Ouvi um padre amigo dizer na homilia da Missa da Assunção de Nossa Senhora, que nos lembra que “há um lugar em Deus para nós; e em nós deve, então, haver um lugar para Deus”. Deus nos fez para Ele e Ele nos quer vivendo sempre com Ele na eternidade. E, por isso, disse São Paulo, “Se ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas lá de cima, e não às da Terra” (Col 3,1-2).
A Virgem Imaculada foi elevada ao Céu de
corpo e alma após sua morte, que a Igreja desde os primeiros séculos
chama de “dormição”; Deus a ressuscitou e levou para o Céu. O Papa Pio
XII, em 1 de novembro de 1950, por meio da Constituição Apostólica
“Munificientissimus Deus” proclamou como dogma de fé, dizendo: “Finalmente, a Imaculada Virgem,
preservada imune de toda mancha da culpa original, terminado o curso da
vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celeste. E para que
mais plenamente estivesse conforme a seu Filho, Senhor dos senhores e
vencedor do pecado e da morte, foi exaltada pelo Senhor como Rainha do
universo.”
Na Missa da Assunção a Igreja reza: “Deus
eterno e todo poderoso, que elevastes `a glória do Céu, em corpo e
alma, a Imaculada Virgem Maria, mãe do Vosso Filho, dai-nos viver
atentos às coisas do alto, a fim de participarmos de Sua glória”.
Muitos santos perguntavam se o melhor dos
filhos poderia recusar à melhor das mães a participação em sua
ressurreição e o glorioso domínio à direita do Pai? Para eles sua
dignidade de Mãe de Deus exige a Assunção. Para Santo Irineu de Lião
(†200), como a nova Eva, Maria participou da sorte do novo Adão, Jesus
Cristo, ressuscitou depois da morte, seu corpo não experimentou a
corrupção.
A Assunção de Nossa Senhora ao Céu é,
para nós que ainda vivemos neste vale de lágrimas, a certeza de que o
Céu existe e é nosso destino. A chegada de nossa Mãe ao Céu é a certeza
antecipada da vitória final de todos os justos amigos de Deus, que amam o
Evangelho e obedecem a Igreja, vivendo como verdadeiros cristãos. Lá do
alto a Mãe querida, ao lado do trono do Rei, prepara um lugar no céu
para cada um de nós, e ali intercede por nós sem cessar, ela que é a
“onipotência suplicante”. A Igreja reza na Assunção: “Hoje a Virgem
Maria, Mãe de Deus, foi elevada à glória do Céu. Aurora e esplendor da
Igreja triunfante, ela é consolo e esperança para o vosso povo ainda em
caminho”.(Pref. da Or. Euc.)
A Assunção de Nossa Mãe ao céu é um sinal
da nossa ressurreição. É uma mensagem especial e convite dessa Mãe a
cada um de nós para segui-la ao Céu, desprezando toda a sedução dos
apegos e prazeres desta vida, que por mais abundantes que sejam não
conseguem saciar os anseios de uma alma imortal criada em Deus, para
Deus e à semelhança de Deus. O coração do homem que foi feito para o
Alto.
A Assunção de Nossa Mãe é o testemunho
certo de que a filosofia consumista, materialista e hedonista de nossos
tempos, que tiraniza o ser humano, afastando-o de Deus e dos irmãos,
longe de trazer-lhe a verdadeira felicidade, ao contrário, enche sua
alma de tristeza, frustração e pessimismo, numa vida sem rumo e sem
ideal.
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A Assunção de Maria é a festa da
esperança do cristão verdadeiro que espera a felicidade eterna e
perfeita. Maria subiu ao Céu deixando na terra um túmulo vazio, sinal de
que nossa vida aqui nesta terra é uma caminhada para o Céu. É um alerta
para que não nos deixemos enganar pelas delícias ilusórias da viagem,
as quais não podem satisfazer os anseios infinitos do homem, cujo
destino é viver em Deus para sempre.
A Assunção de Maria é a vitória da vida
sobre a morte, da esperança sobre o pessimismo, do sofrimento sobre o
prazer, da humildade sobre a soberba, do amor sobre o egoísmo, da pureza
sobre a luxúria, da mansidão sobre o ódio, da bondade sobre a inveja,
da solicitude sobre a preguiça… do bem sobre o mal.
A subida de Maria ao céu é um chamado
vibrante a cada um de nós para que vivamos na terra como ela viveu:
simples, humilde, pobre, oculta, silenciosa, discreta, generosa, mansa,
bondosa e prestativa, para que sejamos um dia exaltados por termos
vivido a humildade.
É lá na casa de Maria, no esplendoroso
palácio celeste que deve habitar nosso pobre coração. Conquistar o céu,
como Maria, deve ser a meta de cada um de nós, e o objetivo de todos
nossos esforços.
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O cristão vive com os pés na terra e o coração no céu.
São Paulo expressa isso bem quando diz:
“Se é só para esta vida que temos colocado nossa esperança em Cristo,
somos de todos os homens os mais dignos de lástima” (1Cor 15,19). Em
outras palavras, é perder tempo querer seguir Jesus apenas para ser
feliz nesta vida, que é rápida e muito precária. No céu é que
receberemos a recompensa, “a herança das mãos do Senhor” (Cl 3,24).
Quem deseja o Reino de Cristo nunca pode
esquecer-se de que Ele disse: “Meu reino não é deste mundo” (Jo 18,26).
Cristo nos quer a todos no Céu, porque ali está nosso destino. Seu
coração fica frustrado quando um lugar no céu não é ocupado por alguém.
As alegrias do Céu são tantas e tão insondáveis que fizeram S. Paulo
exclamar: “O que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram e o coração
do homem não percebeu, isso Deus preparou para aqueles que O amam” (1Cor
2,9).
“Nós somos cidadãos dos céus. É de lá que
também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Ele transformará
nosso corpo glorioso” (Fl. 3,20-21). “Temos no céu uma casa feita por
Deus e não por mãos humanas” (2Cor 5,1). Para o Apóstolo, era um exílio
viver na terra. “Todo o tempo que passamos no corpo é um exílio longe do
Senhor… suspiramos e anelamos ser sobrevestidos de nossa habitação
celeste… Pois, enquanto permanecemos nesta tenda, gememos oprimidos…
Estamos, repito, cheios de confiança, preferindo ausentar-nos deste
corpo, para ir habitar junto do Senhor” (2Cor 5,2-8). Desejar o paraíso é
desejar a Deus, diz Santo Afonso, nosso fim último, onde O amaremos
perfeitamente.
A vida aqui sem a perspectiva do céu é um
desastre total, uma frustração inexplicável. Sem a fé no céu a vida na
terra é vazia, sem sentido, como um barco que navega à deriva…
Maria, agora gloriosa no Céu, é a “âncora
lançada no infinito de Deus”, é “a Porta do Céu” aberta para seus
filhos devotos. Vamos ao Céu por Maria, Ela é a escada que Jesus nos deu
para chegar até lá.
Pela Assunção de Nossa Senhora Deus nos
revela o sentido pleno da redenção; isto é, uma completa divinização do
corpo humano, a transfiguração da própria dimensão material do homem e a
vitória sobre a morte em todas suas formas.
Outro aspecto muito relevante da Assunção
de Nossa Senhora é que, com seu corpo transfigurado e glorificado, ela
pode estar sempre presente ao lado de Jesus e, de modo muito especial
numa presença misteriosa junto à Eucaristia. Em vista disso, São Pedro
Julião Eymard deu a ela o título de: “Nossa Senhora do Santíssimo
Sacramento”.
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