Seja bem-vindo! Este Blog se propõe a divulgar o catolicismo segundo a Igreja Católica Apostólica Romana. Os editores do Blog, não estão autorizados a falar em nome da Igreja, não são Sacerdotes e nem donos da verdade. Buscam apenas ser humildes e anônimos missionários na Internet. É também um espaço para postagem de orações, comentários, opiniões. Defendemos a Igreja conservadora. Acreditamos em DEUS e entregamo-nos nos braços de MARIA. Que DEUS nos ilumine e proteja. AMÉM
segunda-feira, 9 de março de 2009
Santo Sudário - Mistério
Durante exposição, em 1898, o fotógrafo amador e advogado Secondo Pia fotografou pela primeira vez o Sudário. Ao revelar o filme, percebeu que as impressões do corpo começaram a assumir nitidez e profundidade inesperadas. A imagem foi impressa, inexplicavelmente, em negativo, ou seja, as partes sombrias tornaram-se claras e as luminosas, escuras. Nenhum artista poderia tê-la pintado assim.
A partir daquela descoberta casual seguiram-se muitos estudos e exames fotográficos, fotométricos, radiológicos, químicos e médico-legais.A ciência apurou que não se trata de uma pintura, que as manchas de sangue contêm verdadeiro sangue humano, e que as feridas do corpo martirizado atestam uma crucificação romana.Para os cientistas, o Sudário é um mistério, pois as impressões daquele Homem estão gravadas em negativo com efeito tridimensional, enquanto as manchas de sangue são gravadas em positivo.
Seguramente o lençol envolveu o cadáver de um homem martirizado, flagelado, coroado de espinhos, crucificado com cravos, com o lado traspassado, apresentando escoriações no joelho esquerdo, causado por queda, feridas, inchaços, sangue coagulado no rosto e septo nasal quebrado.Existem muitas coincidências entre as narrações dos Evangelhos e a imagem do Sudário, razão pela qual a piedade cristã viu nele um testemunho da paixão e morte de Jesus.
O pesquisador Luigi Gonella, consultor científico do Cardeal Anastácio Ballestrero, ex-arcebispo de Turim, afirma: "A ciência jamais poderá demonstrar que o homem do Sudário seja Jesus Cristo, uma vez que não existe um registro em arquivo algum que possa confirmar tal identidade. A ciência diz apenas que é extremamente provável que se trate de Jesus, dado o número impressionante de coincidências com os relatos de sua paixão no Novo Testamento."
Santo Sudário
O evangelista João conta que Nicodemos e José de Arimatéia pegaram o corpo de Jesus e o envolveram, com perfumes, em faixas de linho, do modo como os judeus costumavam sepultar (Jo 19, 38-40).
Mateus diz que José de Arimatéia tomou o corpo de Jesus e o envolveu num lençol limpo, colocando-o num túmulo novo (Mt 27,29-60).
Marcos e Lucas referem-se ao fato, usando a expressão "envolveu-o no lençol" (Mc 15,46; Lc 23,53).
O Santo Sudário, ao longo de quase dois mil anos, passando por vicissitudes, percorreu extenso caminho. De Jerusalém, fugindo da perseguição, os primeiros cristãos o levaram para a cidade de Edessa, hoje sul da Turquia.Depois de vários séculos passou para Constantinopla atravessando o interior da Turquia, onde ficou até 1204, sendo então levado pelos Cruzados até Paris.Em 1453 chega à Chambéry, sul da França, como legado dos Duques de Savóia, de cuja casa saíram os reis da Itália. Em 1532, ocorre um incêndio na Capela do Castelo de Chambéry, onde o Sudário estava encerrado numa caixa de prata, sofrendo várias danificações que são as manchas brancas verticais que se percebe ao longo do corpo. As partes queimadas foram corrigidas por remendos feitos pelas Irmãs Clarissas, em forma de triângulos imperfeitos ou de U maiúsculo.
Observam-se também as manchas de água ao se apagar o incêndio.Em 1578 uma peste assola a Europa. O arcebispo de Milão, Carlos Borromeu, faz a promessa de ir a pé até Chambéry em sinal de penitência e suplicando pelo término da peste. Para facilitar ao arcebispo o cumprimento do voto, o Duque Emanuel Phillibert, da família Savóia, leva o Sudário à Turim, onde se encontra até hoje, guardado em caixa forte com alarmes eletrônicos. Em 1983, o ex-rei Humberto da Itália transferiu os seus direitos sobre o Sudário ao Vaticano.
domingo, 8 de março de 2009
O aborto impediu
Belo poema que fala sobre o aborto, retirado do blog do Felipe Aquino.
De: Renato de Azevedo
Era tão pequeno
que ninguém o via.
Dormia sereno
enquanto crescia.
Sem falar, pedia -
porque era semente -
ver a luz do dia
como toda a gente.
Não tinha usurpado
a sua morada.
Não tinha pecado.
Não fizera nada.
Foi sacrificado
enquanto dormia,
esterilizado
com toda a maestria.
Antes que a tivesse,
taparam-lhe a boca -
tratado, parece,
qual bicho na toca.
Não soltou vagido.
Não teve amanhã.
Não ouviu “Querido”…
Não disse “Mamã”…
Não sentiu um beijo.
Nunca andou ao colo.
Nunca teve o ensejo
de pisar o solo,
pezito descalço,
andar hesitante,
sorrindo no encalço
do abraço distante.
Nunca foi à escola,
de sacola ao ombro,
nem olhou estrelas
com olhos de assombro.
Crianças iguais
à que ele seria,
não brincou com elas
nem soube que havia.
Não roubou maçãs,
não ouviu os grilos,
não apanhou rãs
nos charcos tranquilos.
Nunca teve um cão,
vadio que fosse,
a lamber-lhe a mão
à espera do doce.
Não soube que há rios
e ventos e espaços.
E invernos e estios.
E mares e sargaços.
E flores e poentes.
E peixes e feras-
as hoje viventes
e as de antigas eras.
Não soube do mundo.
Não viu a magia.
Num breve segundo,
foi neutralizado
com toda a maestria.
Com as alvas batas,
máscaras de entrudo,
técnicas exatas,
mãos de especialistas
negaram-lhe tudo( o destino inteiro…) -
porque os abortistas
nasceram primeiro.
Possessão Demoníaca
Neste contexto, veremos quatro situações concretas de como a pessoa chega a ser dominada pelo Diabo;
no Primeiro, ela se Contamina com a palavra, pelos espíritas e pelos oculistas.
Segundo passo, cria, em Segundo, a Obsessão, ela acredita naquela palavra, e busca os adivinhos, astrologia, começar a praticar e não só ela se contaminou, mas levou os filhos a passar pelo fogo. Assim, ela faz com os amigos, conhecidos e qualquer outra pessoa, ela se torna fonte de contaminação também.
Terceiro Ponto, vem a Opressão, pois a pessoa fica totalmente envolvida e começa a participar das magias, feiticismo, agouros, ali ela começa a beber e a comer tudo que é oferecido aos demônios, tomar passes, fazer oferendas, desenvolver a potencialidade maligna, receber toda as forças do mal, e onde ele mais ataca são: (olfato – sentir cheios estranhos; tato - por qualquer coisa fica arrepiado, tem mal presságio; paladar – perde sabor, se atenta para os vícios, visão - começa a ver só o negativo, ver vultos, tem antevisão (vê fatos ruins, desgraças) e premonição – prever a morte de alguém, acidente, fatos calamitosos, destruição e mortes; audição – começa a ouvir outras vozes estimulando ao pecado, ao mal, ao suicídio, à vingança, a destruições).
Ele vai atacar os Pensamentos de desejo e vontade no sentido de controlar, manipular, impregnar sua vontade e desejos sobre a pessoa, ela começa a perder o sentido natural de filho de Deus e se reveste dessa malignidade, onde entra a devassidão, prostituições, adultérios, homossexualismo, lesbianismo, separações, abandono do lar. Entra também no inconsciente, subconsciente, no consciente, com os dardos malignos marcando com ferretes da infâmia.
Outro ponto dentro deste contexto é que as pessoas vão ali, comem, bebem, tomam passes, desenvolvem a médium unidade, para se tornar como aquele espírito maligno, ser como ele, viver como ele, ser inteira dele ou viver como ele.
Aqui, inicia o Quinto Ponto – A Possessão – a pessoa está totalmente cega, perdeu todo o sentido da vida, torna-se inteiramente dependente do Diabo e de seus demônios. Foi quando ela trocou as verdades de Deus pelas mentiras do Diabo, tornou-se seu comparsa, inteiramente dele, estas pessoas, nestas condições, muitas vezes falam na língua daquela entidade, línguas estranhas, anda como ela, veste, come, bebe como a entidade, até mesmo o andar, o perfume, olhar, a agressividade ou não, deboche, a risada, as expressões do sentidos, etc e, de repente, ela descobre isto e quer se libertar, aqui é o que chamamos de libertação.
Nota-se que foi um processo longo, demorado em todos os sentidos, foi enraizando em todo o corpo, é um posse total, neste caso, é necessário muitas vezes o Exorcismo .
Pois, quando uma pessoa está possessa ela não aceita nada que é de Deus, muito menos orações de Libertação, sacramentais (água e sal abençoado, Bíblia), ela vai gritar, zombar, rasgar, agredir, ficar violenta, diversas são as atitudes, ela perdeu completamente os seus sentidos.
Podemos dizer, com toda certeza, que o Exorcismo é esta ponta da lança, é a eficácia Sobrenatural de Deus, em Cristo na Igreja, através de seus ministros, Bispo e do Padre Exorcista, para a libertação dos fiéis possuído pelo Diabo e seus demônios. Esta oração rompe as cadeias do mal, traz a pessoa à sua realidade natural, ao seu primeiro amor, que é Deus, devolve à ela a condição de filho de Deus, por meio da renovação das promessas do Batismo, sendo alvejado no sangue do cordeiro que é Cristo Senhor, ganhando novamente a vida eterna nesta redenção, aceitando Jesus como seu Salvador e Senhor, voltando novamente para Igreja peregrina como um caminhante para a glória celeste.
Depois do Exorcismo , vem então as Orações de Libertação e de Cura Espiritual e Interior, são as renúncias, a confissão, se necessário, a unção dos enfermos, a comunhão eucarística, a participação da Santa Missa, ir para um grupo oração ou uma pastoral da Igreja, isto é, reacender o fogo do Espírito Santo nesta pessoa. Pouco abaixo veremos a necessidade deste processo todo, pois, dentro do contexto maligno, existem muitas variantes, muitos contaminantes, é preciso remover cada um destes obstáculos e arrancar pedra sobre pedra.
Por: Pe Vagner Baia- coord. da Associação Mundial dos Exorcista (no Brasil).
8 de março - Dia Internacional da Mulher
Que DEUS e sua Santíssima Mãe as abençoe.
sábado, 7 de março de 2009
Ainda sobre o aborto e a excomunhão
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo - Revista Veja
http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/
Nota dos editores do Blog: nem todas as opiniões expressas pelo jornalista e blogueiro Reinaldo Azevedo são apoiadas por estes editores.
Publicamos o material por ser o autor um católico e seu artigo apresentar condições para um melhor debate/esclarecimento do assunto.
MAIS DEZ CONSIDERAÇÕES SOBRE A IGREJA, A FÉ O POPULISMO Faço aqui algumas observações, fechadas para comentários. Opinem no post abaixo, que trata longamente do assunto, já levando em consideração o que aqui vai: 1 – de fato, é incorreto afirmar que d. José excomungou este ou aquele; ele apenas fez o anúncio. A excomunhão é automática nesse caso; 2 – é uma tolice puramente midiática, fruto da ignorância, afirmar que o bispo excomungou médicos e mãe, mas poupou o estuprador, como se o protegesse. Não caiam nessa bobagem; 3 – é uma idiotice ficar debatendo se estupro é pior ou melhor do que assassinato — ou vamos voltar ao paradigma “estupra, mas não mata”. Há ações que são passíveis de excomunhão, e outras que não são, segundo um código, que é, por assim dizer, a Constituição da Igreja. Investir nesse falso contraste é puro apelo populista, que emburrece o debate; 4 – sei muito bem o que afirmei: o bispo, com a autoridade que lhe é conferida, deveria, entendo, ter sido mais atento aos relevos humanos da questão e aos sentimentos que o caso mobilizou. REITERO: A RIGIDEZ PURAMENTE DECLARATÓRIA MAIS DISTORCE A MENSAGEM CATÓLICA DO QUE A ELUCIDA. Mas o linchamento moral a que está sendo submetido é fruto da ignorância; 5 – não há ambigüidade nenhuma no que escrevi. Basta saber ler; há gente falando em nome do “catolicismo”acusando-me das piores coisas. Não participo de campeonato nenhum de virtudes cristãs. Não me considero além das fragilidades humanas e não exijo de ninguém que carregue uma pedra maior do que pode suportar. Cristo humanizou Deus, mas não endeusou os homens; 6 – nenhum médico é obrigado, sob qualquer pretexto, a fazer um aborto, ainda que legal. Assim como, na esfera civil, não posso alegar ignorância da lei ao praticar o que um código escrito considera crime, ninguém pode alegar ignorância dos princípios da religião que diz praticar ao fazer isso e aquilo. Ser católico, de fato e felizmente, é uma escolha. Não há nada de falacioso nesse argumento; 7 – PERGUNTO-ME QUANTAS SÃO AS PESSOAS REALMENTE TOCADAS PELA MISÉRIA HUMANA QUE ESSA HISTÓRIA TODA REVELA. QUANTAS SÃO AQUELAS REALMENTE ATENTAS À DOR QUE ACOMPANHARÁ, TALVEZ PARA SEMPRE, ESSA MENINA E ESSA FAMÍLIA; 8 – noto que, mais uma vez, um episódio tão triste, tão sofrido, serve de pretexto para as falanges do ódio, que, não raro, se mobilizam contra a Igreja; 9 – não, eu não insinuei — gostem de mim ou não, nunca insinuo nada, sempre nego ou afirmo — que d. José deveria ter um senso de marketing mais afinado; eu repudio a Igreja populista, com seus padres cantores e ginastas; 10 – eu alertei para o cuidado que se deve ter para que a lei não se confunda, aos olhos dos simples, com a intransigência dos fariseus, o que contribui para jogar uma sombra de desinteligência sobre os princípios essencialmente acolhedores do cristianismo, de que o perdão é pedra fundamental. |
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O BISPO, O ABORTO E A EXCOMUNHÃO. OU: DE OPORTUNISTAS E HIPÓCRITAS Leitores às penca me pedem — alguns cobram — que me pronuncie sobre a decisão de d. José Cardoso Sobrinho, arcebispo de Olinda e de Recife, de excomungar os médicos que fizeram o aborto numa garota de nove anos, estuprada pelo padrasto. A família, que autorizou o procedimento, também foi alvo da punição religiosa. Por que, segundo alguns, estaria eu “obrigado” a escrever sobre o assunto? Ora, porque sou católico. E há dois "desafios" em curso: a – para os que não gostam da Igreja, se sou católico, então sou co-responsável pela decisão do bispo; b – para os que se querem a própria encarnação do catolicismo, chegou a hora de eu realmente demonstrar se sou ou não católico, tendo a “coragem”, como dizem, de defender a decisão de d. José Cardoso. Nesse segundo caso, o desafio se explica. Embora eu me alinhe com as diretrizes ditas “conservadoras” de Bento 16 no que diz respeito à doutrina e considere a Teologia da Libertação uma das maiores bobagens nascidas no seio do catolicismo, defendo a adoção de crianças por casais gays (como se nota, heterossexualidade não implica respeito à infância), uma abordagem diferente para a homossexualidade (já que ninguém é gay porque quer; ao contrário: ninguém quer ser gay...) e o fim do celibato sacerdotal. Como se nota, fico como o índio do I Juca Pirama, de Gonçalves Dias: não quero saber dos “progressistas”, e os “conservadores” não querem saber de mim... Como é mesmo? “Rejeitado da morte na guerra/ rejeitado dos homens na paz”. Viver é mesmo muito perigoso. Já defendi aqui, e fui muito criticado por alguns católicos, que ameaçaram, vamos dizer, cassar a minha “licença” para me dizer parte dessa comunidade, a lei vigente no Brasil, que permite o aborto legal em casos de estupro e risco de vida para a mãe. Aquela pobre menina de Pernambuco reúne essas duas condições. NESSE CASOS, ADMITO TAL PROCEDIMENTO NÃO COM O FUROR MILITANTE. MAS COM DOR. A FACILIDADE COM QUE GRUPOS ORGANIZADOS DEFENDEM A MORTE ME É UMA COISA ASSUSTADORA. De certo modo, não compreendo os relevos da alma de quem sai às ruas para defender aborto, eutanásia, pena de morte... Não compreendo. Para mim, são práticas assustadoras. SOU CONTRA A LEGALIZAÇÃO DO ABORTO, ESTÁ DADO, MAS ACREDITO QUE A LEI QUE ABRAÇA ESSAS DUAS EXCEÇÕES DÁ CONTA DA NOSSA TRISTE PRECARIEDADE. Agora d. José A decisão do arcebispo de Olinda e Recife, que fique claro, tem alcance apenas religioso. Para um fiel comum, não pertencente à hierarquia católica, seu peso é simbólico, sem conseqüências na vida, digamos, civil. Faço tal observação porque, a julgar por certas reações, ficou parecendo que médicos e familiares foram alvos de uma punição legal. Que se note: d. José atuou de acordo com o que está expresso no Direito Canônico. As circunstâncias do caso talvez devessem ter empurrado o arcebispo para uma posição de conciliação. O aborto implica a excomunhão automática, é fato. Mas ele está investido de poder para considerar circunstâncias atenuantes — e, nesse caso, elas são muitas. O que lamento em tudo isso? O fato de que considero que a posição da Igreja Católica, contrária ao aborto, é, na sua raiz, inclusive a histórica, um avanço que, se me permite o aparente pleonasmo, humanizou o homem. A oposição do cristianismo antigo ao aborto foi um fator decisivo para a expansão da religião no chamado mundo helênico — e as mulheres aderiram à, vá lá, “nova religião” com entusiasmo. Também lhes interessavam a defesa da monogamia e a proibição do adultério. A aparente “crueldade” de d. José, como li em algum lugar, se assenta num princípio que, pouco importa o que digam os militantes da morte, protege a vida. O que me parece é que faltou ao bispo, zeloso dos princípios, pesar as circunstâncias para que sua decisão não restasse contraproducente: em vez de chamar a atenção para a defesa da vida, apenas reforçou, ao olhos do público, uma espécie de rigidez que parece ignorar as fragilidades humanas. Acertou no princípio; errou no tom. Em tempos em que tudo se faz pensando apenas no marketing, d. José é mesmo um prodígio de falta de tino publicitário. Críticas Foi o que bastou para que o considerassem uma besta do Apocalipse e, na opinião de Arnaldo Jabor, a expressão da Igreja reacionária de Bento 16. Inimigos da Igreja Católica, como uma seita neopentecostal dona de partido político e canal de televisão, que faz mais "milagres" por hopra do que Cristo ao longo de 33 anos, tentaram transformar o arcebispo de Olinda e Recife numa espécie de ogro de uma pobre menina de 9 anos. Impressiona-me, como sempre, o fato de que qualquer religião pode impor a seus fiéis a disciplina que bem entender, e isso será considerado matéria de “liberdade religiosa”. Já os católicos, não! A Igreja parece a casa-da-mãe-joana. Todo mundo se acha no direito de discordar do que é, notem bem, uma ORIENTAÇÃO RELIGIOSA ou uma DECISÃO DE ALCANCE APENAS RELIGIOSO. A CNBB e os assassinos No dia 27 de fevereiro, lia-se no seguinte no Estadão Online: Reunidos em Salvador para encontro do Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo, dirigentes de 47 entidades de luta pela terra - incluindo MST, CNBB, CUT e CPT - divulgaram ontem manifesto de repúdio ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. "Ele é o guardião da Constituição, símbolo que deveria preservar o direito estabelecido, não se colocar ao lado de uma classe, como está fazendo com os latifundiários, ao tentar criminalizar os movimentos sociais", criticou o secretário executivo do fórum, Gilberto Fontes, ligado à CPT. "É um ataque ao Estado Democrático de Direito." A CPT é a Comissão Pastoral da Terra. A CNBB é a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Seis dias antes, o MST assassinara quatro pessoas, com tiros nas pernas, na cabeça e na cara. Execução mesmo. As mortes foram assumidas por Jaime Amorim, chefão do movimento. O que uma coisa tem a ver com outra? Ora, d. José, que agiu nos estritos limites do que lhe permite a sua Igreja, ainda que numa decisão polêmica, admito, é tratado como um criminoso. A CNBB, que silenciou diante de quatro execuções, em desconformidade com tudo o que lhe diz a Igreja que ela pretende representar, merece o tratamento de entidade, como é mesmo?, “progressista” e afinada com os interesses da sociedade... Nos dois casos, evidentemente, tem-se uma agenda que não é religiosa — e o bispo é um religioso —, mas política: num caso, a defesa do aborto (de qualquer aborto); no outro, a defesa da reforma agrária à moda MST. Os hipócritas Os ministros da Saúde, José Gomes Temporão, e do Meio Ambiente, Carlos Minc, que não perdem uma só oportunidade de dizer asnices, resolveram se pronunciar sobre o caso. Atenção! Eles não falaram sobre a decisão médica, mas sobre a atitude do bispo. Disse Temporâo: “Está na lei que, em caso de risco de vida da gestante ou gravidez resultado de estupro, o aborto pode ser permitido. O resto, é opinião da Igreja. Estou impactado." Afirmou Minc: “Quero falar como cidadão: estou muito revoltado. Essa menina foi violentada, já teve um trauma grande. A Igreja, em vez de ajudar, criou uma questão a mais. É a criminalização da vítima". Temporão É FAVORÁVEL A QUALQUER ABORTO. E quem é favorável a qualquer aborto não pode se pronunciar sobre este aborto em particular sem que isso cheire a inaceitável oportunismo e vigarice intelectual. Aproveita-se de um caso dramático para fazer proselitismo. Ademais, o bispo não contestou a decisão legal, contestou? Quem se meteu na questão religiosa foi Temporão — como, alas, é hábito seu. A propósito: o país já vive um novo surto inédito de dengue. Por que ele não aborda temas que lhe dizem respeito? Quanto a Minc, dizer o quê? Comanda o ministério que pode retardar uma hidrelétrica por causa de um papagaio; pode meter alguém na cadeia por causa de um minhocuçu. O caiçara que comer um ovo de tartaruga pode ir em cana. Por que o ovo humano não pode ser digno dos mesmos cuidados? Conversando com um leitor, escrevi aqui certa feita: “Proponho uma questão aparentemente banal, mas que dá o que pensar. O movimento contra o uso de cobaias animais é mundial. Já virou até lei em Florianópolis. Considero-o uma tolice obscurantista. Repararam como os que defendem a ‘animalização’ da vida humana, reduzindo o homem à sua dimensão só biológica, não se opuseram à 'humanização' do animal?" E, claro, Lula também resolveu tirar uma casquinha do caso, criticando o bispo, com toda a autoridade teológica e eclesiástica de que é investido. Fora do poder, quem sabe decida se candidatar a papa... Concluindo Demorei um tanto para falar sobre o assunto. Foi, na verdade, em sinal de respeito. Trata-se de um drama humano que nos constrange e que expõe as misérias a que, humanos, estamos sujeitos. Não decidi falar do caso agora porque uns e outros a tanto me desafiaram. Ninguém me faz escrever sobre o que não quero. Decido a minha pauta. Como resta, creio, evidente, acho que o bispo escolheu o caminho do rigor que confunde em vez do da compreensão que esclarece. E eu sou paulino: é preciso distinguir flauta de cítara. Mas tratá-lo como criminoso ou como algoz da vítima, como quer este impressionante Carlos Minc, é uma estupidez. Muitos dos casos em que a Igreja é acusada de excesso de rigor não nascem da observância de suas diretrizes, como alguns querem fazer crer, mas justamente da não-observância. Os ombros de um mundo fora dos princípios da Igreja Católica, aposto, são muito mais largos e comportam muito mais iniqüidades do que aqueles que suportam o peso da doutrina. E seria um bem e tanto se os críticos da Igreja Católica, na imprensa, procurassem se informar um tanto sobre os princípios da instituição. Por que tratar desse assunto? Mais uma vez, encerro com o trecho extraído de Memórias de Adriano, um grande romance de Marguerite Yourcenar sobre um imperador que não era exatamente um cristão...: “(...) Quando tivermos reduzido o máximo possível as servidões inúteis, evitando as desgraças desnecessárias, restará sempre, para manter vivas as virtudes heróicas do homem, a longa série de males verdadeiros: a morte, a velhice, as doenças incuráveis, o amor não partilhado, a amizade rejeitada, a mediocridade de uma vida menos vasta do que nossos projetos e mais enevoada do que nossos sonhos. Enfim, todas as desventuras causadas pela divina natureza das coisas”. |
Aborto. Saiba mais sobre esta prática criminosa e covarde

A realidade dos consultórios
Enquanto as questões éticas, religiosas e científicas ficam sem resposta, mais médicos brasileiros optam por ajudar suas pacientes decididas a interromper uma gravidez indesejada
Em um mundo ideal, o aumento da eficiência, a diminuição do custo e a facilidade de acesso aos métodos anticoncepcionais femininos e masculinos poderiam ter reduzido o aborto no Brasil a sua dimensão puramente médica. Ele seria praticado apenas para salvar a vida da mãe ou na circunstância de o feto que ela carrega no útero ter sido gerado por estupro ou ser inviável, por um defeito grave de formação. Mas não existe o mundo ideal. O aborto continua sendo um dilema social, humano, jurídico e um risco para a saúde de quase 1 milhão de mulheres brasileiras todos os anos. Essa questão, sem solução unânime no campo religioso (quando o feto passa a ter alma?) e no científico (quando a vida começa?), vem sendo encarada no dia-a-dia dos consultórios.
Tem crescido o número de médicos que, diante da irredutibilidade das pacientes em abortar, consideram seu dever profissional ajudá-las a enfrentar da melhor maneira possível as consequências da decisão. Essa atitude deriva da filosofia da redução de danos já adotada antes em alguns países para proteger a vida de usuários de drogas pesadas que não conseguem se livrar do vício. Diz o obstetra Osmar Ribeiro Colás, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp): "Não posso interromper uma gestação, mas tenho o dever ético de explicar a minha paciente quais são os métodos abortivos e, depois, se necessário, acudi-la".O Brasil tem cerca de 18.000 ginecologistas. São pouco confiáveis as estatísticas de quantos se tornaram adeptos da filosofia de redução de danos para pacientes dispostas a desafiar a lei brasileira e se submeter a um aborto. O certo é que há vinte anos era raro achar um médico que discutisse essa questão e impossível encontrar outro que admitisse essa abordagem em sua prática médica. Hoje não só se debate livremente a questão do ponto de vista teórico como muitos, a exemplo do doutor Osmar Colás, admitem publicamente que não deixariam sem assistência uma paciente apenas porque ela decidiu abortar.
Sem muita precisão, os especialistas acreditam que chegue a 1 milhão o número de abortos realizados anualmente no Brasil de modo clandestino. As complicações decorrentes de abortos malfeitos, sem condições de higiene ou segurança, representam a quarta causa de morte materna, atingindo cerca de 200 mulheres. O cenário foi bem pior em um passado não muito distante. Na década de 80, os abortos clandestinos podem ter chegado a 4 milhões por ano. Vários fatores se combinaram para reduzir esse número. Os mais efetivos foram o aperfeiçoamento dos métodos anticoncepcionais e a disseminação no país de políticas de planejamento familiar. Desde 2002, o Ministério da Saúde distribui por sua rede capilar de atendimento a chamada "pílula do dia seguinte" – que contém uma substância capaz de impedir a fixação do óvulo no útero, provocando, consequentemente, sua expulsão pelo organismo feminino. Só a pílula do dia seguinte pode ter diminuído em 30% o número de abortos clandestinos no Brasil. A adoção da redução de danos por um número maior de médicos poderia derrubar ainda mais essa curva nos próximos anos.
Tal conduta prevê basicamente a adoção de duas medidas. O médico indica à sua paciente uma clínica clandestina onde ela pode fazer o aborto ou ele mesmo a orienta sobre como usar as pílulas abortivas. O medicamento mais utilizado para esse fim é o misoprostol, vendido sob o nome comercial de Cytotec. Lançado inicialmente na década de 80 para o tratamento de úlcera, descobriu-se logo que o Cytotec provoca contrações uterinas. Pelo risco que oferece às grávidas, no Brasil o misoprostol só pode ser usado por hospitais credenciados. Nem os médicos nem, menos ainda, suas pacientes podem, portanto, ter acesso legal à substância. "Há inúmeros sites na internet que vendem o remédio", diz o médico Colás. Um dos meios mais utilizados pelas brasileiras é a compra do misoprostol por intermédio da ONG holandesa Women on Web. Feito o pedido, a pílula é entregue em até três semanas pelo correio, por 70 euros. O site tem instruções em sete idiomas, incluindo o português. A maioria dos ginecologistas recomenda a internação da mulher ao primeiro sinal de sangramento. Ela dá entrada no pronto-socorro como se fosse vítima de um aborto espontâneo e a partir daí recebe atendimento. Quando a paciente não quer ser hospitalizada, os médicos sugerem que a mulher se submeta a um exame de ultrassom para se certificar de que todo o material embrionário foi expelido. Pela letra fria da lei brasileira, todo o procedimento narrado neste parágrafo pode ser descrito como criminoso. Ele seria visto como pecado ao juízo das convicções religiosas de muitas pessoas. O espantoso, nesse caso, é que, apesar das imposições legais e das restrições ético-religiosas, médicos e pacientes se sintam eticamente autorizados a discutir e a praticar procedimentos que levem ao aborto.
"Eu tinha apenas 17 anos, era recém-casada e começava a despontar como modelo, quando engravidei. Sonhava em ser mãe. Sempre fui contra a liberação do aborto, mas não podia levar aquela gravidez adiante. Eu era responsável pelo sustento de toda a minha família. Não sofri nenhum dano físico, mas carregarei para sempre as marcas psicológicas daquele aborto."
Luiza Brunet, 46 anos
Modelo e empresária
A fonoaudióloga mineira Larissa P., de 28 anos, e seu médico não tiveram muitas dúvidas quando colocados diante dessa questão. Larissa engravidou durante uma relação casual há dois anos. Como sua menstruação sempre foi muito irregular, só se deu conta da gravidez indesejada dois meses depois. Lembra ela: "Logo que descobri, procurei meu médico, e ele me sugeriu o Cytotec. Como sempre tive horror a hospital, preferi usar a pílula em casa". O médico explicou-lhe como seriam os sintomas, e ela controlou bem a ansiedade: "Foi tudo sem nenhum susto, exatamente como meu ginecologista havia descrito. Em seis horas, estava tudo resolvido. No dia seguinte fui ao consultório fazer um ultrassom para ter certeza de que estava tudo bem".
A filosofia da redução de danos para o aborto surgiu no início dos anos 2000, no Uruguai, país com leis tão rígidas quanto as do Brasil. A medida é incentivada pelo governo federal uruguaio. Diz o ginecologista Aníbal Faúndes, do Centro de Pesquisas em Saúde Reprodutiva, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp): "Antes da adoção do programa, o aborto ilegal era responsável por 35% das mortes maternas no Uruguai. Hoje, a taxa de mortalidade em decorrência de abortos malfeitos é de 20%". Há um mês, Campinas se transformou na primeira cidade brasileira a aprovar um projeto de redução de danos nos postos de saúde e hospitais municipais. Existe uma diferença crucial entre o programa uruguaio e o de Campinas. O médico brasileiro só está autorizado a orientar as pacientes em "processo de abortamento" ou depois de o aborto ter sido concluído. Existem basicamente dois motivos para a mudança de comportamento dos médicos em favor da redução de danos. O assunto saiu da sombra. O ministro da Saúde, José Temporão, já defendeu inúmeras vezes a necessidade de um debate público sobre a legalização da prática. No ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) deu início aos debates sobre a legalização da interrupção da gravidez de fetos anencéfalos e, pouco mais de um mês atrás, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, aprovou a criação da CPI do Aborto com o objetivo de investigar as práticas ilegais de interrupção da gravidez no Brasil. Os parlamentares não familiarizados com a realidade vão se espantar com a extensão do fenômeno e, se forem fundo na investigação, poderão deparar com algumas surpresas – entre elas, o fato de que muitas das clínicas são bem aparelhadas, com pessoal médico multidisciplinar e bem treinado. A administradora de empresas Denise Silva, de 43 anos, valeu-se dos serviços de uma dessas clínicas em 2002, quando, por descuido, engravidou do namorado (hoje, marido). Conta ela: "Foi tudo muito rápido e simples".
No Poder Judiciário, a questão começa aos poucos a ser discutida com mais desassombro. Nos últimos cinco anos, foram concedidos 3.000 alvarás judiciários para suspensão da gravidez em casos de má-formação fetal, especialmente anencefalia. É o dobro das liberações no mesmo período no início da década de 90 e representa 80% de todas as gestações de fetos anencéfalos. Em 26 de novembro de 2006, a operadora de telemarketing Adriane Caldeira, de 21 anos, foi uma das beneficiadas dos alvarás. Diz ela: "Não tive o menor problema em conseguir a autorização. O problema mesmo foi decidir abortar, pois era uma gravidez planejada – o nosso primeiro filho". Mas Adriane sabia que seu filho não teria nenhuma chance de sobrevivência e, apesar do sofrimento, interrompeu a gravidez. Por mais que a mulher esteja determinada e certa de sua decisão, optar por um aborto é sempre devastador. Ninguém que já tenha vivido a situação relata a experiência com a tranquilidade de quem acabou de dar um passeio no shopping. Não é simples nem nos casos em que a gravidez é resultado de uma agressão, como aconteceu com Luciane L., de 25 anos. Vítima de um estupro no ano passado, depois de vários meses de terapia ela aprendeu a lidar com a lembrança da violência, mas não consegue apagar da memória a confusão emocional que sentiu quando acordou da anestesia, depois do aborto.
Por mais que os médicos se rendam às demandas de suas pacientes e por mais que a legislação avance, a interrupção do processo de criação de uma vida humana nunca será de fácil compreensão intelectual ou emocionalmente simples. O médico Yaron Hameiry, ginecologista do Hospital Pérola Byington, em São Paulo, reflete bem essa situação: "Não posso ser juiz de uma vida que vai se formar. Seja qual for a circunstância em que o feto foi concebido, eu não posso ser juiz da vida alheia". Esse é um dilema que o ginecologista Jorge Andalaft, da Casa de Saúde da Mulher, da Unifesp, enfrentou em cada um dos 400 abortos legais que já fez, prática da qual é pioneiro no Brasil. Diz ele: "Todas as vezes, sem exceção, sinto uma pequena angústia de imaginar que estou tirando uma vida em potencial. Mas não cabe a mim julgar; a decisão foi da paciente, e ela deve ser respeitada".
A discussão de quando se inicia a vida é interminável. Mesmo que a ciência consiga um dia definir esse momento com precisão, os debates não cessarão. Parece óbvio e natural que, a partir do momento em que um óvulo é fecundado por um espermatozoide, uma vida em potencial começa a se desenvolver. Mas que potencial existe caso esse óvulo fertilizado não venha sequer a se fixar no útero? "Essa polêmica é infrutífera, pois o aborto sempre existirá, independentemente de qualquer conclusão científica, dogma religioso ou convicção ética. O aborto é acima de tudo uma questão de foro íntimo, uma decisão exclusivamente pessoal da mulher", teoriza Thomaz Gollop, ginecologista e professor de genética médica da Universidade de São Paulo.
Aos 46 anos, a empresária e modelo Luiza Brunet não consegue esquecer o aborto feito aos 17 anos. Era o início de sua carreira, de seu primeiro casamento, e ela não se sentia preparada para ter um filho. Luiza diz que é "contra o aborto". Seu caso ilustra a imensa complexidade da questão. Ser simples, acessível, seguro e legal não torna o aborto mais aceitável para as pessoas que o rejeitam. Ao contrário, torna-o ainda mais monstruoso ao juízo delas. Prova disso é o fato de que as discussões nos países onde a prática foi liberada nunca serenam – a cada dia elas são mais violentas. Coloque-se na pele de uma pessoa que acha o aborto, em qualquer fase da gestação e por qualquer motivo, igual a matar alguém, e uma visão do abismo que separa as convicções opostas nesse assunto começará a se abrir sob seus pés.
Fonte: Revista Veja
Vaticano e CNBB se opõem a Lula
Depois de ser atacado pelo ministro da Saúde, por ONGs de defesa da mulher, por médicos e por parte da opinião pública nos últimos dias por ter excomungado todos os envolvidos no aborto realizado na menina de 9 anos, que ficou grávida de gêmeos depois ter sido estuprada pelo padrasto, o arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, foi duramente criticado pelo próprio presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.“Como cristão e como católico, lamento profundamente que um bispo da Igreja Católica tenha um comportamento conservador como esse. Não é possível permitir que uma menina estuprada pelo padrasto tenha esse filho, até porque ela corria risco de vida. Acho que, nesse aspecto, a medicina está mais correta do que a Igreja e fez o que tinha que ser feito: salvar a vida de uma menina de 9 anos”, disse ontem o presidente, em entrevista coletiva depois do lançamento do projeto Território de Paz, no Bairro São Pedro, na periferia de Vitória (ES).
“Sugiro ao presidente que, antes de se pronunciar sobre tema teológico, consulte um teólogo católico da sua confiança”, rebateu dom José, ontem à tarde. Enquanto Lula atacava, o arcebispo comemorava o apoio do Vaticano e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Na segunda-feira, deverá ser divulgado um documento do representante da Santa Sé no Brasil e da CNBB confirmando o apoio à atitude do líder religioso.Ontem, a Regional Nordeste 2 da CNBB divulgou uma nota se posicionando “a favor da vida, desde a sua concepção”.
Ao jornal italiano Corriere de La Serra, um representante do Pontifício Conselho da Família do Vaticano também defendeu a atitude do arcebispo de Olinda e Recife de excomungar as pessoas envolvidas no aborto dos fetos gêmeos, realizado no Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam).
O padre Gianfranco Grieco chamou os médicos que realizaram o procedimento de “protagonistas de uma sentença de morte”, afirmando que a Igreja não pode trair os seus princípios — entre eles a defesa da vida desde a concepção até o fim natural —, mesmo diante de um drama humano tão forte quanto a violência contra uma criança.
O representante do Vaticano disse ainda que “o aborto não é uma solução, mas um atalho”. Dom José Cardoso Sobrinho aproveitou e chegou a dizer que a excomunhão é “um remédio espiritual para quem está no caminho errado voltar à consciência”.
“Holocausto”
O arcebispo voltou a sustentar ontem que o crime de aborto é mais grave do que o de estupro — essa foi a justificativa utilizada para responder a outra parte das críticas, de quem não entendeu como o padrasto da garota, que abusou da menina, não foi incluído na relação dos excomungados pela Igreja. “O mundo inteiro foi contra o Holocausto, onde 6 milhões de judeus foram mortos. O que está havendo é um Holocausto silencioso, em que um milhão de crianças são vítimas de aborto no Brasil a cada ano”, afirmou dom José.
Menina recebe alta
No início da manhã de ontem, a menina de 9 anos submetida ao processo de aborto recebeu alta. Ela saiu do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam) em companhia da mãe e de representantes do Conselho Tutelar, por volta das 6h, para evitar o assédio da imprensa.
Mas as vidas dessa garota, de sua mãe e sua irmã mais velha, que também foi violentada pelo padrasto, ainda esão longe de voltar ao normal — ou, pelo menos, à rotina. Longe de casa, elas ficarão em um abrigo na Região Metropolitana de Recife, onde receberão atendimento psicológico e poderão ficar distante das ameaças do acusado, que da cadeia manda recados e promete se vingar.
Depois de dar alta para a criança, o gerente médico do Cisam, Sérgio Cabral, disse que tudo correu bem. A garota ainda estava no hospital para que os médicos acompanhassem alguma reação dela aos medicamentos para profilaxia de doenças sexualmente transmissíveis (DST). “Ela está bem. Já está brincando”, informou. Ele também contou que os exames para detectar DSTs deram negativos.