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sábado, 3 de abril de 2010

Sábado Santo e José de Arimatéia

A volta para casa, depois do enterro; o sábado; prisão de José de Arimatéia.

Já era a hora em que começava o sábado. Nicodemos e José voltaram à cidade, passando por uma pequena porta que havia no muro da cidade, perto do jardim e que, se bem me lembro, lhes era concedida por favor particular. Disseram à Santíssima Virgem, a João, Madalena e algumas mulheres que ainda queriam ir ao Monte Calvário, para rezar e buscar algumas coisas ali deixadas, que essa porta, como também o portão para o Cenáculo, lhes seriam abertos, se batessem. Maria Helí, a irmã já idosa da Santíssima Virgem, foi conduzida à cidade por Maria Marcos e outras mulheres. Os criados de Nicodemos e José voltaram ao Monte Calvário, para buscar os utensílios que lá tinham deixado.

Os soldados reuniram-se àqueles que ocupavam a porta que dava para o Monte Calvário; Cássio seguiu para o palácio de Pilatos, levando a lança e relatou-lhe tudo que acontecera, prometendo também lhe dar notícias exatas de tudo quanto ainda sucedesse, se o mandasse acompanhar a guarda do sepulcro, a qual os judeus, segundo fora informado, viriam requerer-lhe. Pilatos escutou todas as informações com um oculto terror, tratou-o porém, como fanático e com nojo e medo supersticioso da lança que Cássio trouxera consigo, mandou-lhe que a levasse para fora da sala.

Quando a Santíssima Virgem e os amigos voltavam com os utensílios do Monte Calvário, onde ainda tinham rezado e chorado, viram um destacamento de soldados que lhes vinha ao encontro; retiraram-se então para os dois lados do caminho, para deixar passar a tropa. Esta se dirigiu ao Monte Calvário, provavelmente para tirar, ainda antes do sábado, as cruzes e enterrá-las. Depois de terem passado, as santas mulheres continuaram o caminho em direção à pequena porta da cidade.

José e Nicodemos encontraram-se na cidade com Pedro, Tiago o Maior e Tiago o Menor. Todos estavam chorando. Pedro especialmente estava muito triste, preso de violenta dor; abraçou-os soluçando, acusou-se a si mesmo, lastimando não ter estado presente à morte do Senhor e agradeceu-lhes terem dado sepultura ao corpo sagrado. Todos estavam desvairados de dor. Pediram ainda para serem recebidos no Cenáculo, quando batessem e despediram-se, para procurar ainda outros discípulos dispersos.

Vi mais tarde a Santíssima Virgem e as amigas baterem à porta do Cenáculo e serem recebidas, como também Abenadar e, pouco a pouco, os demais Apóstolos e vários discípulos. As santas mulheres retiraram-se para a parte onde habitava a Santíssima Virgem; tomaram um pouco de alimento e passaram ainda alguns minutos, recordando com tristeza e dor tudo o que se tinha passado. Os homens revestiram-se de outras vestes e vi-os começarem o sábado de pé, sob um candeeiro.

Depois comeram ainda carne de cordeiros, em diversas mesas, no Cenáculo, mas sem cerimônias; pois não era o cordeiro pascal, que já tinham comido na véspera. Reinava tristeza e desânimo geral. Também as santas mulheres rezavam com Maria, à luz de um candeeiro. Mais tarde, quando já escurecera totalmente, foram ainda recebidos Lázaro, Marta, Maroni, a viúva de Naim, Dina Sumarites e Maria Sufanites, que depois de começar o sábado, vieram de Betânia e a dor renovou-se pela narração de tudo que se passara.

Mais tarde saíram José de Arimatéia e alguns discípulos e diversas mulheres do Cenáculo, voltando para casa; iam tímidos e tristes pelas ruas de Sião, quando de repente um grupo de homens armados saiu de uma emboscada, arremessando-se sobre eles e prendendo José de Arimatéia, enquanto os outros fugiram com gritos de terror. Vi encarcerarem o bom José numa torre do muro da cidade, não muito longe do tribunal. Caifás mandara soldados pagãos executarem essa prisão, porque não eram obrigados a guardar o sábado. Os inimigos tinham a intenção de deixar José morrer de fome e não falar nesse desaparecimento.

6. A guarda no túmulo de Jesus

Na noite de sexta-feira para sábado vi Caifás e os príncipes dos judeus reunirem-se em conselho, para decidir o que deviam fazer, diante dos acontecimentos milagrosos e da excitação do povo. Depois foram ainda durante a noite, procurar Pilatos e disseram-lhe que se tinham lembrado de que aquele impostor tinha dito, quando ainda vivia, que no terceiro dia após a morte ressuscitaria; pediam-lhe que por isso mandasse guardar o sepulcro até o terceiro dia, para que os discípulos de Jesus não lhe roubassem o corpo, divulgando em seguida que tinha ressuscitado dos mortos, pois dessa forma seria a segunda impostura pior do que a primeira.

Pilatos, porém, não quis intrometer-se mais nessa questão e disse-lhes: “Tendes uma guarda; ide guardar o túmulo como entenderdes”. Mandou, porém, Cássio acompanhar a guarda e observar e relatar-lhe depois tudo. Vi os doze fariseus saírem da cidade, antes do pôr do sol. Os doze soldados que os acompanhavam, não estavam vestidos à forma romana: eram soldados do Templo e pareciam-me uma espécie de guarda de corpo. Levaram braseiros, fixos sobre hastes, para poder ver tudo durante a noite e para ter luz na escuridão do sepulcro.

Ao chegar, certificaram-se da presença do corpo, amarraram uma corda à porta do túmulo, dessa corda fizeram passar uma segunda à pedra, selando essas cordas com um selo semilunar. Depois voltaram à cidade e os guardas sentaram-se defronte da porta exterior do sepulcro. Ficavam alternadamente cinco ou seis homens, indo de vez em quando alguns à cidade, para buscar víveres.

Cássio, porém, não deixou o posto; permanecia em pé ou senado, no fosso em frente à entrada da gruta, de modo que podia ver o lado do túmulo fechado, onde repousavam os pés do Senhor. Recebeu grandes graças interiores e a inteligência intuitiva de muitos mistérios; como não estivesse acostumado a tais estados sobrenaturais, ficava, a maior parte do tempo dessa iluminação espiritual, como que embriagado, inconsciente das coisas exteriores. Foi nesse tempo que se converteu inteiramente, tornando-se novo homem; passou o dia em atos de arrependimento, ação de graças e adoração.

7. Os amigos de Jesus no Sábado santo

Vi á noite, como já mencionei, os homens reunidos no Cenáculo, cerca de vinte, de vestes longas e brancas e cingidos, celebrando o sábado, à luz de um candeeiro e depois de comer, separaram-se para dormir. Diversos foram para casa. Também hoje os vi reunidos no Cenáculo, na maior parte do tempo em silêncio, rezando e lendo alternadamente e de vez em quando deixando entrar alguns que chegavam.

No local onde ficava a Santíssima Virgem, havia uma grande sala e nessa alguns recantos separados por biombos ou tapetes, para servirem de quartos de dormir. Depois que as santas mulheres, voltando do sepulcro, tinha posto todos os utensílios nos respectivos lugares, acendeu uma delas um candeeiro, que pendia no centro da sala.

Reuniram-se sob este candeeiro, em roda da Santíssima Virgem, rezando alternadamente, com grande devoção e tristeza. Depois tomaram algum alimento. Entraram na sala Marta, Maroni, Dina e Mara, que depois de começar o sábado, tinham vindo de Betânia, com Lázaro, que se juntou aos homens reunidos no Cenáculo. Contaram chorando aos recém-chegados a morte e a sepultura do Senhor e como já era tarde, alguns dos homens, entre os quais José de Arimatéia, mandaram chamar as mulheres que queriam voltar para suas casas na cidade e despediram-se. Ao voltar este grupo para casa, José foi preso, perto do tribunal de Caifás, como já contei e encarcerado numa torre.

As mulheres que ficaram no cenáculo, separaram-se então, indo para as mencionadas celas de dormir; puseram panos compridos sobre a cabeça e por algum tempo ali permaneceram sentadas no chão, em triste silêncio, encostadas às cobertas, que estavam enroladas ao pé da parede. Depois se levantaram, desenrolaram as cobertas, tiraram as sandálias, cintas e parte do vestuário, velaram-se da cabeça aos pés, como costumam fazer para dormir e deitaram-se para um curto descanso, sobre as cobertas estendidas; pois logo depois de meia noite se levantaram de novo, arrumaram a roupa, enrolaram os leitos e reuniram-se sob o candeeiro, em roda da Santíssima Virgem, para rezarem alternadamente. Tenho visto muitas vezes filhos fiéis de Deus e homens santos, desde que se reza neste mundo, observarem esse costume de orações noturnas, seja incitados por preceitos divinos e eclesiásticos.

Depois da mãe de Jesus e as amigas terem cumpridos esse dever de oração noturna, apesar dos grandes sofrimentos e depois de terem também os homens rezado no Cenáculo, à luz do candeeiro, bateu João, com alguns outros discípulos, à porta da sala das mulheres, que se envolveram imediatamente nos mantos e os seguiram, junto com a Santíssima Virgem, ao Templo.

Vi a Santíssima Virgem, as santas mulheres, João e outros discípulos chegarem ao Templo, quase ao mesmo tempo em que o sepulcro era selado: cerca de três horas da manhã. Era costume de muitos judeus, de madrugada, depois de ter comido o cordeiro pascal, irem ao Templo, que nessa ocasião já era aberto à meia noite, porque começavam os sacrifícios de manhã muito cedo. Naquele dia, porém, estava tudo em desordem, pela interrupção da festa e pala profanação do Templo.

Parecia-me que a Santíssima Virgem, com as amigas, queria somente se despedir do Templo, no qual tinha sido educada, adorando o Santíssimo, até trazer no seio o próprio Santíssimo, que agora fora tão cruelmente imolado, como verdadeiro Cordeiro pascal.

O Templo estava aberto, segundo o hábito desse dia e iluminado por lampiões e até o átrio dos sacerdotes era acessível ao povo, fora os guardas e empregados, como de costume nessa manhã. Mas, lá não havia nenhum fiel. Tudo estava ainda em desordem e devastado pelas terríveis destruições do dia precedente. O Templo estava profanado pela aparição de mortos e eu não podia deixar de perguntar a mim mesma: “Como poderão reparar tudo isto”?

Os filhos de Simeão e os sobrinhos de José de Arimatéia, que estavam muito tristes com a notícia da prisão do tio, encontraram-se com a Santíssima Virgem e os companheiros e conduziam-nos por todas as partes do Templo, da qual eram guardas. Viram silenciosos e assustados toda a destruição, adorando o testemunho divino; só de vez em quando os guias descreviam acontecimentos do dia anterior.

Vi em muitos lugares prejuízos causados pelo terremoto da véspera, que ainda não haviam sido consertados. No ponto onde se juntam o átrio e o Santo do Templo, havia tão larga fenda no muro, que um homem podia passar através e havia perigo dos muros caírem. A verga por cima da cortina, diante do Santo, abaixara, as colunas que a suportavam, cederam para os lados e a cortina pendia de ambos os lados, rasgado de cima a baixo, em duas partes. Pela grossa pedra caída do muro norte do Templo, perto da cela de oração de Simeão, também destruída, formara-se tão grande abertura, no lugar onde aparecera Zacarias, que as santas mulheres puderam passar sem dificuldade e do outro lado, perto da cátedra em que o Menino Jesus ensinara, ver, através da cortina rasgada, o Santo, o que em outros tempos era proibido. Também se fenderam aqui e acolá os muros, afundaram-se partes do solo, umbrais e colunas saíram do lugar.

A SS. Virgem visitou, com os amigos, todos os lugares que lhe eram sagrados, pela lembrança de Jesus. Prostrando-se por terra, beijava os santos lugares, chorando e contava as suas reminiscências, em poucas palavras comovedoras. Também as companheiras faziam o mesmo.

Os judeus têm grande veneração por todos os lugares onde aconteceu alguma coisa que lhes parece sobrenatural; tocam e beijam esses lugares e deitam-se por terra, tocando-a com o rosto. Nunca achei nisso coisa de admirar. Se sabemos, cremos e sentimos que o Deus de Abraão, Isaac e Jacó é Deus vivo e mora no meio do seu povo, no Templo, na sua casa em Jerusalém, devíamos admirar-nos antes, se não o fizessem. Quem crê em Deus vivo, Pai e Redentor e Santificador dos homens, seus filhos, não se admira que Ele esteja com amor vivo entre os vivos e que estes lhe prestem amor, honra e adoração, bem como a tudo quanto se lhe refere, mais do que aos pais terrestres, amigos, mestres, superiores e príncipes. Os judeus sentiam no Templo e nos lugares sagrados o que sentimos diante do SS. Sacramento.

Mas também entre os judeus havia cegos e “iluminados”, como há também entre nós, que não adoram o Deus vivo e realmente presente, mas se entregam ao culto supersticioso dos ídolos deste mundo. Não se lembram das palavras de Jesus: “Quem me negar diante dos homens, que servem ao espírito e à mentira do mundo, em pensamentos, palavras e obras, sem interrupção, mas rejeitam todo o culto externo de Deus, dizem às vezes, se por ventura ainda não rejeitaram o próprio Deus, como demasiadamente exterior: “Adoramos a Deus em espírito e verdade”; mas não sabem o que isso significa: no Espírito Santo e no Filho, que nasceu de Maria Virgem, que deu testemunho da verdade e viveu entre nós, que morreu por nós neste mundo e quer ficar presente na sua Igreja, no SS. Sacramento, até o fim dos séculos.

A SS. Virgem visitou assim muitos lugares do Templo, venerando-os religiosamente. Mostrou-lhes onde entrara a primeira vez no Templo, quando menina e onde fora educada, na parte sul do edifício, até o casamento. Mostrou-lhes onde desposara São José, onde apresentara Jesus, onde Simeão e Ana proferiram a profecia; nesse lugar chorou amargamente, pois a profecia estava cumprida; a espada transpassara-lhe o coração. Mostrou-lhes onde achara o Menino Jesus ensinando no Templo e beijou respeitosamente a cátedra. Visitaram também a caixa de esmolas, onde a viúva depositara a esmola e o lugar onde o Senhor perdoara à adúltera. Depois de ter deste modo venerado todos os lugares santificados pela presença de Jesus, com recordações, beijos, lágrimas e orações, voltaram a Sião.

De volta, ao amanhecer, no Cenáculo de Sião, Maria e as companheiras se dirigiram à sua habitação separada, situada à direita do pátio da casa. Na entrada se separaram delas João e outros discípulos e foram juntar-se aos homens que, em número de cerca de vinte, permaneciam reunidos, de luto, no Cenáculo, durante todo o sábado, rezando alternadamente, sob a luz do candeeiro.

Vi-os também de vez em quando receberem timidamente alguns recém-chegados, conversando com eles e chorando. Todos mostravam íntimo respeito e certa vergonha diante de João, que ficara com Jesus até à morte. João, porém, era benévolo e afetuoso para com todos e simples como uma criança, tratava a todos com humildade. Vi-os também uma vez tomar uma refeição. Fora disso estavam silenciosos e a casa permanecia fechada. Também não podiam ser inquietados ali, pois a casa pertencia a Nicodemos e haviam–na alugado para a refeição pascal.

Vi depois as santas mulheres reunidas na sala escura, iluminada apenas pela luz do candeeiro, pois as portas e janelas estavam fechadas. Ora se juntavam em roda da SS. Virgem, para a oração, ora se retiravam para suas celas separadas, cobrindo a cabeça com o véu de luto e sentavam-se sobre caixas chatas, cobertas de cinza, em sinal de luto, ou rezavam, com o rosto voltado para a parede. Sempre que se reuniam para rezar, deixavam o véu de luto nas respectivas celas. Vi também as mais fracas tomarem algum alimento, as outras, porém, jejuavam.

Sábado Santo - VIGÍLIA PASCAL

SÁBADO SANTO - VIGILIA PASCAL

Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna. João 6, 68


Evangelho segundo S. Lucas 24,1-12.


No primeiro dia da semana, ao romper da alva, as mulheres foram ao sepulcro, levando os perfumes que haviam preparado. Encontraram removida a pedra da porta do sepulcro e, entrando, não acharam o corpo do Senhor Jesus. Estando elas perplexas com o caso, apareceram-lhes dois homens em trajes resplandecentes. Como estivessem amedrontadas e voltassem o rosto para o chão, eles disseram-lhes: «Porque buscais o Vivente entre os mortos? Não está aqui; ressuscitou! Lembrai-vos de como vos falou, quando ainda estava na Galileia, dizendo que o Filho do Homem havia de ser entregue às mãos dos pecadores, ser crucificado e ressuscitar ao terceiro dia.»

Recordaram-se, então, das suas palavras. Voltando do sepulcro, foram contar tudo isto aos Onze e a todos os restantes. Eram elas Maria de Magdalena, Joana e Maria, mãe de Tiago. Também as outras mulheres que estavam com elas diziam isto aos Apóstolos; mas as suas palavras pareceram-lhes um desvario, e eles não acreditaram nelas. Pedro, no entanto, pôs-se a caminho e correu ao sepulcro. Debruçando-se, apenas viu as ligaduras e voltou para casa, admirado com o sucedido.

Comentário ao Evangelho do dia feito por:

«Tu fazes resplandecer esta noite santíssima pela glória da ressurreição do Senhor» (Colecta)

Homilia do séc. V, atribuída a Eusébio Galicano

«Alegrem-se os céus, exulte a terra!» (Sl 95, 11). Este dia resplandece para nós com o esplendor do túmulo, que para nós brilhou com raios de sol. Que os infernos aclamem, pois abriu-se neles uma saída; que se alegrem, pois chegou para eles o dia da visita; que exultem, pois viram, após séculos e séculos, uma luz que não conheciam, e na escuridão da sua noite profunda puderam enfim respirar! Oh luz bela, que vimos despontar do alto do céu [...], tu revestiste, com a tua súbita claridade, «aqueles que se encontravam nas trevas e na sombra da morte» (Lc 1,79). Porque, à descida de Cristo, a noite eterna dos infernos resplandeceu e os gritos de aflição cessaram; as correntes dos condenados foram quebradas e caíram por terra; os espíritos malfeitores foram tomados pelo estupor e como que abalados por um trovão. [...]

Quando Cristo desceu aos infernos, os porteiros sombrios, cegos pelo negro silêncio e curvando as costas ao peso do temor, murmuraram entre si: «Quem é Este temível, exuberante de brancura? Nunca o nosso inferno recebeu coisa semelhante; nunca o mundo rejeitou coisa semelhante para a nossa toca. [...] Se fosse culpado, não teria semelhante audácia. Se estivesse manchado por algum delito, não poderia dissipar as trevas com o seu brilho. Mas, se é Deus, o que está a fazer no túmulo? Se é homem, como ousa? Se é Deus, a que vem? Se é homem, como tem poder para libertar os cativos? [...] Esta cruz nos destroça os prazeres e faz nascer para nós a dor! O lenho nos tinha enriquecido, o lenho nos destrói. Este grande poder, sempte temido pelos povos, pereceu!»

Sábado Santo

Vigília Pascal

Que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam há séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos.
Ele vai antes de tudo à procura de Adão, nosso primeiro pai, ovelha perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva cativos, agora libertos dos sofrimentos.

O Senhor entrou onde eles estavam, levando em suas mãos a arma da cruz vitoriosa. Quando Adão, nosso primeiro pai, o viu, exclamou para todos os demais, batendo no peito e cheio de admiração: "O meu Senhor está no meio de nós". E Cristo respondeu a Adão: "E com teu espírito". E tomando-o pela mão, disse: "Acorda, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará.

Eu sou o teu Deus, que por tua causa me tornei teu filho; por ti e por aqueles que nasceram de ti, agora digo, e com todo o meu poder, ordeno aos que estavam na prisão: 'Saí!' ; e aos que jaziam nas trevas: 'Vinde para a luz!'; e aos entorpecidos: 'Levantai-vos!'
Eu te ordeno: Acorda, tu que dormes, porque não te criei para permaneceres na mansão dos mortos. Levanta-te dentre os mortos; eu sou a vida dos morotos. Levanta-te, obra das minhas mãos; levanta-te, ó minha imagem, tu que foste criado à minha semelhança. Levanta-te, saiamos daqui; tu em mim e eu em ti, somos uma só é indivisível pessoa.

Por ti, eu, o teu Deus, me tornei teu filho; por ti, eu, o Senhor, tomei tua condição de escravo. Por ti, eu, que habito no mais alto dos céus, desci à terra e fui até mesmo sepultado debaixo da terra; por ti, feito homem, tornei-me como alguém sem apoio, abandonado entre os mortos. Por ti, que deixaste o jardim no paraíso, ao sair de um jardim fui entregue aos judeus e num jardim, crucificado.

Vê em meu rosto os escarros que por ti recebi, para restituir-te o sopro da vida original. Vê na minha face as bofetadas que levei para restaurar, conforme à minha imagem, tua beleza corrompida.
Vê em minhas costas as marcas dos açoites que suportei por ti para retirar de teus ombros o peso dos pecados. Vê minhas mãos fortemente pregadas à árvore da cruz, por causa de ti, como outrora estendeste levianamente as tuas mãos para a árvore do paraíso.
Adormeci na cruz e por tua causa a lança penetrou no meu lado, como Eva surgiu do teu, ao adormeceres no paraíso. Meu lado curou a dor do teu lado. Meu sono vai arrancar-te do sono da morte. Minha lança deteve a lança que estava dirigida contra ti.

Levanta-te, vamos daqui. O inimigo te expulsou da terra do paraíso; eu, porém, já não te coloco no paraíso mas num trono celeste. O inimigo afastou de ti a árvore, símbolo da vida; eu, porém, que sou a vida, estou agora junto de ti. Constituí anjos que, como servos, te guardassem; ordeno agora que eles te adorem como Deus, embora não sejas Deus.

Está preparado o trono dos querubins, prontos e a postos os mensageiros, construído o leito nupcial, preparado o banquete, as mansões e os tabernáculos eternos adornados, abertos os tesouros de todos os bens e o meio dos céus preparado para ti desde toda a eternidade".

De uma antiga Homilia no grande Sábado Santo
Fonte:
Liturgia das Horas

03 de abril - Santo do dia

São Luís Scrosoppi

Luís nasceu em 4 de agosto de 1804, em Udine, cidade do Friuli, no Norte da Itália. Foi o último dos filhos de Antônia e Domingos Scrosoppi, cristãos fervorosos que educaram os filhos dentro dos preceitos da fé e na caridade. Aos doze anos, Luís ingressou no seminário diocesano de Udine, e, em 1827, foi ordenado sacerdote.

A região do Friuli, a partir de 1800, mergulhou na miséria em conseqüência das guerras e epidemias, o que serviu ao padre Luís de estímulo para cuidar dos necessitados. Dedicou-se, com outros sacerdotes e um grupo de jovens professoras, à acolhida e à educação das "derelitas", as mais sozinhas e abandonadas jovens de Udine e dos arredores. A elas ele disponibilizou todos os seus bens, suas energias e seu afeto, sem economizar nada de si. Quando foi preciso, ele não hesitou em pedir esmolas. A sua vida foi, de fato, uma expressão palpável da grande confiança na Providência Divina.

Com essas senhoras, chamadas de "professoras", hábeis no trabalho de costura e de bordado, que estavam aptas à alfabetização, dispostas a colocarem suas vidas nas mãos do Senhor para servi-lo e optando por uma vida de pobreza, padre Luís Scrosoppi fundou a Congregação das Irmãs da Providência. Mas notou que necessitava de algo mais para dar continuidade a essa obra. Por isso, aos quarenta e dois anos de idade, em 1846, tornou-se um "filho de são Felipe" e, através do santo, aprendeu a mansidão e a doçura, qualidades que lhe deram mais idoneidade na função de fundador e pai da nova família religiosa.

Todas as obras feitas por padre Luís refletiram sua opção pelos mais pobres e necessitados. Ele profetizou certa vez: "Doze casas abrirei antes da minha morte", e sua profecia concretizou-se. Foram, realmente, doze casas abertas às jovens abandonadas, aos doentes pobres e aos anciãos que não tinham família. Porém Luís não se dedicava apenas às suas obras de caridade. Ele também oferecia seu apoio espiritual e econômico a outras iniciativas sociais de Udine, realizadas por leigos de boa vontade. Era dele, também, a missão de sustentar todas as atividades da Igreja, em particular as destinadas aos jovens do seminário de Udine.

Depois de 1850, a Itália unificou-se, num clima anticlerical, e os fatos políticos representaram um período difícil para Udine e toda a região do Friuli. Uma das conseqüências foi o decreto de supressão da "Casa das Derelitas" e da Congregação dos Padres do Oratório, de Udine. Após uma verdadeira batalha, conseguiu salvar as "Casas", mas não conseguiu impedir a supressão da Congregação do Oratório.

Já no fim da vida, padre Luís transferiu a direção de suas obras às irmãs, que aceitaram a missão com serenidade e esperança. Quando sentiu chegar o fim, dirigiu suas últimas palavras às irmãs, animando-as para os revezes que surgiriam, lembrando-as: "... Caridade! Eis o espírito da vossa família religiosa: salvar as almas e salvá-las com a caridade". Morreu no dia 3 de abril de 1884. Toda a população de Udine e das cidades vizinhas foram vê-lo pela última vez e pedir-lhe ajuda do paraíso celeste.

No terceiro milênio, as irmãs da Providência continuam a obra do fundador nos seguintes países: Romênia, Moldávia, Togo, Índia, Bolívia, Brasil, África do Sul, Uruguai e Argentina.
Padre Luís Scrosoppi foi proclamado santo pelo papa João Paulo II em 2001. Nessa solenidade estava presente um jovem sul-africano que foi curado, em 1996, da Aids. Por esse motivo, esse mesmo pontífice declarou São Luis Scrosoppi padroeiro dos portadores do vírus da Aids e de todos os doentes incuráveis. O jovem sul-africano que se curou desse vírus entrou no Oratório de São Felipe Néri, tomando o nome de Luís.

São Luís Scrosoppi, rogai por nós !

sexta-feira, 2 de abril de 2010

As últimas palavras de JESUS

As Sete Palavras de JESUS

De pé, junto a Cruz, Maria, pervadida de angústia e de dores, ouvia de seu Divino Filho as últimas palavras.

Afirma São Tomás que “o último na ação é o primeiro na intenção”. Pelos derradeiros atos e disposições de alma de quem transpõe os umbrais da eternidade, chegamos a compreender bem qual foi o rumo que norteou sua existência. No caso de Jesus, não só na morte de cruz, mas também, de forma especial, em suas última palavras, vemos os sentido mais profundo de sua Encarnação. Nelas encontramos uma rutilante síntese de sua vida: constante e elevada oração ao Pai, apostolado através da pregação, conduta exemplar, milagres e perdão.

A cruz foi o divino pedestal eleito por Jesus para proclamar suas últimas súplicas e decretos. No alto do Calvário se esclareceram todos os seus gestos, atitudes e pregações. Maria também compreendeu ali, com profundidade, sua missão de mãe.

Jesus é a Caridade. A perfeição dessa virtude, nós a encontramos nas “Sete Palavras”. As três primeiras tem em vista os outros (inimigos, amigos e familiares); as demais, a Si próprio.

Primeira Palavra: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23, 34)

Pai - É o mais suave título de Deus. Nessa hora extrema, Jesus bem poderia invocá-Lo chamando-O Deus. Percebe-se, entretanto, claramente a intenção do Redentor: quis afastar, dos fautores daquele crime, a divina severidade do Juiz Supremo, interpondo a misericórdia de sua paternalidade. Chega-se a entrever a força de seu argumento: se o Filho, vítima do crime, perdoa por que não o fazeis também a Vós?

É a primeira “palavra” que os divinos lábios d’Ele pronunciam na cruz, e nela já encontramos o perdão. Perdão pelos que Lhe infligiram diretamente seu martírio. Perdão que abarca também todos os outros culpados: os pecadores. Nesse momento, portanto, Jesus pediu ao Pai também por mim.

Embora não houvesse fundamento para escusar o desvario e ingratidão do povo, a sanha dos algozes, a inveja e ódio dos príncipes e dos sacerdotes, etc., tão infinita foi a Caridade de Jesus que Ele argumenta com o Pai: “porque não sabem o que fazem.”

A ausência absoluta de ressentimento faz descer do alto da cruz a luminosidade harmoniosa e até afetuosa do amor ao próximo como a si mesmo. Ouvindo essa súplica, chegamos a entender quanta insenção de ânimo havia em Jesus na ocasião em que expulsou os vendilhões do Templo: era, de fato, o puro zelo pela casa de seu Pai.

Segunda Palavra: “Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso (Lc 23, 43)

A cena não podia ser mais pungente. Jesus se encontra entre dois ladrões. Um deles faz jus à afirmação da Escritura: “Um abismo atrai outro abismo (SL 41,8). Blasfema contra Jesus, dizendo: “Se és Cristo, salva-te a ti mesmo, e salva-nos a nós” (Lc 23, 39).

Enquanto esse ladrão ofende, o outro louva Jesus e admoesta seu companheiro, dizendo: “Nem sequer temes a Deus, tu que sofres no mesmo suplício? Para nós isto é justo: recebemos o que mereceram os nossos crimes, mas este não fez mal algum” (Lc 23, 40-41).

São palavras inspiradas, nas quais transparecem a santa correção fraterna, o reconhecimento da inocência de Cristo, a confissão arrependida dos crimes cometidos. São virtudes que lhe preparam a alma para uma ousada súplica: “Senhor, lembra-te de mim, quando tiveres entrado no teu Reino!” (Lc. 23, 42).

Ao referir-se a Jesus enquanto “Senhor“, o bom ladrão professa sua condição de escravo e reconhece-O como Redentor. O “lembra-te de mim” é afirmativo, não tem nenhum sentido condicional, pois sua confiança é plena e inabalável. Compreende a superioridade da vida eterna sobre a terrena, para o mau ladrão, constitui um delírio: o afastamento da morte, a recuperação da saúde e da integridade.

O bom ladrão confessa publicamente a Nosso Senhor Jesus Cristo, ao contrário até mesmo de São Pedro, que havia três vezes negado o Senhor. Tal gesto lhe fez merecer de Jesus este prêmio: “Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23, 43).

Jesus torna solene a primeira canonização da história: “Em verdade…”

A promessa é categórica até quanto à data: hoje. São Cipriano e Santo Agostinho chegam a afirmar ter recebido o bom ladrão a palma do martírio, pelo fato de, por livre e espontânea vontade, haver confessado publicamente a Nosso Senhor Jesus Cristo.

Terceira Palavra: “Junto à Cruz de Jesus estavam de pé sua Mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cleófas, e Maria Madalena. Quando Jesus viu sua Mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à sua mãe: “Mulher, eis aí teu filho”. Depois disse ao discípulo: “Eis aí tua Mãe”. E dessa hora em diante o discípulo a levou para a sua casa” (Jo 19, 25-27)

Com essas palavras, Jesus finaliza sua comunicação oficial com os homens antes da morte (as quatro outras serão de sua intimidade com Deus). Quem as ouve são Maria Madalena, representando a via da penitência; Maria, mullher de Cleofas, a dos que vão progredindo na vida espiritual; Maria Santíssima e São João, a da perfeição.

Consideremos um breve comentário de Santo Ambrósio sobre este trecho: “São João escreveu o que os outros calaram: (pouco depois de) conceder o reino dos céus ao bom ladrão, Jesus, cravado na Cruz, considerado vencedor da morte, chamou sua Mãe e tributou a Ela a reverência de seu amor filial. E, se perdoar o ladrão é um ato de piedade, muito mais é homenagear a Mãe com tanto carinho … Cristo, do alto da cruz, fazia seu testamento, distribuindo entre sua Mãe e seu discípulo os deveres de seu carinho” (in S. Tomás de Aquino, Catena Aurea).

É arrebatador constatar como Jesus numa atitude de grandioso afeto e nobreza, encerrou oficialmente seu relacionamento com a humanidadem na qual se encarnara para redimí-la. Do auge da dor, expressou o carinho de um Deus por sua Mãe Santíssima, e concedeu o prêmio para o discípulo que abandonara seus próprios pais para segui-Lo: o cêntuplo nesta terra (Mt 19, 29).

É perfeita e exemplar a presteza com que São João assume a herança deixada pelo Divino Mestre: “E dessa hora em diante, o discípulo a levou para a sua casa” (Jo 19, 27). São João desce do Calvário protegendo, mas sobretudo protegido pela Rainha do céu e da terra. É o prêmio de quem procura adorar Jesus no extremo de seu martírio.

Quarta Palavra: “Meu Deus, meu Deus, por que Me abandonaste? (Mt 27, 45)

Jesus clama em alta voz. Seu brado fende não somente os ares daquele instante, mas os céus da história. Nossos ouvidos são duros, era indispensável falar com força. Jesus não profere uma queixa, nem faz uma acusação. Deseja, por amor a nós, fazer-nos entender a terrível atrocidade de seus tormentos. Assim mais facilmente adquiriremos clara noção de quanto pesa nossos pecados e de quanto devemos ser agradecidos pela Redenção.

Como entender esse abandono? Não rompeu-se – e é impossível – a união natural e eterna entre as pessoas do Pai e do Filho. Nem sequer separaram-se as naturezas humana e divina. Jamais se interrompeu a união entre a graça e a vontade de Jesus. Tampouco perdeu sua alma a visão beatífica.

Perdeu Jesus, sito sim, e temporariamente, a união de proteção à qual Ele faz menção no Evangelho: “Aquele que me enviou está comigo; ele não me deixou sozinho” (Jo, 8, 29). O Pai bem poderia protegê-Lo nessa hora (cfr. Mc 14, 36; Mt 26, 53; Lc 22, 43). O próprio Filho poderia proteger seu Corpo (Jo 10, 18; 18, 6), ou conferir-lhe o dom de incorruptibilidade e de impassibilidade, uma vez que sua alma estava na visão beatífica.

Mas assim determinou a Santíssima Trindade: a debilidade da natureza humana em Jesus deveria prevalecer por um certo período, a fim de que se cumprisse o que estava escrito. Por isso Jesus não se dirige ao Pai como em geral procedia, mas usa da invocação “meu Deus”.

A ordem do universo criado é coesa com aordem moral. Ambas procedem de uma mesma e única causa. Se a primeira não se levanta para se vingar daqueles que dilaceram os princípios morais por meio de seus pecados, é porque deus lhe retém o ímpeto natural, Se assim não fosse, os céus, os mares e os ventos se ergueriam contra toda e qualquer ofensa feita a Deus. Mas como frear a natureza diante do deicídio? Por isso, na hora daquele crime supremo, “cobriu-se toda a terra de trevas” … (Mt 27, 45).

Quinta Palavra: “Tenho SEDE.” (Jo 19, 28)

Assinala o evangelista que Jesus dissera tais palavras por saber “que tudo estava consumado, para se cumprir plenamente a Escritura”. Vendo um vaso cheio de vinagre que havia por ali, os soldados embeberam uma esponja, “e fixando-a numa vara de hissopo, chegaram-lhe à boca” (Jo 19, 28-29).

Cumpria-se assim o versículo 22 do salmo 68: “Puseram fel no meu alimento; na minha sede deram-me vinagre para beber.”

Qual a razão mais profunda desse episódio? É um verdadeiro mistério.

Jesus derramara boa quantidade de seu preciosíssimo Sangue durante a flagelação. As chagas em via de cicatrização, foram reabertas ao longo do caminho e ainda mais quando Lhe arrancaram as roupas para crucificá-Lo. O pouco sangue que Lhe restava escorria pelo sagrado lenho. Por isso, a sede tornou-se ardentíssima. Além desse sentido físico, a sede de Jesus significava algo mais: o Divino Redentor tinha sede da glória de Deus e da salvação das almas.

E o que lhe oferecem? Um soldado lhe apresenta, na ponta de uma vara, uma esponja empapada de vinagre. Era a bebida dos condenados.

Podemos de alguma maneira aliviar pelo menos esse tormento de Jesus? Sim! Antes de tudo, compadecendo-nos d’Ele com amor e verdadeira piedade, e apresentando-Lhe um coração arrependido e humilhado.

Devemos querer ter parte nessa sede de Cristo, almejando acima de tudo à nossa própria santificação, com redobrado esforço, de modo a não pensar, desejar ou praticar algo que a Ele nos conduza. Para Ele será água fresca e cristalina nossa fuga vigilante das ocasiões próximas de pecado. Compadeçamo-nos também dos que vivem no pecado ou nele caem, e trabalhemos por sua salvação. Em suma, apliquemo-nos com ânimo na tarefa de apressar o triunfo do Imaculado Coração de Maria.

O Salvador clama a nós do alto da cruz que defendamos, mais ainda que o bom ladrão, a honra de deus, procurando conduzir a opinião pública para a verdadeira Igreja. É nosso dever buscar entusiasmadamente a glória de Cristo, “que nos amou e por nós se entregou a Deus como oferenda e sacrifício de agradável odor.” (Ef 5, 2).

Sexta Palavra: “Tudo está consumado” (Jo 19, 30)

A Sagrada Paixão terminara e, com ela, a pregação. Todas as profecias haviam se cumprido, conforme interpreta Santo Agostinho: a concepção virginal (Is 7, 14); o nascimento em Belém (Mq 5, 1); a adoração dos Reis (Sl 71, 10); a pregação e os milagres (Is 61, 1; 35, 5-6); a gloriosa entrada em Jerusalém no dia de Ramos (Zc 9, 9) e toda a Paixão (Isaías e Jeremias).

Na Cruz foi vencida a guerra contra o demônio: “Agora é o juízo deste mundo; agora será lançado fora o príncipe deste mundo” (Jo 12, 31). No paraíso terrestre, o demônio adquirira de modo fraudulento a posse deste mundo, com o pecado de nossos primeiros pais. Jesus a recuperou como legítimo herdeiro.

Consumado também estava o edifício da Igreja. Este iniciou-se com o batismo no Jordão, onde foi ouvida a voz do Pai indicando seu Filho muito amado, e se concluiu na cruz, na qual Jesus comprou todas as graças que serão distribuídas até o fim do mundo através dos sacramentos.

Para que o preciosíssimo Sangue Dio Salvador ponha fim ao império do demônio em nossas almas é preciso que crucifiquemos nossa carne com seus caprichos e delírios, combatendo também o respeito humano e a soberba. Jesus nos abriu um caminho que, aliás, todos os santos trilharam.

Sétima Palavra: “Pai, nas tuas mãos, entrego o meu espírito” (Lc 23, 46)

Estabeleceu-se na Igreja, desde os primórdios, o costume de encomendar as almas dos fiéis defuntos, a fim de que a luz perpétua os ilumine.

Jesus, porém, não tinha necessidade de encomendar sua alma ao Pai, pois ela havia sido criada no pleno gozo da visão beatífica. Desde o primeiro instante de sua existência, encontrava-se unida à natureza divina na pessoa do Verbo. Portanto, ao abandonar o corpo sagrado, sairia vitoriosa e triunfante. “Meu espírito”, e não alma, provavelmente aqui significaria a vida corporal de Jesus.

Mas, Jesus aguardava sua ressurreição para logo. Ao entregar ao Pai a vida que d’Ele recebera, sabia que ela Lhe seria restituída no tempo devido.

Com reverência tomou o Pai Eterno em suas mãos a vida de seu Filho unigênito, e com infinito comprazimento a devolveu, no ato da ressurreição, a um corpo imortal, impassível e glorioso. Abriu-se, assim, o caminho para a nossa ressurreição, ficando-nos a lição de que ela não pode ser atingida senão pelo calvário e pela cruz.

AVE CRUX, SPES ÚNICA.

Fonte: (Revista Arautos do Evangelho, Março/2002, n. 3, p. 13 à 17)
Por: Mons. João Clá Dias, EP

Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo

6ª-feira da PAIXÃO DO SENHOR

Sexta-feira Santa

Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna. João 6, 68
Evangelho segundo S. João 18,1-40.19,1-42.

Tendo dito estas coisas, Jesus saiu com os discípulos para o outro lado da torrente do Cédron, onde havia um horto, e ali entrou com os seus discípulos. Judas, aquele que o ia entregar, conhecia bem o sítio, porque Jesus se reunia ali frequentemente com os discípulos. Judas, então, guiando o destacamento romano e os guardas ao serviço dos sumos sacerdotes e dos fariseus, munidos de lanternas, archotes e armas, entrou lá. Jesus, sabendo tudo o que lhe ia acontecer, adiantou-se e disse-lhes: «Quem buscais?» Responderam-lhe: «Jesus, o Nazareno.» Disse-lhes Ele: «Sou Eu!» E Judas, aqu
ele que o ia entregar, também estava junto deles. Logo que Jesus lhes disse: 'Sou Eu!', recuaram e caíram por terra. E perguntou-lhes segunda vez: «Quem buscais?» Disseram-lhe: «Jesus, o Nazareno!» Jesus replicou-lhes: «Já vos disse que sou Eu. Se é a mim que buscais, então deixai estes ir embora.» Assim se cumpria o que dissera antes: 'Dos que me deste, não perdi nenhum.' Nessa altura, Simão Pedro, que trazia uma espada, desembainhou-a e arremeteu contra um servo do Sumo Sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. O servo chamava-se Malco. Mas Jesus disse a Pedro: «Mete a espada na bainha. Não hei-de beber o cálice de amargura que o Pai me ofereceu?»

Então, o destacamento, o comandante e os guardas das autoridades judaicas prenderam Jesus e manietaram-no. E levaram-no primeiro a Anás, porque era sogro de Caifás, o Sumo Sacerdote naquele ano. Caifás era quem tinha dado aos judeus este conselho: 'Convém que morra um só homem pelo povo'. Entretanto, Simão Pedro e outro discípulo foram seguindo Jesus. Esse outro discípulo era conhecido do Sumo Sacerdote e pôde entrar no seu palácio ao mesmo tempo que Jesus. Mas Pedro ficou à porta, de fora. Saiu, então, o outro discípulo que era conhecido do Sumo Sacerdote, falou com a porteira e levou Pedro para dentro. Disse-lhe a porteira: «Tu não és um dos discípulos desse homem?» Ele respondeu: «Não sou.» Lá dentro estavam os servos e os guardas, de pé, aquecendo-se à volta de um braseiro que tinham acendido, porque fazia frio. Pedro ficou no meio deles, aquecendo-se também. Então, o Sumo Sacerdote interrogou Jesus acerca dos seus discípulos e da sua doutrina. Jesus respondeu-lhe: «Eu tenho falado abertamente ao mundo; sempre ensinei na sinagoga e no templo, onde todos os judeus se reúnem, e não disse nada em segredo. Porque me interrogas? Interroga os que ouviram o que Eu lhes disse. Eles bem sabem do que Eu lhes falei.» Quando Jesus disse isto, um dos guardas ali presente deu-lhe uma bofetada, dizendo: «É assim que respondes ao Sumo Sacerdote?» Jesus replicou: «Se falei mal, mostra onde está o mal; mas, se falei bem, porque me bates?» Então, Anás mandou-o manietado ao Sumo Sacerdote Caifás. Entretanto, Simão Pedro estava de pé a aquecer-se. Disseram-lhe, então: «Não és tu também um dos seus discípulos?» Ele negou, dizendo: «Não sou.» Mas um dos servos do Sumo Sacerdote, parente daquele a quem Pedro cortara a orelha, disse-lhe: «Não te vi eu no horto com Ele?» Pedro negou Jesus de novo; e nesse instante cantou um galo.

De Caifás, levaram Jesus à sede do governador romano. Era de manhã cedo e eles não entraram no edifício para não se contaminarem e poderem celebrar a Páscoa. Pilatos veio ter com eles cá fora e perguntou-lhes: «Que acusações apresentais contra este homem?» Responderam-lhe: «Se Ele não fosse um malfeitor, não to entregaríamos.» Retorquiu-lhes Pilatos: «Tomai-o vós e julgai-o segundo a vossa Lei.» «Não nos é permitido dar a morte a ninguém», disseram-lhe os judeus, em cumprimento do que Jesus tinha dito, quando explicou de que espécie de morte havia de morrer. Pilatos entrou de novo no edifício da sede, chamou Jesus e perguntou-lhe: «Tu és rei dos judeus?» Respondeu-lhe Jesus: «Tu perguntas isso por ti mesmo, ou porque outros to disseram de mim?» Pilatos replicou: «Serei eu, porventura, judeu? A tua gente e os sumos sacerdotes é que te entregaram a mim! Que fizeste?» Jesus respondeu: «A minha realeza não é deste mundo; se a minha realeza fosse deste mundo, os meus guardas teriam lutado para que Eu não fosse entregue às autoridades judaicas; portanto, o meu reino não é de cá.» Disse-lhe Pilatos: «Logo, Tu és rei!» Respondeu-lhe Jesus: «É como dizes: Eu sou rei! Para isto nasci, para isto vim ao mundo: para dar testemunho da Verdade. Todo aquele que vive da Verdade escuta a minha voz.» Pilatos replicou-lhe: «Que é a verdade?» Dito isto, foi ter de novo com os judeus e disse-lhes: «Não vejo nele nenhum crime. Mas é costume eu libertar-vos um preso na Páscoa. Quereis que vos solte o rei dos judeus?» Eles puseram-se de novo a gritar, dizendo: «Esse não, mas sim Barrabás!» Ora Barrabás era um salteador. Então, Pilatos mandou levar Jesus e flagelá-lo. Depois, os soldados entrelaçaram uma coroa de espinhos, cravaram-lha na cabeça e cobriram-no com um manto de púrpura; e, aproximando-se dele, diziam-lhe: «Salve! Ó Rei dos judeus!» E davam-lhe bofetadas. Pilatos saiu de novo e disse-lhes: «Vou trazê-lo cá fora para saberdes que eu não vejo nele nenhuma causa de condenação.» Então, saiu Jesus com a coroa de espinhos e o manto de púrpura. Disse-lhes Pilatos: «Eis o Homem!» Assim que viram Jesus, os sumos sacerdotes e os seus servidores gritaram: «Crucifica-o! Crucifica-o!» Disse-lhes Pilatos: «Levai-o vós e crucificai-o. Eu não descubro nele nenhum crime.» Os judeus replicaram-lhe: «Nós temos uma Lei e, segundo essa Lei, deve morrer, porque disse ser Filho de Deus.» Quando Pilatos ouviu estas palavras, mais assustado ficou. Voltou a entrar no edifício da sede e perguntou a Jesus: «Donde és Tu?» Mas Jesus não lhe deu resposta. Pilatos disse-lhe, então: «Não me dizes nada? Não sabes que tenho o poder de te libertar e o poder de te crucificar?» Respondeu-lhe Jesus: «Não terias nenhum poder sobre mim, se não te fosse dado do Alto. Por isso, quem me entregou a ti tem maior pecado.» A partir daí, Pilatos procurava libertá-lo, mas os judeus clamavam: «Se libertas este homem, não és amigo de César! Todo aquele que se faz rei declara-se contra César.» Ouvindo estas palavras, Pilatos trouxe Jesus para fora e fê-lo sentar numa tribuna, no lugar chamado Lajedo, ou Gabatá em hebraico. Era o dia da Preparação da Páscoa, por volta do meio-dia. Disse, então, aos judeus: «Aqui está o vosso Rei!» E eles bradaram: «Fora! Fora! Crucifica-o!» Disse-lhes Pilatos: «Então, hei-de crucificar o vosso Rei?» Replicaram os sumos sacerdotes: «Não temos outro rei, senão César.»

Então, entregou-o para ser crucificado. E eles tomaram conta de Jesus. Jesus, levando a cruz às costas, saiu para o chamado Lugar da Caveira, que em hebraico se diz Gólgota, onde o crucificaram, e com Ele outros dois, um de cada lado, ficando Jesus no meio. Pilatos redigiu um letreiro e mandou pô-lo sobre a cruz. Dizia: «Jesus Nazareno, Rei dos Judeus.» Este letreiro foi lido por muitos judeus, porque o lugar onde Jesus tinha sido crucificado era perto da cidade e o letreiro estava escrito em hebraico, em latim e em grego. Então, os sumos sacerdotes dos judeus disseram a Pilatos: «Não escrevas 'Rei dos Judeus', mas sim: 'Este homem afirmou: Eu sou Rei dos Judeus.'» Pilatos respondeu: «O que escrevi, escrevi.» Os soldados, depois de terem crucificado Jesus, pegaram na roupa dele e fizeram quatro partes, uma para cada soldado, excepto a túnica. A túnica, toda tecida de uma só peça de alto a baixo, não tinha costuras. Então, os soldados disseram uns aos outros: «Não a rasguemos; tiremo-la à sorte, para ver a quem tocará.» Assim se cumpriu a Escritura, que diz: Repartiram entre eles as minhas vestes e sobre a minha túnica lançaram sortes. E foi isto o que fizeram os soldados. Junto à cruz de Jesus estavam, de pé, sua mãe e a irmã da sua mãe, Maria, a mulher de Clopas, e Maria Madalena.
Então, Jesus, ao ver ali ao pé a sua mãe e o discípulo que Ele amava, disse à mãe: «Mulher, eis o teu filho!» Depois, disse ao discípulo: «Eis a tua mãe!» E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-a como sua. Depois disso, Jesus, sabendo que tudo se consumara, para se cumprir totalmente a Escritura, disse: «Tenho sede!» Havia ali uma vasilha cheia de vinagre. Então, ensopando no vinagre uma esponja fixada num ramo de hissopo, chegaram-lha à boca. Quando tomou o vinagre, Jesus disse: «Tudo está consumado.» E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.

Como era o dia da Preparação da Páscoa, para evitar que no sábado ficassem os corpos na cruz, porque aquele sábado era um dia muito solene, os judeus pediram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas e fossem retirados. Os soldados foram e quebraram as pernas ao primeiro e também ao outro que tinha sido crucificado juntamente. Mas, ao chegarem a Jesus, vendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas. Porém, um dos soldados traspassou-lhe o peito com uma lança e logo brotou sangue e água. Aquele que viu estas coisas é que dá testemunho delas e o seu testemunho é verdadeiro. E ele bem sabe que diz a verdade, para vós crerdes também. É que isto aconteceu para se cumprir a Escritura, que diz: Não se lhe quebrará nenhum osso. E também outro passo da Escritura diz: Hão-de olhar para aquele que trespassaram. Depois disto, José de Arimateia, que era discípulo de Jesus, mas secretamente por medo das autoridades judaicas, pediu a Pilatos que lhe deixasse levar o corpo de Jesus. E Pilatos permitiu-lho. Veio, pois, e retirou o corpo. Nicodemos, aquele que antes tinha ido ter com Jesus de noite, apareceu também trazendo uma mistura de perto de cem libras de mirra e aloés. Tomaram então o corpo de Jesus e envolveram-no em panos de linho com os perfumes, segundo o costume dos judeus. No sítio em que Ele tinha sido crucificado havia um horto e, no horto, um túmulo novo, onde ainda ninguém tinha sido sepultado. Como para os judeus era o dia da Preparação da Páscoa e o túmulo estava perto, foi ali que puseram Jesus.

Comentário ao Evangelho do dia feito por :

Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (África do Norte) e Doutor da Igreja
Sermões sobre o Evangelho de São João

«O centurião que se encontrava em frente d'Ele, exclamou: "Verdadeiramente este homem era o Filho de Deus!"»


«No princípio era o Verbo» (Jo 1, 1), a Palavra de Deus. Ele é idêntico a Si próprio; o que Ele é, é-o sempre; Ele não pode mudar, Ele é o que é. Foi esse o nome com que Se deu a conhecer ao Seu servo Moisés: «Eu sou Aquele que sou» e «Tu dirás: Aquele que é enviou-me» (Ex 3,14). [...] Quem pode compreendê-Lo? Ou quem poderá chegar a Ele – supondo que emprega todas as forças do seu espírito para atingir, melhor ou pior, Aquele que é? Compará-lo-ei a um exilado, que de longe vê a sua pátria: o mar separa-os; vê para onde deve ir, mas não tem meios de lá chegar. Também nós queremos chegar a esse porto definitivo que será nosso, onde está Aquele que é, porque só Ele é sempre o mesmo, mas o oceano que é este mundo corta-nos o caminho. [...]

Para nos dar um meio para irmos até lá, Aquele que nos chama veio de lá e escolheu uma madeira para nos fazer atravessar o mar: sim, ninguém pode atravessar o oceano deste mundo sem ser levado pela cruz de Cristo. Até um cego pode abraçar esta cruz; se não vês bem para onde vais, não a soltes: ela te conduzirá por si própria. Eis, meus irmãos, o que eu gostaria de fazer entrar nos vossos corações: se quereis viver no espírito de piedade, no espírito cristão, uni-vos a Cristo como Ele tem feito por nós, a fim de vos juntardes a Ele tal como Ele é, e tal como sempre foi. Foi por isso que Ele desceu até nós, porque fez-Se homem a fim de levar os inválidos, de os fazer atravessar o mar e de os fazer abordar na pátria, onde já não há necessidade de navios porque não há mais oceanos para atravessar. Se necessário, seria melhor não ver com o espírito Aquele que é mas abraçar a cruz de Cristo, do que vê-Lo com o espírito e desprezar a cruz. Possamos nós, para nosso bem, ao mesmo tempo ver para onde vamos e fixar-nos com grampos ao navio que nos leva! [...] Alguns conseguiram-no, e viram Aquele que é. Foi porque O viu que João disse: «No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.» Eles viram-no; e, para chegarem junto Daquele que viam de longe, uniram-se à cruz de Cristo, não desprezaram a humildade de Cristo.

Sexta-feira Santa

Paixão do Senhor

Do Evangelho de S. Marcos 15, 33-34.37.39

"Chegado ao meio-dia,
houve trevas por toda a terra,
até às três da tarde.
Às três horas, Jesus exclamou em alta voz:
"Eloì, Eloì, lema sabactàni?"
que quer dizer:
Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste? (...)
Soltando um grande brado, Jesus expirou. (...)
Ao vê-Lo expirar daquela maneira,
o centurião, que se encontrava em frente d'Ele, exclamou: "Verdadeiramente este homem era o Filho de Deus".

Eis o agir mais alto, mais sublime do Filho em união com o Pai. Sim, em união, na mais profunda união... precisamente quando grita: "Eloì, Eloì, lema sabactàni?", "Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?" (Mc 15, 34; Mt 27, 46). Este agir exprime-se na verticalidade do corpo estendido ao longo da trave perpendicular da Cruz com a horizontalidade dos braços estendidos ao longo do madeiro transversal. A pessoa que olha estes braços pode pensar com quanto esforço eles abraçam o homem e o mundo. Abraçam.

Eis o homem. Eis o próprio Deus. "N'Ele (...) vivemos, nos movemos e existimos" (Ato 17, 28). N'Ele, nestes braços estendidos ao longo da trave horizontal da Cruz. O mistério da Redenção.

Jesus, pregado na Cruz, imobilizado nesta terrível posição, invoca o Pai (cf. Mc 15, 34; Mt 27, 46; Lc 23, 46). Todas as suas invocações testemunham que Ele está unido com o Pai. "Eu e o Pai somos um" (Jo 10, 30); "Quem Me vê, vê o Pai" (Jo 14, 9); "Meu Pai trabalha continuamente e Eu também trabalho" (Jo 5, 17).

2 de abril - Santo do dia

São Francisco de Paula

Tiago era um simples lavrador que extraia do campo o sustento da família. Muito católico, tinha o costume de rezar enquanto trabalhava, fazia seguidos jejuns, penitências e praticava boas obras. Sua esposa chamava-se Viena e, como ele, era boa, virtuosa e o acompanhava nos preceitos religiosos. Demoraram a ter um filho, tanto que pediram a são Francisco de Assis pela intercessão da graça de terem uma criança, cuja vida seria entregue a serviço de Deus, se essa fosse sua vontade. E foi o que aconteceu: no dia 27 de março de 1416, nasceu um menino que recebeu o nome de Francisco, em homenagem ao Pobrezinho de Assis.

Aos onze anos, Francisco foi viver no convento dos franciscanos de Paula, dois anos depois vestiu o hábito, mas teve de retornar para a família, pois estava com uma grave enfermidade nos olhos. Junto com seus pais, pediu para que são Francisco de Assis o ajudasse a ficar curado. Como agradecimento pela graça concedida, a família seguiu em peregrinação para o santuário de Assis, e depois a Roma. Nessa viagem, Francisco recebeu a intuição de tornar-se um eremita. Assim, aos treze anos foi dedicar-se à oração contemplativa e à penitência nas montanhas da região.
Viveu por cinco anos alimentando-se de ervas silvestres e água, dormindo no chão, tendo como travesseiro uma pedra. Foi encontrado por um caçador, que teve seu ferimento curado ao toque das mãos de Francisco, que o acolheu ao vê-lo ferido.

Depois disso, começou a receber vários discípulos desejosos de seguir seu exemplo de vida dedicada a Deus. Logo Francisco de Paula, como era chamado, estava à frente de uma grande comunidade religiosa. Fundou, primeiro, um mosteiro e com isso consolidou uma nova ordem religiosa, a que deu o nome de "Irmãos Mínimos". As Regras foram elaboradas por ele mesmo. Seu lema era: "Quaresma perpétua", o que significava a observância do rigor da penitência, do jejum e da oração contemplativa durante o ano todo, seguida da caridade aos mais necessitados e a todos que recorressem a eles.

Milhares de homens decidiram abandonar a vida do mundo e foram para o mosteiro de Francisco de Paula, por isso teve de fundar muitos outros. A fama de seus dons de cura, prodígios e profecia chegou ao Vaticano, e o papa Paulo II resolveu mandar um comissário pessoalmente averiguar se as informações estavam corretas. E elas estavam, constatou-se que Francisco de Paula era portador de todos esses dons. Ele previu a tomada de Constantinopla pelos turcos, muitos anos antes que fosse sequer cogitada, assim como a queda de Otranto e sua reconquista pelos cristãos.

Diz a tradição que os poderosos da época tinham receio de suas palavras proféticas, por isso, sempre que Francisco solicitava ajuda para suas obras de caridade, era prontamente atendido. Quando não o era, ele dizia que não deviam esquecer que Jesus dissera que depois da morte eles seriam inquiridos sobre o tipo de administração que fizeram aqui na terra, e só essa lembrança era o bastante para receber o que havia pedido para os pobres.

Depois, o papa Sixto IV mandou que Francisco de Paula fosse à França, pois o rei, Luís XI, estava muito doente e desejava preparar-se para a morte ao lado do famoso monge. A conversão do rei foi extraordinária. Antes de morrer, restabeleceu a paz com a Inglaterra e com a Espanha e nomeou Francisco de Paula diretor espiritual do seu filho, o futuro Carlos VIII, rei da França.

Francisco de Paula teve a felicidade de ver a Ordem dos Irmãos Mínimos aprovada pela Santa Sé em 1506. Ele morreu aos noventa e um anos de idade, no dia 2 de abril de 1507, na cidade francesa de Plessis-les-Tours, onde havia fundado outro mosteiro. A fama de sua santidade só fez aumentar, tanto que doze anos depois, em 1519, o papa Leão X autorizou o culto de são Francisco de Paula, cuja festa litúrgica ocorre no dia de sua morte.

São Francisca de Paula, rogai por nós !