“Quão saborosas são para mim vossas palavras, mais doces que o mel à minha boca” (Sl 118, 103)
“Vossa palavra é um facho que ilumina meus passos. E uma luz em meu caminho” (Sl 118, 105).A
Igreja no Brasil dedica todo o Mês de Setembro a Bíblia. Sem dúvida é
uma iniciativa muito salutar. A motivação provém do fato da Igreja
celebrar no dia 30 de setembro a memória do grande santo e doutor da
Igreja, São Jerônimo, que a pedido do Papa Dâmaso (366-384) preparou uma
excelente tradução da Bíblia em latim, a partir do hebraico e do grego;
a chamada Vulgata.
Foi
um trabalho gigantesco que demandou cerca de 35 anos nas grutas de
Belém, onde ele realizava esse ofício, vivendo uma austera vida de
oração e penitência. São Jerônimo dizia que quem não conhece os
Evangelhos não conhece Jesus.
São
Jerônimo (347-420), chamado de “Doutor Bíblico”, nasceu na Dalmácia e
educou-se em Roma; é o mais erudito dos Padres da Igreja latina; sabia o
grego, latim e hebraico. Viveu alguns anos na Palestina como eremita.
Em 379, foi ordenado sacerdote pelo bispo Paulino de Antioquia; foi
ouvinte de São Gregório Nazianzeno e amigo de São Gregório de Nissa. De
382 a 385 foi secretário do Papa São Dâmaso. Pregava o ideal de
santidade entre as mulheres da nobreza romana (Marcela, Paula e
Eustochium) e combatia os maus costumes do clero. Na figura de São
Jerônimo destacam-se a austeridade, o temperamento forte, o amor a
Igreja e à Sé de Pedro.
Conhecer
a Palavra de Deus é fundamental para todo cristão. A Carta aos hebreus
diz que “a Palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante do que uma
espada de dois gumes, e atinge até à divisão da alma e do corpo, das
juntas e medulas, e discerne os pensamentos e intenções do coração” (Hb
4,12).
Leia também: Os livros da Bíblia
Interpretar a Bíblia ao pé da letra?
Como ler e entender a Bíblia?
A Igreja Católica e a Bíblia
Como ler a Bíblia?
Jesus
conhecia profundamente a Bíblia e a citava. Isso é o suficiente para
que todos nós façamos o mesmo. Na tentação do deserto ele venceu o
demônio lançando em seu rosto, por três vezes, a santa Palavra. Quando o
tentador pediu que Ele transformasse as pedras em pães, para provar Sua
filiação divina, Jesus lhe disse: “O homem não vive só de pão, mas de
tudo o que sai da boca do Senhor” (Dt 8,3c).
Quando
o tentador exigiu que Ele se jogasse do alto do templo, Jesus
respondeu: “Não tentarás o Senhor; vosso Deus” (Dt 6,16a). E quando
Satanás tentou fazer com que Ele o adorasse, ouviu mais uma vez a
Palavra de Deus: “Adorarás o Senhor, teu Deus, e só a ele servirás” (Dt
6,13).
O
demônio não tem força diante da Palavra de Deus lançada em seu rosto;
por isso, cada um de nós precisa conhecer o poder dela. Jesus morreu
rezando todo o Salmo 21: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”
(Sl 21,2).
É
preciso ler e estudar a Bíblia regularmente, todos os dias; aquecer a
alma com um trecho dela; e saber usá-la nos momentos de dor, dúvida,
angústia, medo, etc. Abra a Palavra, deixe Deus falar a seu coração. E
fale com Deus; é a maneira mais fácil de rezar.
O
Espírito Santo nos ensina essa verdade, pela boca do profeta Isaías;
cuja boca tornou “semelhante a uma espada afiada” (Is 49,2):
“Tal
como a chuva e a neve caem do céu e para lá não voltam sem ter regado a
terra, sem a ter fecundado, e feito germinar as plantas, sem dar o grão
a semear e o pão a comer, assim acontece à palavra que minha boca
profere: não volta sem ter produzido seu efeito, sem ter executado a
minha vontade e cumprido a sua missão” (Is 55,10).
A palavra de Deus é transformadora, santificante. São Paulo explica isso a seu jovem discípulo Timóteo, com toda convicção:
“Toda a Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para persuadir, para corrigir e formar na justiça” (2Tm 3,16).
Ela
é, portanto um instrumento indispensável para a nossa santificação. Não
conseguiremos ter “os mesmos sentimentos de Cristo” (Fil 2,5) sem
ouvir, ler, meditar, estudar e conhecer a sua santa palavra. São
Jerônimo, dizia que “quem não conhece o Evangelho não conhece Jesus
Cristo”.
Jesus
nos ensina que “a Escritura não pode ser desprezada” (Jo 10,34). São
Paulo recomendava a Timóteo”: “aplica-te à leitura da Palavra” (1Tm
4,13). Ela não é palavra humana, mas “palavra de Deus…! Que age
eficazmente em vós” (1Ts 2,13).
Jesus
é a própria Palavra de Deus, o Verbo de Deus que se fez carne (Jo
1,1s). No livro do Apocalipse São João viu o Filho do homem…” e de sua
boca saia uma espada afiada, de dois gumes” (Ap 1,16). É o símbolo
tradicional da irresistível penetração da palavra de Deus.
São Pedro diz que renascemos pela força dessa palavra.
“Pois
haveis renascidos, não duma semente corruptível, mas pela Palavra de
Deus, semente incorruptível, viva e eterna”, (1 Pd 1,23) e, como disse o
profeta Isaías: “a palavra do Senhor permanece eternamente” (Is
11,6-8).
Quando
avisaram a Jesus que a Sua mãe e os seus irmãos queriam vê-lo, o Senhor
disse: “Minha mãe e meus irmãos são estes que ouvem a palavra de Deus e
a observam” (Lc 8,21). “Antes bem-aventurados aqueles que ouvem a
palavra de Deus e a observam!” (Lc 11,28).
Pela
boca do profeta Amós, o Espírito Santo disse: “Eis que vem os dias… em
que enviarei fome sobre a terra, não uma fome de pão, nem uma sede de
água, mas fome e sede de ouvir a palavra do Senhor” (Am 8,11). Graças a
Deus esses dias chegaram!
Quando
Jesus explicava as Escrituras para os discípulos de Emaús, eles sentiam
“que se lhes abrasava os corações” (Lc 24,32). Todos os santos, sem
exceção, mergulharam fundo as suas vidas nas santas Escrituras e
deixaram-se guiar pelos ensinamento da Igreja.
São
Pedro disse: “Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é
de interpretação pessoal. Porque jamais uma profecia foi proferida por
efeito de uma vontade humana. Homens inspirados pelo Espírito Santo
falaram da parte de Deus” (2 Pd 1,20-21).
É
preciso estudar a Bíblia, fazer um curso bíblico, porque nem sempre sua
leitura é fácil de ser compreendida. Ela não é um livro de ciência,
mas, sim, de fé. Utilizando os mais diversos gêneros literários, ela
narra acontecimentos da vida de um povo guiado por Deus, desde quatro
mil anos atrás, atravessando os mais variados contextos sociais,
políticos, econômicos, etc. Por isso, a Palavra de Deus não pode sempre
ser tomada ao “pé da letra”, ou seja, literalmente, embora muitas vezes o
deva ser. “Porque a letra mata, mas o Espírito vivifica” (2 Cor 3,6c).
É
por isso, que Jesus confiou sua interpretação a Igreja Católica, que a
faz através do Sagrado Magistério, dirigido pela cátedra de Pedro (o
Papa), e da Sagrada Tradição Apostólica, que constitui o acervo sagrado
de todo o passado da Igreja e de tudo quanto o Espírito Santo lhe
revelou no passado e continua fazendo no presente. (cf. Jo 14, 15.25;
16,12-13). A Igreja não erra na interpretação da Bíblia, e isso é dogma
de fé. Jesus mesmo lhe garantiu isto: “Quando vier o Paráclito, o
Espírito da verdade, ensinar-vos-á toda a verdade” (Jo 16,13a).
Assista também: Setembro: Mês da Bíblia
A
Bíblia interpretada erroneamente pode levar a perdição; é o que diz São
Pedro quando fala sobre as Cartas de São Paulo: “É o que ele faz em
todas as suas cartas… Nelas há algumas passagens difíceis de entender,
cujo sentido os espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos deturpam,
para a sua própria ruína, como o fazem também com as demais Escrituras”
(2Pd 3,16s).
E
a Igreja não despreza a ciência; muito pelo contrário, a valoriza
tremendamente para iluminar a fé. Em Jerusalém, por exemplo, está a
Escola Bíblica que se dedica a estudar exegese, hermenêutica, línguas
antigas, geologia, história antiga, paleontologia, arqueologia, e tantas
outras ciências, a fim de que cada palavra, cada versículo e cada texto
da Bíblia para interpretar corretamente a Revelação de Deus.
Fonte: Prof. Felipe Aquino
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