram com o Mestre. Ele se tornou um exemplo íntegro de fé e vida, sendo respeitado inclusive pelos adversários. Dezesseis anos depois, Policarpo foi escolhido e consagrado para ser o bispo de Esmirna para a Ásia Menor, pelo próprio apóstolo João, o Evangelista.

Foi amigo de fé e pessoal de Inácio Antioquia, que esteve em sua casa durante seu trajeto para o martírio romano em 107. Este escreveu cartas para Policarpo e para a Igreja de Esmirna, antes de morrer, enaltecendo as qualidades do zeloso bispo. No governo do papa Aniceto, Policarpo visitou Roma, representando as igrejas da Ásia para discutirem sobre a mudança da festa da Páscoa, comemorada em dias diferentes no Oriente e Ocidente. Apesar de não chegarem a um acôrdo, se despediram celebrando juntos a liturgia, demonstrando união na fé, que não se abalou pela divergência nas questões disciplinares.

Ao contrário de Inácio, Policarpo não estava interessado em administração eclesiástica, mas em fortalecer a fé do seu rebanho. Ele escreveu várias cartas, porém a única que se preservou até hoje foi a endereçada aos filipenses no ano 110. Nela, Policarpo exaltou a fé em Cristo, a ser confirmada no trabalho diário e na vida dos cristãos. Também citou a Carta de Paulo aos filipenses, o Evangelho, e repetiu as muitas informações que recebera dos apóstolos, especialmente de João. Por isto, a Igreja o considera "Padre Apostólico", como foram classificados os primeiros discípulos dos apóstolos.

Durante a perseguição de Marco Aurélio, Policarpo teve uma visão do martírio que o esperava, três dias antes de ser preso. Avisou aos amigos que seria morto pelo fogo. Estava em oração quando foi preso e levado ao tribunal. Diante da insistência do pro cônsul Estácio Quadrado para que renegasse a Cristo, Policarpo disse: "Eu tenho servido Cristo por 86 anos e ele nunca me fez nada de mal. Como posso blasfemar contra meu Redentor? Ouça bem claro: eu sou cristão"! Foi condenado e ele mesmo subiu na fogueira e testemunhou para o povo: "Sede bendito para sempre, ó Senhor; que o vosso nome adorável seja glorificado por todos os séculos". Mas a profecia de Policarpo não se cumpriu: contam os escritos que, mesmo com a fogueira queimando sob ele e à sua volta, o fogo não o atingiu.

Os carrascos foram obrigados a matá-lo à espada, depois quando o seu corpo foi queimado exalou um odor de pão cosido. Os discípulos recolheram o restante de seus ossos que colocaram numa sepultura apropriada. O martírio de Policarpo foi descrito um ano depois de sua morte, em uma carta datada de 23 de fevereiro de 156,enviada pela igreja de Esmirna à igreja de Filomélio. Trata-se do registro mais antigo do martirológio cristão existente.O santo deste dia é um dos grandes Padres Apostólicos, ou seja, pertencia ao número daqueles que conviveram com os primeiros apóstolos e serviram de elo entre a Igreja primitiva e a Igreja do mundo greco-romano.

São Policarpo foi ordenado Bispo de Esmirna pelo próprio São João, o Evangelista. De caráter reto, de elevado saber, amor à Igreja e fiel à ortodoxia da fé, era respeitado por todos no Oriente.

São Policarpo de Esmirna, rogai por nós!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Quarta-feira de Cinzas: Inicio da Quaresma - Significado da Cerimônia de Cinzas

A liturgia da Quarta-Feira de Cinzas recorda-nos nossa condição de mortais: "Memento homo quia pulvis es et in pulverem reverteris - Lembra-te, homem, de que és pó e ao pó hás de voltar" .... Neste início de Quaresma, procuremos, mais ainda do que a mortificação corporal, aceitar o convite que a Liturgia sabiamente nos faz, combatendo o amor próprio com todas as nossas forças. "Procurai o mérito, procurai a causa, procurai a justiça; e vede se encontrais outra coisa que não seja a graça de Deus". (Sto. Agostinho)


Ao receber daqui a pouco as cinzas sobre a cabeça, ouviremos mais uma vez um claro convite à conversão que pode expressar-se numa fórmula dupla: "Convertei-vos e acreditai no evangelho", ou: "Recorda-te que és pó e em pó te hás-de tornar".
Precisamente devido à riqueza dos símbolos e dos textos bíblicos, a Quarta-Feira de Cinzas é considerada a "porta" da Quaresma. De fato, a hodierna liturgia e os gestos que a distinguem formam um conjunto que antecipa de modo sintético a própria fisionomia de todo o período quaresmal. Na sua tradição, a Igreja não se limita a oferecer-nos a temática litúrgica e espiritual do itinerário quaresmal, mas indica-nos também os instrumentos ascéticos e práticos para o percorrer frutuosamente.
"Convertei-vos a mim de todo o vosso coração com jejuns, com lágrimas, com gemidos". (Joel 2,12). Os sofrimentos, as calamidades que afligiam naquele tempo a terra de Judá estimulam o autor sagrado a encorajar o povo eleito à conversão, isto é, a voltar com confiança filial ao Senhor dilacerando o seu coração e não as vestes. De fato, recorda o profeta, ele "é clemente e compassivo, paciente e rico em misericórdia e se compadece da desgraça" (2, 13). O convite que Joel dirige aos seus ouvintes também é válido para nós.
Não hesitemos em reencontrar a amizade de Deus perdida com o pecado; encontrando o Senhor experimentamos a alegria do seu perdão. E assim, quase respondendo às palavras do profeta, fizemos nossa a invocação do refrão do Salmo 50: "Perdoai-nos Senhor, porque pecamos". Proclamando, o grande Salmo penitencial, apelamo-nos à misericórdia divina; pedimos ao Senhor que o poder do seu amor nos volte a dar a alegria de sermos salvos.
Com este espírito, iniciamos o tempo favorável da Quaresma, como nos recordou São Paulo: "Aquele que não havia conhecido o pecado, diz ele, Deus o fez pecado por nós, para que nos tornássemos, nele, justiça de Deus" (2 Cor 5, 21), para nos deixarmos reconciliar com Deus em Cristo Jesus. O Apóstolo apresenta-se como embaixador de Cristo e mostra claramente como precisamente através d'Ele, seja oferecida ao pecador, isto é a cada um de nós, a possibilidade de uma reconciliação autêntica.
Só Cristo pode transformar qualquer situação de pecado em novidade de graça. Eis por que assume um forte impacto espiritual a exortação que Paulo dirige aos cristãos de Corinto: "Em nome de Cristo suplicamo-vos: reconciliai-vos com Deus"; e ainda: "Este é o tempo favorável, é este o dia da salvação" (5, 20; 6, 2). Enquanto Joel falava do futuro dia do Senhor como de um dia de terrível juízo, São Paulo, referindo-se às palavras do profeta Isaías, fala de "momento favorável", de "dia da salvação". O futuro dia do Senhor tornou-se o "hoje". O dia terrível transformou-se na Cruz e na Ressurreição de Cristo, no dia da salvação. E este dia é agora, como nos diz o Canto ao Evangelho: "Hoje não endureçais os vossos corações, mas ouvi a voz do Senhor". O apelo à conversão, à penitência ressoa hoje com toda a sua força, para que o seu eco nos acompanhe em cada momento da vida.
A liturgia da Quarta-Feira de Cinzas indica assim na conversão do coração a Deus a dimensão fundamental do tempo quaresmal. Esta é a chamada muito sugestiva que nos vem do tradicional rito da imposição das cinzas, que daqui a pouco renovaremos. Rito que assume um dúplice significado: o primeiro relativo à mudança interior, à conversão e à penitência, enquanto o segundo recorda a precariedade da condição humana, como é fácil compreender das duas fórmulas diversas que acompanham o gesto.
Amados irmãos e irmãs, temos quarenta dias para aprofundar esta extraordinária experiência ascética e espiritual. No Evangelho (cf. Mt 6, 1-6.16-18), Jesus indica quais são os instrumentos úteis para realizar a autêntica renovação interior e comunitária: as obras de caridade (a esmola), a oração e a penitência (o jejum). São as três práticas fundamentais queridas também à tradição hebraica, porque contribuem para purificar o homem aos olhos de Deus.
Estes gestos exteriores, que devem ser realizados para agradar a Deus e não para obter a aprovação e o consenso dos homens, são por Ele aceites se expressam a determinação do coração a servi-l'O, com simplicidade e generosidade. Recorda-nos isto também um dos Prefácios quaresmais onde, em relação ao jejum, lemos esta singular expressão: "ieiunio... mentem elevas: com o jejum elevas o espírito" (Prefácio IV).
O jejum, ao qual a Igreja nos convida neste tempo forte, certamente não nasce de motivações de ordem física ou estética, mas brota da exigência que o homem tem de uma purificação interior que o desintoxique da poluição do pecado e do mal; que o eduque para aquelas renúncias saudáveis que libertam o crente da escravidão do próprio eu; que o torne mais atento e disponível à escuta de Deus e ao serviço dos irmãos. Por esta razão o jejum e as outras práticas quaresmais são consideradas pela tradição cristã "armas" espirituais para combater o mal, as paixões negativas e os vícios.
A este propósito, apraz-me ouvir de novo convosco um breve comentário de São João Crisóstomo. "Como no findar do Inverno escreve ele volta a estação do Verão e o navegante arrasta para o mar a nave, o soldado limpa as armas e treina o cavalo para a luta, o agricultor lima a foice, o viandante revigorado prepara-se para a longa viagem e o atleta depõe as vestes e prepara-se para as competições; assim também nós, no início deste jejum, quase no regresso de uma Primavera espiritual forjamos as armas como os soldados, limamos a foice como os agricultores, e como timoneiros reorganizamos a nave do nosso espírito para enfrentar as ondas das paixões. Como viandantes retomamos a viagem rumo ao céu e como atletas preparamo-nos para a luta com o despojamento de tudo" (Homilias ao povo antioqueno, 3).
Na mensagem para a Quaresma, convidei a viver estes quarenta dias de especial graça como um tempo "eucarístico". Haurindo daquela fonte inexaurível de amor que é a Eucaristia, na qual Cristo renova o sacrifício redentor da Cruz, cada cristão pode perseverar no itinerário que hoje empreendemos solenemente. As obras de caridade (a esmola), a oração, o jejum juntamente com qualquer outro esforço sincero de conversão encontram o seu significado mais alto e valor na Eucaristia, centro e ápice da vida da Igreja e da história da salvação. "Este sacramento que recebemos, ó Pai assim rezamos no final da Santa Missa nos ampare no caminho quaresmal, santifique o nosso jejum e o torne eficaz para a cura do nosso espírito".
Pedimos a Maria que nos acompanhe para que, no final da Quaresma, possamos contemplar o Senhor ressuscitado, interiormente renovados e reconciliados com Deus e com os irmãos. Amém!
Adaptação da Homilia do Papa Bento XVI - Quarta-feira de Cinzas, 21 de Fevereiro de 2007 - Basílica de Santa Sabina no Aventino.
www.vatican.va

Significado da Cerimônia de Cinzas
A Igreja nos indica, nas orações recitadas por seus ministros, o significado da cerimônia das Cinzas: "Ó Deus, que não quereis a morte do pecador mas a sua conversão, escutai com bondade as nossas preces e dignai-vos abençoar estas cinzas que vamos colocar sobre as nossas cabeças. E assim reconhecendo que somos pó e que ao pó voltaremos, consigamos, pela observância da Quaresma, obter o perdão dos pecados e viver uma vida nova à semelhança do Cristo ressuscitado". É, pois, a penitência que a Igreja nos quer ensinar pela cerimônia deste dia.
Já no Antigo Testamento os homens cobriam se de cinzas para exprimir sua dor e humilhação, como se pode ler no livro de Jó. Nos primeiros séculos da Igreja os penitentes públicos apresentavam-se nesse dia ao bispo ou penitenciário: pediam perdão revestidos de um saco, e como sinal de sua contrição cobriam a cabeça de cinzas. Mas como todos os homens são pecadores, diz santo Agostinho, essa cerimônia estendeu-se a todos os fiéis, para lhes recordar o preceito da penitência. Não havia exceção alguma: pontífices, bispos, sacerdotes, reis, almas inocentes, todos se submetiam a essa humilhante expressão de arrependimento.
Tenhamos os mesmos sentimentos: deploremos as nossas faltas ao recebermos das mãos do ministro de Deus as cinzas bentas pelas orações da Igreja. Quando o sacerdote nos disser "lembra-te que és pó, e ao pó hás de tornar", ou "convertei-vos e crede no Evangelho", enquanto impõe as cinzas, humilhemos o nosso espírito pelo pensamento da morte que, reduzindo-nos ao pó, nos porá sob os pés de todos. Assim dispostos, longe de lisonjearmos o nosso corpo destinado à dissolução, decidir-nos-emos a tratá-lo com dureza, a refrear o nosso paladar, os nossos olhos, os nossos ouvidos, a nossa língua, todos os sentidos; a observar, o mais possível, o jejum e a abstinência que a Igreja nos prescreve.
Meu Deus, inspirai-me verdadeiros sentimentos de humildade, pela consideração do meu nada, ignorância e corrupção. Dai-me o mais vivo arrependimento das minhas iniqüidades, que feriram vossas perfeições infinitas, contristaram vosso coração de pai, crucificaram vosso Filho dileto, e me causaram um mal maior do que a perda da vida do corpo, pois que o pecado mortal é a morte da alma e nos expõe a uma morte eterna.
A Igreja sempre admoestou os fiéis a não nos se contentarem com sinais externos de penitência, mas a lhe beberem o espírito e os sentimentos. Jejuemos, diz ela, como o Senhor deseja, mas acompanhemos o jejum com lágrimas de arrependimento, prosternando-nos diante de Deus e deplorando a nossa ingratidão na amargura dos nossos corações. Mas essa contrição, para ser proveitosa, deve ser acompanhada de confiança. Por isso a Igreja sempre nos lembra que nosso Deus é cheio de bondade e misericórdia, sempre pronto a perdoar-nos, o que é um forte motivo para esperarmos firmemente a remissão das nossas faltas, se delas nos arrependermos. Deus não despreza jamais um coração contrito e humilhado.
A liturgia termina exortando-nos a tomarmos generosas resoluções confiando em Deus: "Pecamos, Senhor, porque nos esquecemos de vós. Voltemo-nos logo para o bem, sem esperar que a morte chegue e que já não haja tempo. Ouvi-nos, Senhor, tende piedade, porque pecamos contra vós. Ajudai-nos, ó Deus salvador, pela glória do vosso nome libertai-nos". O pensamento da morte convida-nos ainda a viver mais santamente, e quão eficaz é essa recordação!
À borda do túmulo e à porta do tribunal supremo, quem ousaria enfrentar o seu Juiz, ofendendo-o e recusando o arrependimento ou vivendo na negligência, tibieza e relaxamento? Colocai-vos em espírito em vosso leito de morte e armai-vos dos sentimentos de compunção que então quereríeis ter. Depositai vossa confiança na misericórdia divina, nos méritos de Jesus e na intercessão da divina Mãe. Prometei ainda ao Senhor:

- 1º de cortar aos vossos pensamentos, conversas e procedimento tudo o que lhe desagrada;

- 2º de viver quanto possível na solidão, no silêncio e, sobretudo, no recolhimento interior que favorece em vosso espírito a oração e vos separa de tudo que não é Deus.
Adaptado de Quarta-Feira de Cinzas, em Meditações para todos os dias do ano. Pe. Luís Bronchain CSSR, Petrópolis, Editora Vozes, 1949 (2ª edição em português, pag. 132-134)

Quarta-feira de Cinzas - Evangelho do dia

EVANGELHO COTIDIANO

Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vidaeterna. João 6, 68

QUARTA-FEIRA DE CINZAS

Evangelho segundo S. Mateus 6,1-6.16-18.
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Guardai-vos de fazer asvossas boas obras diante dos homens, para vos tornardes notados por eles; de outro modo, não tereis nenhuma recompensa do vosso Pai que está no Céu.
Quando, pois, deres esmola, não permitas que toquem trombeta diante de ti,como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, a fim de serem louvados pelos homens. Em verdade vos digo: Já receberam a sua recompensa.
Quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua direita,
a fim de que a tua esmola permaneça em segredo; e teu Pai, que vê o oculto,há-de premiar-te.»
«Quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar de pé nas sinagogas e nos cantos das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa.
Tu,porém, quando orares, entra no quarto mais secreto e, fechada a porta, reza em segredo a teu Pai, pois Ele, que vê o oculto, há-de recompensar-te.
«E,quando jejuardes, não mostreis um ar sombrio, como os hipócritas, que desfiguram o rosto para que os outros vejam que eles jejuam. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa.
Tu, porém, quando jejuares, perfumaa cabeça e lava o rosto, para que o teu jejum não seja conhecido dos homens, mas apenas do teu Pai que está presente no oculto; e o teu Pai, que vê no oculto, há-de recompensar-te.»

Comentário ao Evangelho do dia feito por: São Gregório Magno

Quarenta dias para crescer no amor de Deus e do próximo

Iniciamos hoje os santos quarenta dias da quaresma, e convém-nos examinar atentamente por que razão esta abstinência é observada durante quarenta dias.Moisés, para receber a Lei pela segunda vez, jejuou quarenta dias (Gn 34,28).Elias, no deserto, absteve-se de comer durante quarenta dias (1Rs 19,8). O Criador dos homens, ao vir para o meio dos homens, não tomou qualquer alimento durante quarenta dias (Mt 4,2). Esforcemo-nos também nós, tanto quanto nos for possível, por refrear o nosso corpo pela abstinência neste tempo anual dos santos quarenta dias [...], a fim de nos tornarmos, segundo a palavra de Paulo, «uma hóstia viva» (Rom 12,1). O homem é, ao mesmo tempo, uma oferenda viva e imolada (cf Ap 5,6) quando, sem deixar esta vida, faz morrer nele os desejos deste mundo.

Foi a satisfação da carne que nos levou ao pecado (Gn 3,6); que a carne mortificada nos leve ao perdão. O autor da nossa morte, Adão, transgrediu os preceitos de vida comendo o fruto proibido da árvore. É por conseguinte necessário que nós, que fomos privados das alegrias do Paraíso pelo alimento,nos esforcemos por reconquistá-las pela abstinência.

Mas ninguém suponha que esta abstinência é suficiente. O Senhor disse pela boca do profeta: «O jejum que Eu aprecio é este, [...] repartir o teu pão como esfomeado, dar abrigo aos infelizes sem asilo, vestir o nu, e não desprezar o teu irmão» (Is 58,6-7). Eis o jejum que Deus aprova [...]: um jejum realizado no amor ao próximo e impregnado de bondade. Prodigaliza pois aos outros daquilo que retiras a ti próprio; assim, a tua penitência corporal permitir-te-á cuidar do bem-estar físico do teu próximo em necessidade.

22 de fevereiro - Santo do dia

Santa Margarida de Cortona

A penitência marcou a vida de Margarida que nasceu em 1247, em Alviano, Itália. Foi por causa de sua juventude, período em que experimentou todos os prazeres de uma vida voltada para as diversões mais irresponsáveis.

Margarida ficou órfã de mãe, quando ainda era muito criança. O pai se casou de novo e a pequena menina passou a sofrer duramente nas mãos da madrasta. Sem apoio familiar, ela cresceu em meio a toda sorte de desordens, luxos e prazeres. No início da adolescência se tornou amante de um nobre muito rico e passou a desfrutar de sua fortuna e das diversões mundanas.

Um dia, porém, o homem foi vistoriar alguns terrenos dos quais era proprietário e foi assassinado. Margarida só descobriu o corpo, alguns dias depois, levada misteriosamente até ele pela cachorrinha de estimação que acompanhara o nobre na viagem. Naquele momento, a moça teve o lampejo do arrependimento. Percebeu a inutilidade da vida que levava e voltou para a casa paterna, onde pretendia passar o resto da vida na penitência.

Para mostrar publicamente sua mudança de vida, compareceu à missa com uma corda amarrada ao pescoço e pediu desculpas a todos pelos excessos da sua vida passada. Só que essa atitude encheu sua madrasta de inveja, que fez com que ela fosse expulsa da paróquia. Margarida sofreu muito com isso e chegou a pensar em retomar sua vida de luxuria e riqueza. No entanto, com firmeza conseguiu se manter dentro da decisão religiosa, procurando os franciscanos de Cortona e conseguindo ser aceita na Ordem Terceira.

Para ser definitivamente incorporada à Ordem teria que passar por três anos de provação. Foi nesta época que ela se infligiu as mais severas penitências, que foram vistas como extravagantes, relatadas nos antigos escritos, onde se lê também que a atitude foi tomada para evitar as tentações do demônio. Seus superiores passaram a orienta-la e isso a impediu de cometer excessos nas penitências.

Aos vinte e três anos Margarida de Cortona, como passou a ser chamada, foi premiada com várias experiências de religiosidade que foram presenciadas e comprovadas pelos seus orientadores espirituais franciscanos. Recebeu visitas do anjo da guarda, teve visões, revelações e mesmo aparições de Jesus, com quem conversava com freqüência durante suas orações contemplativas.

Ela percebeu que o momento de sua morte se aproximava e foi ao encontro de Jesus serenamente, no dia 22 de fevereiro de 1297. Margarida de Cortona foi canonizada pelo Papa Bento XIII em 1728 e o dia de sua morte indicado para a sua veneração litúrgica.

Santa Margarida de Cortona, rogai por nós!

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

21 de fevereiro - Santo do dia

São Pedro Damião

São Pedro Damião, Bispo e Doutor da Igreja. Nasceu em Ravena, Itália no ano de 1907. Marcado desde cedo pelo sofrimento porque perdeu os seus pais, foi morar e viver com seu irmão. No amor e no acolhimento, São Pedro Damião pode discernir a sua vocação.

Oração e penitência, algo que sempre acompanhou a vida de Pedro Damião; e algo que também precisa nos acompanhar constantemente.

São Pedro Damião discerniu sua vocação à vida religiosa e entrou para a Ordem dos Camaldulenses, no mosteiro de Fonte Avellana, na Úmbria, onde religiosos austeros levavam vida de eremitas.

Diante das regras e do que ele via e percebia, era preciso uma renovação a começar por ele. Ao se abrir a ação do Espírito Santo, ao ser obediente às regras, outros também foram se ajuntando a Pedro Damião, fundaram outros mosteiros e deram essa contribuição.

A renovação de qualquer instituição passa pela renovação pessoal, e também é válido para os tempos de hoje. As reclamações, as acusações, as rebeliões nada renovam, mas a decisão pessoal, a abertura a Deus, isso sim, pode provocar, como provocou na vida e na história de São Pedro Damião, uma renovação.

Deus pediu mais, e ele foi servir de maneira mais próxima a hierarquia da Igreja, sendo conselheiro de um Papa. Foi Bispo de Óstia, lugar perto de Roma, e também foi escolhido como Cardeal. Algo que marcou a sua história.

São Pedro Damião, sua própria vida nos aconselha a oração, a penitência e ao amor que se compromete com a renovação dos outros, pois a partir da renovação pessoal, nós também ajudamos na renovação do outro e das instituições.

A Igreja precisa ser renovada constantemente, para isso somos chamados a nossa renovação pessoal, a conversão diária. Peçamos a intercessão do santo de hoje que foi Bispo, Cardeal e Doutor da Igreja.

São Pedro Damião, rogai por nós!

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Santo do dia - 20 de fevereiro

Beatos Francisco e Jacinta
No ano de 1908, nasceu Francisco Marto. Em 1910, Jacinta Marto. Filhos de Olímpia de Jesus e Manuel Marto. Eles pertenciam a uma grande família; e eram os mais novos de nove irmãos.

A partir da primavera de 1916, a vida dos jovens santos portugueses sofreria uma grande transformação: as diversas aparições do Anjo de Portugal (o Anjo da Paz) na "Loca do Cabeço" e, depois, na "Cova da Iria". A partir de 13 de maio de 1917, Nossa Senhora apareceria por 6 vezes a eles.

O mistério da Santíssima Trindade, a Adoração ao Santíssimo Sacramento, a intercessão, o coração de Jesus e de Maria, a conversão, a penitência... Tudo isso e muito mais foi revelado a eles pelo Anjo e também por Nossa Senhora, a Virgem do Rosário.

Na segunda aparição, no mês de junho, Lúcia (irmã de Jacinta e Francisco) fez um pedido a Virgem do Rosário: que ela levasse os três para o Céu. Nossa Senhora respondeu-lhe: "Sim, mas Jacinta e Francisco levarei em breve". Os bem-aventurados vivenciaram e comunicaram a mensagem de Fátima. Esse fato não demorou muito. Em 4 de abril de 1919, Francisco, atingido pela grave gripe espanhola, foi uma das primeiras vítimas em Aljustrel. Suas últimas palavras foram: "Sofro para consolar Nosso Senhor. Daqui, vou para o céu".

Jacinta Marto, modelo de amor que acolhe, acolheu a dor na grave enfermidade, tendo até mesmo que fazer uma cirurgia sem anestesia. Tudo aceitou e ofereceu, como Nossa Senhora havia lhe ensinado, por amor a Jesus, pela conversão dos pecadores e em reparação aos ultrajes cometidos contra o coração imaculado da Virgem Maria. Por conta da mesma enfermidade que atingira Francisco, em 20 de fevereiro de 1920, ela partiu para a Glória.

No dia 13 de maio do ano 2000, o Papa João Paulo II esteve em Fátima, e do 'Altar do Mundo' beatificou Francisco e Jacinta, os mais jovens beatos cristãos não-mártires.

Beatos Francisco e Jacinta, rogai por nós!

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Evangelho do Dia

EVANGELHO COTIDIANO

Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna. João 6, 68

7º Domingo do TempoComum

Evangelho segundo S. Marcos 2,1-12.
Quando Jesus entrou de novo em Cafarnaúm e se soube que estava em casa,
Juntou-se tanta gente que nem mesmo à volta da porta havia lugar, eanunciava-lhes a Palavra.
Vieram, então, trazer-lhe um paralítico,transportado por quatro homens.
Como não podiam aproximar-se por causa da multidão, descobriram o tecto no sítio onde Ele estava, fizeram uma abertura e desceram o catre em que jazia o paralítico.

Vendo Jesus a fé daqueles homens, disse ao paralítico: «Filho, os teus pecados estão perdoados.»
Ora estavam lá sentados alguns doutores da Lei quediscorriam em seus corações:
«Porque fala este assim? Blasfema! Quempode perdoar pecados senão Deus?»

Jesus percebeu logo, em seu íntimo, que eles assim discorriam; e disse-lhes: «Porque discorreis assim em vossos corações? Que é mais fácil? Dizer ao paralítico: 'Os teus pecados estãoperdoados’, ou dizer: 'Levanta-te, pega no teu catre e anda’?
Pois bem,para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder para perdoar os pecados,
Eu te ordeno disse ao paralítico: levanta-te, pega no teu catree vai para tua casa.»

Ele levantou-se e, pegando logo no catre, saiu à vista de todos, de modo que todos se maravilhavam e glorificavam a Deus,dizendo: «Nunca vimos coisa assim!»



Comentário ao Evangelho do dia feito por: São Pedro Crisólogo (c. 406-450), bispo de Ravena, doutor da Igreja


«Quem pode perdoar pecados senão Deus?»

«Filho, os teus pecados estão perdoados.» Com estas palavras queria Cristo serreconhecido como Deus, enquanto Se escondia ainda, porém, dos olhos humanossob o aspecto de um homem. Por causa das manifestações do Seu poder e dosmilagres que realizava, comparavam-n'O aos profetas; e no entanto era graças aEle e ao Seu poder que também estes tinham realizado milagres. Não está nopoder do homem perdoar os pecados; isto é a marca própria de Deus. ComeçavaJesus, assim, a revelar a Sua natureza divina ao coração dos homens – o quefaz que os Fariseus fiquem loucos de raiva. Retorquem: «Blasfema! Quem podeperdoar pecados senão Deus?»


Tu, Fariseu, crês que sabes, mas não passas de um ignorante! Crês que venerasa Deus, mas não O reconheces! Crês que dás testemunho, mas desferes golpes! Seé Deus Quem perdoa os pecados, porque não admites a natureza divina de Cristo?Porque pôde conceder o perdão de um só pecado, é pois Ele Quem aniquila opecado do mundo inteiro: «Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo»(Jo 1, 29). Para que possas compreender a Sua natureza divina, escuta-O – poisEle penetrou no âmago do teu ser. Olha-O: Ele alcançou os teus mais profundospensamentos. Compreende, então, Aquele que põe a nu as intenções secretas doteu coração.

19 de fevereiro - Santo do dia

São Gabino

Gabino nasceu na Dalmácia, atual Bósnia , numa família da nobreza romana cristã, radicada naquele território. Na idade adulta, ele foi viver em Roma com a intenção de se aproximar da Igreja, mesmo sabendo dos sérios riscos que correria. Nesta cidade, ele se tornou senador e se casou. Com a morte da esposa, Gabino decidiu ser padre. Transformou sua casa numa igreja, consagrou a jovem filha Suzana, à Cristo, e a educou com a ajuda do irmão Caio, que já era sacerdote. Juntos, eles exerciam o apostolado em paz, convertendo pagãos, ministrando a comunhão e executando a santa missa, enfim fortificando a Igreja neste período de trégua das perseguições.

Segundo os registros encontrados, Gabino e os familiares, eram aparentados do imperador Diocleciano. Assim, quando o soberano desejou ter a filha de Gabino como nora, não conseguiu. Enviou até mesmo um emissário para convencer a jovem, que não cedeu, decidida a se manter fiel à Cristo, sendo apoiada pelo pai e o tio Caio, que fora eleito papa, em 283. O imperador ficou mais irritado do que já estava, devido as tensões que circundavam o Império Romano em crescente decadência. Decretou a perseguição mais severa registrada na História do Cristianismo, apontado como causador de todos os males. O parentesco com o soberano de nada serviu, pois o final foi trágico para todos.

Quando começou esta perseguição, verificamos pelos registros encontrados que o padre Gabino, não mediu esforços para consolar e amparar os cristãos escondidos. Enfrentou com serenidade o perigo, andando quilômetros e quilômetros a pé, indo de casa em casa, de templo em templo, animando e preparando, os fiéis para o terrível sacrifício que os aguardava. Montanhas, vales, rios, florestas, nada o impedia nesta caminhada para animar os aflitos. Foram várias as missas rezadas por ele em catacumbas ou cavernas secretas, onde ministrava a comunhão aos que seriam martirizados. Finalmente foi preso, junto com a filha, que também foi sacrificada.

Gabino foi torturado, julgado e como não renegou a fé, foi condenado à morte por decapitação. Antes da execução, o mantiveram preso numa minúscula cela sem luz, onde passou fome, sede e frio, durante seis meses, quando foi degolado em 19 de fevereiro de 296, em Roma.

Ele não foi um simples padre, mas sim, um marco da fé e um símbolo do cristianismo. No século V, sua antiga casa, que havia sido uma igreja secreta, tornou-se uma grande basílica. Em 738, o seu culto foi confirmado durante a cerimônia de traslado das relíquias de São Gabino, para a cripta do altar principal desta basílica, onde repousam ao lado das de sua santa filha.

No século XV, a basílica foi inteiramente reformada pelo grande artista e arquiteto Bernini, sendo considerada atualmente uma das mais belas existentes na cidade do Vaticano. A sua festa litúrgica ocorre no dia de sua morte.

São Gabino, rogai por nós

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Santo do dia - 18 de fevereiro

São Flaviano

Flaviano pertencia à alta aristocracia romana e era convertido ao cristianismo. Na época do Imperador Constantino, foi eleito governador de Roma, dadas a sua grande inteligência e boa moral. Quando, porém, o imperador morreu e em seu lugar assumiu seu filho Constâncio, este deu início à perseguição dos cristãos e, logo, Flaviano foi destituído de seu cargo.

Ele, porém, não se intimidou e passou a dedicar seus dias a confortar e estimular os cristãos. Morto Constâncio, assumiu Julião, que deu continuidade à perseguição, empreendendo-a ainda com mais ênfase. Flaviano que já era um sacerdote cristão se destacava muito pela prática radical do Evangelho e por sua defesa contra os hereges.

Assim, em 446 foi eleito patriarca de Constantinopla, que na época era capital do Império Romano, já que o mundo católico se via estremecido por agitações político-religiosas e sua atuação poderia reverter este processo. Flaviano assumiu com mão de ferro o posto, mas em seu primeiro ato oficial já pode ter uma idéia dos conflitos que viriam.

Era costume o patriarca, assim que assumia, mandar um presente simbólico ao imperador. Ele enviou então um pão bento durante a missa solene, como símbolo de paz e concórdia. O primeiro-ministro mandou o pão abençoado de volta, dizendo que só aceitaria presentes em ouro e prata. Flaviano respondeu que o ouro e a prata da Igreja não pertenciam a ele, mas a Deus e aos pobres, seus legítimos representantes na Terra. Tanto o imperador quanto o ministro juraram vingança, e as pressões começaram.

Flaviano enfrentou várias dissidências que depois seriam consideradas heresias em concílios realizados para julgá-las. Entre elas, a mais significativa foi a que queria tirar de Jesus seu caráter humano. Isso significaria aceitar que a divindade de Jesus teria assimilado e absorvido sua humanidade. Flaviano conseguiu o apoio do Papa Leão Magno, em Roma, mas foi traído pela parte do clero que defendia a tese.

Nenhuma das decisões conciliares foi aprovada pelo papa, a não ser o chamado Tomo a Flaviano, carta enviada pelo papa São Leão Magno ao presidente do concílio, condenando as heresias de Nestório e de Eutiques.

Flaviano foi praticamente assassinado durante a assembléia ecumênica que, por isso é chamada o conciliábulo de Éfeso Isto mesmo, maus religiosos se uniram aos políticos e os inimigos conseguiram sua deposição do cargo. O bispo Flaviano foi preso e ali mesmo torturado tão cruelmente que ele não agüentou e, logo depois, veio a falecer vítima delas, no dia 18 de fevereiro de 449.

Dois anos depois o Papa Leão Magno, que também é venerado pela Igreja, convocou um concílio, onde a verdade foi restabelecida. Aceitavam-se as duas naturezas de Jesus, a divina e a humana e os contrários foram declarados hereges. No mesmo concílio a figura do bispo Flaviano foi reabilitada e ele declarado mártir pela ortodoxia da fé cristã. O culto à São Flaviano se mantém vivo e vigoroso ainda hoje e sua festa litúrgica ocorre no dia de sua morte.

São Flaviano, rogai por nós!

Entrevista integral com Eleonora Menicucci, nova ministra do governo Dilma e defensora do aborto

Nota dos Editores do Blog CATOLICISMO BRASIL

O Blog CATOLICISMO BRASIL mantém inalterado os seus princípios básicos e que estão claramente expostos na página inicial e que transcrevemos:

“Este Blog se propõe a divulgar o catolicismo segundo princípios da Igreja Católica Apostólica Romana. Os criadores do Blog, não estão autorizados a falar em nome da Igreja, não são Sacerdotes e nem donos da verdade. Buscam apenas ser humildes e anônimos missionários na Internet. É também um espaço para postagem de orações, comentários e opiniões.
Defendemos a Igreja conservadora. Acreditamos em DEUS e nos entregamos nos braços de MARIA. Que DEUS nos ilumine e proteja.”

Por inúmeras razões não estamos conseguindo ter o desenvolvimento pretendido e nosso crescimento tem sido lento, mas constante. Com certeza precisamos e muito de colaboradores no sentido de postar artigos, levantar questionamentos e isto pode ser feito tanto através do FALE CONOSCO que está ao dispor dos nossos leitores quando através do e-mail: marcon89@hotmail.com

Só que o trabalho de divulgação dos princípios da Igreja Católica Apostólica Romana exige que também - mesmo sendo um Blog APOLITICO – estejamos alertas para os atentados contra a VIDA, contra a RELIGIÃO, contra a FAMÍLIA, contra a MORAL e os BONS COSTUMES que estão sendo constantemente perpetrados ou tentados no Brasil pelo próprio governo.

Em busca de cumprir este DEVER DE ALERTAR vez ou outra postamos algum material que pode ser considerado de natureza política.

Em 13 do corrente publicamos o POST:

Para o PT tudo é válido para conseguir a liberação total do aborto

- e o mesmo continha um LINK que remetia ao site da UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA com uma entrevista da atual ministra da Secretaria das Mulheres , ELEONORO MENICUCCI, na qual a mesma declara ser a favor do aborto, ter realizado dois abortos, ter feito na Colômbia ‘curso de aborto’ permitindo até o auto-aborto, se declara ‘avó do aborto’ e declara ter orgulho de ter uma filha gay.

Naturalmente que ocorreram fortes pressões contra referida ministra e o governo federal providenciou a desativação do LINK referido cujo endereço é:

http://www.ieg.ufsc.br/admin/downloads/entrevistas/29092009-111002menicucci.pdf

O POST: Para o PT tudo é válido para conseguir a liberação total do aborto continua disponível para leitura de qualquer interessado, bastando clicar no LINK acima.

Tivemos o cuidado de preservar a entrevista em outros meios – tanto em PDF como no WORD e a transcrevemos abaixo, na íntegra:

“Entrevista com a ministra das Mulheres e que foi retirada do site da Universidade Federal de Santa Catarina, por determinação do governo, haja vista que na mesma a ministra aborteira confessa a prática de dois abortos, confirma que fez CURSO DE ABORTO na Colômbia, se orgulha de ter uma filha gay e se auto-intitula ‘avó do aborto’

LEIAM E VEJAM QUE A MINISTRA NÃO TEM CONDIÇÕES ÉTICAS OU DE DECORO DE SER MINISTRA.”

Segue a entrevista:

Entrevista com a atual ministra da Secretaria das Mulheres, socióloga Eleonora Menicucci de Oliveira.
Eleonora Menicucci de Oliveira, nasceu em Lavras, Minas Gerais, em 1944, é Professora de Ciências Humanas em Saúde da Universidade Federal de São Paulo, atuou em grupo clandestino durante a ditadura sendo militante da POLOP e da POC. Reside em São Paulo.
Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais (1974), mestrado em Sociologia pela Universidade Federal da Paraíba (1983) e doutorado em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (1990) e Livre Docência em Saúde Coletiva pela Faculdade de Saúde Pública da USP.

Atualmente é servidora publica da Universidade Federal de São Paulo lotada como docente no Departamento de Medicina Preventiva da UNIFESP. Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Sociologia da Saúde, atuando principalmente nos seguintes temas: direitos humanos, direitos reprodutivos e sexuais, autonomia, aborto-escolha, violência doméstica e sexual, políticas públicas, avaliação qualitativa e autodeterminação.

Joana: Hoje é dia 14 de outubro de 2004 e nós estamos em Cárceres no evento que se chama Corpo, Sexualidade e Gênero, ou qualquer coisa nessa direção, promovido pela Universidade Estadual de Cárceres, e eu estou aqui conversando com a Eleonora Menicucci. E eu gostaria que tu começasses falando de onde é que tu nasceste, porque o que eu quero mesmo é que tu me contes quando é que tu achaste que tu eras feminista, que é essa a minha discussão, a identificação com o feminismo.
Eleonora: Uhum.
Joana: Tá certo?
Eleonora: Entendi.
Joana: Mas eu queria que tu falasses primeiro com que nome tu nasceste, Eleonora Menicucci mesmo?
Eleonora: Eleonora Menicucci de Oliveira. Eu nasci em Lavras, interior de Minas, sul de Minas, no dia 21 de agosto de 1944, no ano do final da Guerra, da Segunda Guerra. Eu sou a segunda de seis filhos, cinco mulheres e um homem, (uma morreu ainda pequena) e fui basicamente educada só por mãe porque meu pai morreu quando eu tinha onze anos.
Joana: Há é?
Eleonora: Com quarenta e quatro anos e minha mãe tinha trinta e cinco.
Joana: Tu eras a mais nova então?
Eleonora: A segunda.
Joana: A segunda.
Eleonora: A segunda de cinco filhos. Sendo quatro mulheres e o mais novo homem.
Joana: Tá.


Eleonora: Eu atualmente resido em São Paulo na rua João Moura, 476 apartamento 51 em Pinheiros. Eu atualmente sou socióloga sanitarista, professora livre docente do Departamento de Medicina Preventiva, dedicação exclusiva na Universidade Federal de São Paulo ligada à disciplina de Ciências Humanas em Saúde.
Joana: Faculdade de Medicina, no caso?
Eleonora: Antiga Escola Paulista de Medicina, hoje chama Universidade Federal de São Paulo. E atualmente eu também estou exercendo a vice pró-reitoria de pesquisa na minha universidade.
Joana: É?
Eleonora: É, recentíssimo, há dois meses. Eu sempre fui professora. Lecionei na Universidade Federal da Paraíba.
Joana: Tu começasses no primário, nada?
Eleonora: Eu fiz o colegial, eu fiz o curso normal até então...
Joana: Há é, fizeste o curso normal?
Eleonora: É em Belo Horizonte. E do curso normal... não, em Lavras. E me formei em 1963 como professora primária, imediatamente depois eu fui pra Belo Horizonte e aí me... Imediatamente eu fui lecionar num colégio de primeiro e segundo grau particular e entrei para o partido comunista.
Joana: Isso era que ano mais ou menos?
Eleonora: 1964, no ano do Golpe.
Joana: 64.
Eleonora: 64, no ano do Golpe. Ai entrei pra universidade neste mesmo ano.


Joana: Tá. Fosse fazer faculdade.
Eleonora: Fui fazer faculdade.
Joana: Sociologia, no caso?
Eleonora: Não, eu fiz Pedagogia. É porque...aí um mês depois o partido achou que eu deveria pedir transferência para Ciências Sociais, aí teve um novo vestibular...
Joana: Tá.
Eleonora: ...no mesmo ano em abril eu entrei para Ciências Sociais, chamada Ciências Sociais, né? E lecionava, fiz concurso pra ser professora de escola pública...
Joana: Há tu fosse professora de quinta à oitava série.
Eleonora: em Belo Horizonte, fui professora primária de quinta à oitava série numa favela que chamava Morro do Papagaio, em Belo Horizonte. E neste ano em 65 também por decisões partidárias, depois do Golpe, eu também fiz vestibular pra Medicina e passei e cursei quatro anos de Medicina junto com Ciências Sociais.
Joana: Olha só!
Eleonora: Por isso que eu estou na Escola Paulista de Medicina..
Joana: Certo.

Eleonora: Tem algo do retorno, né?


Joana: Sim, sim.
Eleonora: E daí é... eu tenho...eu sou separada, tenho dois filhos, uma moça com 35 anos que tem uma filhinha de 2 anos, e um rapaz de 29 anos, né?
Joana: Jóia.
Eleonora: Ela mora em Nova York, é cineasta e ele é... ele mora em São Paulo tem uma fábrica de fazer prancha...
Joana: uhum.
Eleonora:... de surf, né?
Joana: uhum.
Eleonora: E...bem, aí você me pergunta, tá aqui a primeira questão: no período de 64 a 85 se eu me identifiquei com o feminismo?
Joana: Sim. A partir de quando você achou que era feminista?
Eleonora: Pois é Joana, eu me descobri feminista na cadeia...
Joana: Tá.
Eleonora: ... em 1971, em São Paulo ? DOI-CODI porque...só pra fazer um...
Joana: Você já era casada nessa época?
Eleonora: Já. Só pra fazer um gancho, eu entrei pro Partido Comunista depois rachei com o Partido Comunista, fui pra luta armada e...


Joana: Você fez parte de qual organização?
Eleonora: Eu fiz parte da dissidência do Partido Comunista, depois da POLOP, e depois do POC,Partido Operário Comunista.
Joana: Certo.
Eleonora: E em 67 eu já clandestina em Belo Horizonte eu casei com um companheiro, de organização quando eu digo, e casei porque eu precisava...eu queria mudar de nome porque eu já estava muito queimada.
Joana: uhum.
Eleonora: Então eu passei a me chamar Eleonora de Oliveira Soares, né? E neste momento em 67 até 68, final de 67 início de 68, ainda estava em Belo Horizonte, quando foi julho eu entrei pra clandestinidade em 68 fui pra cidade industrial, e no final de 68 nós, quando a situação da luta contra a ditadura apertou muito, nós fomos para São Paulo já clandestinos, e eu fui grávida.
Joana: Tu e teu marido?
Eleonora: Eu e ele. Os dois nas mesmas condições. E eu fui grávida é...e eu fiquei 69 inteira...inteiro clandestina grávida fazendo ações...


Joana: uhum.
Eleonora: ...em São Paulo. A minha filha nasceu em 27 de setembro de 69, próximo ao seqüestro do embaixador americano e do homem ter ido à Lua, tá vendo?
Joana: uhum.
Eleonora: ...do Yuri Gagarin. Eu tive clandestinamente essa filha na maternidade de São Paulo.
Joana: Com outro nome, é isso?
Eleonora: Eu tive com outro nome, ela tinha outro nome.
Joana: Certo.
Eleonora: E o meu companheiro, que era o meu ex-marido, ele só pode vê-la depois que eu sai da maternidade.
Joana: Certo.
Eleonora: né?
Joana: Por que vocês estavam sendo procurados, evidente?
Eleonora: Procurados por três processos.
Joana: uhum.
Eleonora: Já morávamos na cidade... no ABC com nome falso, com tudo falso. E ela nasce de cesária, em 69. E nós ainda ficamos, ai era no POC, nós ficamos clandestinos até julho de 71. Sendo que em maio de 71 quando o POC, começou a queda do POC na OBAN em São Paulo, a organização decidiu é...que a gente deveria, eu era da direção e eu também participei dessa decisão, que deveríamos sair do país.


Joana: Certo.
Eleonora: Eu saí até o Chile e ele ficou em São Paulo e eu voltei com a menina um mês depois.
Joana: Certo.
Eleonora: Porque a minha avaliação era que eu tinha que fazer...
Joana:...a luta armada aqui.
Eleonora:...a luta armada aqui. E um detalhe importante nessa trajetória é que seis meses depois dessa minha filha ter nascido eu fiquei grávida outra vez. Ai junto com a organização nós decidimos, a organização, nós, que eu deveria fazer aborto porque não era possível...
Joana: Certo.
Eleonora: ...na situação ter mais de uma criança, né? E eu não segurava também. Aí foi o segundo aborto que eu fiz.
Joana: uhum.
Eleonora: Tinha um cara, Isaac Abramovicht, um ano depois ele vai ter... ele vai ser uma figura de destaque na minha vida.
Joana: Esse cara quem?
Eleonora: O médico que me fez a primeira consulta de pré-natal na clandestinidade, indicado por uma companheira.
Joana: ...que fez teu aborto.
Eleonora: Não, eu fiz aborto em outra clínica de Pinheiros, também de um médico militar, vim a saber depois. Eu vou presa dia 11 de julho de 71.


Joana: uhum. Espera, tu tinhas ido pro Chile...
Eleonora: Pro Chile e voltei.
Joana: e voltaste? E teu marido ficou lá?
Eleonora: Ficou em São Paulo. Eu fui sozinha com minha filha.
Joana: Tu fosse sozinha. Ai tu voltasse...
Eleonora: Com o grupo do POC.
Joana: Tá. Tu voltasses um mês depois...
Eleonora: Um mês depois...
Joana: E aí fosse presa em seguida?
Eleonora: Fui presa três meses depois.
Joana: Vocês estavam certos em querer sair.
Eleonora: Sim. Completamente certos de querer ficar no Brasil.


Joana: uhum.
Eleonora: Aí eu fui presa em 1971 dia 11 de julho com ela...
Joana: Tavas com ela.
Eleonora: Ela tinha um ano e dez meses.
Joana: Fosse presa como? Em casa?
Eleonora: Eu fui presa na casa de uns tios do meu ex-marido porque nesse mesmo dia ele tinha ido pra Uberaba clandestino pro velório da mãe dele. E eu fui deixar a Maria na casa desses tios. Aí quando nós chegamos a OBAN já estava lá.
Joana: Tsiiii.
Eleonora: E aí eram dezessete homens armados pra me prender. E isso era uma hora da tarde. Às seis horas eu fui pra OBAN, e eu me separei dessa minha filha dizendo que ia para o dentista bruscamente.
Joana: E ela tava com o que?
Eleonora: Um ano e dez meses.


Joana: Um ano e dez meses.
Eleonora: E aí no processo foi todo mundo preso. Meu ex-marido foi preso no enterro. E durante o processo de tortura, que durou 72 dias na OBAN, de todas as formas de tortura a minha filha com um ano e dez meses foi torturada na minha frente tomando choque. Então este foi o episódio. O que fez o pré-natal e poderia ter feito o meu aborto era médico da OBAN – o torturador, ele ainda
hoje tem uma clínica de aborto em São Paulo.
Joana:
Barbaridade.
Eleonora: E ele que me... e ele que nos dava a injeção pra gente voltar da tortura. Então é esta figura hoje que o CRM está sempre... tá caçando, o CRM e eu tenho ido no CRM várias vezes e na Justiça depor contra ele na Comissão dos Mortos e Desaparecidos. É aí eu fiquei, minha filha foi morar com a minha mãe, e eles não torturaram a minha filha na frente do meu ex-marido.
Joana: Tá. Foi só na tu frente.
Eleonora: Só na minha frente. E isso foi o momento decisivo pra eu descobrir a importância que a maternidade tinha pra mulher e a importância que qualquer instância social de poder...
Joana: uhum.
Eleonora:... fazia uso do corpo da mulher e da maternidade, né? Isso me fez a pensar... me colocou a pensar e refletir muito no sentido de que qual era a relação do centralismo democrático, da esquerda com a questão da mulher. Por que eu fui me descobrir feminista na tortura?


Joana: uhum. E tu percebestes a diferença.
Eleonora: Eu percebi absolutamente a diferença, e não só a diferença na tortura, porque a tortura de homens e mulheres ela foi completamente diferente, tinha o uso do corpo da mulher o que não tinha o uso do corpo do homem.
Joana: uhum.
Eleonora: Tinha o uso da suposta fragilidade materna.
Joana: uhum.
Eleonora: Né? E em detrimento da suposta força de virilidade masculina... do pai.
Joana: uhum.
Eleonora: E também ao repensar toda a minha trajetória de esquerda eu pude perceber as relações de poder muito forte de gênero na esquerda.
Joana: uhum.
Eleonora: Então essas duas coisas foram fundamentais pra eu me tornar feminista. E evidentemente que o meu encontro com o feminismo ele nasce muito com uma transversalidade da questão de classe social.


Joana: uhum, uhum.
Eleonora: Porque eu vim desse lugar.
Joana: Certo. Tu estavas entrando por questão de classe.
Eleonora: Eu vim desse lugar.
Joana: uhum.
Eleonora: E...
Joana: Mas eu queria saber mais, por favor.
Eleonora: Pode continuar.
Joana: Tu me falaste que tu começasses também a observar a questão da mulher, das relações no interior da tua própria organização, das organizações das quais tu participastes, além da questão dos órgãos de repressão havia também. Tu poderias, porque há pouco tu me contaste que a tua filha foi
torturada na tua frente, e que também usaram contigo uma tortura diferente da do teu marido.
Eleonora: Sim, sim.


Joana: E com relação ao fato de...
Eleonora: Só ao fato dela ter sido torturada só na minha frente e não na dele...
Joana: e não na dele... é...
Eleonora: ... já é... tem um significado.
Joana: Já. E com relação às organizações das quais tu participavas?
Eleonora: Há... primeiro que as mulheres dificilmente chegavam a um cargo de poder...
Joana: Mas tu eras a chefe?
Eleonora: Eu era. Fui uma das poucas. Por que? Eu me travesti de masculino...
Joana: É? Como era?
Eleonora: Eu tinha atitudes masculinas, eu tinha atitudes... Quais são as atitudes masculinas? Determinar entre... simbolicamente e a representação do masculino...
Joana: uhum, uhum.
Eleonora: Era decidida, determinada, forte, sabia atirar...
Joana: uhum.
Eleonora: Entendeu?


Joana: Entendi.
Eleonora: Sendo que muitas mulheres sabiam isso tudo.
Joana: Certo.
Eleonora: Transava com vários homens.
Joana: Certo.
Eleonora: Essa questão do desejo e do prazer sempre foi uma coisa muito libertária pra mim, e por isso eu fui muito questionada dentro da esquerda.
Joana: É?
Eleonora: É.
Joana: Dentro do mesmo grupo do qual tu eras a líder?
Eleonora: Sim. Porque o próprio... por questões de segurança eu só poderia ter relação sexual com os companheiros da minha organização.
Joana: Certo.
Eleonora: Num determinado momento sim, mas na história do movimento estudantil também já existia isso.
Joana: Certo. Eu acho que tem alguém tocando a porta. (Interrupção)
Joana: Então, nós estávamos na organização. Tu estavas dizendo que tu sentiste isso a partir do fato de que tu observasses que as mulheres nunca ocupavam ou dificilmente ocupavam...
Eleonora: Em sua maioria não ocupavam um cargo de direção.
Joana:... e também a questão da transa.
Eleonora: A questão da transa e a outra questão, por exemplo...


Joana: Mas, estavas me contando que para...por questões de segurança só transava no interior do grupo.
Eleonora: Isso muito, muito recente, muito próximo à prisão.
Joana: Certo.
Eleonora: Porque ao longo do movimento estudantil...
Joana: uhum.
Eleonora:... eu transava com todos...
Joana: Sim.
Eleonora:... independente da minha organização.
Joana: Certo.
Eleonora: À medida que a situação de repressão foi ficando cada vez mais forte...
Joana:... uhum.
Eleonora:... aí, evidentemente, que eu mesma tinha os meus critérios...
Joana. Certo, de seleção de parceiros.
Eleonora:...de seleção de parceiros daqueles que estavam na mesma organização que eu.


Joana: Tá.
Eleonora: Mas existia uma regra.
Joana: Que regra era essa?
Eleonora: Que você só podia ter relação sexual entre as pessoas da sua célula.
Joana: Tá. E os homens, acontecia isso também? Ou era só com as mulheres?
Eleonora: Há, era só com as mulheres.
Joana: Porque os homens transavam com outras.
Eleonora: Transavam, transavam, transavam, transavam. E a outra coisa que era muito marcante na esquerda... na clandestinidade na esquerda, se por um lado a esquerda, veja bem eu não tenho a menor dúvida disso, nos liberou...
Joana: uhum.
Eleonora:... nos colocou um horizonte de vida, nos liberou


Joana: uhum.
Eleonora:... do ponto de vista político, sexual, de mentalidade com um projeto de sociedade, isso gera um combate muito forte entre família nuclear e a esquerda. Militar na esquerda tinha uma questão muito... o centralismo democrático era muito forte.
Joana: Tá.
Eleonora: Então a sua opinião... a sua percepção, os seus sentimentos não poderiam ser extravasados.
Joana: uhum.
Eleonora: Os seus medos, suas dores, suas saudades.
Joana: Certo.
Eleonora: Não poderiam. E as mulheres, eu digo isso muito, para serem aceitas e ascenderem cargos de direção elas tinham que ter atitudes muito consideradas pela esquerda que os homens é que tinham.
Joana: Certo. Certo
Eleonora: E ao longo do processo da esquerda, e ao longo do processo de cadeia, porque eu fiquei três anos e oito meses presa.


Joana: E o teu marido?
Eleonora: Também ficou quatro.
Joana: uhum.
Eleonora: Na cadeia que as... foram se desmanchando as organizações e a convivência se tornou mais íntima entre nós de outras organizações? Ficou muito claro a questão da relação com as mulheres.
Joana: Certo.
Eleonora: Era uma relação de poder.
Joana: uhum.
Eleonora: Agora nós ocupamos cargos, mas a maioria de mulheres que era aceita, travestia-se de masculina.
Joana: Certo.
Eleonora: Ela era, você podia dizer, que era um reflexo das relações de poder da sociedade, mas essa questão não se colocava pra nós, hoje é uma leitura que eu faço...
Joana: uhum
Eleonora:... bem pós pós pós pós...
Joana: uhum. Uhum.
Eleonora:... pós- o período....
Joana: Certo.
Eleonora:... não pós-modernidade, pós- o período.
Joana: Pós- o período. Entendo.
Eleonora: Pós- o período. Então nesse sentido as únicas mulheres que eram direção da minha organização era três.

Joana: Bom começo.
Eleonora: Todos masculinos.
Joana: Certo.
Eleonora: Todos homens.
Joana: Eu quero voltar a tua filha. Eles torturaram ela na tua frente, mas a tua família não a recuperou?
Eleonora: A minha filha... a minha família a recuperou após dez dias.
Joana: Dez dias. Então ela ficou contigo dez dias.
Eleonora: Ela não ficou comigo, ela ficou no exército e eu fiquei no DOI-CODI.
Joana: Certo.
Eleonora: Eu não sei com quem ela ficou.
Joana: Certo.
Eleonora: Hoje sei.
Joana: Certo.
Eleonora: Que a irmã do meu ex-marido ficava indo muito lá.
Joana: Certo.
Eleonora: Isso me transmitiram.


Joana: uhum
Eleonora: Depois ela foi recuperada pela minha mãe. Ela foi criada pela minha mãe esses...
Joana: Esses três anos e pouco que tu ficaste lá.
Eleonora: É. Ela ficou até os cinco anos de idade ela ficou com a minha mãe, cinco e pouco. Depois eu sai da cadeia em 74, fui pra Belo Horizonte, morei com a minha mãe uns meses e depois meu ex-marido saiu e nós começamos um processo de recuperação dela.
Joana: Certo.
Eleonora: Que foi ...
Joana: Que não deve ter sido fácil, não é?
Eleonora: Isso foi muito doloroso porque o sentimento de perda dela era absurdo...
Joana: Porque ela não reconhecia vocês?
Eleonora: Não, ela não nos reconhecia como pai e mãe nem como pessoas..né?...
Joana: Em suas relações.
Eleonora: Em minhas relações. E depois imediatamente eu quis ter outro filho...
Joana: uhum.
Eleonora:... e muito no sentido de pra provar para os torturadores, mesmo que fosse simbolicamente, que o que eles tinham feito comigo não tinha me tirado a possibilidade de reproduzir e de ter uma escolha sobre meu próprio corpo...
Joana: uhum.
Eleonora:... então eu tive mais um filho e logo que ele nasceu também de cesária eu me laqueei.
Joana: Certo.
Eleonora: então...eu tinha...eu fui presa com 24 para 25 mais ou menos...
Joana: Nossa senhora.
Eleonora:...e sai com 30.

Joana: Certo.
Eleonora:... assim, da história toda e com 30 para 31 tive o meu segundo filho e fiz a laqueadura de trompas...
Joana: Certo.
Eleonora:... já em Belo Horizonte.
Joana: E tu continuaste com o teu marido mais tempo?
Eleonora: Não. Ai quando esse meu filho Gustavo nasceu, a menina chama Maria, eu fiquei mais um ano...
Joana: uhum.
Eleonora:... e nós nos separamos.
Joana: uhum.
Eleonora: E... ao longo da cadeia e depois da readapta...da reabilitação (risos), da ressociabilização no mundo social nós tivemos várias crises, porque é muito difícil ser casal que vai preso junto, que sofre tudo junto, que vê as forças e as fragilidades um do outro, e de todo um projeto que se desmoronou continuar junto.
Joana: Imagino.
Eleonora: Muito difícil, muito difícil. Hoje eu sou muito amiga dele. Nós temos uma relação muito boa, mas é uma relação em que eu criei os filhos.
Joana: Entendi.
Eleonora: É uma relação muito de ele aparece.


Joana: Certo. Como na maioria dos casos.
Eleonora: Na maioria, ele aparece. E os meus filhos tiveram que depois de adultos criar uma relação com este pai que era um pai ausente no sentido da manutenção.
Joana: Certo.
Eleonora: Do prover.
Joana: E então, tu saísses da cadeia em 74.
Eleonora: Certo.
Joana: Tu tiveste algum contato com o feminismo dentro da cadeia, com leituras feministas...
Eleonora: Não.


Joana:... ou depois?
Eleonora: Não, não. Ao longo da cadeia eu tive... Durante a cadeia? Eu tive muitas reflexões com as minhas companheiras de cadeia...
Joana: Tá.
Eleonora:... uma delas é a Dilma Roussef (atual ministra de Minas Energia)
Joana: uhum.
Eleonora:... que é Ministra das Minas e Energia, e hoje outras que são do PSDB, mas todas feministas, se tornaram feministas...
Joana: Certo, dentro da cadeia elas estavam?
Eleonora:
Dentro da cadeia porque nós começamos...
Joana: Fizeram uma espécie de grupo de consciência?
Eleonora: Grupo de reflexão lá dentro...
Joana: Grupo de reflexão.
Eleonora:...
por que fomos nós que estamos...
Joana: uhum.
Eleonora:... que fizemos, voltaríamos a fazer sim, mas e o nosso corpo e a nossa sexualidade.

Joana: uhum.
Eleonora:
Entendeu?
Joana: E antes disso tu nunca tinhas participado de uma coisa dessa, um grupo de reflexão?
Eleonora: Nunca, nunca, nunca, nunca.
Joana: E tinhas lido em algum momento antes algumas das obras?
Eleonora: Não. Nenhuma, nenhuma. Eu li pela primeira vez em 75...
Joana: Certo. Já estavas fora da cadeia um ano.
Eleonora: Porque eu já saí...é...eu já saí em 74 eu saí em outubro...
Joana: Certo.
Eleonora:...
no dia 12, Dia da Criança, eu saí já bem claro que eu era feminista.
Joana: Certo.
Eleonora:
E logo que eu saí da cadeia, eu em Belo Horizonte eu fui procurar um grupo de mulheres.
Joana: Esses grupos de consciência?
Eleonora: É, só que era um grupo de lésbicas...

Joana: Certo.
Eleonora:... e eu não sabia. Era um grupo de pessoas amigas minhas...
Joana: uhum.
Eleonora: e que era...era o único grupo feminista que tinha lá.
Joana: Que tinha lá. Uhum.
Eleonora:
E eu de cara fui maravilhosamente bem acolhida, e eu me senti muito bem
Joana: Certo.
Eleonora: Me senti muito bem. E então eu recuperando...é...no processo de recuperação minha póscadeia...
Joana: uhum.
Eleonora: Porque eu voltei a estudar!
Joana: Ah, legal!
Eleonora:
Eu parei de estudar em 68.
Joana: uhum.
Eleonora: Eu parei no quarto ano de Medicina e no quarto de Ciências Sociais.
Joana: Fosse concluir?
Eleonora: Fui, aí eu voltei pra concluir...
Joana: Certo.
Eleonora:...
na UFMG, e optei por acabar Sociologia.
Joana: Sociologia.
Eleonora
: Porque a Medicina estava um caos...um horror.. eu estava questionando muito e o que eu havia passado na cadeia, me afastou mito da medicina, do cuidado, etc,......
Joana: uhum.
Eleonora:...
porque durante a cadeia, eu pós-tortura eu fui...eu fiquei sem andar muitos... uns dois anos e fui fazer...é...

Joana: Tu andavas de cadeira de roda ou de muleta?
Eleonora: De cadeira de roda e de muleta.
Joana: Nossa.
Eleonora
: É. E fui... eu tratava no Hospital das Clínicas, e o Hospital das Clínicas de São Paulo estava sob intervenção.
Joana: uhum.
Eleonora:
E eu...eles decidiram que eu seria operada da coluna. E aí um ex-companheiro de cadeia que tinha saído, que era médico, descobriu que eu ia ser...
Joana: Operada.
Eleonora:...
operada e impediu a cirurgia.
Joana: uhum.
Eleonora
: Eu já estava anestesiada.
Joana: Báhhh.
Eleonora
: Porque eu não tinha hérnia de disco e eles diziam que eu tinha. Eles iam me aleijar...
Joana: Claro.
Eleonora:...
e me tirou. Então isso mexeu muito comigo...
Joana: Certo.
Eleonora:...
do ponto de vista de profissão...
Joana: Imagino.
Eleonora:
O quê que eu vou fazer com a Medicina?
Joana: uhum, uhum.
Eleonora
: Ai que terminei Sociologia, e quando eu fui terminar Sociologia os meus calouros de Ciências Sociais eram os meus professores.

Joana: Ah!
Eleonora:
Então foi muito legal, muito bacana, porque eles... primeiro que eles tinham o maior orgulho de serem os meus professores...
Joana: Certo.
Eleonora
:...e eu de estar lá terminando.
Joana: Sentiste entre amigos, no caso?
Eleonora:
Entre amigos e tudo. E aí fiquei em Belo Horizonte, terminei, tive meu segundo filho.
Joana: uhum.
Eleonora:
E não quis imediatamente me integrar a nenhum grupo de esquerda que tinha...
Joana: Tá.
Eleonora:...
como eu não quis até agora.
Joana: Mas te integrasse nesse grupo...
Eleonora:
De mulheres.
Joana:...de mulheres?
Eleonora:
Não, aí começa a minha trajetória...
Joana: Certo.
Eleonora
:...feminista.
Joana: Tu te lembras quando foi que tu foste nesse grupo?
Eleonora:
Lembro, foi maio de 75. Aí eu tive...
Joana: 75. Bem no Ano Internacional da Mulher.
Eleonora:
É. Aí eu tive o contato com “A Dialética do Sexo” da Sulamita Firestone.
Joana: Era isso que eu queria ouvir.

Eleonora:
Me enlouqueceu!
Joana: Como foi que você leu? Você teve o livro na mão? É isso?
Eleonora:
Elas me...
Joana: Elas te emprestaram?
Eleonora:...
me emprestaram o livro, e eu sai louca e fui para comprar.
Joana: Foste comprar.
Eleonora:
E aí elas dizem “Não, compra O Segundo Sexo também”, e eu falei “Ah, aquela bobagem?”,assim.
Joana: Aquela bobagem?
Eleonora:
É, porque perto da Sulamita é bobagem...
Joana: Certo.
Eleonora
:... naquela época. E eu era muito... eu já era muito libertária nessa sentido...
Joana: Certo.
Eleonora: ...
então eu fui atrás, Minto, desculpa, um equívoco, na minha formação marxista eu li a Alessandra Kolontai...
Joana: Certo.
Eleonora:...
muito, a Juliet Mitchel...
Joana: Certo.

Eleonora
:...e.... a Alessandra e a Juliet Mitchel.
Joana: Isso quando tu eras estudante?
Eleonora:
Estudante e militante. Eu lia muito.
Joana: Certo. Mas não leste como uma feminista? Leste por causa do Partido.
Eleonora:
Não. Li como esquerdista. Li como esquerdista. Que queria ler e achava a vida delas fantástica.
Joana: O que tu lesse das duas?
Eleonora:
A Alessandra Kolontai eu li “Minha vida” na época, da Sulamita eu li “A Revolução da Psicanálise”, é... não, da Juliet Mitchel eu li “A Revolução da Psicanálise”, e depois eu vim ter um contato que mexeu muito comigo, como eu criticando, mais eu não tinha muitos parâmetros para criticar, foi é a história da família, da propriedade...
Joana: Engels.
Eleonora:...
e do Engels.
Joana: Isso foi durante a tua formação de esquerda.
Eleonora
: Minha formação.
Joana:... de esquerda? E aí depois...
Eleonora:
É. Não, formação comunista.
Joana: Pois é, formação de esquerda, no caso.
Eleonora
: De esquerda.
Joana: Quando tu entrasses neste grupo foi que tu tivesses contato com a Sulamita?

Eleonora:
Sulamita.
Joana: Tá.
Eleonora: Sulamita é um marco na minha vida.
Joana: Tá bem.
Eleonora:
E


Joana: E comprasse O Segundo Sexo também?
Eleonora
. Aí eu comprei O Segundo Sexo...
Joana: E leste em seguida?
Eleonora:
Li O Segundo Sexo. Fiquei muito apaixonada...
Joana: Certo.
Eleonora
:... também...
Joana: Betty Friedan Não?
Eleonora:...
teve... não porque a Betty Friedan...
Joana: É 71 ela aqui no Brasil.
Eleonora:
“A Mística Feminina”.
Joana: Isso.
Eleonora:
Não, “A Mística Feminina” eu li em 76.
Joana: Certo. Um pouco depois, talvez?
Eleonora:
Um pouco depois, quando foi traduzido.
Joana: Sim, mas foi traduzido em 71.
Eleonora:
71? Bem, eu tive acesso...
Joana: Certo. Não lembras quando?
Eleonora:
Não, mas foi tudo nessa época de final de 74 até eu entrar para esse grupo...é...75...
Joana: Tu passaste a ter várias leituras.
Eleonora:
Eu a ter várias leituras. Reli...


Joana: uhum.
Eleonora...
a Alessandra. Reli a Juliet, e já fui mais generosa com elas.
Joana: Certo:
Eleonora
: Do ponto de vista de mulher.
Joana: Sim, sim.
Eleonora
: E eu fui nesse ni... ai já nessa época eu radicalizei meu feminismo. Eu comecei a militar.
Joana: Onde?
Eleonora:
Em Belo Horizonte eu comecei a militar neste grupo.
Joana: Neste mesmo grupo?
Eleonora
: É
Joana: O quê que se fazia além de discutir?
Eleonora:
Nós discutíamos o corpo...
Joana: Certo.
Eleonora:...
discutíamos a sexualidade, eu tive a minha primeira relação com mulher também...
Joana: uhum.
Eleonora
: Quer dizer, que foi bastante precoce pra essa...e transava com homem...
Joana: Certo.
Eleonora
:...pra minha trajetória.
Joana: Mesmo porque tu também estava com o teu marido eu acho, não estavas?
Eleonora
: Sim, sim.
Joana: Estavas. Aham.
Eleonora:
Mas nós nunca tivemos esse... e ele era um cara muito libertário. Nós nunca tivemos essa questão de relação...

Joana: Certo.
Eleonora:...
muito marginal em Belo Horizonte....


Joana: Sim. A militância em que no sentido que tu estas dando é no sentido de discussão?
Eleonora
: No sentido de discussão e de priorizar a minha vida.
Joana: Certo.
Eleonora:
Eu deixei de militar em organizações de esquerda...
Joana: Certo.
Eleonora:...
e fui militar no feminismo...
Joana: Certo.
Eleonora
:... em grupos de reflexão.
Joana: uhum.
Eleonora:
Ali junto com esse grupo de mulheres feministas lésbicas.
Joana: uhum.
Eleonora
: Ai esse grupo foi se ampliando...
Joana: uhum.
Eleonora
:... e se desdobrando em grupos de reflexão, em grupos de criar um jornal, mesmo que fosse um jornal de divulgação mão-a-mão, né?
Joana: E vocês chegaram a escrever isso?
Eleonora:
Chegamos a escrever...
Joana: E como é que se chama esse jornal?
Eleonora
: “Pensando a mulher”, era um jornalzinho de Belo Horizonte...
Joana: hum...
Eleonora
: É.
Joana: Tu não tens ele?
Eleonora
: Eu devo ter na minha casa.
Joana: É.
Eleonora
: Devo ter uma cópia. Depois em 76 eu começo o processo de articulação mais nacional com o feminismo...
Joana: Tá.
Eleonora:...
via Belo Horizonte 75, 76.
Joana: De que jeito?
Eleonora:
Começo com o S. O.S Mulher do...
Joana: Tu começasses a participar do S. O.S Mulher lá dentro de Belo Horizonte, é isso?
Eleonora:
S O.S. de Belo Horizonte fazendo a ponte com o S. O.S Mulher de São Paulo.
Joana: Tá.
Eleonora
: Ai que eu conheço a Jacira, a Schuma...
Joana: Diga o nome completo delas, por favor?
Eleonora:
Jacira Melo, Maria Aparecida Schumaker, a Teresa Verardo, um reencontro com a Iara Prado, que era minha ex-companheira de cadeia...

Joana: Certo.
Eleonora:...
que hoje é tucana, mas muito feminista com a Bete Vargas...
Joana: Certo.
Eleonora
:... que é de Porto Alegre. É... com a... já estabelecendo um vínculo muito forte com a Celina Albano em Belo Horizonte, que hoje é secretária de cultura da prefeitura. E aí nesse processo entra a discussão do Ano Internacional da Mulher...
Joana: Certo.
Eleonora:...
em 75. E aí começam os encontros feministas.
Joana: Tu participaste?
Eleonora:
Participei de todos eles. O de Belo Horizonte... não...aí participei do de Valinhos que foi um boom do ponto de vista de levantar as questões da sexualidade, o de Belo Horizonte que foi na faculdade de Filosofia, depois o do Rio de Janeiro, e aí eu me mudo final de 77 princípio de 78, e eu me separo, e nessa época eu trabalhava em Belo Horizonte na...num órgão do governo estadual por ajuda... que ajuda assim que mesmo eu sem ter ainda o processo de anistia...
Joana: uhum.
Eleonora:...
eu fui contratada como técnica de um órgão superintendente de planejamento urbano, o XXX, então eu trabalhava lá. E aí no início de 78 eu já tinha me separado do meu ex-marido e resolvo sair de Belo Horizonte. Aí quando eu saio de Belo Horizonte eu busco um lugar bem longe porque eu
não queria mais ser referência para a esquerda.
Joana: Entendi.
Eleonora
: Porque é uma carga muito pesada.
Joana: Imagino.
Eleonora:
Muito pesada.
Joana: Todo mundo te espia.
Eleonora:
Me espia e me demanda.
Joana: E cobra.
Eleonora
: Me chupa e me demanda, e eu não queria mais aquilo naquele momento. Eu queria viver a minha individualidade, a minha sexualidade...
Joana: uhum.
Eleonora:...
e eu não podia. Então eu procurei isso sou muito amiga, por incrível que pareça, a vida inteira do Frei Beto e pedi a ele pra me encontrar um lugar o mais longe possível de Belo Horizonte. Aí ele falou “Eu tenho dois lugares onde a Diocese é muito aberto, em Vitória com Dom Luís ou em João Pessoa com Dom José Maria Pires. Eu falei “Eu quero João Pessoa”, quanto mais longe melhor. Não tinha nem avião, eu fui de ônibus gastei 58 horas.


Joana: Foste com teus filhos?
Eleonora
: Com os dois filhos.
Joana: Sim.
Eleonora
: E João Pessoa foi... eu digo que João Pessoa de 78 a 84 foram anos fundamentais na minha vida e no meu reencontro comigo mesma.
Joana: uhum.
Eleonora
: Porque eu cheguei lá sem cartão de apresentação e sem...
Joana: A Frei Beto?
Eleonora:
É... mas assim, eu cheguei, eu. Eu tive que construir minha vida.
Joana: uhum. Fosse trabalhar?
Eleonora
: No Centro de Direitos Humanos da Arquidiocese da Paraíba.
Joana: Tá legal.
Eleonora:
E aí eu comecei a trabalhar com as mulheres rurais de Alagamar, que era o que eu queria, na época muito pesado trabalhar com os movimentos de trabalhadoras rurais, e comecei , logo depois retomei um grupo, a minha atividade de grupo de reflexão feminista com algumas mulheres em João
Pessoa. A maioria de fora de João Pessoa e duas de dentro...
Joana: uhum.
Eleonora:...
de João Pessoa. Então nós criamos o primeiro grupo feminista lá em João Pessoa chamado Maria Mulher.
Joana: Olha só!
Eleonora:
É. Esse Maria Mulher...
Joana: Já ouvi falar.
Eleonora:...
foi um grupo fortíssimo que teve desdobramento, hoje o CUNHA é um desdobramento dele. Críamos esse grupo, esse grupo foi fortíssimo...
Joana: Também teve um jornal?
Eleonora:
Não.
Joana: Não chegou a ter?
Eleonora:
Esse grupo não chegou a ter. Esse grupo chegou a ter várias publicações chamadas Maria Mulher...

Joana: É?
Eleonora
: É. Esse termo de história em quadrinho...
Joana: uhum.
Eleonora
: E...
Joana: Tipo divulgação?
Eleonora
: É, da questão da mulher.
Joana: uhum. Divulgação da questão da mulher.
Eleonora
: É. Nós trabalhávamos com a questão da violência, contra a violência contra a mulher. Fizemos uma enorme...um enorme movimento de visibilidade contra o assassinato de uma poetisa lá chamada Violeta formiga que foi assassinada por um cara de classe alta, seu ex-marido...
Joana: uhum.
Eleonora:...
senhor do engenho rural e da alta burguesia. E nós fomos pra rua. Fomos pra “quem ama não mata” naquela insígnia que o Brasil estava...
Joana: Estás falando da Diniz?
Eleonora
: É. “Quem ama não mata” e O silêncio é cúmplice da violência, e aí começamos a nos articular dentro do Nordeste.
Joana: Tá.
Eleonora:
Era o S.O.S Mulher...o S.O.S Corpo e um grupo de reflexão que tinha em Natal...
Joana: uhum.
Eleonora:...
de auto-reflexão, e o Maria Mulher o quê que nós fazíamos? Nós fazíamos auto-exame de colo de útero, auto-exame de mama...
Joana: O que tu fez de Medicina estava ajudando?
Eleonora
: Estava ajudando muito. Trabalho com violência contra a mulher e trabalho de sensibilização e cursos de educação pra mulheres da periferia e mulheres rurais.
Joana: Vocês tinham apoio financeiro?
Eleonora
: Nenhum.


Joana: Quer dizer, por conta própria.
Eleonora:
Eram grupos de auto-ajuda. Naquela época não tinha as agências financiadoras.
Joana: Não tinha é.
Eleonora:
Grupos de auto-ajuda. Com esse grupo nós colocamos o feminismo paraibano no nível nacional, e ele foi se fortalecendo muito, esse grupo. Por causa desta militância toda... aí eu feminista, eu tive minha casa em João Pessoa incendiada.
Joana: Nossa!
Eleonora:
É.
Joana: Isso foi em que ano?
Eleonora:
Foi em 81.
Joana: 81.
Eleonora:
Foi durante a primeira greve de professores, eu era da ANDES e também era feminista.
Joana: A essas alturas tu já eras professora de novo?
Eleonora:
Ai eu entro para a Universidade Federal da Paraíba como colaboradora 80 que existia...

Joana: Tu ainda não tinhas mestrado?
Eleonora:
Não. Eu fui fazer...fiz o meu mestrado na Paraíba, em Sociologia do Trabalho...
Joana: Depois de 81?
Eleonora:
É. Terminei em 82, 83...aí encontro na Paraíba a Lourdes Bandeira que já estava na Paraíba também. E aí eu entro para a Universidade...
Joana: Certo.
Eleonora
:...eu faço concurso e entro pra Universidade.
Joana: uhum.
Eleonora:
Não, eu entrei pra Universidade mais cedo. Eu entrei pra Universidade em 78, eu chego em 78. E nesse momento da primeira greve com as questões feministas, a minha participação em... (toca um celular)
Eleonora: Só um minutinho. (Interrupção da gravação)
Joana:
Tu estavas dizendo que entraste na Universidade pra dar aulas como...
Eleonora: Colaboradora.
Joana:...colaboradora em 78.
Eleonora:
Em 78. E na greve de 82, que fomos todos incorporados, eu entro para o quadro permanente da Universidade.
Joana: Ah tá.
Eleonora
: Entendeu? Mas eu dava aula até naquele contrato de colaboradora 80.
Joana: uhum.
Eleonora
:...que tinha nas universidades federais. Foi durante a primeira greve nacional, eu era do comando de greve , eu estava voltando de Olinda com o Francisco Julião e quando cheguei , minha casa havia sido destruída por uma bomba...
Joana: Certo.
Eleonora
:...e voltei junto com ele. Eu dei carona pra ele, e quando eu chego a minha casa estava incendiada.
Joana: Nossa. E foi incêndio criminoso?
Eleonora
: Foi criminoso, teve processo, teve...
Joana: Nossa.
Eleonora
: Foi.
Joana: Não descobriram quem era?
Eleonora:
Não, mas há ainda suspeitas bem...bem claras que foi um latifúndiário.
Joana: Certo.
Eleonora
: Exatamente por causa, não só do meu trabalho feminista, mas meu trabalho de mulheres com as trabalhadoras rurais.
Joana: Certo.
Eleonora:
E aí é que eu conheço a Margarida Alves, a Penha, que morreu com a Bete Lobo, e eu passo a ter uma...elas passam a ter uma importância muito grande na minha vida e vice-versa.
Joana: uhum, uhum.
Eleonora:
E aí eu...
Joana: Fala, e daí tu fosse fazer mestrado...
Eleonora:
Não, eu fiz mestrado na Paraíba.


Joana: Na Paraíba mesmo.
Eleonora:
Na Paraíba mesmo.
Joana: Isso em 81, 82...
Eleonora
: Eu terminei de 82 para 83.
Joana: Certo.
Eleonora:
Meu mestrado foi O Feminismo:o reinventar da educação...
Joana: Certo.
Eleonora:...
a partir de práticas feministas.
Joana: E isso foi na Educação?
Eleonora:
Não, foi na Sociologia.
Joana: Na Sociologia.
Eleonora:
Na Sociologia do Trabalho.
Joana: Tá.
Eleonora:
Eu fiz com um grupo de mulheres da periferia...
Joana: Tá.
Eleonora:...
em João Pessoa mesmo.


Joana: Tá.
Eleonora:
Depois em 84 eu venho pra São Paulo fazer doutorado na Ciência Política, já articuladíssima...
Joana: Imagino.
Eleonora:...
com o feminismo, e com linhas de pesquisa bem definidas do ponto de vista feminista.
Joana: Quem é que te orientou em São Paulo?
Eleonora
: Em São Paulo foi a Maria Lúcia Montes, uma antropóloga. Embora na época ela fosse da Ciência Política. E em 84 eu faço, entro para o doutorado com uma tese que era sobre Direitos Reprodutivos e Direitos Sexuais a partir...é...a construção da cidadania a partir do conhecimento sobre
o próprio corpo.
Joana: Isso por conta do teu trabalho com as mulheres? Certamente, claro.
Eleonora
: Por conta do meu trabalho com as mulheres em uma favela chamada Favela Beira-Rio.
Joana: Certo.
Eleonora
: Lá em João Pessoa.
Joana: uhum.
Eleonora
: Que hoje é um bairro. Então nesta época eu fiquei quatro anos em São Paulo fazendo a tese e voltando a João Pessoa
Joana: Por que os meninos ficaram lá?
Eleonora
: Comigo em São Paulo.
Joana: Em São Paulo.
Eleonora:
Em São Paulo. E aí fui coordenadora do grupo de Mulher e Política da ANPOCS, do GT.
Joana: uhum.
Eleonora:
Dois anos...dois mandatos seguidos, e voltei pra João Pessoa. Aí em São Paulo eu integrei um grupo do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde. Eu a Maria José Oliveira, a Vera Soares, a Tereza Verardo a Margareth Lopes, a Magali Marques, críamos o Coletivo Feminista Sexualidade e
Saúde, que é uma ONG, para atender as mulheres de forma diferenciada com respeito a
... E nesse período estive também pelo Coletivo fazendo um treinamento de aborto na Colômbia.


Joana: Certo.
Eleonora:
O Coletivo nós críamos em 95...
Joana: Como é que era esse curso de aborto?
Eleonora
: Era no Clínicas em Aborto...a gente aprendia a fazer aborto...
Joana: Aprendia a fazer aborto.
Eleonora:
Com aspiração AMIU
Joana: Com aquele...
Eleonora:
Com a sucção.
Joana: Com a sucção. Imagino. Uhum.
Eleonora:
Que eu chamo de AMIU . Porque a nossa perspectiva no Coletivo, a nossa base...
Joana: Que as pessoas se auto...auto...fizessem
Eleonora:
Auto-capacitassem, e que pessoas não médicas podiam...
Joana: Claro.
Eleonora:...
lidar com o aborto.
Joana: Claro.
Eleonora
: Então vieram duas feministas que eram clientes, usuárias do Coletivo, as quais fizeram o primeiro auto-exame comigo. Então é uma coisa muito linda...
Joana: uhum.
Eleonora:...
muito bonita, descobrirem o colo do útero e...
Joana: uhum.
Eleonora
:...ter uma pessoa que segura na mão.
Joana: Certo.
Eleonora:
E elas dão esses depoimentos em vários encontros. E depois em São Paulo, em... ...em 89...
Joana: Já devias ter defendido a tese a essas alturas?
Eleonora
: Não, eu defendi em 90.
Joana: Defendesse em 90.
Eleonora:
90. Em dezembro de 90. Eu voltei pra Recife. Voltei pra João Pessoa e morei em Recife.
Joana: uhum.
Eleonora:
Trabalhei tanto no Maria Mulher e na volta, em 90, eu pedi transferência pra Universidade Federal de São Paulo, a então Escola Paulista de Medicina, porque meus filhos queriam ficar em São Paulo...
Joana: Certo.
Eleonora
: Eu pedi transferência....
Joana: E foi tranqüilo?
Eleonora
: Não, foi difícil transferência na época do Collor.
Joana: Imagino.
Eleonora
: E ai eu me...eu fui uma das que teve direito de transferência garantida porque eu vim liberada com a seguinte questão, se o Collor ganhar a presidência, e assumir e exigir que todos retornem, a sua transferência é será dada.
Joana: uhmm.
Eleonora
: Ele exigiu, ele ganhou e exigiu e a minha transferência foi incentivada. Eu volto...eu venho...aí nós críamos em 90 a Rede Nacional Feminista de Saúde, em Itapecerica da Serra
Joana: Certo.
Eleonora:
E...dentro da Escola Paulista nós temos um núcleo.de estudos e pesquisas em saúde e relações de gênero. Eu não tinha um Departamento de Medicina Preventiva que me acolhesse ainda, aí eu fiz a escolha de ir para o Departamento de Enfermagem na perspectiva de contribuir com a
melhoria da qualidade de assistência das mulheres.
Joana: uhum.
Eleonora
:...na ponta dos serviços. Na Escola Paulista eu tive...e nós críamos o Núcleo de Estudo em Saúde da Mulher e Relações de Gênero, e junto com outro grupo de mulheres feministas, inclusive a Margareth Rago, a Miriam Grossi, e a Magda Neves, nós fizemos parte de um núcleo que com um
recurso da Ford a partir de um encontro de São Paulo, da Fundação Carlos Chagas...


Joana: Certo.
Eleonora
:...cria a REDEFEM, cria a Revista de Estudos Feministas...
Joana: Sim.
Eleonora:...
e cria esse grupo que ia pensar o ensino feminista através dos núcleos de estudos.
Joana: uhum.
Eleonora
: Esse grupo era composto por essas pessoas...
Joana: Sai aquele livro inclusive, “Questão de Gênero”...
Eleonora:
Exatamente. Exatamente.
Joana: uhum.
Eleonora:
E eu continuo com duas linhas....hoje eu sou professora livre docente, do Departamento de Medicina Preventiva com uma tese que se transformou em livro, eu fiz meu pós-doutorado em Milão, na Itália, na Faculdade de Medicina na área de Saúde, Trabalho e Gênero.
Joana: uhum.
Eleonora
: Hoje eu coordeno um diretório de pesquisa que é Saúde e Relações de Gênero no CNPq. Eu sou pesquisadora 1B do CNPq, e toda a minha atividade de pesquisa é na área de Saúde e Relações de Gênero, e Saúde da Mulher, com um olhar feminista.
Joana: uhum.
Eleonora:
Tem um impacto disso na construção do conhecimento da saúde.
Joana: uhum.
Eleonora:
E...no ativismo eu faço parte da Rede Nacional Feminista de Saúde e Direitos Reprodutivo, uma das fundadoras, e até novembro eu ocupo lugar de relatora das Nações Unidas do Direito a Saúde no Brasil.
Joana: Certo.
Eleonora
: Fui indicada pela Rede...


Joana: Certo.
Eleonora
:...e selecionada curricularmente. E toda a minha produção, tanto acadêmica como o meu pé na militância, no ativismo feminista, ele se dá via duas grandes linhas de pesquisa que é Feminismo, e Saúde e Relações de Gênero. Dentro da Saúde e Relações de Gênero tudo o que diz respeito a Direitos Reprodutivos e Sexuais, Saúde e Trabalho.
Joana: Certo.
Eleonora:
E Violência. Hoje eu faço parte da coordenação de um dos serviços de violência que atende mulheres vítimas de violência sexual, que é o da UNEFESP, o da Casa de Saúde, atendemos mulheres que foram vítimas de violência sexual e fazemos o aborto nesses casos.
Joana: Certo.
Eleonora
: E também hoje faço parte das Jornadas Brasileiras pela Legalização do Aborto,no grupo de coordenadoras.
Joana: uhum, uhum. Essa é tua militância atual?
Eleonora:
É minha militância atual.
Joana: Tu também fazes parte da REDEFEM eu acho.
Eleonora:
Faço, faço parte da REDEFEM, exatamente.


Joana: Estás em várias frentes.
Eleonora:
Sou consultora de várias.Revistas e Agências de Fomento..
Joana: Imagino.
Eleonora
: Capes, CNPq, barará...barará...barará...Fundação Carlos Chagas.
Joana: uhum.
Eleonora:
Agora esses últimos dois anos eu concentrei nesse trabalho de relatoria da ONU...
Joana: uhum.
Eleonora:...
e onde foi fantástico porque nós definimos...isso até eu gostaria de dizer, nós definimos como eixo estruturador dessa relatoria, são seis relatorias pra Educação, a Saúde, Água, Terra e Alimentação, Moradia, Trabalho e Meio Ambiente...
Joana: uhum.
Eleonora:...
e só sou eu de relatora, o resto tudo é homem. E na relatoria da saúde nós definimos como os dois grandes eixos estruturadores dos casos paradigmáticos de violência a questão da saúde da mulher e a saúde no trabalho. Na saúde da mulher nós visitamos vários municípios do interior de
Recife onde a morte materna é altíssima pra sair do eixo Rio, São Paulo e de Minas Gerais, e a questão do aborto.
Joana: uhum.
Eleonora:
Visitamos várias maternidades: duas grandes maternidades do Rio de Janeiro, duas maternidades do Rio, duas de Belo Horizonte, uma de Fortaleza, onde nós tínhamos recebido notícia que mulheres tinham morrido por aborto e as profissionais tinham sido presas. Na do Rio mais grave,
que a profissional algemou a mulher na cama e chamou a polícia.
Joana: Meu Deus!!!
Eleonora:
É. Pra prender. Isso foi há seis meses. E a outra Saúde e Trabalho são questões de contaminação e da questão de método, e essas denúncias são levadas pra ONU. Nós vamos agora para Genebra, como fomos no ano passado. E duas dela foram para a Organização dos Estados Americanos
para responsabilizar o Estado por essas relações. O Estado brasileiro, é uma questão...a minha questão feminista faz parte da minha vida integral.

Joana: Eu tô vendo.
Eleonora
: Completamente.
Joana: Tu te lembras de mais alguma coisa? Eu acho que eu esgotei as nossas questões.
Eleonora
: Eu completei?
Joana: Uhum, completaste.
Eleonora
: A não ser que você tenha...
Joana: Bom, eu iria te perguntar se tu autorizas a divulgação da entrevista. Eu vou te mandar de qualquer maneira a transcrição, se tu quiser acrescentar ou tirar alguma coisa.
Eleonora: Quero. Quero. E pra mim, uma questão que eu acho que é importante, é dizer que hoje eu tenho 60 anos e sou avó.
Joana: uhum.
Eleonora:
E eu digo que a questão feminista é tão dentro de mim, e a questão dos Direitos Reprodutivos também, que eu sou avó de uma criança que foi gerada por inseminação artificial na mãe lésbica.
Joana: uhum, uhum.
Eleonora:
Então eu digo que sou avó da inseminação artificial...
Joana: (risos)
Eleonora:...
alta tecnologia reprodutiva.E aí eu queria colocar a importância dessa discussão que o feminismo coloca, no sentido do acesso às tecnologias reprodutivas.
Joana: Certo.
Eleonora:
Entendeu? E eu diria...eu fiz dois abortos, e também digo que sou avó do aborto, também porque por mim já passou.
Joana: Sim
Eleonora:
Também já passou nesse sentido. E diria que eu sou uma mulher muito feliz e muito realizada, e eu pauto em duas questões: na minha militância política e no feminismo.
Joana: Certo. A tua história, né?
Eleonora:
Que é a minha história de vida e eu acredito que os sujeitos são construídos a partir de sua própria história.
Joana: Claro. Tá certo.
Eleonora
: Tô falando isso pra historiadora...
Joana: (risos). Tá certo. Bom, Eleonora eu te agradeço bastante, e se a gente tiver uma outra questão a gente volta a conversar.
Eleonora: Sem dúvida. Estou a disposição"

FINAL DA ENTREVISTA