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terça-feira, 7 de abril de 2009

Catolicismo Romano, será mesmo cristão?


Será mesmo Cristão o Catolicismo Romano?








Dom Estevão Bettencourt

Revista ´´Pergunte e Responderemos´´ nº 452 Em Síntese: Eis mais um livro de origem protestante que visa a atacar a Igreja Católica de maneira sectária ou preconceituosa, com distorção da verdade. O artigo abaixo se detém sobre alguns tópicos das objeções levantadas e mostra a sua inconsistência.

Hugh P. Jeter escreveu um livro, que, entre muitos outros, procura impugnar a Igreja Católica, seu Credo e sua história.

Intitula´se: ´´Será mesmo cristão o Catolicismo Romano?´´. A Redação de PR recebe vários escritos de tal natureza por parte de pessoas que pedem uma resposta às objeções levantadas. A nossa Redação já tem escrito repetidamente sobre tais assuntos: como quer que seja, [a seguir] serão focalizados alguns aspectos dos mais representativos do livro de H. Jeter e de escritos congêneres. De modo geral pode´se dizer que tais obras se caracterizam por:

Alusões falsas ou preconceituosas à Igreja. Os autores armam um fantoche não católico e atiram nele, tencionando atacar a Igreja Católica.

Citação parcial da Bíblia, pondo em relevo apenas os textos que correspondem ao pensamento do autor e omitindo os demais.

Tom proselitista dissimulado sob o aspecto de querer bem ao irmão católico.

1. A Igreja

Da pág. 11 à pág. 24, H. Jeter trata da Igreja. Eis algumas de suas afirmações:

1. Ao referir´se a Mt 16,13´18, Jeter escreve:

´´Existe uma diferença entre petros (Pedro) e petra. Petros significa ´um pedaço maciço de pedra´. Parece que o Senhor estava usando um jogo de palavras e dizia o seguinte: ´Pedro, tu és uma pequena pedra, mas sobre esta pedra maciça eu construirei a minha Igreja´´´ (pág. 13).

A propósito, o autor parece esquecer que Jesus não falou em grego, mas em aramaico. Se em grego o trocadilho é falho, em aramaico ele é exato, pois versa sobre Kepha...Kepha. Jesus mudou o nome de Simão para Kepha em Jo 1,42, preparando assim, desde a vocação de Pedro, a promessa de primado que lhe faria em Mt 16,18. De resto, está averiguado que é mais fácil entender o texto do Evangelho traduzido do grego para o aramaico (língua de Jesus e dos primeiros pregadores) do que o texto grego canônico. Outro exemplo seria o uso de adelphoi em grego, palavra que traduz o aramaico ´ah, cujo significa é mais amplo do que o grego adelphoi (irmãos).

O autor H. Jeter nos diz que o Novo Testamento só conhece um fundamento da Igreja: o Cristo Jesus, mencionado em 1Cor 3,11. Observemos contudo que o Senhor que disse ser a luz do mundo (cf. Jo 8,12; 9,15; 12,46), atribui o mesmo título aos seus discípulos (cf. Mt 5,14): por meio de Pedro, e mais fundo que Pedro, Cristo fica sendo a Rocha, o fundamento invisível da Igreja. É esse mesmo Jesus que ´´possui a chave de Davi, que abre de modo que ninguém fecha, que fecha de sorte que ninguém abre´´ (Ap 3,7). Em Cristo e em Pedro, portanto, residem análogos poderes (designados pelas mesmas metáforas); é de Cristo que eles dimanam para o Apóstolo, de sorte que este vem a ser o Vigário ou Representante de Jesus na terra.

O texto de Mt 16,13´19 é muito claro em favor do primado de Pedro. Jeter o impugna e não cita dois outros textos que corroboram o mesmo primado:

Lc 22,31s: ´´Simão, Simão, eis que Satanás pediu insistentemente para vos peneirar como trigo; eu, porém, roguei por ti, a fim de que tua fé não desfaleça. Quando te converteres, confirma teus irmãos´´.

Jo 21,15´17: ´´Jesus disse a Simão Pedro: ´Simão, filho de João, tu me amas mais do que esses?´ Ele respondeu: ´Sim, Senhor, tu sabes que te amo´. Jesus lhe disse: ´Apascenta as minhas ovelhas´. Pela segunda vez lhe disse: ´Simão, filho de João, tu me amas?´ ´Sim, Senhor´, disse ele, ´tu sabes que te amo´. Disse´lhe Jesus: ´Apascenta as minhas ovelhas´. Pela terceira vez disse´lhe: ´Simão, filho de João, tu me amas?´ Entristeceu´se Pedro porque pela terceira vez lhe perguntara: ´Tu me amas?´ e lhe disse: ´Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que te amo´. Jesus lhe disse: ´Apascenta as minhas ovelhas´.´´

O fato de que Pedro e seus sucessores foram fracos do ponto de vista moral indica bem que não é o homem quem rege a Igreja, mas é Cristo mediante os homens que Ele quer escolher e que são meros instrumentos do Senhor. Este governa a Igreja prolongando, de certo modo, o mistério da Encarnação, isto é, utilizando a precariedade humana como canal de graça e salvação.

2. À pág. 15 escreve H.P.Jeter:

´´Se a Igreja Católica é infalível em doutrina, por que então através dos séculos tantas doutrinas têm sido mudadas e outras acrescentadas?

Por que já não são ensinados os poderes temporais da Igreja como enumerados por Pio IX?

Por que já não se pratica a Inquisição? Por que deixaram o ensino acerca do Limbo desde o Concílio Vaticano II?

Por que foram acrescentadas mais algumas coisas às doutrinas e práticas já aprovadas: a transubstanciação (1215 dC), a confissão auricular (1215 dC), a do Purgatório (proclamada em 1438 dC), a infalibilidade papal (1870 dC), a imaculada conceição de Maria (1854 dC) e a ascensão de Maria (1850 dC)?´´

Em resposta, dir´se´ia:

O poder temporal da Igreja não é artigo de fé. Trata´se de um fator contingente, que contribui para o livre exercício da missão pastoral do Papa; não subordinado a um poder civil, pode ele mais desimpedidamente cumprir sua tarefa de Pastor Universal.

A Inquisição também nunca foi matéria de fé. Era tida como um dever de consciência dos cristãos medievais, que não podiam conceber uma sociedade pluralista como ela é hoje; nem os maiores Santos da Idade Média protestaram contra ela. Quanto à Inquisição de Espanha e Portugal, a partir do século XV, tornou´se mais e mais o joguete dos monarcas que assim desajavam unificar a população de seu país, à revelia mesmo das intervenções da Santa Sé.

A doutrina do Limbo nunca foi declarada artigo de fé. Tornou´se doutrina comum a partir de S. Anselmo de Cantuária (+1109). Hoje em dia a Teologia propõe outro modo de encarar a sorte das crianças que morrem sem Batismo.

A Transubstanciação é a conversão do pão e do vinho no Corpo e no Sangue de Cristo, de acordo com as afirmações do próprio Jesus em Jo 6,51´58; Mt 26,26´28; Mc 14,23´24; Lc 22,19; 1Cor 11,23´25. A fidelidade à Bíblia, que os protestantes tanto professam, exigem que se entendam as palavras do Senhor em todo o seu realismo, como foram entendidas durante dezesseis séculos e até hoje são entendidas tanto por católicos como por orientais ortodoxos.

A Confissão Auricular é praxe fundamentada no próprio Evangelho, onde Jesus transmite aos Apóstolos o poder de perdoar os pecados (cf. Jo 20,22s). Para poder exercer a faculdade de perdoar ou não perdoar em nome de Cristo, deve o ministro poder avaliar o estado de alma do penitente ´ o que só é viável se este manifesta o que lhe vai no íntimo.

A crença na existência do Purgatório, longe de ter sido aceita em 1438 (por que tal data?), remonta ao século II aC, como professa 2Mc 12,39´45. É de notar que Lutero não quis reconhecer como canônico este livro da Bíblia dos cristãos; eliminou´o do catálogo sagrado.

A Infalibilidade Papal é professada desde os primeiros séculos, não com a clareza de que goza em nossos dias, mas de maneira tal que os historiadores a identificam no decorrer dos séculos. [...]

A Imaculada Conceição de Maria é deduzida do fato de que Maria, chamada a ser a Mãe de Deus feito homem, não pode ter estado alguma vez sujeita ao pecado. Tal verdade de fé não é explicitamente enunciada nos Evangelhos porque estes não foram escritos para relatar traços de Mariologia; Maria aí só aparece tão somente como a Mãe de Jesus, que é a figura central do texto sagrado. Todavia, a Tradição Oral professou tal artigo de fé.

A Assunção (não Ascenção) de Maria é conseqüência da vitória de Maria sobre o pecado: aquela que nunca esteve sob o domínio do pecado, não podia ficar nas garras da morte, que, como refere São Paulo (Rm 5,12´17), resulta do pecado dos primeiros pais.

3. Às págs. 15 e seguinte, escreve H. P. Jeter:

´´Se a Igreja Católica é infalível, por que Mussolini, sendo católico, invadiu a Etiópia? Por que existiu a Inquisição em países como a Espanha e Portugal, que se dizem católicos? Por que espanhóis e portugueses não queriam permitir que suas colônias se emancipassem? Por que proibiram aos leigos a leitura da Bíblia e em outras épocas a recomendaram?´´

A resposta a tais questões não é difícil, como se depreenderá:

Mussolini não invadiu a Etiópia a mando da Igreja Católica. Embora seja filho da Igreja, um católico pode errar: o próprio Senhor Jesus predisse que no seu campo haveria trigo e joi; Ele não quer que se arranque o joio antes do fim dos tempos. O Papa ultimamente tem pedido perdão pelos pecados dos filhos da Igreja infiéis à sua Santa Mãe. Distingamos entre pessoa e pessoal da Igreja; a pessoa é a Igreja enquanto vivificada pelo Cristo ou como Esposa sem mancha nem ruga (Ef 5,27); o pessoal da Igreja são os filhos da Igreja, nem sempre dóceis aos ensinamentos de sua Mãe. [...]

Sobre a Inquisição já foi dito algo neste artigo. É de notar que na península ibérica a Inquisição foi muito manipulada pelos monarcas, desejosos de eliminar de seus territórios judeus e muçulmanos. A Inquisição Espanhola, extinta no começo do século XIX, era dita ´´Inquisição Régia´´.

Nenhum dos países colonizadores viu com prazer a descolonização de suas posses na África ou na Ásia. As razões para tanto eram complexas. Tal atitude não afeta a infalibilidade da Igreja.

Quanto à leitura da Bíblia, observe´se quanto vai dito no artigo de PR 451/1999, págs. 547´549: [Ouve´se, por vezes, dizer que a Igreja Católica proibiu a leitura da Bíblia. A resposta há de ser deduzida de um percurso da história. Ora, está averiguado que, nos primeiros séculos, muito se recomendava a leitura do texto sagrado. Na Idade Média e em épocas posteriores (especialmente no século XVI) surgiram hereges (cátaros, valdenses, wycliff, reformadores protestantes) que traduziam a Bíblia do latim para o vernáculo instilando no livro sagrado idéias contrárias à reta fé. Daí proibições, formuladas por Concílios, de se utilizar a Bíblia em língua vernácula, a não ser que o leitor recebesse especial autorização para fazê´lo. As restrições foram impostas não ao texto latino, mas às traduções vernáculas, em virtude de fatores contingentes; a Igreja, como Mãe e Mestra, sente o dever de zelar pela conservação incólume da fé a Ela entregue por Cristo e ameaçada pelas interpretações pessoais dos inovadores da pregação; eis por que lhe pareceu oportuno reservar o uso da Bíblia a pessoas de sólida formação cristã nos séculos em que as heresias pretendiam apoiar no texto sagrado as suas proposições perturbadoras. Ainda no século XIX a Igreja via nas traduções vernáculas da Bíblia (patrocinadas pelas Sociedades Bíblicas protestantes) o canal de concepções heréticas. Todavia, a partir do papa S. Pio X (+1903), deu´se uma volta às fontes, que incluiu a recomendação da leitura da Bíblia, por parte de todos os fiéis, em língua vernácula. No momento presente, dado que existem boas edições da Escritura nas línguas vivas, a Igreja fomenta o recurso assíduo à Palavra de Deus escrita e lida no concerto da Tradição da Igreja.]

4. À pág. 16 pondera Hugh P. Jeter:

´´Durante vários séculos, a missa foi celebrada em latim. Desde o Concílio do Vaticano II pode ser celebrada na linguagem do povo, embora saibamos que houve uma forte objeção a esta mudança. Se anteriormente era algo sacrílego, por que agora deve ser aceito?´´

A pergunta parece ignorar que há certas leis que devem ser periodicamente revistas e reformuladas, pois toda lei visa a promover o bem comum da sociedade nas sucessivas situações por que os homens passam. No tocante à língua da celebração eucarística, foi o vernáculo (latim) na antiguidade; o latim ficou sendo o idioma culto até o fim da Idade Média. No século XVI os reformadores protestantes pleitearam o uso do vernáculo, que naquelas circunstâncias foi rejeitado pela Igreja Católica, pois havia o risco de que o vernáculo se tornasse veículo de teses protestantes infiltradas sorrateiramente na Liturgia. Em nossos dias tal perigo já não existe; daí a permissão de se celebrar a Missa em vernáculo. Tais fatos não afetam artigos de fé ou de moral.

5. À pág. 18 lê´se:

´´É bom salientar que o conceito evangélico de santo é o de alguém que vive de modo santo, enquanto que, no Catolicismo, os santos são unicamente aqueles que foram oficialmente beatificados e declarados santos pelo papa´´

Realmente o autor de compraz em caricaturar para escarnecer. É claro que, também para os católicos, a santidade é um valor íntimo, sem o qual não há santos; a declaração pontifícia consiste apenas em proclamar esse valor íntimo, depois de cuidadosamente comprovado.

6. Ainda à pág. 18 encontra´se o seguinte:

´´O título de ´Igreja Católica Romana´ é em si mesmo uma contradição, pois ´romana´ estabelece uma área geográfica, enquanto que ´Católica´ significa ´universal´.´´

Deve´se responder que a Igreja é católica, ou seja, universal, mas ela tem um governo central situado em Roma ´ o que explica o predicado ´´romana´´; este não limita a universalidade da Igreja, mas apenas indica qual é a ´´caixa postal´´ da Igreja. Da mesma forma, Jesus era e é o Salvador universal ou de todos os homens, mas é chamado ´´Nazareno´´ porque, vivendo na terra, precisava de ter um endereço ou um pouso.

2. A Bíblia Sagrada

Passamos a considerar outro capítulo do livro de Hugh P. Jeter.

2.1. O catálogo bíblico

Às págs. 32 e seguinte, diz o autor:

continua...

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