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sexta-feira, 15 de março de 2013

Papa não ajudou ditadura e é difamado na Argentina, diz Vaticano



Papa foi eleito com mais de 90 votos

Imprensa estima de o novo Pontífice recebeu mais de 90 dos 115 votos
Sob o titulo de “O amigo brasileiro do Papa desbloqueou o conclave”, o jornal italiano “Il Messaggero” disse que foi o cardeal brasileiro Claudio Hummes, ex-arcebispo de São Paulo, quem deu o grande impulso à eleição do Papa Francisco. “Certamente é o seu maior eleitor e amigo fiel”, anunciou o “Messaggero”. 

Segundo o jornal, graças “à infatigável e paciente rede construída dia a dia pelo cardeal brasileiro se criou uma plataforma de consenso para colocar (o nome de Bergoglio) no conclave no momento justo”. E o momento, de acordo com “Il Messaggero”, foi quando os candidatos favoritos – o italiano Angelo Scola, o brasileiro Odilo Scherer e o americano Sean O’Malley – “começavam a dar sinais de ceder”.

“O consenso (em torno dos favoritos) não crescia como deveria, havia resistências, votos bloqueados e italianos estavam divididos”, relatou o jornal. Isso explicaria porque, tão logo eleito Papa, “Bergoglio quis ele (Hummes) ficasse perto dele”, possivelmente como um sinal de agradecimento.

Entre os quatro outros cardeais brasileiros que participaram do conclave, a profunda amizade entre Hummes e o argentino nunca foi novidade. O conclave é uma votação sigilosa e os cardeais prestam juramento neste sentido. Mas alguns detalhes estão filtrando para a imprensa italiana, que não cita fontes. Se a informação do jornal italiano estiver correta, isso mostra a divisão entre os brasileiros e reforça o argumento dos próprios cardeais de não é aliança geográfica que define a eleição de um Papa

Argentino teria conseguido mais de 90 dos 115 votos
Outros jornais também revelam bastidores da escolha do Papa. De acordo com o jornal “Corriere della Sera”, o conclave foi marcado não apenas pela rapidez com que se chegou a um consenso, mas pelo volume da votação em favor do argentino, que a reportagem estima em mais de 90 dos 115 votos, muito acima do mínimo de 77 estipulado por Bento XVI com o objetivo de dar maior coesão à escolha.

Por trás dessa votação expressiva, diz a reportagem, estava um amplo acordo costurado pelo decano do colégio de cardeais, Angelo Sodano (que não participou do conclave por ter mais de 80 anos); o secretário de Estado do Vaticano, Tarcisio Bertone; Giovanni Battista Re, que assumiu as funções de decano do conclave e os cardeais das Américas. Segundo o jornal, Bertone era, inicialmente, eleitor do arcebispo de São Paulo, Odilo Scherer, mas mudou de lado após o brasileiro ter criticado Re em reunião da Congregação Geral.

O acordo teria sido cimentado pelo cardeal italiano Raffaele Martino, presidente emérito do Pontifício Conselho Justiça e Paz e, durante 15 anos, representante do Vaticano na ONU. O trabalho nas Nações Unidas fez com que ele desenvolvesse laços fortes com o clero do Novo Mundo e com as questões sociais do continente. No conclave de 2005, ainda segundo o “Corriere”, Martino já havia votado em Bergoglio, que acabou derrotado por Joseph Ratzinger.
Confirmando o ditado segundo o qual “quem entra Papa no conclave sai cardeal”, o favorito Angelo Scola, arcebispo de Milão, conseguiu unir a maioria do cardinalato italiano, só que contra si. De acordo com as informações de bastidores, a ligação de Scola com o movimento carismático Comunhão e Libertação - e deste com políticos mais que controvertidos - foi fatal para sua candidatura.

Em declaração nesta sexta-feira (15), o porta-voz da Santa Sé, padre Federico Lombardi, disse que Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, nunca colaborou com a ditadura militar e é alvo de uma campanha "caluniosa e difamatória" na Argentina. 

Ele disse que as acusações de que Bergoglio teria sido negligente com a prisão política de dois padres jesuítas "devem ser rechaçadas de forma contundente".  "Nunca houve uma acusação concreta e confiável contra ele. A Justiça argentina o interrogou uma vez, mas como pessoa informada dos fatos, e jamais o acusou de nada", disse Lombardi.  "A campanha contra Bergoglio é bem conhecida e se refere a fatos ocorridos há muitos anos. É uma campanha caluniosa e difamatória. Sua origem anticlerical é muito conhecida e evidente", disse. 

Lombardi disse que muitos depoimentos mostram que Bergoglio protegeu pessoas perseguidas pela ditadura na Argentina. Ele também citou declarações do escritor Adolfo Pérez Esquivel, que disse nos últimos dias que o papa não colaborou com os militares. 

NOBEL
Na quinta (14), o ativista argentino de direitos humanos Adolfo Pérez Esquivel, 81, que recebeu em 1980 o Prêmio Nobel da Paz, disse que Bergoglio não teve vínculos, quando bispo, com a ditadura militar que esteve no poder no país entre 1976 e 1983. 

"Questionam Bergoglio porque dizem que ele não fez o necessário para tirar dois sacerdotes da prisão, sendo ele o superior da congregação de jesuítas. Mas eu sei pessoalmente que muitos bispos pediam à junta militar a liberação dos presos e sacerdotes e não eram atendidos", disse Esquivel à BBC. 

Livros sobre a ditadura argentina acusam o novo papa de ter sido cúmplice dos militares ao denunciar como subversivos sacerdotes que tinham atuação social. Ele sempre negou.
Esquivel disse ainda, em um comunicado publicado no seu site, que talvez tenha faltado ao novo papa "coragem para acompanhar a luta pelos direitos humanos nos momentos mais difíceis", mas que isso não significa que ele tenha compactuado com a ditadura. 

"Espero que ele tenha agora a coragem para defender os direitos dos povos perante os poderosos, sem repetir os graves pecados e erros que cometeu a sua igreja", completou o Prêmio Nobel.


Fonte: Folha de São Paulo/O Globo

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