Uma bela reflexão de São Pedro Julião Eymard, “o maior herói e campeão de Cristo presente nos Tabernáculos”
A devoção ao Coração de Jesus tem um duplo objetivo. Principalmente,
honrar, pela adoração e o culto público, o Coração de carne de Jesus
Cristo, e, depois, o amor infinito de que este coração se abrasou por
nós desde a sua criação, e que ainda O consome no Sacramento de nossos
altares.
Tudo o que pertence à pessoa do Filho de Deus é infinitamente digno de veneração.
A menor parcela de seu Corpo, uma gotazinha de seu Sangue, merece as
adorações do Céu e da Terra. Até mesmo as coisas desprezíveis em si
mesmas se tornam veneráveis ao mero contato com sua Carne, tais como a
cruz, os cravos, os espinhos, a esponja, a lança e todos os instrumentos
de seu suplício.
Quanto não se deve, pois, venerar seu Coração, cuja
excelência se baseia na sublimidade das funções que exerce, na
perfeição dos sentimentos que produz e das ações que inspira!
Poucas pessoas meditam nas virtudes, na vida, no estado de Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento. Quantas O consideram como uma estátua, e pensam que Ele aí está somente para nos perdoar e receber as nossas súplicas. É um erro. Nosso Senhor aí vive e opera. Contemplai-O, estudai-O, imitai-O!
Podemos
dirigir ao Divino Coração de Jesus as orações, homenagens e adorações
que oferecemos ao próprio Deus. Ah! Quanto se enganam os que, ouvindo
estas palavras: “Ó Coração de Jesus”, dirigem todos os seus
pensamentos ao órgão material, considerando esse Coração um membro sem
vida e sem amor, tratando-O apenas como relíquia santa.
Enganam-se
ainda os que pensam que esta devoção divide Jesus Cristo, e, assim,
restringem ao seu Coração um culto que deve ser prestado à sua Pessoa
toda. Não se convencem de que não excluímos as outras partes do composto
divino do Homem-Deus, quando honramos o Coração de Jesus, porquanto,
venerando-Lhe o Coração, queremos celebrar todos os atos, a vida total
de Jesus Cristo, que é a manifestação exterior de seu Coração.
Ao Coração de Jesus, vivo no Santíssimo Sacramento, honra, louvor, adoração e realeza por todos os séculos dos séculos! (cf. Ap 5,12-13).
Cerquemos portanto a Eucaristia de nossas adorações, de nosso amor. Assim
como se formam no sol e dele se irradiam os raios ardentes que
fertilizam a terra e conservam a vida, do mesmo modo é do coração que
emanam as doces e fortes influências que comunicam o calor vital e o
vigor a todos os membros do corpo.
Se
o corpo enfraquece, o corpo todo definha; se o coração sofre, os
membros sofrem também, os órgãos não funcionam regularmente e o
organismo todo se abala.
A função do Coração de Jesus foi vivificar, fortificar, sustentar todos os seus membros, órgãos e sentidos,
por influências contínuas, como o princípio das ações, dos afetos, das
virtudes e de toda a sua vida do Verbo Encarnado. É que o coração, no
dizer dos filósofos, é o foco do amor, e visto que foi o amor o móvel da
vida de Jesus, é ao seu Coração que devemos referir todos os seus
mistérios e todas as suas virtudes.
Assim como os olhos veem e os ouvidos ouvem, o coração ama. É
o órgão da alma na produção dos afetos e do amor, tanto que, na
linguagem vulgar, confundem-se estas duas expressões, designando-se o
coração para exprimir o amor e este para significar aquele.
Quereis conhecer a vida do Coração de Jesus? Ela se divide entre o Pai Celeste e nós.
Protege-nos, e, enquanto encerrado numa Hóstia frágil, o Salvador parece dormir o sono da impotência, o seu Coração vela. “Ego dormio et cor meum vigilat” (Ct 5,2).
Vela quando pensamos n’Ele e quando não pensamos.
Não tem repouso; dirige constantemente ao Pai clamores de perdão em
nosso favor. Jesus nos encobre com o Coração e nos preserva dos golpes
da cólera divina provocada por nossos incessantes pecados. Seu Coração
aí está como sobre a Cruz, aberto e deixando correr sobre as nossas
cabeças torrentes de graça e de amor. Aí está para nos defender dos
nossos inimigos, qual mãe que, a fim de proteger o filho de um perigo, o
estreita ao coração pata que ele somente seja atingido depois dela.
“E mesmo que a mãe esquecesse o filho, nos diz Jesus, jamais vos esquecerei!” (Is 49,15)
Conservai-vos,
portanto, bem pequenino sobre o Coração do Divino Mestre, como a
criancinha, amedrontada, se refugia no regaço materno.
Fonte: Prof. Felipe Aquino
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