Será mesmo cristão o Catolicismo Romano?
continuação ...2. A Bíblia Sagrada
Passamos a considerar outro capítulo do livro de Hugh P. Jeter.
2.1. O catálogo bíblico
Às págs. 32 e seguinte, diz o autor:
´´Há, de imediato, uma diferença entre a Bíblia católica e a versão protestante. A Bíblia católica inclui no Antigo Testamento os livros de Tobias, Judite, Sabedoria, Siraque, Baruque, e o primeiro e o segundo livros de Macabeus. Também há acréscimos aos livros de Ester e Daniel. Essa é a principal diferença entre as duas Bíblias.
Por que os cristãos evangélicos rejeitam esses livros chamados ´´apócrifos´´? A seguir, expomos algumas razões:
1. Os próprios livros não se dizem inspirados. No segundo livro de Macabeus 15:37´38, lemos: ´Assim se passaram os acontecimentos relacionados com Nicanor. Como desde aquela época a cidade ficou em poder dos hebreus, eu também terminarei aqui mesmo meu relato. Se foi bem escrito em sua composição, isto é o que eu pretendia; se imperfeito e medíocre, fiz o máximo que me foi possível´.
2. Os livros apócrifos nunca foram citados por Cristo ou pelos apóstolos, mas eles, sem dúvida, citaram muitas partes da Bíblia.
3. O material não mostra nenhuma inspiração. Em 2Macabeus 12:43´45 lemos acerca de uma coleta que devia ser enviada a Jerusalém para que se oferecesse sacrifícios e oferendas pelo pecado e orações pelos mortos... algo que não figura em nenhuma parte das Escrituras.
4. Todos os livros apócrifos foram acrescentados ao Antigo Testamento. Conforme expõe Romanos 3:2, foi ´confiada a palavra de Deus ao povo judeu´. Portanto, todos deveríamos considerar de suma importância a rejeição desses livros quanto à sua inspiração.´´
Eis o que a propósito se pode observar:
1. O fato de que o autor sagrado confesse ter´se esforçado ou mesmo ter penado para escrever seu livro não significa que não usufruiu da inspiração bíblica. Esta não é um ditado mecânico, que dispense o homem de refletir, pesquisar e, em suma, fazer tudo o que deve realizar um bom escritor. A inspiração (que não é revelação) consiste em que Deus ilumine a mente do homem antigo para que, utilizando os dados de sua cultura arcaica, ponha por escrito uma mensagem que corresponde fielmente ao pensamento de Deus, mas não deixa de estar revestida da roupagem humana. Assim, o livro sagrado é, ao mesmo tempo, divino e humano. É através das vicissitudes de uma redação característicamente semita ou grega, portadora de todas as marcas do trabalho humano, que Deus quer falar aos homens. São Lucas o atesta no prólogo do seu Evangelho, quando afirma que, ´´após acurada investigação de tudo desde o princípio, resolveu escrever´´ (Lc 1,3).
2. Assim como Jesus e os Apóstolos nunca citaram explicitamente os livros que os protestantes têm por apócrifos e os católicos consideram deuterocanônicos, assim também Jesus e os Apóstolos nunca citaram alguns livros que são unanimemente reconhecidos como canônicos; tal é o caso de Eclesiastes, Ester, Cântico, Esdras, Neemias, Abdias, Naum.
Verificamos também que nos escritos do Novo Testamento há citações implícitas dos livros deuterocanônicos. Assim, por exemplo: Rm 1,19´32´>Sb 3,1´9; Rm 13,1; 2,11´>Sb 6,4.8; Mt 27,43´>Sb 2,13.18; Tm 1,19´>Eclo 4,34; Mt 11,29s´>Eclo 51,23´30; Hb 11,34s´>2Mac 6,18´7,42.
Nos mais antigos escritos patrísticos são citados os deuterocanônicos como Escritura Sagrada: Clemente Romano (em cerca de 95), na epístola aos Coríntios, recorre a Jt, Sb, fragmentos de Dn, Tb e Eclo; o Pastor de Hermas, em 140, faz amplo uso do Eclo e do 2Mac (cf. Semelhanças 5,3.8; Mandamentos 1,1...); Hipólito (+235) comenta o livro de Daniel com os fragmentos deuterocanônicos; cita como Escritura Sagrada Sb, Br e utiliza Tb e 1/2Mac.
3. O fato de que em 2Mac 12,43´45 se lê algo que ´´não figura em nenhuma parte das Escrituras´´ nada significa. O raciocínio de Jeter equivale a uma petição de princípio: o autor quer dizer que 2Mac 12,43´45 não pode ser bíblico porque Jeter de antemão o exclui, eliminando as Escrituras Sagradas o 2º de Macabeus. De resto, não se pode excluir tal livro, datado do século II aC, por apresentar algo que não esteja em livros mais antigos, pois é notório que a Revelação progrediu no Antigo Testamento.
4. O autor parece ignorar que a Bíblia Sagrada continha os sete livros deuterocanônicos ou ´´apócrifos´´ até Lutero. Foi Lutero que os eliminou e não foi o Concílio de Trento (1545´1563) que os acrescentou. [...]
2.2. O uso da Bíblia entre os católicos
Às págs 25´32 Hugh P. Jeter se detém em alegar que durante séculos a Igreja restringiu ou proibiu o uso da Bíblia entre os fiéis católicos. [...] [Quanto a esta questão, foi dado um breve resumo acima].
Muitos outros pontos do livro de Hugh P. Jeter poderiam ser considerados, evidenciando´se a sua inconsistência. Em geral, a literatura polêmica protestante se ressente de preconceitos que obcecam os respectivos autores e os levam a atribuir à Igreja Católica o que ela jamais disse ou fez. O amor à VERDADE há de ser característica do autêntico cristão.
De resto, o baixo nível das acusações se depreende de outras objeções propagadas em folhas volantes. Assim, por exemplo:
´´A 500 anos atrás o Papa mandou ´matar´ Galileu só porque ele disse que a terra é redonda. A 2.700 anos atrás a Bíblia já dizia que a terra é redonda (Isaías 40:22)´´.
Estas frases contêm várias imprecisões, próprias de quem fala sem saber ao certo ao que diz:
Galileu faleceu em 1642, portanto há pouco mais de 350 anos; faleceu de morte natural. Foi controvertido porque defendia o heliocentrismo, em lugar do geocentrismo. O dêutero´Isaías (Is 40´55) profetizou durante o exílio (587´538 aC), ou seja, há 2.500 anos aproximadamente; ao falor do ´´ciclo da terra´´, não se pode dizer que tinha em vista a esfericidade da terra.
Mais:
´´Disse Deus: ´Não é bom que o homem esteja só, dar´lhe´ei uma mulher´ (Gênesis 2,18). O papa Gregório 7º proibiu o casamento dos padres em 1074 dC´´.
O autor deste texto esquece que São Paulo, após a entrada do Reino do Messias neste mundo, recomenda a vida una ou indivisa; cf. 1Cor 7,25´35. Aliás, estes versículos são geralmente silenciados pelos protestantes quando querem impugnar o celibato. Este foi, a princípio, espontaneamente abraçado pelo clero; só aos poucos foi´se tornando lei.
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