Enquanto cresce a expectativa quanto ao lançamento de "Anjos e demônios", a Igreja Católica, que declaradamente repudia a obra do escritor Dan Brown, aumenta o tom das críticas ao novo filme de Ron Howard. Estrelado por Tom Hanks e Ewan McGregor, o sucessor do polêmico "O Código Da Vinci" (mas que se passa num tempo anterior a este) está sendo duramente atacado por líderes católicos antes mesmo de sua estreia mundial, programada para 15 de maio.
O filme, adaptação do best-seller de Brown, é centrado num complô dos Illuminati, uma sociedade secreta de intelectuais que pretende se vingar de um massacre orquestrado, século atrás, pelo Vaticano. Apesar de os Illuminati existirem de fato, não há registro histórico de que seus membros tenham sofrido qualquer matança. E esse é só o primeiro dos pontos que a Igreja contesta no filme.
"Isso é uma imundície completa", protestou o bispo de Nottingham, reverendo Malcolm McMahon, em entrevista ao jornal inglês "Daily Telegraph". Ele está preocupado com as reações que o filme pode causar. "É perverso provocar este tipo de sentimento anticatólico. É uma agressão gratuita à Igreja e eu não consigo ver razão para isso."
Normalmente nós lemos os roteiros. Mas desta vez não foi preciso - o nome Dan Brown bastou", explicou um porta-voz do Vaticano para negar a permissão de filmar lá.
A exemplo do "Código", "Anjos e demônios" foi produzido para ser um blockbuster. E enfrentou a oposição da Igreja desde o início da produção, a quem foi negada permissão para filmar no Vaticano. Para driblar o veto e poder recriar cenários fiéis a locais como a Basílica de São Pedro, uma legião de fotógrafos e cinegrafistas se infiltrou entre turistas para fotografar e filmar tudo o que vissem pela frente.
Ron Howard apimentou a briga ao dizer que os católicos vão gostar de seu filme. Nele, o professor Robert Langdon (Tom Hanks) corre contra o tempo para tentar deter os planos dos Illuminati de desintegrar a cúpula do Clero com uma bomba durante um conclave para eleger o novo Papa.
"Deixe-me ser bem claro: nem eu nem 'Anjos e demônios' somos anticatólicos. E deixe-me levantar uma pequena controvérsia: acredito que católicos, incluindo muitos na hierarquia da Igreja, vão gostar do filme pelo que ele é - um mistério excitante, rodado em meio à beleza espantosa de Roma", disse Howard.
Em "O Código Da Vinci", a maior bronca da Igreja era pelo romanceado envolvimento de Jesus Cristo com Maria Madalena, que teria concebido um filho seu. Retratado como uma influente facção católica no "Código", o Opus Dei fez coro às críticas à trama do novo filme. "É bizarra, uma fabricação total. Eu me sinto ofendido, como outros católicos, mas não quero perder muito tempo pensando nisso", menosprezou Jack Valero, porta-voz do Opus Dei na Inglaterra.
"Não acreditamos que o filme seja anticatólico, nem que as cerca de 40 milhões de pessoas que leram o livro ficaram confusas, pelo simples fato de que 'Anjos e demônios' é um 'thriller' de ficção", defendeu o longa, por sua vez, Steve Elzer, vice-presidente sênior da Sony Pictures, distribuidora do filme.O reverendo McMahon, que cuida do departamento de evangelização e catequese da Igreja, afirmou que os fiéis estão "cansados" dos "sensacionalismos" e "complôs inventados" por Brown em suas obras e nas adaptações de seus livros para o cinema. "Eu não acho que os católicos vão se dignar a ver isto", disse.
"Anjos e demônios", o livro, inclui ainda outros temas que deixam os católicos de cabelo em pé. Como, por exemplo, um papa que planeja conceber um filho via inseminação artificial - um drible e tanto no voto de celibato, que a Sony Pictures não quis confirmar se estará no filme.
Para Bill Donahue, presidente da Liga pelos direitos civis e religiosos dos católicos, tanto faz. Ele acusou tanto Brown como Howard de "caluniarem a Igreja Católica com contos fantásticos e fictícios". Donahue não engole as misturas entre fatos, ficção e teorias conspiratórias levantadas pela dupla. "Eles não ousariam fazer isso com outra religião", reclamou.
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