São João de Ávila, o Apóstolo da Andaluzia
As atividades evangelizadoras de São João de Ávila revelaram um profundo
saber teológico associado a uma alma acentuadamente contemplativa,
havendo nele um inegável desprendimento dos bens terrenos
No fim do século XV nascia em Almodóvar del Campo, nas cercanias de
Toledo, mais um varão que seria um dos luminares no firmamento da Santa
Igreja: São João de Ávila.
Nascido a
6 de janeiro de 1500, e tendo ancestralidade judia, o pequeno João aos 14 anos
foi enviado a Salamanca para estudar Direito mas, não sentindo no estudo das
leis humanas o estímulo para a sua vida, abandonou os estudos e regressou à
cidade natal, ali passando três anos em reflexão e penitência, sendo-lhe
proveitosas as muitas horas que passava recolhido em frente ao sacrário onde
era mantido o Santíssimo Sacramento.
Discernindo
um chamado de Deus, decidiu-se por trilhar a via clerical, o que foi precedido
de estudos apropriados feitos em Alcalá de Henares, onde foi aluno de Frei
Domingo de Soto, célebre teólogo dominicano.Sua
ordenação presbiteral deu-se em 1526, sendo a primeira missa celebrada por alma
de seus pais, que haviam falecido pouco antes, quando ele estudava. Nesse dia
vestiu e serviu a refeição a vários mendigos, tendo-se desfeito da fortuna que
herdou dos ricos pais (era herdeiro único) destinando-a aos pobres. E passou a
viver da caridade dos outros, de quem recebia esmolas para o sustento.
Um ano
após ser ordenado dispôs-se a ser missionário na América, e assim ofereceu-se a
um bispo que viajaria ao novo continente, rumo ao México. Porém foi dissuadido
dessa ideia, aceitando então o encargo de evangelizar a região correspondente
ao sul da península ibérica, o que o levou a ser considerado O Apóstolo da
Andaluzia, região em que concentrou a maior parte de sua ação.
As
atividades evangelizadoras de São João de Ávila revelaram um profundo saber
teológico associado a uma alma acentuadamente contemplativa, havendo nele um
inegável desprendimento dos bens terrenos. Dotado de especial memória para com
as Sagradas Escrituras, dizia-se dele que se, por algum motivo, a Bíblia desaparecesse
do mundo, ele a restituiria à humanidade, pois a tinha decorado... Mais
importante que a lembrança das palavras era, entretanto, o conhecimento de seu
conteúdo, tantas vezes utilizado para fundamentar as palavras faladas e
escritas com que desenvolvia seu trabalho evangelizador.
Como exemplo de frutos de seu ardoroso apostolado cita-se a conversão de São Francisco de Bórgia (que futuramente sucederia Santo Inácio de Loyola à frente da Companhia de Jesus) e São João de Deus (que tanto beneficiaria os doentes com suas obras). Vários santos do século XVI com ele trocaram cartas, dentre os quais Santo Inácio de Loyola, São Pedro de Alcântara, São Francisco de Bórgia, Santa Teresa de Jesus.
Infelizmente muitas de suas obras perderam-se com o passar dos anos, principalmente os sermões, não sem antes darem muitos frutos. Vários dos seus escritos porém, foram cuidadosamente conservados. Autor prolífico, escreveu diversas obras ascéticas dirigidas às várias classes de pessoas. Dentre elas citam-se o Epistolário Espiritual Para Todos os Estados, O Conhecimento de Si Mesmo, Tratado Sobre o Sacerdócio, e outras. Sua ostensiva atuação como pregador incomodou alguns clérigos nos quais o sentimento de inveja brotou, os quais denunciaram São João de Ávila aos inquisidores de Sevilha. Isso fez com que ficasse encarcerado de 1531 a 1533 quando passou por um processo, no qual havia cinco denunciantes que o acusavam e 55 defensores.
Tendo partido para a Eternidade em 1569, São João de Ávila foi beatificado por Leão XIII em 1894 e canonizado por Paulo VI em 10 de maio de 1970. Pio XII, em 1946, proclamou-o patrono do clero secular espanhol. Sua inserção na lista dos Doutores da Igreja foi anunciada por Bento XVI na Jornada Mundial da Juventude em 2011.
São João de Ávila, rogai por nós!
São João de Deus
Enquanto isso, João foi à pé para a Espanha rumo à cidade de Madrid, junto com mendigos e saltimbancos. Nos arredores de Toledo, o viajante o deixou aos cuidados de um bom homem, Francisco Majoral, administrador dos rebanhos do Conde de Oropesa, conhecido por sua caridade. Foi nessa época que ganhou o apelido de João de Deus, porque ninguém sabia direito quem era ou de onde vinha.
Por seis anos Francisco o educou como um filho, ao lado de sua pequenina filha. Dos catorze anos até os vinte e oito João trabalhou e viveu como um pastor. E quando Francisco decidiu casa-lo com sua filha, de novo ele fugiu, começando sua vida errante.
Alistou-se como soldado de Carlos V e participou da batalha de Paiva, contra Francisco I. Vitorioso, abandonou os campos de batalha e ganhou o mundo. Viajou por toda a Europa, foi para a África, trabalhou como vendedor ambulante em Gibraltar. Então, qual filho pródigo, voltou à sua cidade natal, onde ninguém o reconheceu, pois os pais já tinham falecido; novamente rumou à Espanha, onde abriu uma livraria em Granada.
Nessa cidade, em 1538, depois de ter ouvido um inflamado sermão proferido por João d'Ávila, que a Igreja também canonizou, arrependido dos seus pecados e tocado pela graça, saiu correndo da igreja, e gritou: "misericórdia, Senhor, misericórdia". Todos riram dele, mas João de Deus não se importou. Distribuiu todos os seus bens aos pobres e começou a fazer rigorosas penitências. Tomado por louco foi internado num hospital psiquiátrico, onde foi tratado desumanamente. Depois de ter experimentado todas as crueldades que aí se praticavam e orientado por João d'Ávila decidiu fundar uma casa-hospitalar, para tratar os loucos. Criou assim uma nova Ordem religiosa, a dos Irmãos Hospitaleiros.
Ao todo foram mais de oitenta casas-hospitalares fundadas, para abrigar loucos e doentes terminais. Para cuidar deles, usava um processo todo seu, sendo considerado o precursor do método psicanalítico e psicossomático, inventado quatro séculos depois por Freud e seus discípulos. João de Deus, que nunca se formou em medicina, curava os doentes mentais utilizando a fé e sua própria experiência. Partia do princípio de que curando a alma, meio caminho havia sido trilhado para curar o corpo. Ele sentia a dualidade da situação do doente, por tê-la vivenciado dessa maneira. João de Deus sentia-se pertencer ao mundo dos loucos e ao mundo dos pecadores e indignos e, por isso, se motivou a trabalhar na dignificação, reabilitação e inserção de ambas as categorias. Um modelo de empatia e convicções profundas tão em falta, que várias instituições seguiram sua orientação nesse sentido, tempos depois e ainda hoje.
Depois, João de Deus e seus discípulos passaram a atender todos os tipos de enfermos. Seu mote era: "fazei o bem, irmãos, para o bem de vós mesmos". Ele morreu no mesmo dia em que nasceu, aos cinqüenta e cinco anos, no dia 8 de março de 1550. Foi canonizado pelo Papa Leão XIII que o proclamou padroeiro dos hospitais, dos doentes e de todos aqueles que trabalham pela cura dos enfermos.
Hoje a Ordem Hospitaleira São João de Deus, é um instituto religioso, internacional, com sede em Roma, composto de homens que por amor a Deus se consagram à hospitalidade misericordiosa para com os doentes e necessitados em quarenta e cinco países dos cinco continentes.
São João de Deus, rogai por nós!
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