Em sua primeira viagem à África, o Papa Bento XVI disse nesta-feira que não se pode frear a Aids com a distribuição de preservativos, aos quais a Igreja se opõe. A bordo do avião que o levava a Iaundê, capital de Camarões, o pontífice afirmou que a solução para a doença que devasta o continente africano é "humanizar a sexualidade com novas formas de comportamento".
Segundo a agência católica francesa Imedia, foi a primeira vez que Bento XVI utilizou a palavra "preservativos" em uma declaração pública.
O Papa afirmou que as respostas de diversas partes da sociedade na luta contra a Aids não são nem "realistas" nem "eficazes" e disse que a política da Igreja é mais eficaz. Ele afirmou ainda que a solução passa por um "despertar espiritual e humano" e pela "amizade com os que sofrem".
A Aids é uma tragédia que não pode ser resolvida apenas com dinheiro, que não pode ser resolvida com a distribuição de preservativos, que inclusive agrava os problemas - disse o Papa.
As declarações do pontífice geraram polêmica. O secretário-geral da associação ActionAid, Marco de Ponte, recordou que o vírus HIV é a primeira causa de morte na África e a quarta no mundo e que o preservativo ainda é uma arma decisiva para a prevenção da doença.
- Bento XVI se opõe ao uso do preservativo, mas não podemos esquecer como ele ainda é uma arma decisiva para a prevenção [da doença], pois reduz drasticamente as possibilidades de se contrair o vírus durante a relação sexual.
Para o presidente do Círculo de Cultura Homossexual, Mario Mieli, as palavras de Bento XVI "dificultam a difusão da prevenção em um continente marcado pela epidemia da Aids". E alguns países africanos, o contágio atinge cerca de 40% da população, afetando especialmente mulheres e crianças.
Segundo dados do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids, existem hoje no mundo cerca de 33 milhões de portadores do vírus HIV. Destes, cerca de dois terços estão na África Subsaariana -- o equivalente a 22,5 milhões de pessoas.
'África sofre de maneira desproporcional'Durante a viagem, o Papa também lançou um apelo à comunidade internacional para que o continente africano não seja esquecido diante da crise econômica mundial. Ele falou ainda sobre sua próxima encíclica, a terceira, que será destinada a problemas sociais e econômicos.
- Estava quase pronta, mas veio a recessão mundial e tivemos que re-trabalhar o conteúdo para oferecer uma mensagem à humanidade nesta conjuntura.
Bento XVI desembarcou no início da tarde em Iaundê, onde vai se reunir com representantes da Igreja católica, muçulmanos e enfermos - entre eles, portadores do HIV. O Pontífice afirmou que a África sofre "fome, pobreza e doenças de maneira desproporcional".
- Em um continente que no passado viu seus habitantes cruelmente raptados e levados para o outro lado do oceano a fim de trabalhar como escravos, atualmente o tráfico de seres humanos, sobretudo mulheres e crianças, transformou-se em uma nova forma de escravidão - declarou o pontífice em sua 11ª viagem internacional - a primeira à África, onde visitará Camarões e Angola.
Segundo o Vaticano, os países foram escolhidos por seu valor simbólico. No fim de semana, representantes dos círculos católicos africanos haviam solicitado ao pontífice a liberação do uso da camisinha para evitar a transmissão da Aids.
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